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O FLÂNEUR, UM PASSEIO POR PARIS COM EDMUND WHITE

   Eu sou um flâneur. O que é isso? É o cara que anda pela cidade sem objetivo nenhum a não ser o de ver. Ele não caminha para perder peso ou para encontrar alguma coisa ou alguém. Não deseja descobrir coisa alguma, não tem rumo estabelecido. Ele simplesmente vai andando... uma rua leva a outra rua que leva a outra rua.... É uma arte refinada. Não são todos que conseguem fazer isso. Deixar que os pés o levem, a curiosidade de ver o que existe além e depois desse além, o que há depois e depois e mais depois.... levado não só pelo desejo dos pés, mas também pela vontade de ver. O flâneur é um estudante, ele educa seu olhar.
  Paris é a melhor cidade do mundo para essa arte. Porque ela é interessante como Roma, mas é tão grande como Londres. Ela é plana, cheia de recantos, de segredos, de lendas. Edmund White não fica nos cansando com descrições. Ele anda e fala do que pensa em cada rua que passa. Cada capítulo é um aspecto de seu caminho, e que bom!, o livro é solto e vago, interessante e vivo, como flaneur!
  Começa falando da atração que Paris exercia sobre artistas de todo o mundo e depois constata que hoje New York ou Tokyo são centros muito mais relevantes. Paris se debate entre a dúvida: ou se torna uma Roma, um tipo de museu a céu aberto, ou admite sua cor mestiça e se faz a capital multicultural do século XXI. White conta histórias enquanto anda ( apesar de o bom flâneur não falar. O flâneur é um solitário ). Fala dos exsitencialistas, de Colette e de Baudelaire. Do jazz. De Sidney Bechet, o sax negro americano, que em Paris encontrou a fama, a fortuna e onde foi aceito. Josephine Baker e o sexo. O livro fala das diferenças entre o racismo americano e o francês, a raiz puritana da América e o catolicismo light francês. Ele fala então dos escritores negros que foram viver lá: Baldwin. Himes e Wright.
  Edmund White penetra então nos bairros árabes, no antigo gueto judeu. Relembra a questão da Argélia, a cultura que os árabes têm trazido e nos emociona ao falar da saga de famílias judaicas. Algumas extintas durante a segunda-guerra.
  Ele enumera a quantidade absurda de museus que há em Paris. Vai em dois, um deles é uma antiga mansão, decorada como casa do século XVIII, e o outro é um museu dedicado ao pintor Gustave Moreau. A descrição ferina que ele faz das "obras" desse pintor é talvez o melhor capítulo do livro.
  White é um escritor gay ( ele se apresenta assim ), e então ele nos exibe o mundo gay de Paris. E mais uma vez expõe as diferenças entre a abordagem americana e francesa ao tema. Para nós há a única referencia ao Brasil: uma das coisas mais divertidas em Paris é apreciar os glamurosos travestis brasileiros...weeelllll....
   No final Edmund White visita os realistas e monarquistas, fala das histórias desses herdeiros, de suas particularidades. Com humor, com penetração, com amor também.
   Edmund White viveu 15 anos em Paris. Hoje ele mora na América, que é onde nasceu. Ele fala de Proust, de Degas e de Genet como se os tivesse conhecido. Ele nunca pinta a cidade como um paraíso na Terra, mas consegue colocar diante de nossos olhos aquilo que ela tem de mais original, sua humanidade, sua complexa mistura de passado e futuro, de requinte e individualismo puro. Uma cidade toda planejada, racional, e ao mesmo tempo uma rede de sombras, de memórias e de recantos esquecidos. É um livro que dá o prazer de se flanar, de se olhar e olhar... sem rumo, sem objetivo e sem hora. Leia que voce vai gostar.