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CARMEN MIRANDA SPENCER TRACY HILLARY SWANK CLIVE OWEN LIZ TAYLOR

   ENTRE A LOURA E A MORENA de Busby Berkeley com Alice Faye e Carmen Miranda
Um roteiro bobo num musical hiper colorido da Fox. Busby Berkeley era completamente louco. Seus números musicais são imagens de LSD antes da invenção do psicodelismo. Carmen Miranda era genial. O filme abre com Aquarela do Brasil. Emociona. Tem ainda a orquestra de Benny Goodman. E eu adoro Benny! E Edward Everett Horton. Mas o roteiro podia ser um pouquinho melhor... Nota 4
   DÍVIDA DE HONRA de Tommy Lee Jones com Hillary Swank, Tommy Lee Jones e Meryl Streep
Aff...no tempo do oeste, em Nebraska, uma mulher parte sozinha para resgatar mulheres que enlouqueceram em outro estado. O filme é um pé no saco. Hillary faz seu papel de machona, Tommy é um velho esquisito e todo o filme nada tem de atraente ou de novo. Tédio, puro tédio.
   DEPOIS DA VIDA de Hirokazu Kore-Eda
Os países que perderam a guerra tiveram de se reinventar. Mantiveram a tradição, mas ao mesmo tempo zeraram sua história. Li isso no livro sobre o Kraftwerk. Este filme, extremamente chato, extremamente gratificante, é aquilo que o Japão é: uma cultura em construção eterna, ou: o mesmo de sempre se vestindo de novo. Passei todo o filme em quase transe, minha memória trazia de volta coisas que eu achava ter esquecido. É um filme que tem esse poder, ele nos faz mergulhar dentro de nós mesmos. Japonês. Os atores são sublimes.
   POR AQUI E POR ALI de Ken Kwapis com Robert Redford e Nick Nolte
Um filme bem simples. Um velho escritor de viagens resolve fazer uma viagem pelos EUA a pé. Sua esposa, Emma Thompson, só o deixa ir se for com companhia. Ele convida um monte de amigos e nenhum aceita. Mas do passado surge um amigo esquisitão, um bêbado meio sujo. Os dois partem então. Well...a geração baby boomer ficou velha e os filmes geriátricos abundam. Quando minha geração chegar aos 70 esse tipo de filme será maioria. Este é ok. Não é comédia, é apenas um filme leve, tranquilo e alto astral. Redford está um caco. Mas envelhece dignamente. Nota 5.
   A CONFIRMAÇÃO de Bob Nelson com Clive Owen e Maria Bello.
Na verdade é Ladrão de Bicicletas em versão 2016. O que vemos é um pai fracassado perder suas ferramentas de carpinteiro. Com o filho ele parte numa busca por quem as roubou. Emoção zero. O filme é bem bobo. Se a América é hoje desse jeito, estamos ferrados.
   ESPOSA SÓ NO NOME de John Cromwell com Cary Grant, Carole Lombard e Kay Francis.
Melodrama pavoroso! Cary é um homem casado que conhece Carole. Se apaixonam. A esposa de Cary, uma megera, faz de tudo para os separar. Uma pena ver dois atores tão geniais num roteiro tão ruim. O filme é velho, mofado, quase inacreditável.
   A GAROTA DOS OLHOS DE OURO de Jean Gabriel Albicocco com Marie Laforet, Françoise Dorleac e Paul Guers
Em 1961 este filme causou sensação. A fotografia era ousada, esquisita, bela. Hoje ela ainda impressiona...por dez minutos. O filme é insuportável. Uma mixórdia sobre um playboy que se apaixona por uma mulher misteriosa. Tudo contado de um modo truncado, torto, abrupto, bem à moda de então: nouvelle vague. Duvido que alguém consiga o ver até o fim.
   NO CAMINHO DOS ELEFANTES de William Dieterle com Elizabeth Taylor e Peter Finch
Uma inglesa jovem vai morar com seu marido rico no Ceilão. Lá ele se revela um doido. machista e beberrão. E há ainda os elefantes que ameaçam destruir a casa... Este filme dá pra passar o tempo. O cenário é bonito, Liz está linda e a direção faz a coisa fluir.
   A SELVA NUA de Byron Haskin com Eleanor Parker e Charlton Heston
Agora é na Amazônia. Uma moça se casa por procuração e vai à selva encontrar o marido que nunca viu. Ele a trata muito mal e aos poucos os dois se aproximam. Enquanto isso formigas ameaçam a fazenda...Quase a mesma história. Este é pior. Algumas falas são de doer! Eleanor Parker exala desejo por todos os poros...isso é fascinante.
   AMOR ELETRÔNICO de Walter Lang com Kate Hepburn e Spencer Tracy
Numa emissora de TV se instala um computador. As funcionárias não aceitam isso, têm medo de perder o lugar...É 1956, o computador ocupa toda a sala e faz ruídos " de computador". Kate e Spencer são tão bons que a coisa funciona! É um gostoso passatempo. E uma doce curiosidade. O computador é da IBM.

MIKE NICHOLS E WHITNEY HOUSTON

    Mike Nichols nos deu algumas das melhores direções de ator da história. E ele só não foi maior porque seu grande interesse não era nem cinema e nem teatro, era essa coisa chamada mulher. Mike foi um Dom Juan. Surgiu na Broadway como um jovem genial e arrogante. Logo foi para o cinema. Virginia Woolf tem alguns dos maiores desempenhos que já vi. Quem não testemunhou o milagre de ira que Elizabeth Taylor nos dá não sabe o que é uma grande atriz. Richard Burton tem seu melhor desempenho nas telas. Uma magia de ódio e de ressentimento sob falso controle. Depois Mike veio com A Primeira Noite de Um Homem, um filme NOVO em seu tempo, e que hoje ainda sobrevive como delicia de invenção e de homenagem à vida. Dustin Hoffman teve a sorte de estar nele. Depois Mike perdeu o interesse. Ficou rico, caiu na gandaia. Catch 22 foi um filme caro e flopou nas bilheterias. É um filme muito interessante. E bem doido. O brilho de Mike surgiu em algumas ocasiões, mas ele deixou de ser central. Sua morte não deixa um vazio porque ele já desocupara seu trono desde os anos 70. Repito as palavra de Forastieri: que o céu o receba com um dry martini. E uma coelhinha da Playboy. 
   Whitney, ao contrário de Mike que deixou um legado que faz o cinema crescer, Miss Houston destruiu a canção romântica americana. Com ela nasce a praga de se confundir cantar bem com exibir trinados e volteios vocais. A música das cantoras, mas também dos cantores, a partir de Whitney se torna fria, profissionalmente vazia. Os brilhos verdadeiros, fraseado, alcance, modulação e principalmente interpretação, passam a ser jogados no lixo. Importa muito mais um grito longo e afinado que a acariciante voz quente e complexa, pessoal de um Otis ou de Marvin. Repare: TODAS as vozes passam a soar iguais. Todas são Whitney.

RUSH/ WONG KAR WAI/ AZUL/ LOSEY/ ANGELOPOULOS

   FAMILIA DO BAGULHO de Hawson Marshal Thurber com Jennifer Anniston e Jason Sudeikis
Jennifer está cada vez mais linda. Aqui ela faz uma striper que finge ser esposa de um pequeno traficante que pega uma grande missão no Mexico. O filme é previsível, mas tem ritmo, atores ok e Jennifer. Nota 5.
   FLASH GORDON de Mike Hodges com Sam Jones, Ornela Mutti e Max Von Sydow
Um cult do trash. Tem um dos piores roteiros de todos os tempos, uma trilha sonora tola e um ator que não consegue atuar. E a bela Mutti e o bergmaniano Max sendo o vilão ( Max nunca escolhe filme, até hoje pega o que vem ). É o pior filme de HQ? A concorrência é forte ( Hulk, Demolidor, Capitão América, Sheenah ). Tentei ver com bom humor, não rola.
   RUSH de Ron Howard com Chris Hemsworth, Daniel Bruhl e Olivia Willians
Escrevi sobre ele abaixo. Uma ótima diversão com tinturas de drama que nos envolve, seduz e emociona. Mathew MacCornaghy sempre foi bom ator, desde Dazed and Confused e incluindo as comédias pop. Pois saibam que o Thor, Chris Hemsworth é um bom ator. O primeiro Thor já deu uma pincelada em seu talento e aqui ele emociona. É um adorável James Hunt. Estou com vontade de ver de novo! Ron Howard, ator em American Graffitti é um diretor a moda antiga, pouco vaidoso, dirige em função da história. Nota 8.
   RIDDICK 3 de David Twohy com Vin Diesel
O mundo é o de um deserto amarelo e brumoso. Vin enfrenta monstros e gente monstruosa. O filme é bobo, ralo, sem nada, o clima é bom e há horror autêntico. Twohy tem talento, mas desperdiça sua carreira. 2.
   A ESPIÃ QUE VEIO DO CÉU de Leslie H. Martinson com Raquel Welch e Tony Franciosa
Um daqueles super bobinhos filmes dos anos 60 que passavam direto na velha TV Record. Raquel, uma gata, é mostrada de bikini ( wow ) a toda hora. A trama, incompreensível e sem sentido, tenta ser esperta, moderninha, groovy. O filme nos distrai...do próprio filme. Nota 2.
   CERIMONIA SECRETA de Joseph Losey com Elizabeth Taylor, Mia Farrow e Robert Mitchum
Losey foi um graaaande diretor! O cara fez O Mensageiro! E excelentes filmes pequenos na Inglaterra de 58/64. Mas por volta de 67/69 ele fez 3 filmes metidos a arte que são lindos de ver mas que nada dizem. Mia Farrow é uma doida que usa Taylor como mãe de faz de conta. O filme nos leva a mente de uma psico e a coisa é barroca, exagerada. Taylor só posa, não tem nada aqui a sua altura. Farrow dá medo! Eu tenho muito medo de Mia Farrow. Nota 3.
   O GRANDE MESTRE de Wong Kar Wai com Tony Leung e Ziyi Zhang
Os closes de Wong se justificam, são lindos. Ninguém filma casais apaixonados como ele no cinema de agora. Este filme abusa da beleza, depois de hora e meia estamos exaustos. Mas é hipnótico. Sou fã dos filmes de Kung Fu e Wai sabe filmar golpes e movimentos, e ainda injetar lirismo amoroso na ação. É um épico histórico discreto em nota pianíssimo. Mas é longo, muito longo...Nota 7.
   A ÚLTIMA VIAGEM A VEGAS de Jon TTurteltaub com Michael Douglas, Kevin Kline, Morgan Freeman, Robert de Niro e Mary Steenburgen
Amigos velhos se reencontram em Vegas para a despedida de solteiro de Douglas ( que pra variar é um playboy ). O roteiro é preguiçoso, nada acontece de inesperado. É um filme gracinha para uma geração amarga. Não combina. Há uma certa moda de filmes para gente madura. A princípio essa é uma ótima nova, mas não se eles tiverem de fazer filmes teen em que a única diferença são as rugas. Porque não colocaram Morgan no papel de Douglas? De qualquer modo o filme é digno e tem um ótimo De Niro e um simpático Kline ( que não é da geração deles!!! ) Algumas boas piadas. Nota 5.
   A ETERNIDADE E UM DIA de Theo Angelopoulos com Bruno Ganz
Não dá, Theo é o diretor mais lento que há.
   THANKS FOR SHARING ( UMA BOA DOSE DE SEXO ) de Stuart Blumberg com Mark Ruffallo, Tim Robbins, Gwyneth Paltrow.
Como alguém consegue fazer um filme tão babaca? Um bando de caras que foram viciados em sexo. E sua vidinha cinzinha e tristinha. Argh!! Se voce quiser saber o que considero o pior cinema existente veja isso. É pretensioso, infantil, auto-referente, masturbatório e muito óbvio. ZERO
   AZUL É A COR MAIS QUENTE de Mechiche
Quer ver duas teens na cama? Quer se sentir parte do hype GLS ? Este filme óbvio ( que vá lá, daria um bom curta ) mostra a falência da crítica atual. Ele é ruim? Claro que não! Mas todo esse bla bla bla? É um filme banal. Nota 3.
  

TERRENCE MALICK/ FORD/ O DITADOR/ HANYO/ MORGAN FREEMAN/ JOHN WAYNE

   A DIFICIL VINGANÇA de Terry Miles com Christian Slater e Donald Sutherland
Dificil este modesto western passar aqui. Continuam insistindo em fazer faroestes sem ter nenhum conhecimento sobre a mitologia do gênero. Os atores não têm tipos fisicos para o assunto e sua linguagem cheia de Fuck é toda de LA 2012 e não de Dakota 1885. Nota 1.
   NO TEMPO DAS DILIGÊNCIAS  de John Ford com John Wayne, Claire Trevor, Thomas Mitchell e John Carradine
O Homero da América ( Ford ) e seu filme Odisséia. Uma diligência cruza território hostil. Nela vão os personagens icônicos do país: o jogador, o comerciante, o banqueiro-ladrão, a prostituta, uma esposa fiel, o bêbado e o fora da lei. Wayne tem seu famoso close, uma apresentação à eternidade como jamais outro ator mereceu. É uma aventura, é suspense e é um filme-mito. O elenco explode em carisma e Ford filma como quem narra uma saga cantada. É o mais americano dos filmes. Minha professora de literatura diz que gênio é o homem que capta todo o insconsciente de uma país e o traduz em linguagem. É o homem que traduz e batiza uma nação que não se conhecia e não se reconhecia. No cinema é John Ford esse homem. Ele captou a América de 1776 até 1976. Depois de então o mundo de Ford permanece como sonho perdido de uma ideal de país que não mais existe no mundo sólido, mas que se faz eterno e mitológico no universo do desejo. Um filme que não é o melhor de Ford, mas que é insecapável. Nota DEZ.
   A MOCIDADE É ASSIM MESMO de Clarence Brown com Elizabeth Taylor, Mickey Rooney e Donald Crisp
Quem criou este mundo? Tudo aqui é um tipo de paraíso: as casas, as pessoas, até mesmo as dores parecem paradisíacas. Eis o mundo que o século XX, sofrido, desencantado, pobre em sonhos, tolo, sonhou. Como cada vez mais descreio de criações vindas do nada, deve ter havido um dia um mundo parecido com este. Onde e quando eu não sei. Com certeza não em 1948. Liz tinha quinze anos então, exagera um pouco no choro. O filme fala de um cavalo e do sonho de uma menina em vencer um derby. Rooney está ótimo como um ex-jockey. É do tempo em que animais eram filmados como animais e não como pseudo-humanos. Nota 7.
   CREPÚSCULO DAS ÁGUIAS de John Guillermin com George Peppard, James Mason e Ursula Andress
E não é que é bom? Uma surpresa! A história fala de um ex-soldado de infantaria, que na primeira guerra entra para a aviação alemã. Ora, em 1915 aviação era coisa de nobres, de esnobes. Ele não é aceito e passa todo o filme quebrando regras de cavalheiros, sendo ambicioso e afoito, tentando se vingar do despeito com que é tratado. As cenas nos céus, com aviões de época, são maravilhosas. Nuvens, tiros, piruetas, quedas. Chegam a hipnotizar. Uma diversão correta, com belo estudo de um "herói" ruim, egoista e destrutivo. A fotografia de Douglas Slocombe é de arrasar. O diretor prometia bela carreira, mas se perdeu em filmes tolos. Este é ótimo. Nota 7.
   HANYO de Ki-Young Kim
É considerado um clássico do cinema coreano. Um casal contrata uma empregada. Ela seduz o patrão e a vida de todos vira um pesadelo. Um dos filmes mais desagradáveis que vi. Todos são cruéis, brutos, estúpidos. Pequenas violências se acumulam. O filme não é bom. Mal filmado e com atores muito ruins. Mas tem originalidade e em seu país é o equivalente ao que para nós é Glauber Rocha, fundador de novo caminho. Nota 4.
   UM VERÃO MÁGICO de Rob Reiner com Morgan Freeman e Virginia Madsen
Um escritor alcoólatra vai passar um verão na praia. Lá conhece familia de divorciada. Se aproxima das crianças e tudo acaba bem. Reiner teve seu momento ( Harry e Sally ), esse momento passou. Lançado este ano, duvido que passe por aqui, deve ir direto para dvd. Tudo é previsivel, todos se tornam bons com facilidade, tudo se resolve. Mas sei lá, às vezes a gente precisa desses filmes do bem. Relaxa ficar vendo essa gente legal vivendo de um modo legal e tendo um destino legal. Sei lá, de repente a vida é mais isto que um cara se entupindo de drogas e comendo mulheres modernetes na noite. Bem, pelo menos o meu mundo está, felizmente, mais perto disto. Nota 5.
   THE THIN RED LINE de Terrence Malick com Jim Caviezel, Sean Penn e John Cusak
Um amigo me fala que este é um dos filmes recentes do cinema que Pondé mais gosta. Então o revejo. Tinha a lembrança de ser um filme chato. Ele é. De ser apelativamente cruel, e é. Mas agora percebo algo que antes não percebera. Malick é um cristão no sentido medieval e "puro" do termo. O mundo é um horror, os homens se matam, se comem, e em nada mais conseguem crer, Acreditam apenas na força e na dor. Então vivem uma realidade de força e de dor. Um mundo de gemidos, sangue, tiros e solidão extrema. Mas, para quem ainda quer ver, existe a folha que balança, um raio de sol na água, bichos olhando distanciados, praias e crianças. Caviezel ainda pode ver. O mundo dele é o mundo do espirito. Ele não se deixa engolir, não se deixa perder. Para Malick, o que podemos fazer é conquistar nossa alma, ela é nossa potencialmente, cabe a cada um a merecer. Caviezel a possui. Penn talvez um dia a obtenha. O comandante feito pot Nick Nolte é a carne absoluta. Todos os filmes de Malick repetem esse mesmo tom. Este, talvez o mais crú, é o mais dificil. Com certeza foi por este papel que Caviezel se tornou o Jesus de Gibson. Nota 8.
   O DITADOR de Larry Charles com Sacha Coen
Não é cinema. É um programa de Tv. Engraçado? Poucas vezes. Tem a fluência atravancada de Austin Powers. Mas Powers era mais engraçado. Humor rasteiro, de amigos bêbados, fácil de fazer. Basta atirar pra todo lado e pensar que o público é idiota. Tão ruim quanto Borat, ele faz humor sem alegria, risos sem celebração. É o humor pesado, o anti-humor segundo Comte-Sponville. Nota 2.

UM LUGAR AO SOL - GEORGE STEVENS, DEMASIADO HUMANO, DEMASIADO HUMANO...

   George Stevens já era um diretor famoso quando em 1941 foi para a Segunda Guerra. Até então ele era basicamente um diretor de comédias, um excelente diretor de comédias, que começara fotografando filmes de Laurel e Hardy e evoluíra para as produções A. Na guerra ele comandava um grupo que era encarregado de filmar e fotografar batalhas e tomadas de cidades. Stevens esteve no dia D e mais importante, foi seu grupo o primeiro a entrar em Dachau. George Stevens foi o primeiro a ver e registrar câmaras de gás, pilhas de ossos e corpos jogados como lixo. De volta a seu país, ele nunca mais dirigiu uma comédia. Este filme, considerado por muitos um dos melhores filmes já feitos na América, é uma sinfonia sobre compaixão, sobre desamparo e sobre o azar.
   Montgomery Clift é um rapaz pobre que cruza o país para encontrar um tio rico. Lhe pede um emprego e passa a trabalhar na fábrica do tio. Se envolve com colega de trabalho e a engravida. Mas ao mesmo tempo começa a ser surpreendido pelo interesse que desperta numa rica herdeira belíssima. Tudo, que poderia ser sorte e alegria, se faz desencanto, erro e crime. O filme é de uma melancolia absoluta.
   Baseado em clássico de Theodore Dreiser, o roteiro não faz concessões. Clift é um rapaz triste. Em seus olhos e nos seus modos vive um tipo de "estrangeiro", de homem que nada sente por inteiro, de alienado. Marlon Brando levou a fama, mas o ator que criou o modo moderno de atuar é Clift. Torturado, complicado, profundamente infeliz, Clift morreria aos 45 anos de alcoolismo. Seu trabalho aqui é impressionante. Jamais sentimos raiva ou pena dele, sentimos proximidade, compaixão.
   Incrível pensar que Elizabeth Taylor tinha 17 anos aqui. Foi seu primeiro filme sério e ela está lindíssima. Faz com leveza e coquetismo a milionária que cai de paixão por Clift. As cenas de beijo dos dois são plasticamente imbatíveis. O filme fez dos dois, amigos para toda a vida. Shelley Winters faz a proletária engravidada. Há uma cena, em que ela vai ao médico para tentar aborto. A cena lentamente se transforma  numa luta surda, cruel, tristíssima entre Shelley e a verdade.
   George Stevens se fez famoso pelo seu capricho. Filmava muito, gastava meses em montagem, era um perfeccionista. Nos extras Roubem Mamoulian diz que ele tinha o mais corajoso dos estilos: cenas longas, sem movimento de câmera, sem cortes e enfeites. E são cenas maravilhosas! A beleza do filme está ligada ao tema. Nunca é uma beleza gratuita. Como diz Warren Beaty em outra entrevista nos extras, Stevens dirige sem se exibir. Como faziam Renoir, Wyler e Zinnemann, é a direção invisível, não intrusiva, que conta e mostra, que nos faz esquecer que aquilo é um filme.
   As cena se fundem em outras cenas. É um efeito encantatório. O rosto de Liz Taylor se apaga lentamente enquanto um carro passa correndo numa estrada. Ou o lago brilha ao luar e desaparece dando lugar aos rostos de Clift e Liz. As cenas se embaralham, se torcem, fluem como brilho de sonho. Aliás, todo o filme tem um aspecto maravilhoso de sonho ( ou melhor, pesadelo ). Mas não é só na forma ou em seus atores que reside a grandiosidade de A Place in The Sun. É na humanidade do todo que ele nos toca mais fundo. Aqui não há um vilão. Não há um herói. Os milionários são apenas homens, assim como os operários. As duas mulheres se comportam como amorosas e assustadas apaixonadas. Nenhuma delas é ruim ou boa. E Clift, numa atuação mágica, faz um assassino que nunca parece ruim ou esperto, e um herói que é todo mentira, tristeza e distancia.
   Vencedor de 6 Oscar, sucesso de bilheteria, feito antes de SHANE, este é um filme inesquecível.

LOOK BACK IN ANGER ( ODEIO ESSA MULHER )- TONY RICHARDSON

A Inglaterra vai abaixo nos anos 50 quando se cria o teatro dos Angry Young Men. E ninguém foi mais angry que John Osborne. Look Back in Anger é a peça que mudou tudo, e este é o filme. História: Teatro inglês era aquela coisa de sempre ( como o cinema também era ), podia às vezes ser genial ( como em Wilde ) mas era sempre aquele bando de lords dizendo coisas inteligentes e wit. Mais que isso, todos pareciam feitos de papelão. Nada de paixão ou de sangue verdadeiro. Os tempos de Marlowe e de Shakespeare eram então recriados como tempo afetado. Mas veio esta peça e a coisa caiu. Gírias, sujeira, violência, jazz, sexo e gente pobre. Vida real? Nem tanto, vida vazia. Jimmy Porter, o personagem, torna-se o ícone da geração que daria ao mundo os Beatles e os Stones ( o teatro de Osborne é bem mais i can't get enough ). Jimmy trabalha na feira e toca piston. É casado e arruma amante, mas o principal: Jimmy odeia a vida. Ele passa todo o tempo agredindo tudo a seu redor. Ele odeia os velhos, odeia as mulheres, odeia o sol e a lua, odeia o passado colonial e a guerra, odeia a paz. No filme, esse papel é feito por Richard Burton e não poderia haver atuação melhor. A cena em que ele murmura a palavra: " Horror" após um enterro é terrificante. O filme aliás, é das coisas mais desagradáveis que já vi. Se voce abomina a Inglaterra de reis gagos e de irmãs fofinhas, este é seu filme. O tal do "filme inglês" ( que aliás eu adoro ) é cruelmente assassinado aqui. Nada é vitoriano, elegante, bonito. O que se mantém de inglês são as falas soberbas e os atores, magistrais. O artificialismo está exatamente nessas falas. Jimmy fala como um menestrel, ele sabe falar bem. E contra o que ele se revolta? Contra tudo. E porque? Eis a força do texto: por nada. Jimmy diz ter ódio de viver, e esse ódio não tem motivo. Quando pensamos descobrir uma razão ela se esvai na cena seguinte. Isso dá o caráter desagradável do filme: esse mal estar, essa raiva é inerente a vida. Viver seria sentir raiva de viver. A fotografia de Oswald Morris, toda em vielas com céus nublados é coisa do mestre que ele é. Junto de Jack Cardiff, são meus dois fotógrafos de cinema favoritos. Claire Bloom faz a amante com rasgos de esperteza. Há algo de muito diabólico nela. Mary Ure é a esposa. Ela sofre sem motivo, é agredida sem reagir e ama quem a destrói. Tony Richardson faria após esta bomba incendiária, Tom Jones, que lhe daria um muito justo Oscar. 1960.... Brilhante momento da arte inglesa. A consciencia de que o império se foi e o ódio a herança deixada pelas gerações passadas. Jimmy Porter abomina o tempo em que nasceu. Mal sabia ele o que viria a seguir. O filme é o epitáfio de um império feito na época em que alguém ainda se importava com isso. Incômodo, desagradável e árduo. Obrigatório. PS: Em tempo de homenagens a Elizabeth Taylor ( merecidas ) cabe reavaliar Richard Burton. Ele surgiu nos anos 50 em palcos ingleses como a esperança de um novo Olivier. Mas Hollywood logo o pescou e lá seu talento foi paralisado. Às vezes, em meio ao alcoolismo, o verdadeiro Burton renascia. Há quem veja nele o melhor ator inglês do século. Jimmy Porter é ele.

A SEGUNDA MELHOR ATRIZ, ELIZABETH TAYLOR JAMAIS MORREU

Desde a segunda guerra que Elizabeth Taylor é uma estrela. Na época estrela infantil, mas sempre com brilho majestoso. É muito tempo! Ela conseguiu fazer a transição de estrela infantil para estrela adulta sem jamais perder o status. Foi, e é, uma sobrevivente.
Meu pai a achava a mais bela mulher do mundo. Em alguns filmes ela faz justiça a esse título, em outros não. Nesses, onde ela se mostra gorda, deselegante, humana, ela é a segunda maior atriz de lingua inglesa da história do cinema. Melhor que Bette Davis. Perdendo só para Kate Hepburn ( perder para Kate é uma honra ). A segunda melhor na média, porque é de Taylor a melhor atuação que já vi: QUEM TEM MEDO DE VIRGINIA WOLLF, de Mike Nichols, com Burton. O que ela faz nesse filme é inesquecível. Um milagre de voz, rosto e gestos. Coisa de deusa.
Desde criança eu ouço falar nela. Como Garbo, Dietrich, Marilyn, Sophia e Bardot, Elizabeth Taylor é um dos raros nomes que qualquer peão conhece. O cara pode jamais ter visto um filme na vida, mas já escutou esses nomes em algum lugar. De todas elas Liz era a única que realmente sabia interpretar.
Richard Burton foi sua grande paixão. Casaram-se e divorciaram-se um monte de vezes. Eram um exemplo tão ruim de comportamento que o papa Paulo VI chegou a os excomungar. Ele foi o veneno dela. Burton, gênio de ator, era auto-destrutivo. Destruiu sua carreira, sua saúde, sua beleza e quase que a destruiu. Álcool e deprê. Mas o grande amor de Liz foi Mike Todd, produtor gastador que vivia como um rei e morreu muito jovem. Burton veio depois. E o mundo falava deles como depois se falaria de Lady Di, Madonna e de.... Michael Jackson.
Jackson foi o negativo de Liz. Ele não foi feliz na mudança de criança estrela para adulto estrela. MJ continuou preso em Neverland. Até morrer. Como Diana Ross, Liz foi sua babá. Magnífica babá.
Uma pena Elizabeth Taylor ter parado de filmar tão cedo. Ou talvez não. Seria grotesco vê-la em telas tão chinfrim. Assim como Audrey e Ingrid Bergman, o cinema caipira não a comporta em seu mundo ( Taylor em filmes de Clint, Scorsese ou Tarantino seria ridiculo ).
Elizabeth Taylor não morreu neste mês e nem em mês nenhum. Estrelas desse tamanho parecem ter surgido do nada, parecem nunca ter nascido. E aqueles que não nascem não podem morrer. Se ela jamais foi uma criança de escola, se ela nunca soube o que é ser "comum", então ela nunca foi vulgar, banal, humana como todos nós. E esse é o mistério que define a estrela, ela não existe em nossa dimensão. Não vive a vida que vivemos. E não pode morrer a morte que morreremos. Liz é eterna então.