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ESPÍRITO SUPERIOR: DESEJOS PROIBIDOS, FILME DE MAX OPHULS

A beleza.... ver este filme é uma humilhação para nossos tempos. Cultuadores do feio e do grotesco que somos ( desde Picasso? Stravinsky? ). Max Ophuls, diretor vienense desta obra-prima, talvez o mais belo filme já feito, volta a Europa após exilio americano, e volta a seu mundo. Mas é mundo já morto em 1953, ano desta produção. O que dirá hoje, tempo de funk e de Chavez ?
Em sua primeira parte o filme é só leveza e bom humor. O que assistimos é o belo mundo das elites do final do século XIX. Não é o mundo de Henry James. James mostra o mundo do futuro, do dinheiro, da América. Aqui é o fim da Europa, fim de um passado, e o que move tudo são os bons modos, as aparências, os costumes, a honra. Nada de americano.
Nunca se fizeram cenários como estes ( e percebemos o porque do amor de Todd Haynes e Baz Lhurmann a este diretor ). São espelhos, tapetes, jóias, móveis, roupas, janelas, pinturas, em tal quantidade, de tanto gosto, é tudo tão luxuoso, tão chic, tão delicado, que dá vontade de abaixar o som e ficar apenas olhando. Mas há a câmera e ela não pára. Ophuls a faz voar pelos cenários, cruza paredes e janelas, flutua pelas tapeçarias. Baila. E é tão suave que mal notamos seu movimento. Os atores sabem se comportar. São dignos do filme que lhes é ofertado. Mas Charles Boyer é mais que isso.
E ainda há uma história. Sobre brincos que são vendidos e insistem em voltar. Esposa infiel e marido general que leva a vida como ordem militar. E em sua segunda parte o filme torna-se drama e é exemplificada a diferença entre homens e mulheres: elas, quando amam, mandam os costumes para o lixo; eles se atèm ainda a seus papeis. Vem o final, um duelo para lavar a honra e uma igreja com velas e diamantes. A beleza vence.
Falar de filme como este é tarefa ingrata. A esposa, futil que se torna apaixonada, é Danielle Darrieux. O amante, nobre italiano, é Vittorio de Sica. E o general, corno que mantém a pose, e´Charles Boyer. Perfeitos. Danielle é pura cocotterie, De Sica é o sedutor que se confunde e Boyer dá um show como o militar rígido. São, dignamente, diamantes em imagens que são joalherias. Ofusca e entorpece a correção, o luxo ao ponto extremo, a civilidade, o savoir faire. Mas, fã de Stendhal que Ophuls era ( o filme tem muito do espirito de Stendhal e de Mozart ), é também mostrada, com muita leveza, o que havia de asfixiante, de falso, de tolo, em toda essa pose presunçosa. A paixão real não pode existir em espelhos de cristal e peles de vison. Fenece.
Max Ophuls é um espírito extinto. Ver este filme é tomar contato com outro mundo, outro cosmo, outra existencia possível. Somos os orfãos do planeta aqui exibido. Ainda queremos, cegamente sem saber, tudo o que é aqui mostrado. Mas não é mais possível obter ou ao menos tentar esse tipo de conforto e de código de conduta. Então, orfãos, nos embrutalhamos. Seria cruel ter Ophuls neste nosso universo. Fica seu legado de beleza. E a certeza de que já fomos muito melhores.