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A MATRIZ - T.E.LAWRENCE

Pra quem não sabe, esse Lawrence é o mítico Lawrence da Arábia, o heroi do filme de David Lean, homem que existiu de fato e que foi um enigma para todos que o conheceram. Na vida real ele não era tão alto e tão bonito como Peter O'Toole, na verdade ele era fisicamente comum, mas essa característica de "homem fisicamente banal" serviu bem a seus propósitos. Na Primeira Guerra mundial, trabalhando para a Coroa Inglesa, Lawrence fez o impossível: uniu as tribos árabes contra os alemães e turcos. Um homem branco e europeu conseguiu conversar, convencer e firmar compromissos com lideres tribais que jamais haviam permitido que europeus nem mesmo entrassem em seus palácios ou tendas. Lawrence lhes prometeu uma nação árabe, e a Palestina foi para eles reservada. Quando a Inglaterra, ao fim da guerra, começou a adiar o cumprimento das promessas, Lawrence se enervou e saiu da vida pública. Este livro, seu segundo, após a obra prima best seller OS SETE PILARES DA SABEDORIA, é uma narrativa objetiva, simples, sem enfeites, daquilo que Lawrence fez nos anos de 1920. ---------------- Ele trocou de identidade e aos 35 anos se alistou na RAF como recruta. Um homem famoso, um mito, convidado para ser embaixador ou ministro, preferiu ser um simples recruta comum, para, segundo ele, conhecer a vida sem artifícios. Voce então pode pensar que o livro é sobre a RAF, ou seja, aviões e voos audaciosos. Não! O que eles fazem é limpar, lustrar, marchar e se exercitar. A maioria das atividades são inuteis, sem sentido, repetitivas. O objetivo é eliminar toda individualidade e transformar todos em uma coisa única, um corpo feito por centenas de mentes que pensam como um. E a RAF consegue isso. Lawrence, em mistura de ódio pelos sargentos, nojo da comida, cansaço absoluto, percebe começar a sentir que o mais importante é o grupo, o todo, a tropa. 15 anos mais velho que seus camaradas, ele trava contato com gente de todo tipo, dos mais abjetos aos mais nobres, gente que ele jamais iria conhecer se continuasse a ser o heroi das Arábias. Atente! Lawrence não foi para a RAF com a intenção de fazer uma reportagem ou um livro, ele foi para viver outra vida, para não ser mais o que era até então, para simplificar sua existência. Foi terrível e várias vezes ele se pergunta o que faz lá, porque se meteu naquilo. Há pouquíssimo prazer em tudo que ele faz, o que testemunhamos é dor física, raiva, fome constante, desconforto, frio, sujeira, fedor, e o eterno limpar, polir, lustrar. Ele escreveu este relato em noites de insônia, dezenas de homens dormindo ao seu redor e ele sem nada para fazer. --------------- A imagem que ele nos dá do soldado não é aquela que imaginamos. Nada dos bobos violentos ou dos servis submissos. São homens que trabalham, trabalham muito, suportam, homens que não só entendem como vivem em grupo, sem nenhuma individualidade. É um livro como nenhum outro e que até hoje é bastante pouco conhecido. O estilo é aquele do soldado, direto e sem firula alguma. Lawrence abandona a linguagem dos SETE PILARES e escreve como um soldado, cockney, do povo, um relato. Como seu autor, é um livro enigma: pra que escrever um livro sobre a RAF sem guerras, sem aviões, sem nada mais que a rotina do quartel? ----------------- A resposta se esconde no mesmo motivo que o levou a criar um outro EU e viver pobre como um recruta ( sete anos na RAF ). Resposta que nem ele mesmo sabia.

WALKABOUT, FILME ADORADO POR CRÍTICOS ATUAIS, POR DANNY BOYLE E QUE FOI DIRIGIDO EM 1970 POR NICOLAS ROEG

Roger Ebbert o coloca nas alturas. Danny Boyle, nos extras deste dvd, diz que Roeg é O MAIOR DIRETOR DE CINEMA QUE A INGLATERRA JÁ TEVE. Eu desejo ver esse filme faz anos e finalmente posso o ver. ------------------------------------------- Dois irmãos, um menino de 8 anos e uma menina de 16, se perdem no deserto da Australia. Encontram um jovem aborígene que faz o percurso com eles. Na cultura nativa, todo menino aos 16 deve ficar dias no outback, sozinho, para aprender a viver lá. Os dois irmãos passam pela prova sem medo, sem desespero. --------------------- A fotografia do filme é brilhante. Nem precisaria dizer pois antes de ser diretor Roeg foi diretor de fotografia para David Lean, Schlesinger e Truffaut. A trilha sonora é de John Barry. E a menina é a muito jovem Jenny Agutter. Feito hoje não haveria a nudez de uma menor e nem as várias cenas de animais sendo mortos. O filme agrada a crítica de 2021 por ser ecológico, pró aborígenes, anti consumista. Roeg compara a carne em produção industrial e a carne que o aborígene caça. É um filme típico de 1970. ----------------------- Danny Boyle diz que ninguém é influenciado por David Lean, por exemplo. Lean intimida. Mas todo mundo hoje tem influências de Roeg. Ele é inspirador. Acho que Lean esqueceu de Spielberg, diversas vezes seguidor da cartilha David Lean de cinema. Diretores imensos como Lean ou Kurosawa podem assustar, mas inspiram sim. ------------------ Hoje o filme considerado o maior da história do cinema inglês é INVERNO DE SANGUE EM VENEZA, deste mesmo Nicolas Roeg. Acho Inverno um ótimo filme. Mas não é o melhor. ---------------------------- Danny Boyle e seus amigos elogiam tanto Roeg porque SE VEEM NELE. Nicolas Roeg é um experimentador, um modernista e faz simbolismos básicos. Ele é acessível para eles. --------------------------- WALKABOUT não me decepcionou porque vi os cometários de Boyle antes de ver o filme, então já assisti com suspeitas. O filme é chato. Muito, muito chato. ---------------------------- No final vemos a menina, já adulta e casada, conformada, lembrando da aventura no deserto. Em tempos de pandemia, é a melhor das mensagens: viver só se vive fora, às estrelas. Mas isso não redime o filme. É isso.

Great Expectations



leia e escreva já!

DOIS FILMES PERFEITOS

   Falo de cara: Voce não vai encontrar dois filmes em preto e branco com fotografia mais fantástica. GREAT EXPECTATIONS e OLIVER TWIST são dois filmes que David Lean fez no começo da carreira, 1947 e 1948, e ambos são considerados as mais brilhantes adaptações de Charles Dickens já produzidas para a tela. ( E não há autor mais adaptado que ele ). Guy Green é o nome do genial diretor de fotografia e Oswald Morris o camera man. Green se tornaria diretor de cinema nos anos 60 e Morris venceria Oscar no futuro. Seria o fotógrafo favorito de Huston.
  Jamais esqueço os primeiros minutos dos dois filmes. Em ambos há uma mistura de medo e beleza, horror e estética sofisticada, som e sombras que anunciam tudo o que virá a seguir. Grandes Expectativas é considerado mais perfeito, eu não consigo escolher. No primeiro se conta a história do menino pobre que enriquece graças à uma doação anônima. No segundo, todos sabem, é a história do menino de rua, Oliver. O que vemos? Rostos acima de tudo. Rostos expressivos, fortes, caricaturais, faces que contam uma narrativa, rostos de gente de verdade, sujos, marcados, vivos, muito vivos. Ao redor desses rostos temos os cenários. Labirintos de barracos em Oliver, a mansão cheia de teias e pó em Expectations. Lean usa o expressionismo alemão nos cenários e na luz, mas de um modo muito maior, mais rico, detalhista. Janelas, pisos, escadas, velas, andrajos, canecas, garrafas.
  Expectations é quase surrealista. Há nele o espírito dos sonhos. Já Oliver é um filme de horror. Tudo assusta, tudo causa medo. Os atores são brilhantes. John Mills, Francis Sullivan, Martita Hunt, Robert Newton, Jean Simmons...e também essa força da natureza Alec Guiness.
  Reli recentemente a auto bio de Guiness e o livro de Kenneth Tynan sobre ele. Na bio o mais bonito é a conversão religiosa de Guiness. Ele se torna católico num processo detalhista e lento. Fora isso, Alec Guiness, um eterno disfarçado, fala sobre quem ele conheceu e não sobre si mesmo. Tynan diz que ele foi o primeiro ator moderno da Inglaterra. Ao contrário das estrelas Olivier, Gielgud e Redgrave, Guiness fazia um papel, não se exibia, se escondia atrás do personagem. Laurence Olivier ( assim como Anthony Hopkins e Daniel Day Lewis ) é sempre Olivier fazendo Hamlet, Olivier fazendo Shaw, Olivier fazendo comédia. Alec Guiness não. É o personagem sendo feito por um ator. O Fagin que ele faz em Oliver Twist é um milagre de criação. Ele não tinha 35 anos ainda. Veja o que ele fez.
  Eu vi Oliver Twist pela primeira vez aos 11 anos, na TV, com meus pais. Jamais esqueci o choque. A cena da morte de Nancy se gravou na minha mente como a coisa mais violenta e revoltante que já assisti. Revisto, após tantas cenas gore em tantos filmes mais novos, ela ainda choca. Por que? Pelo uso que Lean faz do cão berrando, da cara de Newton e do porrete. Não vemos nada, mas imaginamos. Ele nos faz ver sem ter visto. Por isso fica gravado em nós.
  É preciso ver os dois filmes.

THIS HAPPY BREED - DAVID LEAN ( CONSTELAÇÃO FAMILIAR ).

   Infeliz o povo que não consegue mais fazer filmes como este. Pior ainda, infeliz o povo que não vê mais sentido em histórias como esta. Do que trata, e por que "constelações familiares" ?
   Primeira cena do filme: Um jovem casal está de mudança para uma casa simples. É uma daquelas casas inglesas de tijolo marrom, uma fila sem fim de casas iguais: uma sala e uma cozinha; em cima, dois quartos, mais um jardinzinho nos fundos. A mudança é feita eles arrumam e limpam tudo, a casa é bem suja. Um filho e duas filhas, são os Gibbons e a história começa nos anos 20. A Inglaterra se encontra tomada por greves e desemprego.
  Um vizinho faz amizade com eles. Começam os namoros. Casamentos, vinte anos serão exibidos em duas horas de filme. Eles passam pela Segunda Guerra, passam pela morte de um membro da família, e depois de mais um. Uma filha foge de casa, e depois, muito depois retorna. E tudo é regado a chá, muito chá, dor contida, piadas, whisky, mais chá e o jardim do pai. E é aí que desejo chegar:
  Um namorado da filha é um jovem socialista anarquista, do tipo que havia aos montes nas ilhas dos anos 30. Numa discussão com o pai dos Gibbons, ele diz que "o mundo precisa mudar já!" O pai, cuidando das rosas, diz que "a Inglaterra ama jardinagem...e por isso somos do jeito que somos...temos paciência porque sabemos que as coisas têm um tempo para crescer, florir e morrer...quero que o mundo seja melhor...mas sei que a vida não é diferente deste jardim..." Robert Newton é o ator que diz esta frase simples, e muito do seu encanto se deve ao charme desse ator inglês. Talvez voce então já tenha notado o que desejo dizer... O filme, de uma forma discreta, leve e grave, sem apelos, mostra despudoradamente o VALOR SUPREMO DE UMA FAMÍLIA. O que vemos diante de nossos olhos, cheios de maravilhamento, é a mais simples, a mais banal das histórias: vinte anos na vida de uma família absolutamente comum. Nem ricos nem pobres, nem felizes, nem infelizes, sem bandidos ou santos. Banais, banais como todo pai é, banais como toda mãe é.
  Steven Spielberg gosta de dizer que David Lean nunca fez um filme menos que bom. Discordo. Ele tem um filme chato ( A Filha de Ryan ) e cinco obras primas. Este é talvez seu maior e melhor filme. E é o mais simples e modesto. This Happy Breed se tornou nos anos 2000 um clássico tão cult como Coronel Blimp, de Powell. São amados com carinho e com respeito.
  Voce tem de ver este filme. Para entender a IMPORTÂNCIA DE SUA VIDA. A dignidade da vida comum. A beleza do chá banal de toda hora. O pai modela toda a moralidade daquela família. E a mãe dá à todos a força física de uma presença real. O filme, feito em 1949, é retrato perfeito e doloroso de um mundo que morria após a guerra. Um mundo do qual sentimos falta. Não criamos ainda um melhor para colocar no vazio deixado.
  Não veja este filme esperando moral ou beleza fácil. A vida dos Gibbons é árida. Espere dele uma lição. Uma aula. Uma chamada à ação.
  Um dos mais belos filmes já feitos. E o mais comum entre os grandes.

GREAT BRITISH FILMS- JERRY VERMILYE

   São descritos, criticados, explicados e exibidos em fotos os 75 mais importantes filmes ingleses feitos entre 1933-1971. 
   Primeiro, por que esse período? Segundo o autor, porque essa é a época do apogeu da indústria britânica de filmes. Antes de 33 os filmes eram quase insignificantes, depois de 71 várias produtoras fecharam e as produções passaram a depender completamente do governo, da TV ou de capitais americanos. O cinema inglês, puramente inglês, deixou de existir.
   Dentre os 75 o autor avisa ter eliminado todo filme que tivesse capital em co-produção. Isso elimina filmes como Lawrence da Arábia, todos os James Bond ou Laranja Mecânica. São filmes com capital parcialmente americano. Bem...mesmo assim há surpresas.
   Alfie não consta. Não é um filme assim tão bom, mas é muito importante, sem dúvida. Também não há Get Carter, a obra-prima do policial com Michael Caine. Aliás, acho que o autor não gosta de Michael. E de Sean Connery. Nada de nenhum deles. 
   Um Golpe à Italiana também deveria estar, e veja só, tem Caine em seu elenco! 
   E não temos nem IF... de Lindsay Anderson e nem KES, de Ken Loach. Como ambos são de 1968 e NÃO tem capital made in USA, onde a desculpa? Mesmo que voce os deteste, eles são dois dos dez filmes ingleses mais influentes e aqui não estão nem entre os 75. 
   Legal pensar no que poderia estar aqui pós 1971. Possivelmente um ou dois filmes do Stephen Frears, um Nicolas Roeg, Bill Forsyth, um Monty Python e mais um Terence Davies. Mike Leigh e Transpotting. E só. Engraçado é que todos têm mesmo a chancela da BBC ou da Granada TV. E a maioria estreou na TV. E têm produção pequena. Nunca tinha notado. Filmes ingleses maiores, mais produzidos, desde 1971, têm Fox, Paramount ou Warner no meio. O puro cinema inglês só na TV. E TV não é cinema. 
   O livro foi originalmente lançado em 1980, e isso é muito interessante. Pois além de demonstrar a mudança de gosto, mostra aquilo que permanece. O mais interessante é que temos apenas 3 filmes de Michael Powell. E em todos eles o autor enaltece a fotografia, os atores, mas jamais a maestria da direção. A recuperação de Powell, via Scorsese e Spielberg, se daria exatamente em 1980, e parece que o autor pensava ao contrário, que Powell estava prestes a ser esquecido. Qualquer lista hoje tem;  além dos 3; mais outros 3 filmes desse grande mestre.  David Lean domina a lista, Carol Reed, Alexander Korda, Tony Richardson, John Schlesinger estão bem citados. Uma pena a pouca atenção também aos filmes baratos de Joseph Losey feitos com Stanley Baker. São excelentes!
   De qualquer modo, só os belos stills, de gente como Vivien Leigh, Charles Laughton, Rex Harrison, Albert Finney e Alan Bates já valem o preço.
   Bem legal.

TIM CURRY/ WES ANDERSON/ SLY/ RUSS MEYER/ JOHN CLEESE/ DAVID LEAN

   QUANDO O CORAÇÃO FLORESCE ( SUMMERTIME ) de David Lean com Katharine Hepburn, Rossano Brazzi e Isa Miranda
O filme é lindo e representa a virada na carreira de Lean. Ele vinha de um período perdido após o grande inicio no cinema inglês. A partir deste filme ele tomaria impulso para seus grandes épicos. Claro que este filme, íntimo, não é um épico, mas traz, já, o olhar de Lean sobre o estrangeiro, no caso Veneza. Kate é uma solteirona reprimida que viaja sózinha à Veneza. Lá conhece italiano bonitão e tem um caso com ele. É só isso e voce pode pensar que o filme é meloso e vazio. Não é. David Lean era um gigante e nos dá um passeio pela cidade que encanta, hipnotiza, seduz. Ver Kate andando pela cidade e tentando se feliz é uma experiência gratificante. Quando o flerte começa o filme cai um pouco, mas evita o óbvio e se reergue. Kate faz a solteirona com sua habitual força. A fotografia, de Jack Hildyard é magnífica. Nota 8.
   O GRANDE HOTEL BUDAPESTE de Wes Anderson com Ralph Fiennes
Caro Wes, mantenha sua crônica sobre uma época e esqueça o thriller. Este filme, lindo, nasceu para ser uma frívola comédia sobre uma época frívola. Leve, tolo, bonito e inutil. Vá fundo nisso. O que? Voce quer mais que isso? Mas assim voce perderá a obra! Ela não será nem carne e nem peixe! Afff....que pena! Voce quase fez uma obra-prima! Mas te faltou coragem para ser mais tolo e menos esperto. Uma pena! De qualquer modo, é um filme que irei rever em breve. Abraço. Nota 8.
   AMANTE A DOMICÍLIO de John Turturro com John Turturro, Woody Allen, Sharon Stone e Sofia Vergara
Um dos piores filmes do ano. Não é uma comédia! É um melancólico filme sobre a solidão. Uma bobagem com personagens irreais e antipáticos, cenas lamentáveis e um Woody Allen de dar dó. Detestável. ZERO!
  O HOMEM QUE PERDEU A HORA  de Christopher Morahan com John Cleese
Cleese é um diretor de escola maníaco por pontualidade que ao ir à homenagem a sua escola perde a hora e pira. O filme começa mal, vai melhorando e acaba bem bacana. É sempre um prazer assistir Cleese fazendo seu tipo de inglês reprimido e vaidoso. Falta um pouco mais de loucura ao roteiro e a direção exala mediocridade, mas dá pra ver numa tarde de frio. Nota 5.
  THE ROCKY HORROR PICTURE SHOW de Jim Sharman com Tim Curry, Susan Sarandon, Richard O`Brien e Little Nell
O filme é amador, exagerado, tolo, grotesco e mal intencionado. E daí? Quem não o assistiu não viveu! É delicioso, cafajeste, safado, gay, rocknroll, glitter, sexy, roxy, perverso, punk, funk, burrinho e smart. Oh Oscar Wilde!!!! Oh David Bowie!!! Eu não sou gay mas amo este filme!!!! AMO AMO AMO!!!! Quer ser feliz? Conheça Tim Curry e sua voz classuda chic fazendo este infame Frankenfurther, um misto de Bolan, Iggy e a bicha doida da Augusta. Pasmem! Nota DEZ!!!!!
   DE VOLTA AO VALE DAS BONECAS de Russ Meyer
Camp. Sabe o que é isso? É lixo feito de propósito. Este fracasso foi dirigido pelo inventor do filme de nudez dos anos 50, Russ Meyer. Em 1969 ele conseguiu dinheiro da Fox para fazer um filme grande. Este. E vejam só, o roteiro é do grande crítico Roger Ebbert. O filme, uma gozação com o mundo de 69, fala de 3 moças que formam uma banda de rock e se mandam para L.A. rumo ao sucesso. Se envolvem com produtor ( o melhor personagem, Z-Man ) e ....Tem transexualismo, hermafroditismo, drogas, psicodelia, mas tudo tratado com ""pureza", paz e amor. O filme é mal dirigido, tem os piores atores do mundo, cenas hiper editadas. Parece um trailer de duas horas. A gente espera que ele comece e nunca começa. Há quem o ache genial. Eu acho tão ruim que fica quase bom. O final é ótimo! Sem Nota.
   ROTA DE FUGA de Mikael Hastrom com Sylvester Stallone e Arnold Schwarzenneger
Que roteiro bobo!!!! Sly é um cara que faz testes para ver o quanto uma prisão é a prova de fuga. Mas cai numa enrascada quando preso numa prisão intransponível. Ufa! Mais bobo impossível. Chato pacas! E quem diria? Arnie quase salva o filme! O cara tem humor! Em 1989 quando caiu o muro de Berlin muita gente disse que o cinema perdia seu vilão, a URSS, e que teriam de criar bandidos cada vez mais fantasiosos. Este filme atinge o pico do ridículo. ZERO>
   JUNTOS E MISTURADOS de Frank Coraci com Adam Sandler e Drew Barrymore
Nada de risos. Ele é um viúvo com 3 filhas. Ela uma divorciada com dois meninos. Sem querer vão juntos para um resort na África do Sul. E fall in love. Não é ruim. É desinteressante. Odeio esse Sandler chorão, bom moço. E Drew faz Drew, uma atrapalhada boazinha. O filme escorre mel, infla bondade, exala pinky. Aff, enjoa! Qual é? Nota 2.
  

JULIA/ DAVID LEAN/ WELLMAN/ LUMET/ RINGO STARR/ RENOIR/ TATI

   JULIA de Fred Zinemann com Jane Fonda, Vanessa Redgrave, Jason Robards, Meryl Streep
Com uma belíssima fotografia de Douglas Slocombe, Julia foi o primeiro filme por que torci numa entrega de Oscar. Perdeu filme e direção para o Annie Hall de Woody Allen. Mas ganhou atriz coadj ( Vanessa Redgrave ) e ator coadj ( Jason Robards ). Revisto agora o filme parece ainda melhor. Baseado nas memórias de Lilian Hellman, o filme acompanha sua amizade com Julia, uma milionária judia que se envolve com a luta na Europa contra o nazismo. Jane faz Lilian. Jason é seu companheiro Dashiell Hammet. As cenas entre os dois são as melhores do filme. Eles discutem, brigam, ela tenta escrever, erra. Hammet já em sua fase impotente. Em sua segunda parte Lilian atravessa a Europa de trem para levar dinheiro a Julia em Berlim. As cenas no trem exibem suspense perfeito. Ficamos eletrizados. E o final, como no começo, Lilian só, num barco, num lago. Zinemann foi um dos maiores. Basta dizer que são dele Matar ou Morrer e A Um Passo da Eternidade. Julia é o fecho de ouro de sua carreira sem erros. Um filme que demonstra tudo aquilo que desejo ver no cinema. Nota 9.
   REDENÇÃO de Steven Knight com Jason Statham
A produção é de Joe Wright e a fotografia de Chris Menges, ou seja, é classe A. E demonstra pretensões artísticas. Mas é ralo, bobo e desagradável. Melhora no final, quando se torna uma simples aventura de ação. Nota 3.
   O VEREDITO de Sidney Lumet com Paul Newman, Charlotte Rampling, James Mason, Jack Warden
Escrevi sobre este filme abaixo em outro post. É um filme perfeito. Com roteiro de David Mamet, mostra a decadência de um advogado. Bebida, decisões erradas, mentiras, falsidades. Nota DEZ.
   UM BEATLE NO PARAÍSO de Joseph MacGrath com Peter Sellers e Ringo Starr.
Que coisa é essa??? Feito em 1968, com um roteiro caótico, esta comédia fala de um milionário que adota um mendigo. O milionário é Sellers, que está excelente, o mendigo é Ringo, que está Ringo. A trilha é de Paul MacCartney e é boa. As cenas são muito mal dirigidas, o filme é como um circo ruim. Ou um programa do Monty Python feito com mais LSD. Aliás, no roteiro vemos o nome de John Cleese. O incrível é que quando ele acaba pensamos: Não foi tão ruim! Nota 4.
   CARROSSEL DA ESPERANÇA de Jacques Tati
Primeiro filme dirigido pelo genial cômico da França. Suas caracterísitcas estão todas aqui. A vida como coisa simples, leve, comunal. ( Ao fim da carreira ele mudaria essa opinião com o filme Traffic ). Numa cidadezinha francesa chega uma quermesse. Vemos a vida dessa cidade. Um dia, uma noite, uma manhã. Quase sem falas, ver esse filme é como passear pela cidade. Galinhas, crianças, a praça, a fonte, o bar. Tati faz um carteiro que larga sua vida pacata e tenta ser um carteiro "à americana". Um filme adorável. Nota 7.
   SHE de Irving Pichel com Randolph Scott, Helen Mack
O filme, feito pela equipe de King Kong, mostra grupo de exploradores em busca da fonte da juventude. Encontram um reino onde a rainha vive a séculos. Não é ruim. Podia ter mais ação. Nota 5.
   GELERIAS DO INFERNO de William Wellman com John Wayne
O avião de Wayne cai numa região do Canadá que ninguém conhece. Ele e seus companheiros esperam pelo socorro. Que bela aventura!!! Wellman, que foi aviador e lutou na Primeira Guerra adora filmar aviões. Eles passam a procura dos sobreviventes e os vemos lá embaixo, em meio a gelo e fome. Wayne tem uma grande atuação. Seu desespero é palpável. Belo filme. Nota 8.
   QUANDO SETEMBRO VIER de Robert Mulligan com Rock Hudson, Gina Lollobrigida e Walter Slezack
Hudson é um milionário que passa seus agostos na sua villa italiana. Mas resolve aparecer em julho e encontra seu mordomo usando a casa como hotel. Gina é sua namorada de agosto. Filme ao estilo Sessão da Tarde dos anos 70. Belas paisagens, Rock muito bem, Slezack dando um show como o mordomo. Este é o filme familia de então. Levemente apimentado, bobo e muito agradável. Nota 6.
   RENOIR de Gilles Bourdos
O filme fala de 3 grandes artistas. O pintor e seus filhos, Jean, diretor de cinema, e Claude, diretor de fotografia. E mesmo assim consegue ser um filme desinteressante. Nota ZERO
   GRANDES EXPECTATIVAS de David Lean com John Mills, Jean Simmons e Alec Guiness
Este filme feito pelo então jovem David Lean, é considerado com justiça a mais perfeita adaptação literária levada ao cinema. O tempo fez crescer sua beleza. Guy Green fotografou num preto e branco cheio de escuros e de brumas esta soberba história passada nos pântanos ingleses. Os primeiros trinta minutos são das coisas mais perfeitas já filmadas. É um filme que consegue nos levar ao mundo de Dickens com perfeição. Vi recentemente duas versões desse livro em cinema, um de 1998 e outra de 2012...Não servem nem como curiosidade. Este é o filme. Nota DEZ.



 
  

HANSON/ DIANE LANE/ DICKENS/ BIG WAVES/WESTERNS RUINS/ PARKER

   PARKER de Taylor Hackford com Jason Statham, Jennifer Lopez, Nick Nolte
Hackford é o tipo do profissional pra toda obra. Ele pouco se preocupa em "provar" sua inteligência ou seu talento artistico. Ele filma em função do roteiro, ele conta uma história, narra. Foi assim com Ray, com A Força do Destino ou Advogado do Diabo. Aqui, usando o carismático Statham, o que se narra é uma ótima história de malandragem. Ação, suspense e humor. Que mais voce quer? Eis o cinema ao estilo Curtiz, Hawks e Sturges. Pura eficiência. Vamos deixar de ser idiotas. Cinema também é e sobretudo é, circo. Amar o cinema é amar tudo o que ele tem de mais vital, de mais verdadeiro. A emoção, o objetivo alcançado, a alegria do fazer, a satisfação do público que ainda crê nessa arte tão mal entendida. Há quem procure num filme filosofia. Ora, deixe de ser preguiçoso e vá ler Kant ou Hegel. Há quem procure no cinema Anna Karenina ou Morte em Veneza. Deixe de ser preguiçoso e vá ler os livros de Mann e Tolstoi. Cinema é imagem em movimento, cinema é fantasia, magia que pode ser alegre, triste, perturbadora ou futil, mas que deve ser sempre movimento, cinema. Hawks, Hitchcock e Ford me ensinaram isso. Nota 8.
   O VALE DA VINGANÇA  de Richard Thorpe com Burt Lancaster e Robert Walker
Um faroeste ruim. E assim como acontece com musicais, um faroeste quando é ruim é o pior tipo de filme que há. O que é um faroeste ruim? É um filme sem ação, sem nada de mitológico, arrumadinho, limpo, higiênico. Burt está mal utilizado e o filme é um tédio. Nota 2.
   OBRIGADO A MATAR de Joseph H. Lewis com Randolph Scott
Outro mal faroeste. Nada acontece nesta pseudo-aventura sobre ex-matador agora da paz. Lewis foi um diretor B que os Cahiers adoravam. Ele não é aquilo que os franceses gostariam que fosse. Nota 1.
   HERANÇA SAGRADA de Douglas Sirk com Rock Hudson e Barbara Rush
Ross Hunter produz na Universal este western em que Hudson faz um indio pacifico. Sua luta é contra seus companheiros comanches, ainda em guerra. Sirk dirige e carrega no drama familiar, sua especialidade. A fotografia é belíssima. O filme acaba poe ser comum, indefinido entre ação e drama. Nota 4.
   O AMANTE DA RAINHA
Filme dinamarquês. Indicado ao Oscar 2012. Fala de um rei meio insano e de sua rainha inglesa, do bem. Ela se envolve com um médico moderninho. Hum... e daí? O filme é horrivelmente tolo. Nada consegue mostrar da época observada. O rei é um maluquinho de 2012, assim como a rainha parece saída de algum café de Copenhaguen. Pior é o médico: sociólogo da Vila Madalena, nada nele é de verdade. Iluministas não eram como esse bobinho, reis loucos não eram como esse tontinho e rainhas esclarecidas não se portavam como essa dondoca do Arouche. Queres conhecer de verdade a época retratada? Barry Lyndon de Kubrick ou Ligações Perigosas de Frears é vosso filme. Ah sim! Este filme poderia ser uma deleitosa fantasia como o Anna Karenina de Joe Wright, um show de técnica que nunca tenta ser retrato fiel de 1880. Mas esta tolice nada tem de deleite, muito menos de show. Zero.
   TUDO POR UM SONHO de Curtis Hanson e Michael Apted com Gerard Butler, Abigail Spencer
História real sobre um garoto dos anos 80 que se torna um surfista de big waves ( Maverick ). Na verdade o filme tem o esquema de um western: o veterano amargo que ensina o novato empolgado. Butler está bem como o rei veterano e anti-social das big waves. Ele produziu o filme com Hanson. É um filme modesto, simples e sincero. Nada de especial, mas tem cenas no mar incríveis e sem efeitos digitais. Hanson foi o grande diretor de Garotos Incríveis e de LA Confidential. Apted teve fama nos anos 80 de muito bom diretor. Porque dois diretores? Brigas? Filme ok. Nota 5.
   SOB O SOL DA TOSCANA de Audrey Wells com Diane Lane e Raoul Bova
Li o livro e gostei. O filme foge do livro, muda tudo. Coisas do cinema.... Lane, sempre adorável e bonita, ( a acompanho desde 1979!!! Ela começou em Pequeno Romance com Laurence Olivier aos 13 anos.... ) bem, aqui ela é uma mulher que leva um pé do marido e acaba na Itália, onde compra casa caindo aos pedaços. Assim como acontece com os livros de Peter Mayle, vemos uma americana em contato com uma cultura mais antiga, mais relax, muito mais sensual. O filme é lindo de se olhar e nunca ofende a inteligência. Nota 6.
   GRANDES ESPERANÇAS de Adolfo Cuáron com Ethan Hawke, Gwyneth Paltrow e Anne Bancroft
Assisti em 2000 e não gostei. Dei mais uma chance ontem...Em 1945 David Lean fez um belíssimo filme sobre este livro de Dickens. E quando Lean fazia um filme belo, bem, era um filme muito belo! Cuáron refilma o livro colocando-o no sul dos EUA nos tempos de hoje. Cuáron se humilha... coitado. O filme é muito, muito ruim. Pior ainda, ele é risivel. Quando a grande Anne Bancroft começa a dançar em sua casa de mulher louca tudo o que queremos fazer é rir e desligar o DVD. Robert de Niro também comparece como um ladrão fugitivo. Um dos maiores fiascos da história dos filmes.

   

LEAN/ FREARS/ MALKOVICH/ LANG/ WOODY ALLEN/ POLLACK/ MERYL STREEP

   UM GATO EM PARIS de Felidoli e Bagnol
Melancólico. As crianças que assistirem esse desenho terão péssimas lembranças. Tem uma menina meia-muda que está deprê por causa da mãe, tem um ladrão de jóias meio down, tem um gato cool...Os traços do desenho são simples, esquisitos, feios. Este desenho parece servir apenas para preparar as crianças para os filmes que assistirão em sua vida adulta. Argh! Nota Zero.
   ADEUS, PRIMEIRO AMOR de Mia Hansen-Love
A jovem diretora francesa diz em entrevistas que Truffaut e Rhomer são seus mestres. De Rhomer não há nada em seu filme, de Truffaut há muito: delicadesa nas imagens, suavidade na edição, interesse genuíno pelos sentimentos. Na história simples e dolorida de um amor adolescente ( inocente ), há a constatação de que bom cinema é ainda possível. Bonito. Nota 7.
   LAWRENCE DA ARÁBIA de David Lean com Peter O'Toole, Omar Shariff, Alec Guiness, Anthony Quinn, Jack Hawkins
Qual o segredo de Lean? Este filme tinha tudo pra dar errado: um herói antipático, um enredo que fala de um momento histórico que poucos conhecem, excesso de metragem, pouca ação para um filme pop e caro. E milagrosamente tudo deu certo: o herói se faz um enigma, o roteiro diz o que quer com clareza, a duração do filme parece a exata, e a ação é percebida como ação-interior. Sucesso de público, sucesso de crítica, sucesso de premiação. A união de arte e entretenimento. A beleza plástica e boas atuações. Peter O'Toole era um desconhecido, aqui se tornou uma estrela ( e esse é outro procedimento que graças a Lawrence se tornou uma regra, fazer uma super produção com vasto elenco de astros, mas colocando um novato promissor no centro ), sua atuação é multi-facetada, complexa, por mais que o vejamos, menos o entendemos. Peter seria sempre um ator especialista em homens divididos, um grande ator. Nota MIL.
   AS LIGAÇÕES PERIGOSAS de Stephen Frears com Glenn Close, John Malkovich, Michelle Pfeiffer, Uma Thurman, Keanu Reeves
A trilha sonora de George Fenton é feita de belas fugas. A fotografia é do melhor fotógrafo de cinema dos últimos vinte anos, Philippe Rousselot, e o roteiro de Christopher Hampton ganhou todos os prêmios em todos os festivais. Este filme concorreu a vários Oscars, mas era o ano de Rain Man... De qualquer modo, revendo-o agora, após tanto tempo, seu impacto fica bastante diminuído. Em 1989 o considerei fascinante, hoje, após tantas obras-primas vistas em dvd, me parece apenas um bom filme. Glenn Close está maravilhosa em sua maldade, e na hora em que sente ciúmes, a transformação em seu rosto é fantástica. Malkovich não está tão bom. Seus olhos passam maldade, obsessão, mas não possuem a sedução que Valmont deve transparecer. Falta-lhe sexo envolvente, absorvente, o sexo que ele promete é frio e desinteressante. Michelle nunca foi tão bela ( poucas mulheres foram tão bonitas de um modo tão inocente ). O roteiro se baseia no famoso livro de Choderlos de Laclos, a história de um sedutor que é seduzido ( no livro, que é uma obra-prima, Valmont é muito mais cruel ), é o século XVIII, era de hiper racionalismo cínico, Valmont e sua amiga se divertem em seduzir e destruir. Stephen Frears continua a ser um dos mais interessantes dos diretores. Após este seu sucesso, ele voltaria ás produções pequenas ( por escolha pessoal ) e nos daria Os Imorais e Alta Fidelidade. Mas seu melhor filme é ainda The Hit, com Terence Stamp e John Hurt. Nota 7.
   O SEGREDO ATRÁS DA PORTA de Fritz Lang com Joan Bennett e Michael Redgrave
Uma milionária se casa com homem misterioso e passa a temer esse mesmo homem. Ele será um assassino? Este filme de suspense, que lembra dois ou três filmes de Hitchcock, não dá certo por vários motivos, os principais sendo o fraco roteiro e o desinteresse de Michael Redgrave. Ele é um excelente ator, às vezes mais que excelente, mas aqui dá pra perceber seu ar de tédio e sua expressão de sono. Joan se empenha, mas a mulher que ela faz é um cliché. Lang, é até ridiculo dizer, foi um dos grandes do cinema. Mas teve uma longa e irregular carreira. Ele era capaz de fazer uma obra-prima em janeiro e um lixo indesculpável em dezembro. Este não é um lixo, dá para se assistir até com algum prazer, mas não faz justiça a quem nele trabalhou. Nota 5.
   DESCONSTRUINDO HARRY de Woody Allen com Woody e mais Judy Davis, Billy Cristal, Tobey Maguire, Elizabeth Shue, Demi Moore, Paul Giamatti e Kirstie Alley
Quando o vi pela primeira vez, adorei. Mas ele não resiste a uma revisão. É enfadonho ( sou fã de Woody Allen, é triste dizer que ele é chato ), irritante até. Isso porque Allen nunca fez um "Woody Allen" tão sem graça. Ele passa do ponto e a história desse pequeno Dom Juan se torna um tipo de auto-elogio a uma alma atormentada. Quando ao final ele descobre que o culpado por seus fracassos afetivos não era ele, mas elas, a sensação que temos é de engodo. Ele era o culpado sim. Passamos hora e meia na companhia de um ser extremamente egoísta que nos entope com suas confissões nada interessantes. O pior lado de Woody Allen se mostra aqui: um hiper-narcisista que usa o cinema como sala de analista. Não me interessa sua dor, seu pessimismo. A familia que ele critica é um tiro pela culatra, eles parecem mais interessantes que ele mesmo. A relação com Shue chega a ser constrangedora. Judy Davis, grande atriz australiana, tenta e consegue dar vida ao fiapo de papel que lhe deram. Ela deveria ser Harry. Fujam!!!!! Nota 2.
   OUT OF AFRICA ( ENTRE DOIS AMORES ) de Sydney Pollack com Meryl Streep e Robert Redford
Os primeiros dez minutos anunciam uma obra-prima que ele não é. Nessas primeiras cenas há poesia e sentimento. Assim como no excelente final, digno de um grande filme. Mas as duas horas e meia que recheiam esses dois ótimos extremos, são "quase" grande cinema. Apesar de ter ganho um caminhão de prêmios, e de ter levado milhões de adultos ao cinema, Pollack erra em sua tentativa de fazer um filme à "David Lean". Pollack usa todos os ingredientes de Lean: uma longa história passada em lugar misterioso e exótico, ótimos atores, belíssima fotografia e trilha sonora grandiosa. Pontua tudo com cenas típicas de Lean, sol se pondo, um rio, um trem que passa. Mas porque, mesmo seguindo a receita, este filme nunca parece ser de David Lean? Qual o segredo de Sir David? Coragem. Pollack teme ser pouco pop e corta onde Lean deixaria alongar e alonga cenas que Lean cortaria. Quando Lean exibe uma paisagem ele se deixa relaxar, usufrui a beleza, nos faz entrar no filme. Pollack mostra a paisagem como quem exclama: -Olhem que bonito! E corta. Já Pollack estica diálogos sem interesse, cenas que Lean sempre interrompe para mostrar a vida lá fora. Bem...Pollack levou seu Oscar com este filme. Filme que se deixa ver, baseado em livro da grande Isak Dinesen, livro que conta sua experiência de plantadora de café na África. Meryl faz bem a escritora, mas há uma qualidade em Meryl que nunca mudou, a frieza. Admiramos Meryl Streep, não amamos. Redford é um caçador amigo e amante, homem radicalmente livre que adora ouvir as histórias que Dinesen lhe conta. Ele é a melhor coisa do filme. Redford é sempre bom de se ter numa produção. Nota 6.

LAWRENCE DA ARÁBIA- DAVID LEAN ( O FILME QUE SPIELBERG SEMPRE TENTOU FAZER )

   Em 1988 causou surpresa quando Steven Spielberg se uniu a Martin Scorsese para fazer algo que nenhum cineasta fazia na época: restaurar um filme. Ainda mais que era um filme, então, recente ( 1962 ), e nada obscuro. O filme era LAWRENCE DA ARÁBIA, obra que Spielberg sempre disse ser seu mais amado filme. Vencedor de vários Oscars, sucesso de crítica e de bilheteria, Lawrence se tornou uma mania tão grande que recordo que em minha sala de quinta série, em 1975, existia um aluno chamado Laurêncio, e outro de nome Lawrence. Homenagens ao filme que a professora de português logo confirmou.
  É um filme de arte. Ele tem pouquíssimos diálogos e cenas longas, sem ação. Mas os diálogos não são necessários, Lean fala com as imagens. Os cortes, poucos, chegam a ser milagrosos. Há logo no começo um corte que vai de um fósforo para um nascer do sol no deserto, que é milagroso. E a ação está presente não em tiros ou correrias, ela se faz naquilo que os personagens realizam. O filme é imagem fascinante, miragem.
  E é um filme popular. Com dinheiro gasto às toneladas ( quem o produziria hoje? ). Algumas cenas têm figurantes a perder de vista. O elenco é todo estelar ( menos Peter O'Toole, desconhecido na época ), e a equipe técnica é a mais brilhante. Começando por seu diretor. David Lean é um mestre, um tipo de diretor guia.
   T.E.Lawrence foi poeta, intelectual e soldado aventureiro. Acima de tudo ele foi uma figura estranha. Escreveu um livro, clássico, sobre sua experiência árabe: OS SETE PILARES DA SABEDORIA. O filme exibe sua ação em 1917, durante a guerra da Inglaterra contra a Turquia. A Turquia era a força que dominava o mundo dos árabes, e Lawrence, indo contra as ordens inglesas, se infiltra nesse mundo, se torna um árabe e tenta unir todas as tribos contra a Turquia. As tribos, hoje sabemos, jamais iriam se unir, o que causaria a construção das rivalidades entre Iran e Iraque, Siria e Jordania...
  Lawrence nada tem de herói convencional. Ele tem enormes crises de depressão, se perde em delirios, é muito vaidoso, tem medo da violência, erra. Jamais o filme mostra Lawrence como um homem simpático. Ele é um enigma, e ao final se transforma num tipo de deslumbrado biruta. Amamos o filme e admiramos o herói, mas nunca o compreendemos. David Lean atinge seu objetivo: Lawrence nos absorve, não nos convence.
  David Lean começou com obras-primas sobre Charles Dickens nos anos 40. Depois viveu uma fase de transição e a partir do final dos anos 50 construiu sua fama de diretor de épicos de arte. A PONTE DO RIO KWAI foi o primeiro. Depois vieram LAWRENCE DA ARÁBIA, DOUTOR JIVAGO, A FILHA DE RYAN e PASSAGEM PARA A INDIA. Aqui, como em PASSAGEM PARA A INDIA, o imperalialismo inglês é questionado. A Inglaterra ajuda a luta árabe contra os turcos para depois ser a nova metrópole. A história sempre se repete.
  Existem filmes que se tornam o paradigma de seu gênero. Desse modo, toda comédia romântica sempre aspira a ser ACONTECEU NAQUELA NOITE de Capra, e todo épico quer ser LAWRENCE DA ARABIA. De GANDHI a IMPÉRIO DO SOL, de A COR PÚRPURA a O PACIENTE INGLÊS, de CORAÇÃO VALENTE a O SENHOR DOS ANÉIS, todos esses filmes procuram o sucesso popular e de crítica que a obra-prima de David Lean conseguiu. Mais que isso, todos bebem em seu estilo. Trilha sonora, imagens imensas, movimento de figurantes, metragem ( LAWRENCE tem 4 horas que passam tranquilas ), tudo nesses outros filmes lembra, em modo de fazer e de tentar fazer, este filme. É um divisor de águas. Após Lawrence, o épico deixou de ser Cecil B. de Mille, e passou a ser David Lean.
   Mas acima de tudo o filme é uma experiência estética. Uma viagem mental e sensual pelas imagens do deserto. Já foi dito que Lean fez um filme sobre a areia. Sobre a luz e o calor. O que acrescento é que é também um filme sobre a arte de se fazer filmes. Filmes que dão tudo ao seu público, filmes que o entretém enquanto o enriquece. Filmes que são um evento.
   Spielberg falou em entrevistas que seu sonho era fazer um filme como este. Que ver LAWRENCE em 70mm, numa tela gigantesca, mudou sua vida para sempre. Que a cena de Omar Shariff vindo ao longe, como miragem, até surgir imensa e clara em seu orgulho de nobre, foi decisiva em seu estilo. Acrescento que mesmo em tela caseira, o filme se mantém impressionante. Lean faz as mais belas imagens e consegue nos conduzir pela mão atrás do louco soldado poeta. Inglês que pensou ser árabe e que se perde no deserto de sua ilusão.
   Assistir LAWRENCE DA ARABIA é um privilégio.

HITCHCOCK/ BUÑUEL/ LEAN/ X-MEN/ TAVIANI/ MURNAU/ HENRY FONDA

   MOVIE CRAZY de Clyde Bruckman com Harold Lloyd e Constance Cummings
Filme falado de um dos mais famosos humoristas da época. O tipo de Harold é o "americano comum". Um otimista. Aqui ele vai para Hollywood "ser famoso". Se mete em mal-entendidos. Me parece que "Um convidado Trapalhão" de Blake Edwards se inspirou aqui. Mas Lloyd é bem melhor em seus flmes mudos. Faltam aqui suas soberbas cenas de ação. Nota 4.
   O HOMEM ERRADO de Alfred Hitchcock com Henry Fonda e Vera Miles
Um original. É um dos mais angustiosos filmes do mestre-gênio. Sem qualquer cena de fantasia, sem nenhuma concessão, sem nada de "bonito". Esta história é real, verídica, e Hitch a filmou quase como um documentário. Fonda, desamparado, inconsolável, é um pai de familia que é confundido com um assaltante. Vai preso e todas as testemunhas o apontam como culpado. Nesse processo sua esposa enlouquece. Até que ocorre um milagre... É o mais pessoal filme do gênio do cinema fantasioso. Quando criança, na Inglaterra, seu pai lhe pregou uma peça: fez com que fosse preso "de brincadeira". Hitch nunca mais deixou de ter pavor da policia. Aqui nos sentimos na pele de Fonda. A cena em que ele é trancafiado e anda pelo espaço minúsculo da cela é magnífica. O filme inteiro é seco, objetivo, detalhista. Todo o processo de identificação, de detenção, de códigos legais é mostrado. Quem acha Hitchcock pouco "real" deve ver este filme. Inesquecível. Atenção para a trilha sonora de Bernard Herrman, é uma obra de mestre. Já nos letreiros iniciais somos tocados por essa melodia esquisita. Os olhos de Fonda são os melhores do cinema. Filme que não proporciona qualquer prazer imediato, ele se fixa na mente por sua poderosa dor. Nota DEZ.
   THE PLEASURE GARDEN de Alfred Hitchcock
É o prmeiro filme dirigido pelo mestre. Mas nada tem de hitchcockiano. Trata de duas coristas e suas disputas num cabaret. Uma chatice! Bons tempos em que um diretor podia fazer dúzias de filmes até aprimorar seu estilo... hoje o cara tem de acertar na primeira e depois se repetir pra sempre ( ou fazer continuações de HQ e que tais ). Nota 1.
   L'AGE D'OR de Luis Buñuel
Segundo filme de Luis. Imagens sobre bispos, que viram esqueletos; o desejo de um casal que é separado, escorpiões, mar e sol. Me desculpem, mas em termos de surrealismo prefiro os filmes de Man Ray. Nota 5.
   A SOMBRA DE UMA DÚVIDA de Alfred Hitchcock com Teresa Wright e Joseph Cotten
De todos os seus filmes este é aquele que Hitch mais gostava. Porque? Talvez por ter sido aquele com melhor clima nas filmagens. Inclusive o roteirista, Thorton Wilder, uma estrela do teatro,  não se mostrou chato ou turrão. Mas o principal talvez seja o fato de que este é realmente um grande filme. Um assassino foge de New Jersey e vai morar com sua irmã, numa pequena cidade do interior. Essa irmã é casada, e tem uma simples e alegre familia típica. A filha ansia pela quebra da rotina interiorana e fica em êxtase com a chegada do tio cosmopolita. O que vemos então é a lenta destruição da inocência dessa menina, o aparecimento, passo a passo, do mal na tranquila familia. Mas atenção! Nada de cenas de violência, nada de grandes dramalhões, o filme é sutil, a familia jamais percebe o mal, apenas a filha tem essa percepção. Fato complicador: tanto o tio como a filha têm o mesmo nome, Charlie. Serão duplos? A cena em que ela descobre quem o "querido tio" é, tem um movimento de câmera que se tornou célebre, Coisa de gênio. Aliás, este é um daqueles raros filmes perfeitos, não há uma cena a mais. Obra-prima. Nota MIL.
   PASSAGEM PARA A INDIA de David Lean com Judy Davis, Peggy Ashcroft, Victor Banerjee, James Fox, Alec Guiness
Estava querendo recordar como são os melhores filmes, então passei este semana numa dieta de Htchcock e David Lean. Escrevi sobre este filme abaixo. O que mais dizer? Que apesar de suas 3 horas ele passa voando? E que já sinto vontade de vê-lo mais uma vez? Nota MIL.
   X-MEN PRIMEIRA CLASSE de Mathew Vaughan
Apesar de durar uma hora e meia, este filme parece muuuito longo. E não é ruim. Claro que tem um roteiro tipo "guarda de trânsito", o seu objetivo é apenas o de manter tudo em movimento. Há também um dos mais recorrentes defeitos desse tipo de filme: as melhores cenas estão no começo. Mas se voce esquecer os diálogos ridiculos e a infantilidade dos "motivos dramáticos", dá pro gasto. O diretor não enfeita demais, apenas mostra o que tem pra se mostrar. E os dois "heróis" são feitos por atores competentes ( James MacAvoy e Michael Fassbender ). O que me intriga é: ninguém ainda percebeu que o encanto de um filme de ação está na dosagem entre movimento e diálogo? Nota 4.
   ACONTECEU NA PRIMAVERA de Paolo e Vittorio Taviani
Uma familia de hoje vai á Toscana visitar o avô. No caminho o pai conta aos filhos a história da familia. Desde a época de Napoleão até o século XX. O tema do filme é fascinante, a Europa teria traído o espirito revolucionário e se prostituido pelo dinheiro. Os irmãos Taviani são marxistas e isso os prejudica. Acabam se perdendo num rancor e numa nostalgia pelos "bons tempos" revolucionários. Na cena final as crianças de hoje são mostradas como pequenos monstrinhos que só pensam em dinheiro. Uma pena que um tema tão vasto, rico, seja desperdiçado numa direção que sempre opta pelo errado. Há um excesso de cenas de amor, um excesso de personagens sem carisma e no fim, o avô se mostra apenas um comunista estúpido. De qualquer modo, concordamos com a bundice atual da Europa e lamentamos que os ideias da revolução ( Igualdade, Fraternidade e Liberdade ) tenham sido jogados na vitrine de algum Shopping Center. Nota 4.
   TABU de F.W. Murnau
Em 1930, Murnau, diretor famoso então, se une a Robert Flaherty, maior documentarista do mundo, e rumam a Bora-Bora, Pacifico Sul. Lá fazem um filme que é um misto de ficção e de documento, este sublime Tabu. Há quem o considere o melhor filme já feito. Não sei se é tanto, mas há algo de mágico aqui. Os nativos, verdadeiros, são os atores. O que vemos são pescarias, danças, sol e areia e muito mar. E a história de um casal que se ama mas é impedido por um tabu. Impressiona o sorriso desses homens. Há neles uma leveza e uma felicidade que está extinta do mundo. Eles vivem em idilio, são naturais. Tudo é feito em grupo, todos são livres dentro do mundo que os aceita e é aceito por eles. Juro que não estou romantizando, eles realmente são a imagem da felicidade humana. Lembro que este foi o primeiro dvd que vi na vida, ( mas não o primeiro que comprei, que foi My Fair Lady ), e é um belo começo de coleção. Murnau faleceu logo ao final das filmagens em acidente de carro. O mundo perdeu um soberbo mestre. Nota DEZ.
  

O QUE É UM "GRANDE FILME" ? PASSAGEM PARA A INDIA, DE DAVID LEAN, TE ENSINA A ENTENDER. ( E pobre de quem nunca o assistiu ).

   É muito mais fácil escrever sobre bons diretores que sobre os grandes mestres. Por mais que os elogiemos sempre fica faltando alguma coisa a destacar. David Lean foi um mestre. Basta dizer que Steven Spielberg é seu discípulo/fã. Nenhum diretor inglês chega perto de sua quantidade de prêmios.
   Ele fazia um tipo de cinema que não mais pode ser feito. Um filme "de luxo", que levava quatro, cinco anos em produção, centenas de técnicos/artistas, meses em locação, meses em edição. Um tipo de filme que gente digna como Paul Thomas Anderson luta por fazer, e é boicotado. Filmes que não são de kinoplex e nem de festivais de cinema. Muito complexos e exigentes para adolescentes barulhentos, e muito bem feitos e bem escritos, profissionais, para os festivais. David Lean tinha o mesmo público de Kurosawa ou de Kubrick, o cinema adulto perfeccionista.
   Este filme é baseado num belo romance de E.M.Forster. Autor central da Inglaterra dos começos do século XX. Lean fez o roteiro e a edição do filme. E dirigiu a seu modo. E como é esse modo? Sem frenesi. Ele faz filmes de ação, de diálogos, de movimento, mas não sacrifica a estética a isso. Ele interrompe a ação para mostrar um rio, uma montanha, o sol. E mostra em seu explendor completo, sem pressa. Os filmes de Lean costumam ter as mais belas cenas do cinema. Este lhe faz justiça. Há cenas que chegam a estontear. Como exemplo, as várias cenas do trem. Há uma em que o trem passa sobre uma ponte no fim de tarde que beira o milagroso. Mas o filme é 100% belíssimo, todas as cenas são maravilhas de cor, de composição e de luz. A India nunca foi tão mágica e rica.
   E o tema do filme é esse. O contraste da sensualidade indiana com a rigidez inglesa. Lean nunca morreu de amores pela metrópole britãnica. Aqui acompanhamos uma jovem inglesa, sedenta por aventuras, que vai à India encontrar o noivo. O que ela lá encontra é uma comunidade de ingleses que jamais se mistura aos indianos. Ela encontra uma Inglaterra quente e úmida, apenas isso. Mas sua amiga mais velha trava contato com um médico indiano e isso irá ter sérias consequencias. Mais não conto, o que adianto é que não se trata de um caso de amor. O filme é sobre a força da India, seu excesso de cor, de vida, de sensualidade, em oposição a frieza enfadonha dos ingleses. Flores, folhas, bichos e principalmente as pessoas vão lentamente enlouquecendo os europeus. Esse é o tema. Vasto como o país.
  David Lean tem o dom de saber conduzir atores. Judy Davis, que em seguida estaria excelente com Woody Allen, faz a moça. Impressiona o olhar de curiosidade e depois de terror que ela nos dá. Grande atriz australiana, a confusão em que ela se enfia poderia ser uma armadilha para uma atriz banal. Para ela é um triunfo. Mas há ainda a maior atriz da história do teatro inglês, Peggy Ashcroft. Como a velha senhora que entende aquilo que a India significa, ela domina todo o filme. A cena de sua morte no mar é inesquecível. Como é inesquecível Victor Banerjee, o médico indiano. Modesto, de bom coração, tudo o que ele deseja é agradar seus amigos ingleses. Comove sua pureza, sua alegria simples, a forma como ele se afoba em tentar agradar. E a transformação que lhe cabe, a dolorosa maneira como ele toma consciência de si-mesmo. Uma atuação histórica. Alec Guiness faz um filósofo hindú e James Fox é um professor inglês que gosta do país. Fox poderia ter sido uma grande estrela, mas pirou ao filmar "Performance" com Mick Jagger e ficou dez anos "perdido" na India. Este filme é seu "retorno". Belo retorno.
   Tenho pena de uma geração que não tem os filmes de David Lean. Uma geração que só conhece filmes mutio idiotas ou muito cabeça. Filmes muito ricos e vazios, ou muito complexos e... vazios. Asssistir Lean é exatamente como ler um grande livro. Voce cresce se distraindo, aprende se divertindo e principalemte se extasia. As cenas do filme não saem da cabeça, a beleza é grande demais.
   Em 1984 este filme concorreu a 8 Oscars e venceu dois. Trilha sonora de Maurice Jarre e coadjuvante feminina para Peggy Ashcroft. Era o ano de "Amadeus" que o atropelou. Cá entre nós: eu adoro Amadeus, mas este é melhor.

CLINT/ RICHARD BURTON/ DAVID LEAN/ SIDNEY LUMET/ WILLIAM HOLDEN

ALÉM DA VIDA de Clint Eastwood com Matt Damon Crítica abaixo. É um bom filme. Inclusive tem a coragem de deixar tudo no ar. Todas as cenas com Matt Damon são excelentes. A trilha sonora é de Clint. Há algum diretor americano atual mais irriquieto? Nos últimos dez anos ele falou de boxe, de pedofilia, de imigração, de falsos heróis e do Japão e a guerra. Tudo com seu estilo low profile, discreto, sério, sem afetação nenhuma. É o cara. Nota 7. ....................................UM DOCE OLHAR de Semin Kaplanoglu Muito elogiado, este filme mostra a bela relação entre pai e filho na Turquia. O pai colhe mel de abelhas que vivem no alto das árvores. O menino é isolado na escola e se solta com o pai. É bom ver um filme turco. Outra paisagem, outros rostos. A fotografia é bonita, o filme tem poucos cortes e boas intenções. Mas não há nada nele que não tenha sido feito antes ( e melhor ). De qualquer modo, para aqueles que começam a ver filmes agora, é recomendado. Nota 5. ...................................................................GREAT BALLS OF FIRE de Jim McBride com Dennis Quaid, Winona Ryder e Alec Baldwin Foi um aguardado lançamento no fim da década de 80 esta bio de Jerry Lee Lewis, o bombástico "novo Elvis" que arruinou sua carreira ao se casar com a própria prima de 13 anos. Dennis Quaid é tão elétrico quanto Jerry Lee, sua atuação, à cartoon, é esfuziante. Quaid, ainda jovem, é um ator que nos dá prazer em ver. Winona, beem jovem, tem aqui o melhor papel de sua desperdiçada carreira. Vê-la aqui e em seguida na bomba ridicula de Aronofski chega a ser um choque! McBride estudou no Rio. Um apaixonado pelo cinema brazuca, seus filmes são sempre muito coloridos, exagerados, vivos, quase excessivos. Este é um tipo de brincadeira festiva sobre um dos mais dionisíacos astros do rock. Alec Baldwin está muito correto como Jimmy Swaggart, o muito bem sucedido primo de Jerry Lee, um pastor evangélico. O conflito entre os dois é o melhor do filme. Se a bio de Ray Charles foi uma patuscada caretésima, e se a bio de Cash foi muito pouco rock, esta é totalmente cartoon, irreal, frenética e vazia. É obrigatório para fãs de rocknroll. Nota 7. ..........................................................................................ODEIO ESSA MULHER de Tony Richardson com Richard Burton, Mary Ure e Claire Bloom Burton faz raios caírem na Terra com este texto irado de John Osborne. É sobre raiva e desespero, sobre desencanto e machismo. Nada há de agradável ou de bonito no filme inteiro. A Inglaterra reconhece sua irrelevância neste momento ( e ao reconhecer seu fim dá seu último berro de criação ). Por que atores ingleses são tão bons? Shakespeare no breakfast? Nota 7. .............................................................................................GRANDES ESPERANÇAS de David Lean com John Mills, Valerie Hobson, Jean Simmons Os primeiros vinte minutos deste filme são das melhores coisas já feitas na história do cinema. Um clima de medo, confusão e solidão levado com maestria pelo seguro David Lean. Depois o filme deixa de ser tão genial e se torna apenas ótimo. Há quem considere este o maior filme baseado em Dickens já feito ( e sabemos o quanto a refilmagem de Cuarón com Gwyneth e Hawke é ruim...), Oliver Twist do mesmo Lean é melhor, mas este é totalmente absorvente. As cenas na casa abandonada, a relação da familia do menino, o modo como a menina o trata, tudo é inesquecível, feito com a competência de quem sabe do que fala. A fotografia é de Guy Green, fotografia da soberba escola inglesa de 1940/1960. David Lean é o mais bem sucedido diretor inglês da história, ele é o modelo e sonho de Spielberg e que tais. Eu prefiro Powell, mas dizer o que de quem fez estes filmes dickensinianos, e ainda Lawrence da Arábia e A Ponte do Rio Kwai? O homem era nobre, detalhista, perfeccionista, culto e sempre valorizava a finesse de seu público. Cinema que nos trata bem, que nos valoriza. Nota 8. ..................................................................................................................................................LADRÕES DE CASACOS de Robert Asher com Terry Thomas e Billie Whitelaw Grupo de aposentados passa a roubar estolas e casacos de peles. O objetivo é doar o dinheiro a caridade e dar nova vida a suas medíocres existências. Comédia inglesa tradicional: um pouco excêntrica, muito convencional. Os Atores a salvam e o texto é agradável. Nota 5. ....................................................EM UM MUNDO MELHOR de Susanne Bier O tema é "relevante", mas o filme é terrivelmente nórdico: anódino, bonzinho, sem tempero. Típico produto que agrada àqueles que vão ao cinema ver uma tese, um telejornal, algo de "bom", não Cinema. Não dá para se falar de direção, de atores, de falas, de alguma arte; o que se pode é falar do tema, apenas do tema. Como cinema é paupérrimo. Nota (............).................................................................... SUCKER PUNCH-MUNDO SURREAL de Zack Snyder O diretor disse em entrevista ser fã de Kurosawa. Nada aprendeu com seus filmes ( terá mesmo visto algum? ). O filme, bem moderninho, é uma mixórdia de efeitos espertos, mocinhas fashion e teorias pseudo-bem sacadas. Que saco!!!!!!! Nota Zeeeeeero! ...........................................................................................REDE DE INTRIGAS de Sidney Lumet com Faye Dunaway, Peter Finch e William Holden Quem quiser saber o que é um bom filme do moderno cinema americano veja este. Dizer mais o que? O roteiro de Paddy Chayefski é uma porrada na cara de todos nós. Não há um herói, o que há é um louco, uma ambiciosa escrota e um bom-coração bundão. A TV manda e a TV é ninguém. Lumet dirige como um gênio ( que não foi, mas chegou perto disso ), várias cenas são antológicas. Em 1976, em minha primeira noite de Oscar ( eu era uma criança... ) torci muito por este filme ( mesmo sem o assistir ), deu Rocky de Stallone... esse foi meu primeiro contato frustrante com o tal prêmio. Trinta e cinco anos depois e Lumet morre nos deixando este filme ainda vivo e relevante. E que atuação é essa de Peter Finch????? Chega a dar medo de tão poderosa!!! ( ele venceu postumamente como best actor, morreu logo após este filme ). Nota 9.

MICHAEL POWELL/ LEAN/ HEPBURN/ FRED E GINGER/ CHOW

KUNG FU HUSTLE de Stephen Chow com Stephen Chow
Imenso sucesso na Asia, este filme é o que pode ser chamado de festa de reveillon. Ele é muuuito engraçado e é feito com uma técnica cinemática assombrosa. Chow usa todas as referências possíveis : Tarantino, Keaton, Tati, Scorsese e ainda Fred Astaire ( há bela homenagem a Top Hat ). Sem dúvida é um dos grandes filmes deste milênio. É ver para crer. Nota DEZ!!!!!
OS 5 VENENOS de Chang Cheh
Clássico da Shaw Brothers. Fala de grupo de ex discipulos Shao Lin que procura tomar posse de fortuna. É cada um por si. As lutas são estupendas, os cenários muito criativos e a diversão está garantida. Como já falei, após esse aprendizado de filmes orientais, fica dificil para mim engolir a parte de ação de filmes como Batman, Homem de Ferro e que tais. Nota 7.
O ESPIÃO NEGRO de Michael Powell com Conrad Veidt e Valerie Hobson
Para Scorsese e Coppola, Michael Powell foi um gênio, o maior diretor da Inglaterra. Eu concordo. Todos os seus filmes variam entre o genial e o excelente. Além do que ele fez de tudo : comédia, drama, musical, fantasia, aventura, filme experimental. E culminou com A Idade da Reflexão, o filme mais alegre da história. Este é de seus primeiros filmes e fala de espião nazi que trabalha na Escócia. Suspense hitchcockiano, belo clima de fatalidade, tudo feito com rapidez e simplicidade. Um gênio em seu nascimento. Nota 7.
UMA MULHER DO OUTRO MUNDO de David Lean com Rex Harrison
Mas a maioria acha que David Lean é o maior dos ingleses ( Spielberg e Fincher o colocam nas alturas ). Sem dúvida foi um gigante. Aqui, no começo de sua hiper vitoriosa carreira, ele adapta uma peça de imenso sucesso de Noel Coward....Ah Noel Coward....Nada foi mais pop no final do imperio britânico que Coward ( lá entre 1915/1955 ). Suas peças, suas canções, as frases que ele dizia... Noel era o inglês que todo inglês queria ser. A partir de 1959, quando os Angry Men tomaram a cena, Noel Coward se foi para o limbo. Waaaal....esta peça/filme trata de fantasma de esposa que volta a terra para atrapalhar o casamento de ex-marido. Há ator de comédia fina melhor que Rex Harrison ? O filme é uma efervescente bobagem. Nota 7.
PAT E MIKE de George Cukor com Kate Hepburn, Spencer Tracy e Aldo Ray
Kate e Spencer tiveram um caso extra-conjugal que durou toda a maturidade dos dois. Mas, por ele ser um fervoroso católico irlandês, jamais se divorciou da esposa. A imprensa, que respeitava muito os dois, sabia de tudo mas não divulgava nada ( belos tempos éticos ). O caso só veio à tona quando a esposa de Tracy morreu. Nesse tempo de affair ( que terminou com a morte dele em 1967, foram 35 anos de caso ), os dois fizeram uma série de comédias adultas. O tema era sempre sobre casais de opostos, ela geralmente sendo uma feminista e ele um machão bonachão. Alguns desses filmes se tornaram clássicos absolutos e outros nem tanto. Este, que fala de esportista fenomenal ( Kate ) que se sente insegura quando assistida pelo noivo chato, é dos menos bons. É bacana ver como eram o tênis, o golfe e o basquete na época, mas Cukor está em seus dias de preguiça. ( George Cukor tinha o dom da imagem. Fez alguns dos filmes mais "belos" do cinema. Sabia ser chic, esperto, leve. Mas por ser um grande festeiro e colecionador de arte, as vezes parecia fazer filmes preguiçosos, feitos no piloto automático. Este é desses. ) De qualquer modo, é sempre um prazer ver Kate em ação. Nota 5.
FOLLOW THE FLEET de Mark Sandrich com Fred Astaire e Ginger Rogers
Ele é um marinheiro em folga. Ela é sua ex-noiva. Ele tenta reconquistá-la. Com as músicas de Irving Berlin fica fácil. O filme é dos menos geniais da dupla: é "apenas" delicioso. Ginger Rogers está belíssima e apimentada como sempre. Fico imaginando a alegria que deveria ser em 1937, ver esse filme e em seguida levar sua menina para jantar e dançar.... Nota 8.
TOP HAT de Mark Sandrich com Fred Astaire, Ginger Rogers, Edward Everett Horton
Cenários art-déco em branco. As paredes são brancas, os móveis são todos em branco, o chão é prata, os objetos de vidro. Van Nest Polglase e Carrol Clark faziam esses sets que eram como o paraíso na tela. O filme fala de homem que conhece garota, se apaixona, a perde e tenta a reconquistar. Astaire consegue o milagre: dizer tudo dançando. Para entender a genialidade dos melhores musicais é preciso entender isso : quando a música começa, a alma dos personagens fala. Ouvimos e vemos o que eles pensam e sentem. E ninguém fez isso melhor que Fred e Ginger. Cada passo e cada olhar transmitindo tudo aquilo que voce já sentiu ou viveu com alguém. Isso é magia pura. Este foi o maior sucesso da dupla e salvou a RKO do vermelho. Um dos maiores clássicos do cinema, homenageado em Wall E, em Kung Fu Hustle, em A Lenda e mais uma infinidade de filmes. Ele é sempre usado como " a coisa mágica que ficou do passado lembrando ao homem que viver vale a pena ". Quem fez mais que isso? Nota impossível.
SWING TIME de George Stevens com Fred Astaire e Ginger Rogers
Os críticos mais "sérios" consideram este o melhor filme da dupla. Eu discordo. Acho o mais esquisito. A parte cômica é a menos ótima, porém, a parte musical é a melhor. Jerome Kern fez uma seleção de canções que variam do sublime ao inesquecível. Bojamgles of Harlem em que Fred se pinta de negro e homenageia seu ídolo ( Bill Robinson, o gênio do taps ) é dos maiores momentos da história das telas. Mas tem mais: a cena na neve ( que lindo set ! ) e a hora em que se canta The Way You Look Tonight, quem já amou irá se comover. Mas a magia insuperável nasce quando Fred e Ginger se despedem "para sempre", e tentando reatar ele canta Never Gonna Dance ( para mim, junto com Falling in Love Again, as duas músicas que melhor retratam o amor ). Nesse momento, junto a escadaria em set vazio, Fred consegue em música e dança, transmitir todo o desespero de alguém que percebe o amor partir. É de uma beleza aterradora ! Bergman precisa de duas horas para fazer o mesmo efeito ! ( E Bergman é um gênio ! ). Quando Ginger afinal cede e começa a dançar com ele, voce percebe então : eis a tal "arte americana", a arte puramente da América, a arte de se dizer muito se usando pouco, a arte de se comunicar a muitos um segredo de poucos. O filme, em que pese suas várias cenas erradas, se afirma como um monumento ao sentimento de amor. Nota DEZ.
SHALL WE DANCE de Mark Sandrich com Fred Astaire e Ginger Rogers
Eis o meu favorito ( ou será The Gay Divorcée, que preciso rever ). É o mais tolo de seus filmes, quase um cartoon. E por isso eu o venero. Fred é Petrov, um americano que se finge russo bailarino clássico. Ginger é uma apimentada sapateadora yankee. E vêm os desencontros de sempre: mal entendidos, frases ferinas, muito bom humor e os números que contam exatamente o que eles sentem. A trilha é de George Gershwin... precisa dizer mais ? Todas as canções são clássicos do jazz. Cenários em branco e prata, figurinos chics ao extremo ( os anos 30 são estranhamente a era da depressão e ao mesmo tempo o ponto mais chic do século vinte ). Quando estou chateado e quero me reerguer é fácil : boto este filme pra rodar ! Foi o primeiro da série que assisti ( lá se vão vinte anos ) e foi na época uma revelação. Nota DEZ !!!!!!!!!!!!
CIÚME: SINAL DE AMOR de Charles Walters com Fred Astaire e Ginger Rogers
Ginger sempre brigou com Fred. Ela queria ser uma atriz séria e achava que Fred lhe roubava o mérito. Quando a dupla acabou, ela conseguiu ser a tal atriz séria e logo ganhou seu Oscar em drama. Dez anos depois da separação, eis que os dois se reencontram aqui. E é um filme estranhamente triste ( o único dos dois ). É claro que é uma comédia, mas há algo de muito melancólico em todas as cenas. Eles fazem um casal que se separa porque ela quer ser atriz séria. Fred não a esquece ( na vida real ele jamais foi apaixonado por ela ) e no fim eles se reencontram ( felizmente tem um final feliz ). Ginger está já madura, ainda leve e linda, mas com algo de sério naquela menina dos anos 30. Fred envelheceu bastante. Continuava insuperável ( faria em cinco anos seu grande clássico: A Roda da Fortuna ), mas não é mais o jovem alegre e tolo da década anterior. E tudo isso dá ao filme algo de muito doído: a consciencia da passagem do tempo. Torna-se o único musical trágico da história. Nota 7.

BONS COSTUMES/ PETER SELLERS/ DAVID LEAN/ SEMPRE AO SEU LADO

BONS COSTUMES de Stephan Elliott com Colin Firth, Kristin Scott Thomas e Jessica Biel
Texto de Noel Coward e música de Cole Porter. Comentei este filme algum tempo atrás e só agora ele entra em cartaz. Como os nomes de Noel e Porter deixam perceber, é o tipo de diversão chic e civilizada que está totalmente fora de moda. Este filme requer bom gosto e leveza de humor. Adorei ! Então eu tenho bom gosto e humor ? Sei lá... o filme é uma delícia fútil. Existe algum filme ruim feito por Colin Firth ? Ele é ótimo. Nota 7.
AEROPORTO de George Seaton com Burt Lancaster, Dean Martin, Jean Seberg e Jacqueline Bisset
Foi contra este tipo de filme que a nova-Hollywood se ergueu por entre carreiras de pó, barbas e filmes de Antonioni. Eles bateram forte neste mastodonte. Seu sucesso os irritava. Alguém tem coragem de agredir Peter Jackson e James Cameron ? Aeroporto é mais velho que novela das seis. Mas prende a atenção, afinal, todos gostamos de desastres e de ver gente ter medo. Nota 5.
NOITE SEM FIM de Sidney Gilliat com Hayley Mills, Hywell Bennet e Britt Ekland
Uma coisa horrenda ! Baseado em Agatha Christie, o filme não tem nada da dama inglesa. Desprovido de suspense, de estilo e de humor. O elenco é horrendo, a direção banal. Curiosidade : Britt Ekland, atriz sueca que acabou com o pouco equilíbrio que havia em Peter Sellers e que depois transformou Rod Stewart num babaca. Nota 1.
ASSASSINATO NUM DIA DE SOL de Guy Hamilton com Peter Ustinov, Jane Birkin, Maggie Smith e Colin Blakely
Outro baseado em Agatha. Mas este é ok. Bem produzido, bem fotografado, bons atores e toques de humor e crueldade. Um filme indicado para madrugadas de vinho e queijo. Nota 7.
A FILHA DE RYAN de David Lean com Sarah Miles, Robert Mitchum, Trevor Howard
Se Spielberg pudesse nascer de novo ele gostaria de nascer David Lean. O rei do bom gosto, o diretor que melhor sabia usar a tela grande, o perfeccionista. Lean tem todas as qualidades de Spielberg e nenhum de seus defeitos : David Lean nunca é piegas. Ryan é seu maior fracasso e quase destruiu sua carreira. Mas é um belo filme ! A Irlanda nunca foi melhor fotografada e o filme é vasto painel de um mundo desaparecido. Nota 7.
A PANTERA COR DE ROSA de Blake Edwards com David Niven, Peter Sellers, Claudia Cardinale e Robert Wagner
O filme que originou Clouseau. Mas ele não é o centro do filme. Há romance demais e Peter Sellers de menos. Ficamos torcendo para que ele surja logo na tela. Acaba sendo um filme xoxo com alguns bons momentos. Sellers foi um gênio. E que ano estupendo foi esse para Claudia !!! Em 1963 ela esteve neste filme, em OITO E MEIO de Fellini e em O LEOPARDO de Visconti !! Nota 5.
UM TIRO NO ESCURO de Blake Edwards com Peter Sellers, Elke Sommers, George Sanders e Herbert Lom
O segundo da série. Há milênios atrás, este foi o filme que me fez começar a gostar de filmes "velhos". É minha comédia favorita de todos os tempos, mas isso não quer dizer que eu a ache a melhor. Tenho uma relação afetiva com todas as falas e cenas deste filme. Ele é como meu paraíso pessoal. Encontramos Sellers em seu auge. Clouseau é criação de gênio. Mas é aqui também que nasce seu ajudante sempre sério ( Dudu ), o criado Kato e principalmente o comissário Dreyfuss, impagável na pele de Lom ( ele só não rouba o filme porque tem de disputar com Sellers ). É uma comédia que cresce cada vez mais, vai se tornando mais e mais veloz e termina já dando saudade. Aconselho a que os muito jovens não o assistam. Nota DEZ.
RAN de Akira Kurosawa
Quando o cego larga sua flauta e se aproxima do abismo percebemos que a arte do cinema pode ser tão nobre quanto a melhor literatura. Jamais vi filme com fotografia tão linda e raras vezes assisti obra com tal alcance. Um dos segredos de Kurosawa ( são vários ) é sua modéstia. Ele filma épicos gigantescos como quem faz um filme B. Tudo parece direto, sem complicações. RAN é inesquecível. Pretender conhecer cinema e não penetrar em RAN é nada saber. Nota .........
KAGEMUSHA de Akira Kurosawa
Aqui o mestre se perde. A trilha sonora lembra John Willians, o roteiro tem sérios problemas e o filme desmorona todo o tempo. Em que pese a maestria de Kurosawa em filmar batalhas, o filme é o pior de sua grande carreira. Nota 4.
COWBOYS DO ESPAÇO de Clint Eastwood com Ele, Tommy Lee Jones, Donald Sutherland e James Garner
Clint sempre fez dois tipos de filmes : Hawks e Hustons. Este é Hawks. Amizade masculina é o tema central. Quem tem amigos antigos vai adorar o filme. É um RIGHT STUFF ( OS ELEITOS ) caipira. Uma delícia, sem a menor pretensão, com um elenco cheio de carisma e muito bem levado pelo impagável Clint. Humor e aventura, quem quer mais ? Nota 7.
UM CASAMENTO PERFEITO de Eric Rhomer
Rhomer diz fazer documentários sobre o rosto humano. Note : seus filmes são sempre felizes. É por isso que gosto deles ( apesar do desleixo e do fato de que ele não sabe dirigir atores. ) são leves, esvoaçantes, simples, banais. As pessoas falam e falam e falam. E tudo o que fazem é... falar mais. Como todos nós. Para esse tipo de filme funcionar é vital que nos apaixonemos pelos personagens. Isso não acontece desta vez. Nota 4.
SEMPRE AO SEU LADO de Lasse Hallstrom com Richard Gere e Joan Allen
Hallstrom... em 1985 ele chamou atenção mundial com VIDA DE CACHORRO, um dos mais bonitos retratos da infância já filmados. Depois veio a América e GILBERT GRAPE, CHOCOLATE.... virou um bom fazedor de filmes para mocinhas. A poesia de seu primeiro sucesso se perdeu. Filmes de cachorro.... espero que um dia façam a obra-prima dos filmes de cachorro. Não foi este. Sua primeira metade é banal. Mas a segunda, bem... é um dos filmes mais tristes que já assisti ! Não deixem as crianças assistirem. Ao contrário de outros filmes de pets, este tem lágrimas mas não tem final feliz. Eu chorei pra caramba !!!!!! Mas é pura manipulação, minhas lágrimas são pelo cão sofredor, não pelo filme. Que apelação !!!!!!!!! Nota 4.
PAULO FRANCIS
Assistam de joelhos ou joguem tomates na tela, mas assistam. Um mundo sem Francis não tem tempero e a geração que não o conheceu nem imagina o que significa ser provocado por Paulo Francis. Ele era um provocador, mas com conhecimento de causa, com história, com argumentos. Foi o cara que me fez procurar livros de Waugh, Greene e Huxley; foi o cara que me abriu os olhos para Gielgud, Olivier e Rex Harrison e que me fez desconfiar para sempre de modas e opiniões moderninhas. Ele era sincero. Faz uma falta do caramba !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

dr jivago, aula de história

Imenso sucesso de bilheteria ( mas não de critica ), Jivago mostra para todos um tipo de cinema classudo, competente, porém, um pouco engessado.
Está lá a competencia de David Lean em montar cenas. Jamais percebemos os cortes. As tomadas se encadeiam naturalmente, todas com o tempo exata e caminhando em cadencia musical. A camera nunca chama a atenção sobre sí mesma, ela é como a caneta que escreve a página. Mas, o David Lean, jovem-ousado dos anos 40 já se fora. Ele ilustra o belo roteiro de Robert Bolt, mas não cria-acrescenta nada. ( As excessões são a belíssima cena no palácio de gelo e a genialidade pura da cena à janela- aquela em que Tom Courtney briga com Julie... puro cinema mudo ).
Lean foi inteligente em diminuir as falas de Shariff, usando seus olhos chorosos como comentário à ação. Julie Christie, musa-maior, brilha com sua imensa força interior, seus olhos de fogo gelado, sua voz metálica. Podemos ainda admirar os lords monstruosos do teatro ingles: Ralph Richardson, como o pai de Geraldine Chaplin; Alec Guiness, como o irmão de Jivago; e Courtney como o noivo. Klaus Kinski causa imensa impressão como o intelectual louco.
Quanto ao fim do filme- não há quem não se comova...
O filme criou em 1965 o padrão Oscar; que se mantém até hoje nos filmes de Spielberg, Ridley Scott, Frank Darabont, Michael Mann e um imenso etc.