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GIUSEPPE TORNATORE/ PETER SELLERS/ JOHNNY DEPP/ NEY MATOGROSSO/ SEAN CONNERY

  LUZ NAS TREVAS de Helena Ignez com Ney Matogrosso, Djiin Sganzerla, Paulo Goulart e vasto etc.
Nada aqui tem a ver com a realidade. E tudo é verdade. Eis o cinema! Mal feito, às vezes irritante por sua ambição e suas falas literárias. E ao mesmo tempo fascinante por seu jeito de labirinto onde todos são faunos. Na verdade: O Bandido da Luz Vermelha é o melhor filme brasileiro da história. Este, feito pela musa de Sganzerla, é sua continuação. O mundo mudou, hoje ele é mais violento, mais sem sentido, e mais crente no oculto ( estranho né? ). Em 68 o niilismo era maior e ao mesmo tempo a alegria maior. Fascinante! Ney dá um show! Carisma e o final é duca! O filme é invenção all the time. Mistura tudo. Brasil. Tem candomblé e rocknroll. Tem sexo e patifaria. Sangue com merda. E tudo parece fake, carnaval. Taba. As falas são de doer de tão ruins. Mas as imagens são magníficas. Uma das melhores falas da história: "Sempre sonhei em ter uma padaria em Cuiabá!" Hahahahahahah! Brasileiro é auto-negação. Contradição e jamais assumir nada. Ney é um diabo do ódio. O novo bandido é como são os bandidos de hoje: Nem nome tem... Lembro que quando criança eu acreditava no Bandido da Luz Vermelha. Meus primos diziam que já o tinham visto. Ele matava policiais no Caxingui. Eu botei fé. Ney canta na laje no fim do filme. Viva o Brasil! O cara é o retrato do que sobreviveu. Está com 70 anos! Mais jovem que eu e que tú. Nota Nada. Vou rever. Tem 3 histórias paralelas. Recuerdos, Ney na cadeia-inferno e o tal novo bandidode hoje. Minha alma cativa. Isso é cinema do Brasil. Disse.
   O SOM AO REDOR de Kléber Mendonça Filho
Na verdade é um documentário sociológico sobre um certo povo de uns certos quarteirões. Tudo aqui é real e nada parece verdade. Nunca vi atores tão ruins! Invenção nota zero. O filme é óbvio. Se voce quer ter uma aula de sociologia é aqui. Se voce quer um bom filme, sai correndo. Algumas cenas chocam. Pelo amadorismo. Acho que na faculdade a gente fez coisa mais bem feita hem Léo? Voce sabe, eu exijo um mínimo de competência. E o problema é: Assim como voce não se importa com um bando de dançarinos fazendo um show, o que me interessa nesse povo besta falando texto mal dito e mal ensaiado? Ver isto é tão fora da minha atenção quanto imagino ser Os Miseráveis para voce. Eu simplesmente não consegui me ligar. É muito blá blá blá. Valeu!
   BRANCA DE NEVE de Pablo Verger
Uma saída para o cinema: Vamos voltar a sentir e sem vergonha de ser bonito. O filme é todo superlativo. Imagem, trilha sonora e atores. Diverte e dá uma impressão de melancolia que não passa. Não consigo deixar de pensar nele. Cadê esse príncipe? Acorde menina! Se meus amigos o tivessem visto daria pano pra muita manga. É o melhor filme deste século de filmes banais. Está longe do espetáculo vazio ou do filminho de arte chocante e óbvio. É poesia e se comunica com todo mundo. Lindo. Nota DEZ.
   O FAROL DO FIM DO MUNDO de Kevin Billington com Kirk Douglas e Yul Brynner
Que filme bobo! Kirk, que é a única coisa boa aqui, vive em farol. Um bando de piratas invade a ilha e o filme mostra sua luta contra eles. Tudo dá errado neste filme. A ação parece falsa, a violência é exagerada, os outros atores são lamentáveis. Yul Brynner posa de "Sua alteza real Pirata". Nota 2.
   A MELHOR OFERTA de Giuseppe Tornatore com Geoffrey Rush, Donald Sutherland e Sylvia Hoeks
O diretor de Cinema Paradiso e de Malena faz seu "Hitchcock". O filme, que venceu vários prêmios italianos em 2013 e acho que ainda não passou por aqui, tem algo de Vertigo na obssessão de um homem solitário e neurótico por uma mulher misteriosa. A história se passa no mundo dos leilões de arte e é um filme bom de se olhar. Até agora não sei se o achei bom ou ruim. Há algo de muito tolo em seu roteiro. Eu simplesmente adivinhei tudo desde o começo. Mas há uma bela atuação de Rush, mais uma, e uma participação divertida do grande Sutherland. A menina é linda. E péssima atriz. Até a metade a gente torce, desejamos ver a menina, mas daí a "hitchcockerie" entra em parafuso e a coisa desanda. Nota 5.
   AS ILHAS DA CORRENTE de Franklyn J. Schaffner com George C. Scott e Claire Bloom
Se voce ama o livro de Heminguay, como eu, vai até gostar deste filme. Mas se voce não o leu, ou leu e não gostou, fuja disto. O filme é flácido, lento, sem motivo. Fala de um escultor que vive numa ilha. Recebe a visita dos 3 filhos, pescam e depois vem a ex-esposa o visitar. Ao final, uma tentativa de salvamento a fugitivos nazistas. Schaffner e Scott haviam ganho Oscars em 1970 com Patton, uma das poucas biografias do cinema que conseguem revelar o homem por detrás do óbvio. Uma obra-prima com roteiro do jovem Coppolla. Mas depois disso Schaffner só errou ( apesar do bom Papillon ). O que temos aqui é a linda fotografia de Fred Koenemkamp, o mar azul e a ilha cheia de vento e areia, e uma absoluta falta de emoção. É um filme ruim de que gosto por motivos puramente pessoais. Nota 3.
   EM BUSCA DA TERRA DO NUNCA de Marc Forster com Johnny Depp, Kate Winslet, Julie Christie, Dustin Hoffman e Freddie Highmore
Não sei se fica claro no filme. Quando James Barrie escreveu Peter Pan ele já era um autor de sucesso. Posto isso...Que lindo filme! Lindo não por seu visual, que é menos do que poderia ter sido, mas pela beleza de suas emoções. Depp nasceu para esse tipo de papel, o frágil sonhador. Sabemos que Barrie era mais viril que Depp, mas e daí? Como artista que é, ele cria o homem que Barrie deveria ter sido. Aqui faço uma defesa de Johnny Depp. Ao contrário de Day-Lewis que só vai na certeza, Depp erra muito, porque se arrisca sem parar. É um maravilhoso ator lúdico, um ator que parece nunca levar a sério a profissão e tenho a certeza de que ele aprendeu isso com seu amigo Marlon Brando. Brincar. Em tempo de melhores roteiros Depp teria mais chances de acerto. O tipo de filme que ele procura, a diversão-excêntrica, não tem bons roteiristas atualmente. Kate não tem muito o que fazer aqui. Julie Christie, a venerável Julie de Doutor Jivago, faz uma mãe odiosa, enquanto Dustin se mostra o rei da simpatia. É dos poucos filmes que consegue mostrar o mecanismo da criação. Forster é um diretor ao velho estilo Hawks, filma de acordo com o roteiro. Um profissional. Deveriam existir mais como ele. Nota 9.
   O RATO QUE RUGE de Jack Arnold com Peter Sellers e Jean Seberg
Filme que era hiper reprisado na velha Sessão da Tarde. Comédia sobre o menor reino do mundo, Grã-Fenwick, que declara guerra aos EUA. A intenção é perder e assim ser reconstruído pelos americanos, repetindo o que foi feito no Japão e na Alemanha. Mas tudo dá errado. Eles vencem sem querer. Sellers faz três papéis: A rainha distraída, o primeiro ministro ganancioso e o herói atrapalhado. Peter Sellers é um dos poucos atores que merece ser chamado de gênio. Jean Seberg iria para a França após este filme. Filmar com Godard um tal de Acossado. Aqui ela está ainda mais bonita. Uma boa comédia. Nota 7.
   O GOLPE DE JOHN ANDERSON de Sidney Lumet com Sean Connery, Dyan Cannon, Martin Balsam e Christopher Walken
Este filme deveria ser refilmado. Pelo que sei, é o primeiro a exibir um mundo todo vigiado por câmeras e gravadores. Claro que são aparelhos ainda primtivos, o filme é de 1971, mas Lumet já percebe o incômodo na profusão de câmeras em elevadores, lojas, entradas de prédios. Sean Connery está sensacional como o ex-presidiário que trama um assalto a edifício. Entre os comparsas vemos o jovem Christopher Walken, é sua estréia no cinema. Muito carisma e o rosto de um jovem hippie muito maluco. O filme é dos anos 70, portanto espere muito realismo, nenhum glamour e um final pessimista. Lumet já exibe sua maestria em cortes e clima, o filme combina bem com Serpico, Um Dia de Cão e Network ( que carreira teve esse Lumet!!! ). Sean rouba o filme. O sexy James Bond prova mais uma vez aqui que ninguém nunca fez machões como ele sabia fazer. A trilha sonora, datada, tem jazz misturado a toques de sintetizador, autor: Quincy Jones. Boa diversão! Nota 7.
  
  
  

JIM CARREY/ HERZOG/ DENNIS QUAID/DUSTIN HOFFMAN/ TOM COURTNEY/ BRUCE WILLIS

   GRANDES ESPERANÇAS de Mike Newell com Ralph Fiennes e Helena Bonham-Carter
Pra que mais uma versão da obra de Dickens? Houve uma péssima em 1999 de Alfonso Arau com Ethan Hawke, e a versão genial de David Lean num preto e branco maravilhoso. Esta, feita em 2012, nada moderniza, ao contrário da medíocre obra de Arau. Mas é um filme frio, sem nenhum interesse. Nota 2.
   DURO DE MATAR I de John McTiernan com Bruce Willis e Alan Rickman
Caso dificil de ocorrer: um filme em que tudo está no lugar certo. Bruce nasceu para esse papel. John McLane, um tira fora de lugar e que não procura a ação, ela tomba sobre ele. Mais importante, ele se machuca, se cansa, sente dor. A ação não cessa, mas ao mesmo tempo temos bons diálogos e bons atores. É um filme que diverte e até empolga. Detalhe: é a sétima vez que o vejo. Sempre me pego envolvido. Nota? DEZ!
   DURO DE MATAR II de Renny Harlin com Bruce Willis e Franco Nero.
É aquele do aeroporto. Quase tão bom quanto o primeiro, não leva um dez porque não mais se trata de uma surpresa. Mas caramba, quanta diversão! E para quem o vê pela primeira vez ( te invejo ), há uma bela reviravolta. Relaxe e goze. Nota 8.
   VIAGEM INSÓLITA de Joe Dante com Dennis Quaid, Martin Short e Meg Ryan
Envelheceu bastante. Numa produção Spielberg, vemos a saga de um homem que é minituarizado e injetado dentro do corpo de um bobalhão. O jovem Dennis Quaid tinha uma alegria que contagia. É legal também ver a jovem Meg Ryan. Short, que vinha do SNL tem o filme para si. Nota 5.
    O INCRÍVEL BURT WONDERSTONE de Don Scandino com Steve Carell, Steve Buscemi, Olivia Wilde, Alan Arkin e Jim Carrey
Este filme sobre uma dupla de mágicos de Las Vegas é muito muito muito ruim. Odiável, ele pode ser considerado um dos piores filmes que já vi. Uma comédia podre, sem graça, chata. Jim Carrey está perdido, dá pena. Nota ZERAÇO.
   O ESPIÃO QUE ME AMAVA de Lewis Gilbert com Roger Moore, Barbara Bach e Curt Jurgens
Grande sucesso, música famosa com Carly Simon, resultado flácido. Barbara Bach, senhora Ringo Starr é a mais bela das Bond Girls. Mas o filme se ressente de um vilão melhor. Richard Kiel com seus dentes de aço tem várias cenas de humor. Moore está a vontade, é um Bond engraçado. Nota 6.
   O QUARTETO de Dustin Hoffman com Tom Courtney, Maggie Smith, Billy Connolly, Pauline Collins e Michael Gambon
Um filme belíssimo dirigido pelo grande Dustin Hoffman. Em tom leve e amargo, colorido e triste, se conta a vida de um bando de ex-estrelas da ópera que vivem num asilo de luxo. Eles montam um show e ao mesmo tempo vemos o reencontro de dois ex-amantes. O filme, com bela sensibilidade, mostra as dores, as fragilidades e a, porque não?, coragem da terceira idade. Os atores são todos brilhantes. E é emocionante ver Tom Courtney, ator dos mais emocionantes da velha tradição britãnica, compondo um músico melancólico e mesmo assim idealista. Uma aula de olhares, de gestual e de pequenos sentimentos. Dustin teve a sabedoria de deixar seus atores à vontade. Lindo filme! As fotos nos créditos finais chegam a provocar lágrimas. Nota 9.
   O ENIGMA DE KASPAR HAUSER de Werner Herzog
É uma obra-prima. Um bebê é abandonado em porão e lá mora por toda a vida. Sem conhecer gente ou aprender a falar, é resgatado já adulto. Herzog mostra a educação desse homem-besta e aproveita para criticar a sociedade, a ciência e a razão. Mas, sem ingenuidade, ele sabe que a saída não é a volta a natureza. O filme, cheio de cenas complexas, belas, ricas em símbolos, é marcante. Nota DEZ.

BONITO, BONITO, BONITO...O SOM DOS ANOS INCRÍVEIS

   Simon and Garfunkel já foram tão famosos quanto Lennon e MacCartney. Juro que é verdade. Isso até mais ou menos 1980. Paul Simon chegou a participar de Annie Hall de Woody Allen como ele mesmo. Gostar dele era muito In. E Art Garfunkel foi ator de filmes de Mike Nichols. Ator protagonista. Mas eles foram perdendo popularidade por dois motivos: primeiro suas letras, hiper-intelectualizadas deixaram de fazer sentido para uma geração, a minha, que procurava no rock algo mais direto. E segundo, os dois puxaram o freio de mão, pararam de produzir, cansaram. Afinal, eles trabalhavam com música desde crianças. Nos anos 50 eles já eram profissionais. Detalhe: os dois são mais jovens que Lennon ou Jagger.
   O auge da dupla foi em 1967, com a trilha do filme A PRIMEIRA NOITE DE UM HOMEM, o big hit de Mike Nichols que fez de Dustin Hoffman uma estrela. Esse foi o primeiro filme a usar canções pop como trilha sonora. Vendeu pacas!!! Mas antes, em 1965, eles já eram stars. Essa fase teria seu auge em 1970, com o sucesso absurdo de BRIDGE OVER TROUBLED WATER. Então veio o fim do duo e a brilhante carreria solo de Paul Simon.
   A música dos dois é sempre "bela". Voce não vai encontrar nada de torto, de mal feito neles. Até os Beatles ao lado dos dois parecem pouco polidos. A dupla procura a beleza todo o tempo, e felizmente, a atingem várias vezes. Canções como Scarborough Fair ou Bookends são das coisas mais lindas já feitas na história do rock, e The Boxer é uma maravilha de amargor-belo. Eles são tristes, delicados, suaves. Sim, parece que descrevo os artistinhas sensiveis de agora; bem, eles adorariam ser Simon ou Garfunkel.
   A série, histórica e sublime, ANOS INCRÍVEIS, usou muito de Simon e Garfunkel. Algumas das cenas inesquecíveis foram ao som dos dois. E o som da dupla é exatamente tudo aquilo que Kevin Arnold era e seria se adulto. Amores timidos, amores idealistas, liberdade, familia, sair de casa, tudo com citações de Pollock, Gertrude Stein, Norman Mailer e Lloyd-Wright. As músicas são cultas, informadas e informativas. É, com Joni Mitchell e o Steely Dan, aquilo que nos anos 70 se tornaria conhecido como "som universitário-adulto".
   Fazia muito tempo que não os ouvia. Talvez vinte anos. Reouvi hoje. E me lembrou dores de amores juvenis. E me surpreendeu a beleza das vozes e a criatividade dos arranjos.
   Posto alguns videos. Aproveite. E cantarole junto. É bonito bonito bonito....

CLINT/ BOB FOSSE/ FORD/ WILLIAM POWELL/ SPIELBERG/ STEVE MARTIN

   O DESAFIO DAS ÁGUIAS de Brian G. Hutton com Richard Burton e Clint Eastwood
Tudo dá errado. Pelo menos este filme serve pra valorizarmos ainda mais a Dirty Dozen. Fala sobre grupo de soldados que deve invadir a Alemanha para resgatar general. Burton está passivo, com expressão de completo tédio. Clint nada tem a fazer. Seu personagem é apenas um enfeite, um americano bonitão zanzando pelo set. Uma aventura que não tem suspense, não tem humor, não tem nada. Nota 1.
   LENNY de Bob Fosse com Dustin Hoffman e Valerie Perrine
A vida do humorista Lenny Bruce é contada como uma febre de jazz. Em luxuoso P/B, Dustin Hoffman dá uma interpretação frenética, se entrega ao personagem. O filme tem uma falha: não revela a alma de Lenny. Mas suas qualidades, a criativa ousadia de Fosse, homem que conhecia o ambiente de cabaret onde Lenny viveu. Valerie Perrine tem uma atuação à altura, sexy e vulnerável. Belo filme. Nota 8.
   SANGUE POR GLÓRIA de John Ford com James Cagney
Talvez seja o pior filme de Ford. Não se decide entre drama e comédia. Passado na guerra, brinca com situações espinhosas, nunca convence. Nota 3.
   O RAPTO DA MEIA-NOITE de Stephen Roberts com William Powell e Ginger Rogers
O diretor é fraco, mas Powell e Ginger são excelentes, e então se torna um prazer ver o filme. Feito em 1935, ele lembra muito Thin Man, sucesso de Powell na época. Ele é um advogado que desvenda um rapto. Ginger é sua namorada. Powell desfila seu humor fino, sua classe, a voz que baila pelos diálogos. Ginger, o rosto cheio de ironia, é sexy em todas as cenas. Os olhos zombeteiros e a voz em desafio constante. O filme é para os dois. Nota 6.
   O ARTISTA de Michel Hazanavicius com Jean Dujardim e Bérenice Bejo
Ele é corajoso, excêntrico e tem uma atuação genial de Dujardim. Ele faz uma mistura de Douglas Fairbanks com Gene Kelly que é comovente. Mas tem suas falhas, a foto em P/B é pobre e a história é simplória. De qualquer modo, é um filme realmente diferente, que ousa não apostar em efeitos, em sexo e violência. O Oscar 2012 toma partido, tenta valorizar filmes de bons sentimentos. Missão inglória, nosso tempo é de bad feelings. Nota 7,
   O GRANDE ANO de David Frankel com Steve Martin, Owen Wilson e Jack Black
O diretor fez o Diabo veste Prada e Marley e Eu. Se esses dois filmes eram ainda agradáveis, este é irritante. Consegue se deslocar do Alasca até o Texas e mesmo assim não ter uma só imagem memorável. Isso porque tudo é feito em close e com uma insistência ridicula em cortar e cortar e mover o foco. Todos os cortes são exagerados, eles são errados todo o tempo. E tome movimento, tome mudança de cena, tome narração de fundo ( pelo Monty Python John Cleese ). Histerismo, nulidade. A história, que fala sobre 3 homens apaixonados por observar pássaros, é desperdiçada. O que dizer de um filme sobre a natureza que exibe muito mais celulares e carros que paisagens e bichos? Steve Martin, que foi um talento imenso, destruiu seu rosto: as plásticas eliminaram seu talento facial. Jack Black faz as mesmas caras e bocas de sempre e Owen é o mais esforçado, o que não significa muito aqui. Eis um filme que demonstra o tipo de cinema televisivo que está matando o cinema cinema. Nota ZERO.
   CAVALO DE GUERRA de Steven Spielberg
Careta, conservador, pouco ousado, e delicioso. Um mestre fazendo um filme de mestre. Há idiotas que reclamaram da guerra ser "mal mostrada"... Como? É coisa daquela gente que só consegue se emocionar às porradas. Precisa de visceras e sangue para sentir. Coitados.... Outra crítica é ao encontro do soldado inglês com o soldado alemão. Para mim é uma cena belíssima. Fantasiosa, hilária, corajosa. Viagem de Steven? Sim! Que bom! É um prazer assistir esta história. Plenamente satisfatória, seu não-sucesso atesta a decadência do público de cinema e não de seu diretor. Ele nos relembra o prazer de se ver e ouvir uma história bem contada. Nota 9.

Trailer: Lenny. de Bob Fosse



leia e escreva já!

LENNY, UM FILME DE BOB FOSSE ( A REALIDADE DO CINEMA )

   Numa crítica da Veja sobre o DVD de "PARCEIROS DA NOITE", filme de 1979 sobre o mundo hardcore-gay, com Al Pacino, fala-se que o filme exibe uma coisa que sumiu do cinema atual: a realidade. Hoje vemos violência chocante, dramas contundentes, sexo doentio, emoções aviltantes, mas não a tal realidade. A realidade é feita de cenários comuns, nem bonitos e nem imundos, de tempos longos e mortos e de pessoas complexas. LENNY, feito em 1974, portanto do período mais realista do cinema, é de verdade.
   Lenny Bruce foi um humorista, tipo stand-up, que ajudou, e muito, a quebrar o puritanismo americano. Nos anos 50, enquanto na França, Itália ou mesmo no Brasil, se escutavam palavrões no teatro, Lenny era perseguido nos EUA por falar de masturbação, homossexualismo e falar palavras como "cocksucker". Casado com uma stripper, viciado em heroína, morto ainda jovem, Lenny acabou se tornando um tipo de herói outsider no momento em que as coisas mudaram. Bob Dylan e Leonard Cohen o têm como mito.
   O filme nada glamuriza. E nem faz dele um trapo. Nada de cenas bem-loucas e nada de sofrimento cruel. É um cara de verdade, às vezes legal e às vezes um crápula. Miles Davis cedeu 3 músicas para o filme, é um dos filmes mais jazz que já vi. Talvez seja o mais jazzy.
   Bob Fosse foi um gênio. Surgiu como coreógrafo nos anos 50. No musical "KISS ME KATE", há um número coreografado pelo jovem Fosse. Já antecipa tudo o que ele traria à Broadway: sexo, leveza, esperteza, malandragem. Ele logo estourou no teatro e começa no cinema em 1968, com CHARITY, uma homenagem á Fellini. Fracasso de público, é um grande filme. Em 1972 ele faz um filme barato, um tal de CABARET. Sucesso absoluto, é o filme que melhor exibe o clima da Alemanha nazista. Com esse filme, Fosse ganha o Oscar de direção, vencendo "apenas" Coppolla em O PODEROSO CHEFÃO. Bob Fosse nesse ano conquista um recorde que nunca será batido, ganha os 3 maiores prêmios numa mesma temporada: o Oscar no cinema, o Tony na Broadway por PIPPIN' e o Emmy na TV pelo show LIZA COM Z. Mas o que ningém sabia é que Fosse era muuuuito INTENSO demais. Mulheres, cigarros, álcool, insônia, anfetaminas, estimulantes. Faria apenas mais 3 filmes, este LENNY, e depois venceria Cannes com ALL THAT JAZZ ( o filme que vi mais vezes na minha vida ). O final seria com seu maior fracasso, STAR 80, um lixo. Na Broadway continuaria vitorioso, até ter um enfarte em 1987 e falecer. Junto a John Huston, Bob Fosse é o cara que eu queria ter sido.
   Dustin Hoffman faz Lenny. E sabemos que trabalhar com Dustin em 74 era um inferno. Exageradamente perfeccionista, ele exigia inúmeras refilmagens, discutia os motivos dos diálogos e se trancava para estudar a psicologia do papel. Em ALL THAT JAZZ, Fosse mostra o clima insuportável das filmagens de Lenny. Ele sofreu um enfarte ao fim da montagem, exatamente como em JAZZ. Mas valeu a pena, o que vemos é Dustin Hoffman se tornar Lenny diante de nossos olhos. Cada cena que passa é mais um passo na direção da total transformação e ao fim do filme não há mais Dustin, o que há é Lenny.
   O filme mostra o ambiente que Fosse melhor conhecia: espeluncas, bares pequenos, cheios de putas, cafetões, músicos de jazz, ladrões e fracassados. Feito em P/B, tem uma fotografia granulada, cheia de closes, rostos sem maquiagem, feios, gordurosos, enrugados. É um filme desagradável, crú, sem nada de "bonito". Mas é belo, forte, vivo. Tem uma cena, ao final, em que Lenny entra em cena drogado e não consegue dizer coisa com coisa, que é feita sem um só corte. São cerca de 10 minutos de câmera parada e nem uma só concessão. Dustin se desnuda, a ausência de cortes faz com que a alma de Lenny se revele.
   Valerie Perrine, atriz que tinha tudo pra se fazer star mas que não deu certo, está soberba como a stripper. Decadente, sexy, tem uma cena ao telefone, patética, que lhe garantiu um lugar de destaque. É chocantemente real.
   Longe da perfeição ( o filme jamais exibe o porquê de Lenny ser tão genial ), é um filme que se arrisca, que aposta, que faz o que quer sem pensar nas consequências. Como foi Lenny Bruce. Como foi Bob Fosse.

ELIA KAZAN/ WARREN BEATY/ TOTÓ/ PAUL GIAMATTI/ GAINSBOURG/ MICKEY ROURKE/ RENE CLAIR/ BERGMAN

TOTÓ PROCURA CASA de Mario Monicelli e Steno com O Grande Totó
Que humorista foi esse tal de Totó!!!! Que rosto! Não espere elaboração dele. Não espere "humor sofisticado". Totó é um palhaço, como Mazzaropi, como Renato Aragão, como Buster Keaton e o Jim Carrey dos bons tempos. Seu humor é infantil, direto, simples, e portanto corajoso. Aqui o objetivo é o riso, só o riso, se seu público não ri o humorista falhou, daí sua coragem. Neste filme ( dos primeiros desse fenômeno chamado Monicelli ) ele é um pai de familia sem casa. O filme mostra ele tentando achar lugar para morar ( tenta uma escola, cemitério e até no Coliseu ele se aloja ). Uma chanchadona que é de um doce saudosismo. Totó foi um graaaande comediante! Nota 7.
CLAMOR DO SEXO de Elia Kazan com Warren Beaty e Natalie Wood
Crítica abaixo... É mais um belo retrato da América feita por esse tão importante diretor. Warren está muito bem como o jovem aluno inocente e rico ( é seu primeiro filme ). Natalie não está a sua altura na primeira parte do filme, depois ela cresce e acaba por nos comover. Drama de primeira. Nota 8.
FAY GRIM de Hal Hartley com Parker Posey e Jeff Goldblum
Talvez um Alphaville? Uma brincadeira de Hartley que lamentávelmente não dá certo. Parker está muito sexy ! Mas que roteiro é esse???? Nota 2.
NINHO DE COBRAS de Joseph L. Mankiewicz com Kirk Douglas, Henry Fonda e Warren Oates
Pois bem... este é um filme muuuuito errado! Explico o porque. Temos David Newman e Robert Benton, os dois mais brilhantes roteiristas da época. Eles escrevem uma história sobre um cowboy ladrão e uma prisão de desajustados. O roteiro, típico da época contracultural, atira em xerifes, racistas, mulheres, westerns etc. Mas, chamam para dirigir o filme Joseph L. Mankiewicz, o diretor, excelente, de A Malvada. Um grande nome, mas um estranho no ninho!!! O que acontece então? Nada. O roteiro, cheio de boas ideias, é asfixiado numa direção acadêmica. O resultado é morno. Kirk é perfeito para esse tipo de perverso/espertinho e Fonda brinca com seu tipo de americano/Lincoln. Mas é Hume Cronyn, fazendo uma espécie de debilóide que mais impressiona. Não é uma grande comédia, mas é ok. Nota 6.
PASSION PLAY de Mitch Glazer com Mickey Rourke, Megan Fox e Bill Murray
A capa do dvd promete: Rourke como um trompetista de jazz decadente. O ambiente é Utah. Fox é uma angelical esperança de redenção e Murray um empresário sacana. Atraente né? Pois é um drama risível de tão ruim. Deve ter sido escrito por algum fã de cinema com 8 anos de idade ( o roteiro macaqueia Asas do Desejo e um monte de filmes noir dos anos 40 ), o diretor, é flagrante, pensava estar fazendo um bom filme, deve ser um nerd de 11 anos e quem o produziu crê que o público de cinema é imbecil. Megan Fox é um anjo ( ela tem asas )..... e na última cena Mickey Rourke voa com ela rumo ao céu.... se aqui descrito parece ruim, creia-me, é bem pior na tela. Chega a ser cretino. Sem nota. Faz de conta que jamais o vi.
SLOGAN de Pierre Grimblat com Serge Gainsbourg e Jane Birkin
Um publicitário conhece em Veneza Jane Birkin. Ele é casado. Se amam, mas Jane o abandona. Pois é.... eu gosto muito de Serge e este é o filme em que ele conheceu Jane. Mas que lixo é este? Serge é péssimo ator e Jane chega a rir em cena !!! O filme é constrangedor de tão amador!!! Não é um filme, é muito mais um documentário sobre um flerte. Nota 1.
PORTE DE LILÁS de René Clair com Pierre Brasseur e Henri Vidal
Em favela francesa ( sim, são barracos em ruinas ) um assassino se esconde. Fica no porão de um cantor fracassado e é ajudado por um tolo ingênuo. O filme tem belas imagens, mas se perde em sua excessiva glamurização da pobreza. Clair funciona melhor em fantasias puras, onde ele pode "levantar vôo". Nota 5.
ATRAVÉS DE UM ESPELHO de Ingmar Bergman com Harriet Andersson, Max Von Sydow, Lars Passgard e Gunnar Bjorsson
Uma obra-prima, devastadora. Retrato de uma personalidade em crise ou retrato de nossa condição desde sempre? Bergman nada enfeita, nada exagera, nada dramatiza. Faz o que ele pensa dever ser feito, sem jamais mudar de rumo. É um filme de tristeza polar, mas também de uma beleza profunda, seca, perturbadora. Nota DEZ.
A MINHA VISÃO DO AMOR de Richard J. Lewis com Paul Giamatti, Dustin Hoffman e Rosamund Pike
Uma coleção de clichés. Acompanhamos a vida de um mala por 3 décadas. Cliché: a década de 70 e suas drogas, a esposa doidona, a vida como irresponsável flerte. Segundo cliché: a segunda esposa é uma chata judia à woodyallen... Já a terceira esposa é dos tempos atuais, mais cliché: gente que só pensa em saúde e equilíbrio. No final, supremo cliché: violinos e pianinho enquanto ele sofre de doença incurável.... Os críticos gostaram? Pobre crítica! Paul Giamatti imita Jack Nicholson. Faz exatamente o tipo que ele faz desde 1983. Mas é bom ator. É imitação de bom nível. Dustin nada tem a fazer. Fica lá, como um tipo de velho tarado. A direção é franciscana: pobre. O filme já nasce velho e com cheiro de reprise do SBT. Nota 3.

AL PACINO/ DUSTIN HOFFMAN/ LUBISTCH/ CAPRA/ ERROLL FLYNN/ KIRK DOUGLAS

ZOMBIELAND de Ruben Fleischer com Jesse Eisenberg e Woody Harrelson
Jesse tem filmado muito. Falta ator com sua idade? Sua forma de atuação é sonambulica. Vamos dar nomes aos bois? Isto não é cinema. Não que eu saiba o que seja cinema, mas isto não é. Talvez possa ser chamado de brincadeira de internet ou game em telão. Aquelas coisas: humor chulo, visual pseudo-moderno e umas gostosas com pouca roupa ( e nada sexys ). Anuncia e exemplifica a crise do cinema de agora. O horror, o horror.... Nota Vácuo.
THE MECHANIC de Simon West com Jason Statham, Ben Foster e Donald Sutherland
É de bom tom se colocar atores dos anos 60/70 em filmes bobos. Dá uma pretensa dignidade à coisa. IanMcShane, Peter Fonda, Robert Duvall, Jon Voight têm sido muito usados nesses pequenos papéis de brilho falso. Jason ( ator de quem eu gosto. Ele é limitado, mas tem um resto do resto daquela frieza de Steve McQueen ), é um assassino profissional ( ser killer virou profissão de glamour ). Ele é enganado e mata seu mentor. O resto é ação. Adoro filmes de ação e me convenço cada vez mais ( com a ajuda de certos pensadores gregos ) que o valor absoluto da arte está no prazer que ela nos dá. Este filme não é um grande prazer, com certeza, mas é hora de percebermos que filmes de ação são cinema de imenso valor. Nota 4.
A LONGA NOITE DE LOUCURAS de Mauro Bolognini com Jean-Claude Brialy, Elsa Martinelli, Rossana Schiafino
O roteiro é de Pasolini. E pasolinianamente, mostra o submundo reles de Roma. Jovens roubam armas, andam com prostitutas, vendem as armas, perdem o dinheiro, o recuperam, gastam tudo em boate, voltam pra casa. Bolognini foi digno representante dos diretores italianos classe b. Um vasto campo que abrangia de Risi à Rossi, passando por Zampa e Lattuada. Aqui é sedutora a imagem de uma Itália cheia de favelas, ruas de terra e muita fome. Ao mesmo tempo vemos o nascimento do consumismo e da americanização ( o filme é de 1959 ). Mas, como sempre acontece com Bolognini, ele se deixa levar por um certo tédio, o filme perde o ritmo às vezes, e alguns cortes lhe fariam bem. Nota 6.
O ESPANTALHO de Jerry Schatzberg com Gene Hackman e Al Pacino
Pacino nunca foi tão engraçado. Há uma cena de "assalto" que é hilária!!! Mas o filme, feito no auge da contracultura, é triste, melancólico. É sobre um ex-presidiário ( Hackman na atuação de sua vida ) que conhece um marinheiro ( Pacino, melhor que aqui, raras vezes ). Os dois pegam carona juntos e passam a dividir sonhos. Hackman faz um tipo explosivo, do mal. Pacino é inocente, quase um bobo. Há muito de Laurel e Hardy nos dois. Com o correr do filme, Hackman se humaniza e Pacino após choque terrível se torna catatônico. É um filme que ama seus atores. Os dois têm tempo para improvisar, criar personas, nos impactar. Relembrando o filme agora ( assisti-o sete dias atrás ) o que me ficou são seus rostos, comoventes. Árido e muito doído, é um filme para quem ama filmes. Nota 8.
MARATONA DA MORTE de John Schlesinger com Dustin Hoffman, Roy Scheider e Laurence Olivier
Fez sucesso na época este thriller sobre criminosos nazi na América dos anos 70. Hoffman é torturado, enganado, perseguido e não precisa atuar. Olivier é o nazi e recebeu indicação ao Oscar. Não brilha, apenas está lá grunhindo. Scheider está excelente como o irmão que se vendeu aos nazis. ( Os nazis são agora traficantes de diamantes ). Schlesinger dirigiu 3 obras-primas em seu auge. Este não é seu melhor momento. Nota 6.
LADRÃO DE ALCOVA de Ernst Lubistch com Herbert Marshall, Miriam Hopkins, Kay Francis, Edward Everett Horton
Quando Lubistch, já diretor famoso, foi convidado a trabalhar na Paramount, o cinema americano mudou. Ele trouxe charme vienense a Hollywood. Aqui, vemos um casal de ladrões aplicar um golpe numa herdeira futil. Tudo é escapismo, tudo é chic, tudo é prazer. O modo como os dois ladrões se conhecem ( um rouba o outro e é roubado então ) é aula de ritmo. Também demonstra em imagens o nascimento de um afeto. Herbert Marshall é um tipo de ator completamente extinto. Seus modos são tão elegantes que hoje ele passaria por gay-afetado. Dá para notar também o modo como toda fala remete a sexo, sem que nada seja realmente dito. Críticos costumam apontar este como o melhor filme de Lubistch ( e alguns dizem ser ele o melhor dos diretores ), não acho. É uma comédia maravilhosa, mas ele faria ainda mais no futuro. De qualquer modo, a circulação de filmes como este justifica a criação do dvd. Nota 9.
ACONTECEU NAQUELA NOITE de Frank Capra com Clarck Gable e Claudette Colbert
A comédia de Capra é radicalmente diferente da de Lubistch. Aqui tudo é mais direto, mais febril e muito mais "sensível". Capra nunca é cínico. Este imenso clássico fala de casal que se encontra em ônibos inter-estadual. Ela é milionária em fuga do pai para se casar com noivo interesseiro. Ele é jornalista desempregado. E o filme é exemplo de perfeição: nada falha, não há um só minuto sem interesse, tudo, roteiro, elenco, direção, funciona com naturalidade. Perfeito. O casal acaba por se apaixonar e isso é muito convincente. Vemos passo a passo o nascer desse amor. Boas histórias são assim: acontecem como destino invencível. Nos convencem de que Tem de Ser desse Modo. Gable era feio e desajeitado, e mesmo assim consegue ser sempre sexy e simpático. Colbert, a mais mignon das atrizes, está apaixonante. O que mais se pode querer? Nota DEZ!
CONTRA TODAS AS BANDEIRAS de George Sherman com Erroll Flynn, Maureen O'Hara e Anthony Quinn
Erroll já estava meio inchado pelo álcool, mas mesmo assim usa seu charme desinteressado e domina o filme. Que trata de espião ( Flynn ) enviado pela marinha inglesa ao covil de piratas ( Quinn e Maureen ). Não é a ação o cerne do filme, é a relação entre Erroll e Maureen, relação que funciona. O filme é hiper colorido, alegre e bem produzido. É este o filme pop pelo qual o cinema de uma dada época deve ser julgado. É o equivalente aos filmes de terror em série e as comédias teen de agora. É por esse cinema que se avalia a saúde de uma época e não por suas excessões. Este leva nota 6.
ULYSSES de Mario Camerini com Kirk Douglas, Silvana Mangano e Anthony Quinn
É a Odisséia feita em Cinecitta. Filme tolo, com coadjuvantes fracos, mas que mostra também a imensa força do mito de Odisseu. As cena de sua volta à casa como mendigo, do affair com Circe e da vingança final são emocionantes mesmo aqui. Mas o filme no geral é constrangedor. Nota 3.

BRINQUEDO PROIBIDO/BURTON/TARZAN/MIDNIGHT COWBOY/YVES ROBERT

ON PURGÉ BEBÉS/ CHARLESTON de Jean Renoir
O primeiro é uma insuportável "comédia". Verborrágica, mal feita, chata de doer. O segundo é um curta mudo sobre visitante de outro planeta que encontra uma aficcionada por charleston. O ET é um negro africano que vem à Paris num disco voador. A França deste futuro renoireano é uma decadente Africa selvagem. O filme é muito divertido, e os dois dançam maravilhosamente bem. Inclusive um moonwalk !!!!!! Para quem gosta de jazz é obrigatório. nota zero e nota 5.
A GUERRA DOS BOTÕES de Yves Robert
Famosíssimo e premiado filme sobre o fim da infância. Trata-se de uma comédia e ele funciona. Numa zona rural, bando de meninos briga em guerras, cheias de táticas e militarismos vários, contra a turma do bairro rival. Os atores infantis e adolescentes estão perfeitos e o filme transpira uma poesia simples e serena de infancia muito feliz. Em contraste, os adultos estão todo o tempo ocupados com tolas rivalidades : percebemos que a rivalidade "de brinquedo" das crianças é muito mais vital. No fim, tememos pelo dramalhão e pela apelação, mas não, a mensagem é a de que a liberdade sempre vence e de que nada é mais livre que uma criança. Belo e necessário filme. nota 9. ( Há uma cena de nú que seria impensável hoje. )
MIDNIGHT COWBOY ( PERDIDOS NA NOITE ) de John Schlesinger com Jon Voight, Dustin Hoffman, Viva !, Brenda Vaccaro
É um pesadelo urbano em technicolor borrado. O filme nada envelheceu, infelizmente as cidades continuam as mesmas. Trata-se de uma maravilhosa parábola sobre a solidão ( o roteiro, do grande Waldo Salt, é perfeito ). O tolo cowboy ( um Voight que domina o filme em desempenho histórico ) é doido por mulheres e dinheiro. A ironia é que ele vai encontrar dinheiro em gays solitários e o amor com um tuberculoso repulsivo ( Dustin um pouco caricato demais. Mas talvez o filme precise de seu humor. Sem seu Ratzo, o filme seria insuportávelmente triste ). Acompanhamos sexo homo em cinema, festinha da turma de Andy Warhol ( maravilhosa !!!! ), mulheres casadas que só querem sexo e nossos heróis, completamente derrotados e esquecidos de sí-mesmos. Schlesinger, inglês vindo do new-cinema, dirige com olhar estrangeiro, observa sem se envolver; a trilha sonora tem John Barry, o cara que fez as trilhas de james Bond, e que cria aqui um tema de harmônica que se tornou universalmente aceito como um hino a solidão urbana. Quanto a famosa cena final : é uma das mais dolorosas já filmadas. Sentimos uma profunda compaixão por Voight. Tudo deu errado para esse cowboy. Em nível simbólico, o filme, ao ganhar toneladas de Oscars, marca o fim da América dos cowboys ( se fala de Gary Cooper no filme ) e dos imigrantes sonhadores ( é este o papel de Dustin ). É o réquiem das duas forças que fizeram o sonho americano. O filme é vasto, rico, nobre e profundamente amargo. nota 9.
TARZAN de WS VanDyke com Mareen O'Sullivan e Johnny Weissmuller
Era para ser um filme médio da Metro. O sucesso foi tanto que virou uma longa série de filmes. Johnny é o melhor dos Tarzans, ele é selvagem porém amável, forte, mas jamais idiota. Mas, quem diria que a atriz que eu considero a mais bela do cinema é a mãe de Mia Farrow ? Pois é, trata-se desta Jane, O'Sullivan, maravilhosa mistura de força interior e travessuras mimadas, de uma morena como só a Irlanda fazia. Ela é a Musa. O filme cria a clássica aventura de terra distante ( é de um tempo onde ainda existiam terras distantes. Não se precisava criar viagens no tempo ou intergaláticas para se chegar à aventura. ) É uma Africa de bichos se engolindo, selvagens ameaçadores, tesouros secretos e onde, chocante para nós, tudo que se move merece um tiro. Os caras atiram em tudo, sem dó. Jane tem uma clãssica fala racista: "- ...mas Tarzan não é um animal ! Ele é branco ! " Hoje dá pra rir de tanta tolice, na época era trágico. Jackie Robinson, Paul Robeson e Jesse Owens que o digam. nota 6.
EDWARD MÃOS DE TESOURA de Tim Burton com Johnny Depp, Dianne Wiest, Winona Ryder e Alan Arkin
O melhor é a trilha sonora de Danny Elfman. Temo que os filmes de Burton não sobrevivam ao tempo ( que é o único crítico que importa ). Apesar de seu imenso talento para criar um clima de fábula, apesar de seu genuíno amor ao cinema, seus filmes carecem de força, de fibra, de élan. Este é um exemplo : revendo-o agora, desejando adorá-lo, me pego gostando de sua bondade, do visual fake e hiper colorido, da mensagem singela. Mas ele é como um doce que passou do ponto, não dá vontade de quero mais. Gostamos, mas jamais amamos. Ainda emociona Winona cercada pelos flocos de neve, mas o filme é uma refilmagem de "Juventude Transviada" em Disneylização. O filme com James Dean é imensamente maior. Nota 6.
O BEIJO AMARGO de Samuel Fuller com Constance Towers
Há quem chame Fuller de gênio. Eu não. Diretor durão, teimoso, que "não deu certo", foi descoberto pela turma dos Cahiers em 59/60 ( Truffaut, Chabrol, Godard, Rhomer, Rivette ). Este filme é obra de um louco. A primeira cena, em jazz, mostra uma puta careca surrando um gigolô. Pois essa mulher, em cidade pacata, se torna enfermeira de crianças deficientes. E o filme vira drama edificante. Depois ela faz cafetina engolir dinheiro e se enamora de pedófilo milionário. O filme é tão neurótico, suas cenas filmadas de um modo tão abrupto e seco que não há como respirar. Você o repele. A diferença é que para os fãs de Fuller ( Wenders também o adora ) esse clima é fascinante. Para mim é apenas feio. nota 2.
A BESTA HUMANA de Jean Renoir com Jean Gabin, Simone Simon e Fernand Ledoux
Crime e paixão no ambiente ferroviário. Gabin é um doente mental que lá trabalha, Simone, linda, uma esposa infiel que cometeu um crime, e Ledoux é o marido corno e assassino, viciado em jogo. O elenco está bem, com excessão de Gabin que exagera no ar fatalista. As cenas documentais que mostram o trabalho nos trens e a vida nos bares são excelentes. Mas o drama em sí é banal. Renoir é bom diretor, irregular, às vezes genial, mas é super valorizado. nota 5.
BRINQUEDO PROIBIDO de René Clement com Brigitte Fossey e Georges Poujourdy
Quando em 59/60 Truffaut e Godard dominavam as telas e os textos da França ( e influenciavam toda a crítica do mundo ) Clouzot e Clement eram ridicularizados. Eram considerados velhos, acomodados, passados. Na verdade o que não lhes perdoavam era o fato de serem bem sucedidos, premiados, ricos. Clement ganhara dois Oscars, em 50 e 52, e este filme é o seu segundo Oscar ( ainda venceu em Veneza ). Trata-se, talvez, do maior filme já feito sobre a infância. Vamos a história : Uma estrada, 1940. Gente foge dos bombardeios nazis. Confusão de carros, carroças, e de aviões que atiram sem dó. Uma menina tem seus pais metralhados ( e seu cão também ). O filme acompanha o que ocorre com essa criança. Ela vai parar numa fazenda onde é acolhida. Mostra-se então a vida dos adultos a dela e de seu novo amigo, o filho do fazendeiro, de onze anos. Os dois se tornam companheiros e assistimos a delicada história dos dois. Eles se apaixonam, mas se apaixonam como só um menino de onze e uma menina de sete anos podem se apaixonar. Pauline Kael disse que se o filme acompanhasse apenas a história dos dois ele seria tão duro que ninguém conseguiria parar de chorar. Sábiamente, Clement mostra também a vida adulta ao redor, e a vida desses adultos é uma comédia, grossa, vulgar, real. O filme então não é um drama choroso, apesar da tristeza do tema; nem é uma fábula infantil sobre adultos cruéis ( eles nada têm de ruins ). É sobretudo um poema, belíssimo, sobre a solidão da infância, sobre o mal que um adulto pode fazer sem o saber, sobre a covardia da guerra, e é sobre a morte também. A diversão das crianças é construir um cemitério de animais, para que "seus corpos não fiquem na chuva". A morte trouxe a menina para a vida do menino, ele lhe dá um cemitério de presente, e corpos de bichos que morreram. O filme é devastador, mas repito, jamais se torna um drama.
A menina, Brigitte Fossey, tinha oito anos quando fez o filme. Sua atuação é um milagre. Nunca ví nada parecido. Ela depois se tornou atriz adulta, estando até em "O homem que amava as mulheres" de Truffaut. O menino está magnífico, um pequeno amigo, mentiroso, ladrão, gatuno apaixonado, rebelde. O final desta simples obra-prima é um dos maiores manifestos já feitos contra a guerra : nos dá um soco no queixo e se vai embora, abandonando-nos grogues em meio ao horror. O que foi feito dessa criança ? Porque ela não pode ser simplesmente feliz ?
Uma das maiores tragédias de nossa época é exatamente o fato de não permirtirmos as crianças que sejam crianças. Que vaguem sem rumo pelo tempo, pela rua, pela vida. Aqui elas fazem isso, em meio ao inferno, e conseguem ser quase felizes ( no absurdo ). Este é um filme que dignifica o cinema. É nobre, humano, de verdade, inteiro. Nos faz querer fazer o bem. Mas atenção : não é um drama ! nota Dez.