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A BELEZA SALVARÁ O MUNDO....CONSIDERAÇÕES SOBRE DOIS FILMES QUE TENTAM SER BELOS

Me admira o fato de como a esquerda vive em um mundo completamente diferente do meu. Então, se voce for de esquerda, provavelmente voce não sabe que uma das frases mais amadas pela direita, e que virou mania na rede, é aquela que diz : NADA É MAIS REVOLUCIONÁRIO NO MUNDO DE HOJE QUE A BELEZA. Claro que como esquerdista voce deverá perguntar: DEFINA BELEZA. Nossa resposta é simples: SUA PERGUNTA É FEIA. O fato de voce precisar que alguém te explique o que é belo prova que desse assunto voce nada sabe. Touché! --------------------------- A quantidade de gente hoje, no meio do cinema, que diz amar os filmes de Michael Powell serve apenas para o desvalorizar. É muito provável que o amem pelo motivo errado. Ou pior, digam que sentem amor quando na verdade querem apenas provar ter raízes cinematográficas. Scorsese o amou muito antes da moda. Nos anos 70 ninguém lembrava de Powell porque politicamente ele é direitista. Mas Martin já entendia que a beleza é o bem supremo. O americano nunca mais deixou de crer nisso. Powell felizmente morreu velho. Houve tempo de ganhar homenagens. E se casou com a montadora de Scorsese, a multi premiada Thelma Schoomaker. ( Se escrevi errado é porque voce sabe quem ela é ). ------------------- Rubens Ewald Filho odiava Powell. Ele dizia que o inglês era brega, datado e risível. Sempre gostei do anti intelectualismo de Rubens, ele gostava de filmes por serem bons e apenas por isso. Mas nessa ele nada entendeu. Powell é acima de tudo bonito e logo em seguida divertido. ------------------------ Ontem revi CONTOS DE HOFFMAN, pela quarta vez. Quando o asssiti pela primeira vez, uns dez anos atrás, dormi no meio da exibição. Na segunda tentativa gostei muito e na terceira me emocionei. Ontem pensei no ROXY MUSIC. ------------------------- Roxy Music é uma banda inglesa de rock progressivo e pop. Em seus melhores discos voce nunca sabe se eles estão falando a sério ou se estão brincando. O alvo deles é sempre a beleza, e, como todo homem que entende o que o belo seja, eles jogam ao lixo o pudor e o bom gosto. Bryan Ferry e seus asseclas não temem ser brega. Eles sabem que a beleza moldada em bom tom nunca é totalmente convincente. Se é para chorar, o Roxy derrama rios de dor, e se é pra ser chique, eles misturam tuxedos com purpurina. Os clips de Ferry nos anos 80 e 90 são incrivelmente lindos. E soberbamente bregas. Auto confiança. Ferry é formado em artes plásticas, ele conhece Klimt. --------------------- CONTOS DE HOFFMAN é o maior clip de Bryan Ferry já feito e é a mais bela capa do Roxy Music imaginada. Powell e seu camarada, Pressburger, sempre em dupla, Powell dirigia, Pressburger produzia, os dois escreviam, usam as duas formas de arte mais demodé do século XX: Opera e ballet clássico, e ousam fazer um filme que é um desfile gay de afetação e breguice explícita. É lindo, e por isso é profundamente revolucionário. ------------------------ Scorsese ousou dizer, mais de uma vez, que entre 1942-1952, Powell e Pressburger fizeram a sequência de filmes mais ousada de TODA A HISTÓRIA DO CINEMA. Nem Bergman em 1954-1968 ou Godard em 1959-1967 foram tão longe. Porque isso? ---------------------------- Nessa sequência de filmes não há duas obras que se pareçam. Eles vão de contos das mil e uma noites à romance espiritualista, filme sobre religião e fé e filme sobre o sentido da arte, filme sobre guerra e filme sobre viagem interior. Todos os gêneros, todos os estilos, mas sempre dentro do mundo criado pelos dois, Powell e Pressburger ( assinavam The Archers ): Beleza e fantasia, nobreza e sonho. ------------------------------- CONTOS DE HOFFMAN não hestia em usar pérolas penduradas em óculos cor de rosa, batom e lamê, sedas e veludos às toneladas, penteados esquisitos, vapores e cores berrantes, efeitos sonhadores. É uma busca de beleza epifânica sem trégua. A flecha viaja e o alvo a espera. ------------------- THomas Beecham, talvez o maior maestro da história inglesa rege Jacques Offenbach. Hoffman é uma opereta, e o fato de Powell não ter optado pelos mais "finos" Mozart ou Verdi diz muito sobre sua arte. Ele busca a imagem cinematográfica. Não importa onde. --------------------------- A música é bela, às vezes divina, mas jamais complexa. È o pop do seculo XIX. A fotografia, technicolor farto e generoso, é de Christopher Challis. Moira Shearer dança, Ashton faz a coreografia, Ludmila Tcherina tem uma beleza imorredoura. -------------------- Eu não gosto de ballet clássico e ainda não aceito a ópera, e mesmo assim amo este filme. Porque ele não faz sentido. Não é elegante. Não exibe filosofices. É apenas e tão somente bonito. E é dos poucos filmes que realmente atingem o mundo onírico. É um vasto sonho. E sonhos meu bebê, são bregas. --------------------------------- Depois, com insonia, assisti FANTASIA, o de 1940. Como já esperava, Paul Dukas, Mickey e o Aprendiz de Feiticeiro são a melhor coisa. Stravinsky quase chega lá. E Beethoven é assassinado. A Sexta Sinfonia com unicórnios coloridos, arco íris, crianças com bundinhas de fora, centauros atléticos e centaurinhas de 13 anos, a natureza escorrendo mel e a bondade fake mandando nesse mundo de algodão doce? Deus meu! Eis o mundo PC de 2021 em 1940 !!!!! Quase vomito vendo tamanha bobagem. Pobre Beethoven....

O CARA QUE MUDOU O MUNDO

   O homem que mais mudou o mundo morreu há 50 anos. Era um caipira dos USA e não um rato da Sorbonne. Walt Disney criou a maneira como vemos a natureza e os animais. Seus desenhos e seus filmes de TV ( feitos nos anos 50 e 60 ), fizeram com que humanizássemos os bichos e os bosques. E isso mudou o planeta.
  Disney nos liberou para que cachorros fizessem parte da família, cavalos tivessem direitos e a vida selvagem parecesse gentil. Se nada disso é verdade não importa. Disney inventou verdades novas.
  Mas há mais. Foi ele o criador do parque temático, do filme de família, da mídia como ponto de venda, do evento multi mídia. A forma como vemos uma família ideal, filhos ideais, escolas ideais, natal ideal...tudo se tornou um tipo de Graal de Disney, e mesmo que voce não acredite na família sorridente, saiba que em sua mente essa imagem faz um apelo para voce. Basta ver que até casais gays querem viver dentro desse sonho familiar.
  Bichos antes de Walt eram apenas bichos não pensantes e não falantes. Havia quem os amasse. Mas eram ratos, não eram Mickey. E a família era a família paternalista e não a família engraçadinha e democrática irônica de Disney.
  Posso ainda dizer que Walt engloba a perfeição o sonho americano. Mas isso até Gates ou Rockefeller englobam.
  Esse caipira criou um rato e mudou tudo.
  Somos todos meio ratos.

FANTASIA....MERYL....CHET....HUSTON.....PORKY'S....GABLE....BARBARA....

   FANTASIA 2000
A versão de 1940 é melhor. Vale lembrar que em 40 era uma ideia muito original, pegar música e construir imagens ou uma história. Clips antes do tempo. Disney sonhava popularizar a música erudita, mas o filme foi um fracasso. Em 2000 fizeram esta nova versão. O espírito de novidade já se fora, mas existem dois segmentos excelentes. A história sobre Rhapsody in Blue de George Gershwin é deliciosa. São cenas de NY nos anos 30. Além do que, a música de Gershwin é uma das 10 melhores coisas que já escutei. Melhor ainda são as imagens de baleias voadoras ( ver para crer ). Sobre a música de Respighi, imagens sensacionais de baleias que voam no mar, no gelo e nos céus. Temos ainda uma bela sequência de Saint-Saens e a reprise do Aprendiz de Feiticeiro, de Dukas. O resto é mais ou menos... Mas vale muito ver!!!! Nos extras um curta dos anos 50 de Ward Kimball. A História da música em sketches bem humorados. Muito bom!
   FLORENCE, QUEM É ESSA MULHER... de Stephen Frears com Meryl Streep, Hugh Grant e Simon Helberg.
Frears tem uma obra longa e no geral sempre interessante. Nos anos 80 ele fez instigantes filmes sobre o preconceito, comédias azedas, e o sucesso Ligações Perigosas. Talvez seu melhor filme seja The Hit. Nos anos 90 ele fez muita TV e se alternou entre filmes Pop e outros esquisitos. Neste século ele tem mergulhado em estranhas histórias reais ( A Rainha tem vários personagens estranhos... ). Incrível mas esta senhora Florence existiu. Uma milionária que amava a música, tinha sífilis, e queria ser cantora. O filme toca numa ferida funda: aqueles que amam a arte mas não possuem talento. Mais que isso: a diferença entre fazer e realizar. Alguns críticos reclamam da mistura de drama e comédia. Maus tempos estes, essa mistura não é um defeito, é um dom! O filme é muito bom! Divertido, me fez chorar, ridículo, bonito. Tem uma atuação contida e brilhante de Grant, um ator subestimado, revela o ótimo Simon Helberg e dá a Meryl mais uma grande atuação. Florence é patética, Meryl não. Adorei este filme!!!!
   BORN TO BE BLUE de Robert Budreau com Ethan Hawke e Carmen Ejogo.
A música é ótima e quando se ouve My Funny Valentine voce se arrepia. Ethan está bem, mas o filme é menos do que deveria ser. Jazz é joy!!!!! Uma boa fala: Chet diz que se droga porque é bom. Eu gostei do filme, mas penso que aqueles que não gostam de jazz irão achar ele banal. Tem boa fotografia.
   PORKY'S de Bob Clark
Enorme sucesso em 1981, é o pai dos filmes teen grosseiros. Fala de um bando de estudantes à procura de sexo, vingança e risos. Dá ainda pra rir, mas o roteiro é um quase nada. O elenco não vingou. O filme se passa em 1954, mas tudo parece com 1981 mesmo.
   MY GAL SAL de Irving Cummings com Victor Mature e Rita Hayworth.
A história de um compositor dos anos 1890. O filme é alegre, leve, divertido e bem bobo. Apenas mais um musical da Fox... Mature, famoso canastrão, não está mal.
   FOLIAS NA PRAIA de William Asher com Avalon e Funicello.
Buster Keaton, já bem velho, tem algumas cenas, boas. É o melhor filme da "turma da praia", e quem tem mais de 40 anos sabe do que falo. Um filme que é uma peça de pura saudade. Mundo de extrema inocência que não sei se um dia existiu. As músicas são OK.
   FUGA PARA A VITÓRIA de John Huston com Michael Caine, Sylvester Stallone e Pelé.
Num campo de prisioneiros, na segunda guerra, um general alemão ( Max Von Sydow ) , desafia um inglês, Caine, a formar um time de futebol e jogar contra os nazistas. O filme é bem pior do que parece. Huston estava bêbado e o que dizer de Stallone...Pelé atua bem melhor que ele! Juro! O roteiro é constrangedor...
   SONHAREI COM VOCÊ de Michael Curtiz com Danny Thomas e Doris Day.
A história do compositor Gus Kahn deu um filme OK da Warner. Doris Day está brilhante como sempre e Danny é o ator mais esquisito da história ( tem a cara do Luciano Huck ). Curtiz, diretor de Casablanca, leva tudo com a precisão de um relógio.
   SEIS DESTINOS de Julien Duvivier com Charles Boyer, Henry Fonda e vasto elenco.
Excelente filme que acompanha a história de um paletó. Primeiro com seu dono muito rico, até terminar numa favela de negros. Duvivier era um grande diretor francês que foi trabalhar nos EUA durante a guerra. Todas as 6 histórias são boas, algumas ótimas, e o clima é de alegria amarga. Há muito do cinema de Clair e de Carné aqui. Belo!!!!
   BABY FACE de Alfred E. Green com Barbara Stanwyck
Feito antes do invento da censura nos EUA ( 1934 ), o filme acompanha uma moça que transa com todos os homens  que encontra para subir na vida. E sobe, como ela sobe!!!! Stanwyck está sexy e esperta, o olhar de uma vulgaridade absoluta. Mas o filme, curto, não é muito mais que isso.
   ALMAS REBELDES de Frank Borzage com Clark Gable e Joan Crawford.
Um filme muito, muito estranho. Joan é uma prostituta num porto tropical. Gable um presidiário. Ele foge da prisão e ela se junta à ele. No caminho se juntam à um tipo de "Cristo", um fugitivo feito por Ian Hunter. O filme se torna então uma alegoria cristã. Gostar deste filme depende muito de seu espírito. Pode parecer ridículo ou sublime.
 

PETER JACKSON/ A BELA ADORMECIDA/ ISABELLE HUPPERT/ WC FIELDS/ JOHNNY DEPP

   INFERNO NO FAROESTE de Roel Reiné com Mickey Rourke, Danny Trejo e Anthony Michael Hall
Talvez seja o pior filme deste século. Uma gororoba que mistura western, inferno, muitos palavrões e aquela coisa de macho que só Peckimpah e Tarantino conseguem fazer. Rourke joga sua carreira no lixo pela segunda vez. Faz o papel do Demo. O filme tem acordes de guitarra mexicana, milhôes de cortes por minuto e mulheres bonitas com cara de 2013 em pleno século XIX. ZEEEEEEROOOOOOO!
  UMA AMOR TÃO FRÁGIL de Claude Goretta com Isabelle Huppert
Uma menina tímida vai passar férias na Normandia com uma amiga. Lá ela conhece um estudante. Namoram. Mas tudo dá errado. Isabelle Huppert, muito jovem, aparentando ter 15 anos, está em casa, faz aquele tipo triste e isolado que se tornaria sua especialidade. Gordinha, ela tem cenas de nú simples e naturais. Foi aqui que ela se revelou. O filme é bonitinho e pode dar tédio. O suiço Goretta desapareceu nos anos 80. Nota 5.
   MADRE JOANA DOS ANJOS de Jerzy Kawalerowicz
É considerado um clássico do cinema polonês. Na época medieval, um jovem padre vai exorcizar um grupo de freiras que foram possuídas por Satã. Ele deve se mudar para o convento e as salvar. O diretor usa a técnica de Dreyer, crê no que mostra, as imagens se tornam quase documentais, belas de tão austeras. Voce não tem escolha, ou fica bocejando ou embarca fundo naquele mundo de horror. Nota 6.
   THE LONE RANGER de Gore Verbinski com Johnny Depp, Armie Hammer e Tom Wilkinson
Gore Verbinski fez O Ratinho Encrenqueiro. E apesar de seus sucessos com O Pirata do Caribe e que tais, O Ratinho é seu melhor filme. Porque Gore nasceu para fazer cartoon e isso fica provado aqui. Massacrado pelos críticos, injustamente, este é um bom filme se for visto como um cartoon. E cartoon, quando bom, é uma maravilha. Este não é um bom cartoon, é um cartoon ok. Mas nunca é chato. Diverte e até faz rir. Porque fracassou? Por ser um western. E também por ter um herói fraco. Indeciso. Cheio de boas piadas, luminoso e simpático, pode ver numa tarde de verão que vale a pena. Críticos? Estão cada vez mais rancorosos e distantes do público. Precisam voltar a ver Hawks e Sturges. Nota 6.
   A FROTA DE PRATA de Vernon Sewell e Gordon Wellesley com Ralph Richardson
Feito durante s segunda-guerra e produzido por Michael Powell, tem o grande Richardson como dono de um estaleiro holandês que fabrica submarinos para os nazistas. Na verdade ele os sabota. Eletrizante, cheio de suspense, o filme é simples, patriótico no ponto exato. Pouco conhecido, devemos so dvd o seu resgate. Eis o bom lado da tecnologia, sem o dvd como alguém descobriria esta pequena jóia? Para quem não sabe, Ralph Richardson foi o primeiro ator inglês a receber o título de Sir. Era um tempo em que esse título valia ainda muita coisa. Hoje até cozinheiros viram Sir. Nota 7.
   IT'S A GIFT de Norman Z. McLeod com W.C.Fields
O grande Fields! O humorista que a América adorava odiar... O gorducho ranzinza que odeia crianças, mulheres e cães...Aqui ele recebe uma herança e compra uma plantação de laranjas. O filme, anárquico, mostra seu cotidiano infernal e depois a ida à Califórnia. As cenas na estrada e uma outra onde ele tenta dormir na varanda são geniais. Junto a Buster Keaton e aos Irmãos Marx, Fields reina. Nota 7.
   FÉRIAS FRUSTRADAS de Harold Ramis com Chevy Chase, Beverly D'Angelo e John Candy
Acho que todos já viram...aquele filme da família babaca que viaja de carro para um parque de diversões e tudo dá errado. Feito em 1983, tem piadas que hoje seriam censuradas ( a do cachorro e a da velha que morre ). Não é mais tão engraçado, mas tem seus momentos. Principalmente a inesquecível corrida aos brinquedos ao som de Chariots of Fire. Nota 5.
   O SENHOR DOS ANÉIS de Peter Jackson
É um grande filme, uma grande diversão e uma maravilha para se olhar. O elenco tem pontos muito altos ( Viggo Mortensen, Ian McKellen, Andy Serkis ) e alguns falhos ( Orlando Bloom ). Mas no geral ele merece todo seu sucesso. Tocou em algo muito querido e necessário do público, a necessidade de heroísmo. Peter Jackson conseguiu orquestrar a história complexa e jamais deixa nada solto ou sem direção precisa. É um trabalho digno de David Lean ( mas não de Kurosawa, que fazia épicos mais crispados ). Jackson consegue fazer um épico possível para o público de hoje, tem a beleza e a calma de Lean com a ação e a produção fantasiosa de agora. Ele jamais corre demais e nunca apela. Nada de câmera rodopiante, cortes demais ou vísceras sanguinolentas. Jackson narra o livro e vence sempre. O principal é: mergulhamos naquele universo. Quando a saga termina queremos mais. Nota DEZ.
   A BELA ADORMECIDA  de Walt Disney
Nos extras ouvimos comentários de John Lasseter. É o longa que modificou a Disney. E até hoje é exemplo de animação e de cenários. Cada fotograma é uma pintura medieval. Há muito para se olhar, cores deslumbrantes e detalhes que nunca terminam. Levou 6 anos para ficar pronto e toda criança que o viu em tela grande nunca esqueceu. Talvez seja o último dos grandes desenhos da Disney pré-O Rei Leão. Um absurdo em detalhismo e cuidado. Nota DEZ.

OS VINGADORES/ MAHLER/ KEVIN KLINE/ DIANE KEATON/ PECK/

    OS VINGADORES de Joss Whelan
Nick Fury fuma um enorme charuto. É sexy ao nível Clooney de ser e é  musculoso. Está na meia-idade e tem um humor ácido, desencantado. Isso nas HQ, porque aqui ele é Samuel L. Jackson....eu adoro Nick Fury, o filme me fez odiar Jackson. Tem mais. Me fez pensar nos grandes sucessos de bilheteria da história. Todos são escapistas, e isso nada tem de ruim. Mas depende do tipo de escapismo. Se ...E O vento Levou era a afirmação da saga individualista americana, se A Noviça Rebelde era a propaganda de bons sentimentos em época de más noticias, e Star Wars era nostalgia travestida de saga futurista,  Os Vingadores é puro militarismo triunfante. Oitenta por cento do filme é propaganda de armamanto. Computadores militares, tiros e explosões, aviões, soldados. A história nada mais é que o enquadramento do incontrolável Hulk, a dessacralização de Thor e conscientização do Iron Man como soldado obediente. Não é por acaso que todos têm rancor contra Thor, afinal ele é um semi-deus. E o pobre Hulk é apenas uma besta que deve ser disciplinado. Destruição como fetiche ( após Star Wars todos os big hits têm a destruição como gozo, desde um navio que afunda até a perseguição de uma raça ). Nos extras o diretor desta coisa fala que se trata de um filme "so sexy"....
   MAHLER de Ken Russell
Tchaikovski era tão exagerado, pomposo e falso como este. O problema aqui é que Russell esqueceu daquilo que salvava o seu filme anterior: a beleza. Tchaikovski é um filme lindo, Mahler é ridiculo. Quando surgem as cenas nazistas começamos a achar que Ken tomou a droga errada. Foi este o filme que começou a destruir sua carreira. Se ele surpreendera o mundo com belas adaptações de Lawrence e filme cheios de imagens originais, aqui ele se perde em puro sensacionalismo. Nota 2.
   A CONQUISTA DO ESPAÇO de Byron Haskin
O que é isto? Deveria ser um pop e divertido filme B dos anos 50. Mas o que vemos? Um grupo viaja à Marte e seu lider enlouquece. O filho desse lider acabará por matá-lo. Em Marte há um clima de culpa, de medo e de consciência da inutilidade daquilo tudo. Simples? É um dos filmes mais doentios que já vi. Tudo nele é classe B, os atores ruins, os efeitos mediocres, os cenários pobres. Mas o roteiro é incrivelmente profundo trazendo antecipações de 2001 e até Solaris.
   MATANDO SEM COMPAIXÃO de Ted Kotcheff com Gregory Peck
Western dos anos 70, ou seja, ppouca ação e muito clima de fim de mundo. Peck é um ladrão barato, que foge em deserto de xerife "do mal". Um mestiço é o amigo de Peck e o filme, claro, fala de racismo. Não é um bom filme. Ele jamais emociona e fica sem saber onde ir com seus personagens. Peck, um ator imponente, não tem muito o que fazer. Nota 4.
   MEU QUERIDO COMPANHEIRO de Lawrence Kasdan com Kevin Kline, Diane Keaton, Dianne Wiest e Richard Jenkins
Kasdan foi um dia um dos grandes. Roteirista da turma de Spielberg, despontou a trinta anos com o marcante e icônico O Reencontro. Este é seu novo filme, recém lançado, e se está longe de ser ruim, nada tem de novo. Uma mulher, a sempre ótima Keaton, esposa de um médico, o sempre excelente Kline, acha um vira-lata na rua. O abriga. Depois de dois anos, em viagem ao Colorado, o cão some e isso expõe as dores da familia. Na busca pelo cão o que vemos é uma sessão de terapia dos personagens. O filme mantém o interesse, as pessoas são reais e os cenários deslumbram. Fácil de ver, falta ao filme um momento grande, um centro de catarse. Ele acaba sendo discreto demais, simples demais, comum demais. Mas pelo menos Kasdan não tenta fazer "arte". Ninguém é bem louco ou perigoso, a câmera nunca treme ou alça vôo. Nota 6.
   FANTASIA de Walt Disney
Grande orgulho de Disney, fracasso em seu tempo, reabilitado vinte anos mais tarde com os hippies. Vamos por partes. Porque orgulho de Disney? Porque ele trata de "grande arte". Afinal, é um looooongo desenho que cria clipes para músicas de Beethoven, Tchaikovsky e até Stravinsky. Típica jequice, achar que usar Dukas ou que falar da criação do mundo faz de um desenho "arte". Pinóquio era Arte sem nada de pedante. Os hippies descobriram que assistir Fantasia com LSD dava uma viagem ótima. Visto agora, tem seus bons momentos, mas seu espirito de "grande arte" faz dele o mais antipático dos desenhos. Nota 4.

CARNÉ/ RAMPART/ MARY POPPINS/ A VOLTA AO MUNDO/ KING/ DERCY

   OS VISITANTES DA NOITE de Marcel Carné com Alain Cuny, Arletty, Jules Berry, Fernand Ledoux e Marie Déa
Carné dirigiu aquele que é considerado o maior filme já feito na França, O BOULEVARD DO CRIME. Este foi feito imediatamente antes. Rei do movimento do "realismo poético", uma onda de filmes pessimistas e simbólicos, tem roteiro do grande poeta Jacques Prévert. Fala de dois enviados pelo diabo, que na idade média, seduzem dois jovens apenas pelo prazer de seduzir. Mas o enviado masculino se apaixona, o que faz com que o diabo em pessoa apareça para o castigar. Não é uma obra-prima, mas é marcante. Abre possibilidades ao veículo, o da poesia. O elenco é estupendo. Nota 8.
   MARY POPPINS de Robert Stevenson com Julie Andrews e Dick Van Dyke.
Fenômeno da Disney, em termos absolutos é até agora o maior sucesso do estúdio. Otimista, irreal, infantil no bom sentido. Mary é uma babá que chega voando e ensina a compreensão. O filme nada tem de carola, mas é "antigo". Nada tem em comum com o mundo de 2012 ( aparentemente ). A trilha sonora dos irmãos Sherman é uma obra-prima. Se voce ama musicais vai adorar. Se não aprecia o gênero, fuja. Existem musicais que podem converter os não-apreciadores, este não é o caso. Nota 8.
   A VOLTA AO MUNDO EM 80 DIAS de Michael Anderson com David Niven, Cantinflas e Shirley Mac Laine
Sucesso de bilheteria, é considerado dos mais fracos vencedores de Oscar de melhor filme ( mas perdeu a melhor direção ). Os críticos o detestam por ter derrotado grandes filmes em 1956. Mas se esquecermos disso é um agradável filme à Sessão da Tarde. Com 4 horas de duração, ele mostra a viagem de Fogg e seu criado Passepartout, bem lentamente. Eles voam de balão e apreciamos a paisagem, andam de trem e vemos a América, navegam e sentimos o mar. Relaxe e aprecie a viagem, mas não espere emoção ou adrenalina, é um tipo de calmante. Obra do produtor Mike Todd, o filme feito em regime de empréstimos e calotes, acabou sendo seu único título. Ele morreu logo depois. São multidões de figurantes, cenários imensos e locações pelo globo inteiro. Feito hoje seria bem mais fácil. Nota 6.
   CISNE NEGRO de Henry King com Tyrone Power e Maureen O'Hara
Não se trata da comédia de Aronofski em que Natalie Portman faz uma bailarina gótica perdida em universo fake. Aqui é um convencional filme de pirata com todos os ingredientes do gênero. Eu sou vidrado em barcos á vela e espadas com caveiras, então me satisfaz. King foi um dos diretores operário da época. Filmava muito, nunca errava, mas também jamais arriscava. Era bem melhor em westerns. Nota 6.
   ABSOLUTAMENTE CERTO!  de Anselmo Duarte com Dercy Gonçalves
Um Brasil pobre, bem terceiro-mundo. Esse país existiu? Gente conversa nas ruas em cadeiras, amigos assistem Tv juntos, na sala, e as janelas têm sempre alguém a olhar a vida passar. O filme, ruim, vale só por isso, retrato antropológico de um mundo ido. Um passeio de Porsche pelo Anhangabaú vale o filme. E Dercy era ótima! Nota 1
   RAMPART de Moverman com Woody Harrelson e Ned Beatty
É sobre um policial. Ele vive em casa num meio feminino, filhas e esposas ( ex e atual ). No trabalho ele é duro, frio, violento. O trabalho de Woody é ótimo, se parece com o Clint ator, cheio de raiva contida. Mas é um filme pequeno. Típico pastiche do cinema dos anos 70 mas feito com o vazio tristonho do século XXI. Imagens pobres, closes fechados, câmera trêmula...antes de o ver eu já sabia a forma que teria. Vamos a um adendo. Há quem me fale que não consegue entender do que eu gosto. Como posso gostar de musical e western? De filmes trágicos e de comédias? Bem... o que me guia é o prazer. Só o prazer. E tenho  prazer em ver algo que me surpreenda, ou que seja estéticamente bonito, ou que me faça rir e chorar. Não me importa se fala de dançarinos ou de detetives, de cowboys ou de crianças. Se seja feito em 1980 ou 1921. Quero ter prazer. Nada de tédio, de sacrifício, de obrigação em me educar ou atualizar. Quero o gosto de ver a inteligência na tela. Certo????  Este filme de prazeroso só tem a atuação de Woody. Nota 5.
   EL CONDOR de John Guillermin com Lee Van Cleef e Jim Brown
Faroeste italiano feito nos EUA. No começo dos anos 70 o western tava tão por baixo que os americanso começaram a imitar a imitação italiana. Resultado: violência barata e heróis porcalhões. Jim foi um astro do futebol americano. Interpreta como um receiver. É um lixo, mas pelo menos o filme assume isso. Torna-se simpático. Nota 3.
  

MARY POPPINS ( É POSSÍVEL SE FAZER UM FILME ASSIM HOJE? )

   Julie Andrews trabalhou no vaudeville inglês desde criança. Adulta, criou o personagem de Eliza Doolittle no MY FAIR LADY original. Brilhou depois na Broadway, nesse que foi o maior fenômeno de sua história. Mas quando Jack Warner resolveu filmar MY FAIR LADY resolveu dar o papel de Eliza para Audrey Hepburn. Julie Andrews reagiu como uma lady.
   Ao mesmo tempo, após passar vinte anos tentando convencer a autora P.L.Travers a ceder os direitos, Walt Disney, em pessoa, preparava Mary Poppins. Uma noite na Tv, viram Julie Andrews numa cena de CAMELOT, ao lado de Richard Burton. MARY POPPINS seria o primeiro filme de Julie Andrews. E em sua estréia lhe daria o Globo de Ouro e o Oscar. Vencendo...Audrey Hepburn em MY FAIR LADY...
   O filme conta a história de uma babá que na Londres de 1910 vai cuidar de um casal de crianças. Elas são filhas de um pai que só pensa no trabalho e de uma mãe "politizada". O que Mary Poppins fará com as crianças? Liberará TODA a sua fantasia. E nesse processo o filme pode ser visto de dois modos.
   Como obra-prima do cinema para crianças ( mas não infantil ), ele valoriza a inocência. Mas não é a inocência passiva, é sim a ativa fé na criatividade, no jogo e na fantasia. Ter sido  criança e ter visto este filme no cinema se revela uma experiência para o resto da vida. Mary mostra aquilo que toda criança tem em si-mesma. Ela joga com imagens, com palavras e com as emoções. Mas há no filme uma visão adulta também, e essa se revela muito rebelde.
   Feito em 1964, no inicio da contra-cultura, o filme antecipa em dois anos o que seria dominante na swinging London de 1966. Mary Poppins voa quando quer, tira objetos imensos de sua bolsa, viaja pelas tardes de sol. E se não houver sol, ela faz com que ele surja. Mais que isso, ela ensina a se imaginar a vida, a se criar a própria realidade. Mas é no personagem de Dick Van Dyke que mora a contra-cultura.
   Bert, esse personagem, é pintor, limpador de chaminés, músico e poeta. É um hippie de 1910. Tudo para ele pode ser divertido. E trabalho tem de ser visto como coisa criativa, ou não vale a pena. O filme, pasmem, feito para crianças, prega abertamente a inutilidade do trabalho, a morte que existe na rotina cotidiana. O pai, pobre coitado, só pensa na moral vitoriana, naquilo que é util e racional. Mary Poppins instaura o reino da irracionalidade e do maravilhoso inutil.
   Cena das mais hippies é aquela do velho Uncle Albert, um homem que ri sem conseguir parar e que ao rir sai voando pelo quarto. Quem pensou em maconha acertou.
   A trilha sonora é dos irmãos Sherman. Richard morreu semana passada. É uma trilha genial. As músicas têm todas o sabor do music hall inglês, são como cançõe de pub, para se cantar em grupo e dando piruetas. Tanto Julie como Dick fazem com que nos apaixonemos por elas. Voce vai dormir pensando no que viu e acorda cantarolando.
   Porque não se faz mais um mísero filme como este? Tão feliz, alegre, pra cima, que faz com que seu público se sinta inspirado, confiante, leve?
   Ele foi um fenômeno de bilheteria e penso que hoje seria um sucesso na Broadway mas jamais nas telas. Ele pede gosto de seu público. Bom gosto e ausência de cinismo. Além do que não temos uma Julie Andrews dando sopa por aí. E nem compositores como os Sherman. Muito menos Walt Disney. Musicais são os mais trabalhosos dos filmes. Eles precisam de dezenas de grandes talentos. Ou o fiasco se faz. Um musical precisa de atores que cantem e dancem e que possuam simpatia avassaladora. Precisam de frases curtas e leves. De um diretor que entenda de ritmo e de harmonia. De excelentes cenógrafos. De músicas que grudem e conquistem em um minuto. E de muita fantasia. Mas os musicais precisam acima de tudo de um público que se permita flutuar. Que se solte. Educado para a poesia dos musicais.
   MARY POPPINS tem cinco canções que são obras-primas. Cinco. Uma delas levou o Oscar de canção. Ela é cantada até hoje. Quem lembra da canção que venceu no ano passado?
   Candidatos a melhor filme em 1964:
   DOUTOR FANTÁSTICO de Kubrick; MY FAIR LADY de Cuckor; BECKETT de Peter Glenville; MARY POPPINS de Robert Stevenson e ZORBA O GREGO de Cacoyannis. Eu só não conhecia Mary Poppins. Já conheço. Os cinco mereciam vencer.  E só pra humilhar, os atores daquele ano foram Richard Burton, Peter O'Toole, Peter Sellers, Anthony Quinn e Rex Harrison. Tá bom?
   Uma cena como aquela do telhado em que dezenas de limpadores de chaminés dançam de tarde, ou um final como aquele das pipas vale por cada centavo gasto em sua produção. Que delicia de filme!!!!

SCORSESE/ FANTASIA/ GROUCHO/ NUM LAGO DOURADO/ TERREMOTO

NUM LAGO DOURADO de Mark Rydell com Henry Fonda, Kate Hepburn e Jane Fonda
Kate derrotou Meryl Streep, Susan Sarandon e Diane Keaton em 1982 com este filme, levando seu quarto Oscar. Henry, cinco meses antes de morrer levou o seu. Ele está fabuloso ( nunca o ví menos que fabuloso ) nesta melosa história de casal de velhos que passa férias em casa à beira de lago. Lá eles recebem visita de filha problema ( Jane, bela e aparecendo pouco ) e tomam conta de filho do novo namorado da filha. Henry consegue passar tudo o que significa ser velho : ter medo de morrer. Seu velho nunca se parece com uma piada. O filme nunca pesa demais, tem momentos de muito humor e é representante da reação do cinema-família contra as loucuras dos anos 70. Fez imenso sucesso e recordo de o ter visto sobre o Atlântico, no avião voando rumo à Frankfurt. Reparo também que é um tipo de filme completamente extinto. Ninguém é neurótico, ninguém tem emprego esquisito, nem é muito rico ou miserável. Nada ocorre de sensacional, é apenas gente banal em momento importante e inevitável. O filme se deixa ver, e passa como canção nostálgica. Tudo nele é bonito demais, limpo demais, mas os atores levam a história com brilho e conseguem dar vida ao que dizem e fazem. Nota 6.
FANTASIA de Walt Disney
Após o imenso sucesso de Branca de Neve, Walt gasta tudo o que tem e vai à falência tentando provar ser artista classe A com este muito metido desenho. Fantasia levou anos para ser feito e foi detestado por público e crítica. Walt se salvou com Dumbo e Pinóquio, e nunca mais se arriscou. Este desenho são clips de música erudita. Interessante notar como desde então o mundo inteiro se disneysiou. A forma como este filme vê a arte é absolutamente infantil. A sexta de Beethoven se torna uma fábula de pseudo-mitologia, com cavalinhos alados, centauras ninfas e muita pedofilia. Seios nús e muitas bundas de bebês, mas tudo bem gracinha, bem Disney. A Sagração de Stravinski, que é hino de paganismo, aqui é história sobre a criação da vida. É muito bom, é legal ver mares em erupção, vulcões, fogo e dinossauros. Mas nada tem de Stravinski. O final tem Mussorgski, em cena que cita ( plagia ? ) o Fausto de Murnau. Demônios e assombrações. Deve ter apavorado as crianças... Há ainda Dukas, Tchaikovski, Schubert... velho problema do mundo pseudo-intelectual : pensar que citar autores significa conhece-los. Disney infantiliza, domestica, torna tudo inofensivo. Profeta desta época de parques de diversão e visuais chocantes. Nota 3.
BELEZAS EM REVISTA de Lloyd Bacon com James Cagney, Ruby Keeler e Joan Blondell
Musical anos 30 com coreografia de Berkeley. É incacreditávelmente brega e deliciosamente bobo. Como sempre, tudo gira em torno da montagem de um show. Tem uma coreografia aquática inacreditável : dá pra perceber o medo de miss Keeler. Impressiona a objetividade do cinema de então, não se perde tempo com nada, as coisas são curtas e diretas, se é pra acontecer, que aconteça já. Isto é a TV de 1933 !!!! Nota 7.
A RELIGIOSA de Jacques Rivette com Anna Karina
Baseado em Diderot. Hiper pretensioso, eis aqui tudo de ruim que o cinema francês e a nouvelle-vague em especial, pode ser : chato. Chega a ser inacreditável sua cara de pau. Nota 1.
TERREMOTO de Mark Robson com Charlton Heston, Ava Gardner e George Kennedy
Filme do tempo em que acidentes eram moda no cinema. Sua primeira hora é boa, Robson sabe levar uma história, mas quando começa o terremoto enjoa tanto acidente e tanta tragédia. 4.
A ÚLTIMA TENTAÇÃO DE CRISTO de Martin Scorsese com Willem Dafoe, Harvey Keitel e Barbara Hershey
Baseado em Nikos Kazantzakis. Com o mesmo roteirista de Taxi Driver ( Paul Schrader ), Martin vê Jesus como um Trevis Bickle palestino. Jesus começa o filme como Van Gogh, um esquizofrênico, e termina como Cristo, ser que funda nosso mundo. Sua morte é momento de cinema corajoso e de soberbo talento. Scorsese consegue demonstrar que apenas a morte na cruz faz de Jesus, Cristo. Ele não poderia morrer como homem, seu sacrifício ( e o filme é genial como exposição do que seja ser herói ) é o motivo de sua existência. O herói é herói ao morrer, não em vida. Isso é demonstrado de forma engenhosa. Mas o filme tem uma cena muito ruim : a salvação da prostituta. Parece que veremos o Monty Python cantar. Uma cena genial : a ressurreição de Lázaro. Aterradora e crível. O filme nada tem de fácil, Judas ( Keitel, muito bem ) é visto como figura tão importante como Jesus e os outros apóstolos são pouco mais que broncos. Trata-se de filme cheio de ira, de brilho e de muita dor; sentimos que Scorsese se penitencia. O filme mostra toda a revolucionária novidade de Jesus : um Deus de amor. Até então todo deus era baseado em força e poder, Jesus coloca o amor no centro do mundo, o amor como razão para se viver. Ele inaugura-nos. Nota 8.
THE PLEASURE GARDEN de Alfred Hitchcock
É o primeiro filme do mestre. Vale só por isso, pois é um comum filme pop inglês da época. Não se trata de suspense. Nota 4.
SUPLÍCIO DE UMA ALMA de Fritz Lang com Dana Andrews e Joan Fontaine
Último filme americano de Lang. Uma vergonha ! Mal enquadrado, atores sem direção, roteiro cheio de furos. O grande Lang sem nenhum tesão. Nota Zero !
CONSPIRAÇÃO DO SILÊNCIO de John Sturges com Spencer Tracy, Robert Ryan, Lee Marvin e Ernest Borgnine
Homem chega a cidadezinha. Todos o recebem com rancor. Todos escondem um terrível segredo. O filme tem fotografia deslumbrante. Ele é seco, árido, másculo. O clima de hostilidade se mantém por todo o filme e o roteiro é redondo, engenhoso, direto. Nada de forçado, nada de inverossímil, nada de pedante. É um belo filme com Spencer dando aula de discrição. Nota 7.
SEU TIPO DE MULHER de John Farrow com Robert Mitchum e Jane Russell
O filme tem uma primeira parte perfeita : um bando de esquisitos num hotel de luxo mexicano. Há um clima Hawks/ Huston e Mitchum carrega o filme com ironia. Mas aí acontece uma loucura : surge Vincent Price, e tudo muda, agora é uma gozação, uma sátira, um carnaval. Entendemos então que o filme mudou de diretor, que o produtor é Howard Hughes e que Farrow brigou com ele. Toda a parte final se parece com bebedeira, o filme cambaleia, fica à deriva. Não deixa de ser fascinante com as cenas dentro do barco tão ousadas, modernas, tortuosas. É um filme invulgar. Nota 6.
OS GÊNIOS DA PELOTA de Norman Z. MacLeod
É com Groucho, Chico e Harpo. Quem não gosta deles ( óh pobre infeliz ) vai detestar este filme. Tudo aqui é anárquico, solto, sem porque. Quem gosta deles ( óh gente feliz ) vai embarcar na viagem rumo ao mundo sem sentido dos geniais Marx. Nota 7.

SILLY SYMPHONIES- WALT DISNEY

Saiu um dvd duplo com as Silly Symphonies. Era o nome que levavam os curtas ( de 6 a 8 minutos ) que a Disney fez entre 1929/ 1938. Vários ganharam Oscars e passavam nos cinemas antes do filme principal ( da United Artists ou da RKO ). Porque assistí-los tantos anos depois ? Acima de tudo porque são todos muito bons e alguns são geniais.
Primeiro um fato que eu não sabia : foram estes desenhos que inauguraram a cor na tela. A Technicolor usava a Disney para aprender o uso do colorido, então os desenhos são luxuriantes em cor e brilho.
Segundo : qual a diferença entre a animação manual e a por computador ? A mesma que existe entre o recebimento de uma carta impressa e uma manuscrita. A impressa é limpa, perfeita e uniforme do começo ao fim. A manuscrita tem erros e flutuação de estilo, mas tem a marca autoral de quem a escreveu. Os traços da mão. Existem obras-primas do cartoon digital. Mas seu brilho se deve ao roteiro maravilhoso, não ao traço, que é sempre frio e pouco surpreendente. Desenho manual é pintura. Digital é gravura. Não a toa a Disney acaba de reabrir o departamento de desenhos à lápis e pincel. O domínio da animação digital se deve apenas a pressa e ao barateamento de custos, não ao mérito.
Os destaques dos dvds.
TERRA DA CANÇÃO DE NINAR. Um desenho que te leva ao mundo do "berço" e do "pijama". È como dormir aos 3 anos. Os traços, suaves, quase em aquarela. Lindo. O RATO VOADOR. Tem uma cena com morcegos numa caverna maravilhosa. WYNKEN,BLYNKEN E NOD. Disney pegou um poema e o desenhou. Três crianças pescam estrelas no céu. Uma das coisas mais bonitas que já assisti. Um céu noturno como só eles faziam e um clima onírico que te faz querer reassistir o desenho várias vezes. Soberbo. O GAFANHOTO E AS FORMIGAS. Tem uma canção maravilhosa, alegre, vibrante. O personagem do gafanhoto é genialmente simpático. O VELHO MOINHO. Este é considerado o melhor cartoon já feito. Chove num moinho. Pássaros e ratos tentam sobreviver. Depois amanhece. O roteiro é sómente isso. Mas com esses recursos ( e apenas 7 minutos de tempo ) eles conseguiram fazer uma obra-prima. Talvez seja mesmo o mais lindo desenho já feito. Digno do melhor cinema e da melhor poesia, equivale a uma aula de sensibilização e de existencialismo. Morrer sem o assistir é não ter existido. O PRATO CHINÊS. A animação de uma cena em cerâmica chinesa. Ainda em P/B. Fascinante. Personagens e cenários do oriente e um jazz chinês (????) vibrante e muito hot. MELODIAS EGÍPCIAS. Uma aranha invade uma pirâmide e as pinturas adquirem vida. Delicioso. A DANÇA DOS ESQUELETOS. Um dos primeiros ( 1929 !!!! ). Esqueletos dançam no cemitério. Jazz e terror. Hilário.
Destaquei aqui os geniais. Mas há muito mais. Nenhum é apenas médio. Os demais variam entre bons e ótimos. Veja, grave, compre, roube, pegue, assista!!!!!
Toque final: Quem era melhor, a Disney ou a Warner ? Bem.... A Disney era mais infantil ( mas jamais tola, e aqui, nada melosa ), a Warner é adolescente ( mais rebelde, suja e mal educada ). Digamos que a Disney é Chaplin e a Warner é Groucho Marx. Uma se apóia na imagem pura e na poesia, a outra no diálogo malicioso e no humor anárquico. Não se pode dizer quem é melhor. O que se deve é agradecer sua existência. Raras vezes tive tanto prazer diante de uma tela como com estes dois dvds.