Mostrando postagens com marcador cukor. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador cukor. Mostrar todas as postagens

MY FAIR LADY. A TRILHA SONORA EM CD. PORQUE A LÍNGUA IMPORTA.

Muita gente diz ser impossível escolher seu disco, livro ou filme favorito. Não acho. Em cinema, tenho uns cinco ou seis filmes que trocam de posição entre meus favoritos. Mas são sempre esses cinco ou seis. MY FAIR LADY está sempre entre os seis e às vezes é o primeiro. É o filme mais feliz que já vi. Depois que comprei o dvd, em 2004, o assisti pelo menos uma vez por ano, geralmente perto do Natal. Foi assim em 2004, 05, 06...até 2017. Eu sempre assitia MY FAIR LADY para entrar no clima de fim de ano, para ser feliz. Não o assisto desde então, 2017, ano em que meu irmão morreu. O fato de não conseguir o rever diz muito sobre o que essa morte significou. Não estou luto, não vivo deprimido, me sinto razoavelmente feliz muitas vezes, mas o mundo de MY FAIR LADY é tão bonito, tão isento de violência, tão CIVILIZADO, que a dor amarga que senti não pode ser misturada à essa obra prima do cinema ( Talvez isso explique porque a atual geração não aceita filmes como este. Eles reprimem a beleza desde que nascem ). ------------- A primeira vez que assisti o filme foi bem antes de ter o dvd. Começo dos anos 90, na TV. E como acontece com todo filme que entra no clube dos favoritos, foi paixão à primeira vista. O filme tem tudo o que mais prezo na vida. Ele cria um mundo tão perfeito, tão "como o mundo deveria ser", tão civilizado, leve, elegante, engraçado, romântico, que voce se deixa ir longe, voce voa. Hoje ouço o cd com sua trilha sonora. A música é de Frederick Loewe, nome central na Broadway e no East End, e as letras são de Alan Jay Lerner, simplesmente o melhor letrista popular dos últimos 70 anos. As melodias são sublimes, mas as letras são uma obra prima de construção. Se voce entende inglês ficará extasiado com suas rimas e a quantidade de vocábulos usados. É trilha culta. É chique. É adulta, very adulta. --------------- No filme meu momento favorito é a famosa Rain in Spain, mas em disco nada supera Rex Harrison em I'm Ordinary Man. Paulo Francis assistiu MY FAIR LADY no palco, em Londres, 1958. Deus meu! Que mundo melhor era esse! Francis escrevia na Folha e tinha uma página inteira para falar que Rex Harrison inventara o modo "falado" de cantar ao fazer o papel de Professor Higgins nesta peça. Em Ordinary Man, Rex Harrison declama com música seu amor à vida de homem solteiro, longe das mulheres. A canção tem uma sessão gentil, suave, onde ele descreve sua rotina solitária, deliciosa, e em ritmo agitado ele conta como são as mulheres. É uma festa de se ouvir. --------------- Bernard Shaw escreveu a peça original, Pigmaleão, e o filme baseado na peça, MY FAIR LADY, é bem melhor que a obra de Shaw. Shaw foi solteiro toda a vida. Bem humorado, ele foi figura central na cultura inglesa entre 1890-1950. Hoje está meio esquecido ( Francis o venerava ). Talvez seja sua misoginia que o prejudique. ( Shaw era socialista, seu ostracismo não se deve a política ). O filme, como a peça, trata do amor à língua. Higgins prega a preservação da linguagem culta, refinada, correta. Fica claro que aquele que domina a língua domina o mundo. A decadência, o empobrecimento da língua traz e reflete o fim de uma cultura. Esse é um tema muito atual. A "guerra" mundial hoje é pelo controle da língua, da fala, da comunicação. ------------------------- Com regência de Andre Previn, poder escutar a dicção de Rex, a língua inglesa falada em modo correto, que não é aquele empolado da BBC, ver os modos gentis e viris desse grande ator, é um prazer inesquecível. Este é um cd a ser guardado no coração.

O FIO DA NAVALHA + GASLIGHT. DIVERSÃO PARA ADULTOS BABY

   O FIO DA NAVALHA de W. Somerset Maugham é daqueles best sellers que ninguém mais lê. Maugham, escritor profissional ao extremos, escreveu de tudo: romances, contos, teatro, cinema. Em certo momento, anos 40 e 50, ele era um dos cinco autores mais lidos no mundo. Hoje seus livros não interessam mais. São muito pop para serem estudados pelo povo metido a artista, e muito adultos para serem lidos por quem quer apenas fantasia, afinal, nossos atuais best sellers são todos fantasias sobre horror ou ciência, ou algum tipo de auto ajuda disfarçada.
  O FIO DA NAVALHA foi um dos romances formadores em minha vida. Como Zorba O Grego, Cândido, Complexo de Portnoy, são aqueles livros que me fizeram amar a leitura já em minha época de adulto. Se a história de meus livros amados começou com Tom Sawyer e A Ilha do Tesouro, foi com O Fio da Navalha que essa história se confirma. Li 3 vezes e me identifiquei com Larry, o homem que traumatizado pela guerra, passa a vida fugindo do mundo à procura da iluminação. Maugham escreve como quem fala à beira da lareira fumando um cachimbo. Pausado, calmo, jamais cansativo. Literatura de alta gastronomia. Como a de Isak Dinesen. Evelyn Waugh.
  Em 1984, Bill Murray, apaixonado pelo livro, fez um filme sobre a obra de Maugham. Larry feito por Bill Murray. Um filme longo e aborrecido. Pior que tudo, metido à arte. Salva-se apenas a Sophie feita por Theresa Russel. Ontem vi a versão de Edmund Goulding, Fox, 1946, época em que a moda Maugham estava no auge. É um típico filme adulto POP de Hollywood. O tipo de filme que hoje só pode ser feito na TV. Estranhamente o filme foca muito mais em Elliot, o velho esnobe, e Maugham, o próprio escritor que conta a história de Larry. Funciona? Muito. Larry no filme se torna aquilo que ele é na vida: personagem esquivo, que surge e desaparece, um solitário. Gene Tierney faz a maldosa ex noiva de Larry. Há que se dizer, Gene Tierney foi a mais bonita mulher do cinema. Estranho fato, todas as divas da tela hoje parecem grotescas. Marilyn, Greta, Marlene, Rita, são como bonecas em show de travestis. Porém Gene Tierney, assim como Grace Kelly ou Jeanne Crain, são tão belas hoje como sempre foram. É um bom filme.
  Patrick Hamilton escrevia teatro popular-chique. Esse tipo de teatro hoje sobrevive apenas em alguns musicais. O público era o casal de 35-60 anos, classe média, curso superior, querendo se divertir ao mesmo tempo que usava sua inteligência. O filme Gaslight, direção de George Cukor, Oscar para Ingrid Bergman, é eletrizante. Ingrid é a pobre mulher que quase enlouquece nas mãos de Charles Boyer. NUNCA ME IRRITEI TANTO com um vilão como com esse CRÁPULA feito por Boyer. Não me importa se ele exagera ou não. Eu fiquei a ponto de destruir a TV. Eu o odiei muito! MUITOOOOOOOOOOO!!!!!!!! Ótimo filme. Dizem que a versão inglesa é ainda melhor. Vou vê-la.
  Ingrid Bergman? Ela exala sexualidade até quando dorme. Tivesse sido atriz nos mais despudorados anos 60 ou 70, teria enlouquecido homens em salas de cinema. Ela tem traços nórdicos demais, mãos grandes, mas seu olhar e suas cenas de beijo são de absoluta entrega. Sentimos que ela é ultra quente. Aqui ela ganhou seu Oscar, merecido, e os USA se apaixonaram por ela. Ingrid vinha da sequência Casablanca, Por Quem Os Sinos Dobram, Notorious de Hitchcock...difícil achar atriz com sequência de filmes tão icônica. Mas em 48 ela destruiria tudo ao largar marido médico para viver com Roberto Rosselini, logo um italiano!!!! Corajosa Ingrid.
  Dois ótimos filmes. Gaslight é melhor.

FRED ASTAIRE- TOM CRUISE- GEORGE CUKOR- DORIS DAY- PETER CUSHING

   DUAS SEMANAS DE PRAZER ( HOLIDAY INN ) de Mark Sandrich com Bing Crosby, Fred Astaire e Marjorie Reynolds.
Um triângulo amoroso entre um cantor, um dançarino e uma novata. O cantor larga a vida na cidade e monta uma pousada no campo. Essa pousada vira um hotel-show. E o amigo vai se apresentar lá e disputar sua garota. O filme é uma delicia. Todas as canções são de Irving Berlin e cada uma fala de um feriado. Fred Astaire está ótimo como um dançarino meio safo. Tem três números espetaculares. Mas o filme se sustenta graças a direção do mestre Sandrich, diretor dos melhores filmes da dupla Astaire-Rogers e que morreria nesse mesmo ano. Bing Crosby transpira calma. Um paizão. Poucos anos depois este filme seria refeito com pequenas mudanças...e com resultado bem mais pálido. Nota 8.
   ROMANCE INACABADO de Stuart Heisler com Bing Crosby e Fred Astaire.
Usando as mesmas canções de Irving Berlin, os produtores refazem Holiday Inn. As mudanças são poucas: o ambiente é todo de cidade e Bing é um cara que vive mudando de endereço. Fred disputa uma mulher com ele... Há o Puttin on The Ritz de Fred, e isso sempre nos faz sorrir de satisfação. Mas é um filme de segunda. Nota 5.
   UM PIJAMA PARA DOIS ( THE PAJAMA GAME ) de Stanley Donen com Doris Day, John Raitt e Carol Haney.
Um sucesso na Broadway, este musical trata de um tema incomum: uma greve. O ambiente é todo de fábrica e de gente "comum". O filme foi um fracasso em 1959. Já se sentia o fim do mundo dos musicais. É um filme estranho...as músicas são excelentes, algumas danças são boas ( duas são ótimas ), mas ele não funciona. Simplesmente desistimos dele. A coreografia é de Bob Fosse, o gênio, e em duas cenas percebemos o futuro monstro que ele seria. Os corpos voam, as mãos falam, é o modo único de Bob Fosse fazer dança. Mas o filme...Donen, um dos meus diretores favoritos, dirige sem paixão. Pena...Nota 3.
   A MALDIÇÃO DE FRANKENSTEIN de Terence Fisher com Peter Cushing e Christopher Lee.
O primeiro filme da Hammer. Uma produtora inglesa, barata, que em 1957 resolveu fazer filmes de terror de bom nível. Pegou o ciclo dos anos 30 da Universal e os refilmou de outro jeito. Mais explícitos e coloridos. Este foi o primeiro e como vendeu bem, abriu o caminho para o filão que duraria quase vinte anos. Os atores estão maravilhosos e confesso que senti um certo incômodo vendo o filme. É doentio. Nota 5.
   MISSÃO IMPOSSÍVEL de Christopher McQuarrie com Tom Cruise, Jeremy Renner, Simon Pegg e Rebecca Ferguson.
Apesar da história ser completamente inverossímil, é um filme de ação muito bom. Todas as cenas têm o ponto certo, nunca parecem longas, nunca são velozes demais. Você consegue ver gente em meio ao fogo e às explosões. Tom nasceu para esse filme, está perfeito. O vilão é terrível no ponto exato e a heroína é bonita e convence. Tipo de diversão que vale cada centavo gasto. Nota 7.
   O CAVALO CAMPEÃO de Anthony Pelissier com John Mills, John Howard Davies e Valerie Hobson
Um filme muuuuuito estranho. Numa família de classe média, o pai gasta muito dinheiro no jogo, a mãe é consumista ao extremo e o único filho desmorona vendo o desastre que se aproxima. Mas eles têm um jardineiro que lhe apresenta o jockey club e o menino aposta e começa a ganhar... Poucos filmes demonstram com mais distanciamento o desastre de uma criança. Pais que dão ao filho toda a tensão do lar. O filme é esquisito, árido, simples e muito duro. Hoje é considerado uma pequena jóia do cinema inglês.
   NASCE UMA ESTRELA de George Cukor com James Mason e Judy Garland.
Um filme maldito. Cukor fez um filme de 4 horas. A Warner cortou para duas e meia. E, apesar das indicações ao Oscar, foi um fracasso. Aqui temos ele refeito em 3 horas e pouco. Visualmente é um primor. O colorido brilha em tons de azul e preto, ângulos de câmera ousados e movimentos súbitos. Mas a história é difícil de acompanhar. Talvez por sabermos toda a história do ator bêbado que descobre cantora genial e a lança ao estrelato. O filme é pesado, triste, mórbido até. Judy perdeu o Oscar para Grace Kelly e jamais se recuperou. James Mason está bem, mas nunca emociona. Um grande erro. Dos poucos de Cukor.
   PAPAI PERNILONGO de Jean Negulesco com Fred Astaire e Leslie Caron.
Sempre que Astaire se afasta do tipo continental, o cara da cidade, meio safo, esperto e vaporoso, o filme parece se ressentir disso. Aqui nada convence. Ele é um ricaço que adota uma francesa pobre de 18 anos....Aff...Ela não pode saber e depois de anos ele se aproxima dela sem que ela saiba que ele é o benfeitor que pagou tudo para ela. Sim, é uma bobagem xaroposa. Fuja!

MAX OPHULS/ JASON REITMAN/ GEORGE CUKOR/ JAMES BROWN/ LUC BESSON/ MYRNA LOY/ JEAN RENOIR

   HOMENS, MULHERES E FILHOS de Jason Reitman
É um daqueles dramas que eu chamo de "drama do abat-jour pastel". Tudo filmado no escurinho, em tons pastéis, com as pessoas falando baixinho, com suas caras sem expressão. Tenho uma colega que é mormon. Incrível como a América é marcada por essas religiões da limpeza, do comedimento, da ordem. Tudo se parece com ela, as roupas, as caras, o modo de viver e de reagir. O filme tem cenas de sexo, claro que vestidas, o filme fala de um mundo interligado, claro que superficialmente. E ainda termina com cenas bastante apelativas, digna do pior de Party of Five. Aliás, eu tenho uma teoria de que Party of Five, com seus teens falando baixinho e seus climas pastéis ( e aqui as pessoas chegam a ler no escuro ), é a realização cultural americana mais influente dos últimos 30 anos. Mais que Sopranos, Pulp Fiction ou X Men. A trilha sonora é sonâmbula. Por outro lado, o filme não me cansou, não me entediou e me fez sentir pena daquilo que fazemos com os pobres adolescentes...pobrezinhos. Só que o buraco é bem mais embaixo. Nota 4.
   JAMES BROWN de Tate Taylor
Das biografias que não param de produzir, esta é das menos óbvias. Isso porque se evita a odisséia das drogas e álcool, que estragou a bio de tanta gente. O filme tem uma excelente recriação do Alabama negro da década de 30 e sabe usar as músicas sem exagero. Uma coisa ótima:: as cenas musicais sabem passar a energia do som de James Brown, o cara que mais mudou aquilo que se entende por pop music. Brown trouxe o ritmo para o centro do som e desse modo criou o som de nosso tempo. O filme não é triste, é bem editado e diverte. Legal. Nota 6.
   UM AMOR DE VIZINHA de Rob Reiner com Michael Douglas, Diane Keaton
Deus meu que filme vazio! O planeta está envelhecendo e é isto que oferecem a esse público? A batida história do cara viúvo, ranzinza, que conhece uma maluquinha divorciada e após muitas brigas ficam juntos. God! Isso já era velho em 1970! Tudo bem, nada impede mais um plot batido, desde que bem feito, fresh, vitalizado. Jack Nicholson e a mesma Diane fizeram isso muito bem em 2000. Aqui não! Nota 1.
   AS DUAS FACES DE JANEIRO de Houssein Amini com Viggo Mortensen e Kirsten Dunst.
Em 1960 René Clement fez o filme mais elegante da história do mundo. Com roteiro de Patricia Highsmith, O Sol Por Testemunha, um suspense digno de Hitch, teve a sorte de capturar a Europa em seu momento mais classudo. Era aquele classudo esportivo, leve, fresco, que foi destruído pela onda hippie a partir de 1966. Este filme, também baseado em Highsmith, tenta esse clima classudo todo o tempo. Se passa em 1962, a beira do Mediterrâneo, e os atores se vestem naquele estilo despojado com finésse da época. Mas assim como o suspense vira brutalidade, a elegância vira afetação. Fake ao extremo, mesmo o ótimo Viggo e uma Dunst linda de doer não salvam a gororoba. Fuja! Nota 1.
   3 DIAS PARA MATAR de Luc Besson com Kevin Costner, Amber Head e Connie Nielsen
Quer saber? Bom pacas! Muito bem dirigido em suas cenas de ação, que são poucas, o filme tem trama, tem suspense, surpresas e um Costner na ponta dos cascos. Vale muito a pena! É melhor que um monte de besteiras tratadas como arte só por sua lentidão e pretensão. Nota 7.
  NÚPCIAS DE ESCÂNDALO de George Cukor com Katharine Hepburn, Cary Grant, James Stewart.
A peça de Philip Barry deu dois filmes clássicos, este, o melhor, de 1940, e Alta Sociedade, de 1956. Kate fez a peça em NY e a comprou. O filme salvou sua carreira. Ela faz a mimada socialite prestes a se casar pela segunda vez. Cary, no auge do relax, é seu ex-marido e James Stewart ganhou um Oscar fazendo um repórter que vai cobrir a festa. Sinal dos tempos, um repórter num casamento rico é considerada coisa de extremo mal gosto! O filme é um souflé perfeitamente realizado: leve, gostoso, chic e inesquecível. Os diálogos voam como tiros de açucar e os atores parecem brilhar com papéis que pedem esse brilho. É um filme obrigatório para quem ama a palavra no cinema. A edição do dvd traz um doc sobre Kate que vale muito ser apreciado. Ela foi única! Nota DEZ.
  TOO HOT TO HANDLE de Jack Conway com Clark Gable, Myrna Loy e Walter Pigeon
Hummm....este filme choca um pouco por seu machismo, racismo, e sua defesa do mau caráter "legal". Se voce conseguir relativizar tudo isso terá um agitado filme de sucesso típico do mais pop dos anos 30. Clark é um fotógrafo de jornal que vive usando mentiras para vender suas fotos. Pigeon é seu rival. Myrna Loy é uma milionária que vai a Guiana para procurar o irmão perdido na selva. Clark era na época o modelo do macho sexy. Gary Cooper era mais bonzinho, Cary Grant mais chic, Charles Boyer o romantico, e Clark o homenzão. Dos 4 é hoje o mais ultrapassado. Mas o filme diverte, diverte como um tipo de cartoon absurdo, um pastelão onde tanta coisa acontece que a gente fica até tonto de ver. Nota 6.
   OS SETE SUSPEITOS de Johnathan Lynn com Tim Curry, Madeline Kahn, Christopher Lloyd
Um bando de tipos estranhos são convidados a uma casa. Lá, um por um começam a ser mortos. Vi o filme por causa de Tim Curry, ator que é sempre um show. Ele quase consegue salvar o filme, mas o roteiro, de John Landis, é um desastre! Mesmo o clima soturno é mal realizado. Nota 3.
   BOUDU SALVO DAS ÁGUAS de Jean Renoir com Michel Simon
Ah o sacrifício que a gente fazia pelo cinema....Eu tinha visto este filme numa cópia horrível nos anos 80, na TV. Era um borrão truncado. Aqui está a cópia nova! O filme brilha! É um dos clássicos de Renoir, e como todo filme de Renoir, ele nos desconcerta! Boudu é um vagabundo que cai no Senna. Recolhido por um senhor burguês, ele se mostra um homem irritante. Boudu seria um tipo de homem "foda-se", o cara que não tá nem aí, que não liga para educação ou bons modos. O filme fica assim duro de ver, porque Boudu nos irrita. Ele  mal agradecido, egoísta, sujo, mentiroso, um chato. Mas não sei porque, quando ele termina, e só quando termina, sentimos ter gostado do filme. Estranhamente, parece que pressentimos que havia algo ali. Bom, as cenas de rua são lindas! Renoir mostra a França de 1933, coisa rara então, e essas tomadas nos encantam. É um filme que preciso rever.
   LA RONDE de Max Ophuls com Simone Signoret, Gerard Philipe, Daniel Gelin, Danielle Darrieux, Simone Simon, Fernand Gravey e Jean-Louis Barrault
Lindo, alegre, mágico, encantador. Ophuls dá uma aula de cinema. Como diz PT Anderson no post abaixo, os personagens dão aos atores a possibilidade de atuar, Anderson mostra uma tomada, sem cortes, onde a câmera roda pelo set e deixa a atriz, Darrieux, atuar. Todd Haynes em outro post abaixo fala da beleza dos filmes de Ophuls. Este filme é uma dádiva, um presente, um prazer. Nota DEZ!

BLAKE EDWARDS/ JULIE ANDREWS/ WYLER/ CUKOR/ CLIVE OWEN/ BINOCHE/ AUDREY/ WC FIELDS

   FRONTERA com Ed Harris e Eva Longoria
Fujam! Um lixo sobre imigrantes ilegais.
   POR FALAR DE AMOR de Fred Schepisi com Clive Owen e Juliette Binoche
O nome nada tem a ver com o filme. Ainda inédito aqui, fala de um professor de inglês com a corda no pescoço. Bebendo muito, corre o risco de perder o emprego. Uma nova professora de artes chega, amarga e com doença degenerativa. Os dois se odeiam e depois se amam. Parece uma tolice? Juro que não é! Tem bons diálogos, nunca desce a apelação, nada melado. Owen está excelente, faz um professor cínico, antipático e maníaco por palavras. Esse o centro do filme: a palavra ou a imagem, o que vale mais? Juliette, uma atriz por quem não morro de amores, está muito radiante.Nota 6.
   OS 39 DEGRAUS de Alfred Hitchcock com Robert Donat, Madeleine Carroll e Peggy Ashcroft
Talvez seja o melhor filme inglês de Hitch. O roteiro é totalmente inverossímil, mas who cares? Hitch era sempre assumidamente inverossímil. O que ele queria era poder criar grandes cenas e este filme tem várias. A cena inicial, no show de variedades, com seu sabor expressionista. Depois as cenas na casa do casal que dá abrigo ao fugitivo. Cenas no trem, na estrada, no hotel e por aí vai. O tema é caro a Hitch, um homem foge acusado falsamente de crime. Ação sem parar, humor, e muito, muito clima. A fotografia de Bernard Knowles é brilhante. Observe logo no começo a luz sendo acesa no quarto, o canto da tela iluminado e todo o resto escuro...Ótimo! Hitch faz aqui uma das mais perfeitas diversões. Nota DEZ!
   O MORRO DOS VENTOS UIVANTES de William Wyler com Laurence Olivier, Merle Oberon, David Niven, Flora Robson e Donald Crisp
Wyler foi o melhor diretor do cinema americano? Nada de surpreendente nessa pergunta! Ele tem 4 Oscars e dominou a arte de filmar comédias, westerns, dramas, peças filmadas e policiais. O livro de Bronte já foi filmado até por Bunuel e se aqui ele nunca atinge a magia do texto inglês, é de longe a melhor versão para a tela. E devo dizer, os primeiros 40 minutos são dignos do mais alto cinema. Heathcliff é adotado, se enamora da meia irmã, é banido e se vinga. O filme é tristíssimo. Olivier, jovem e belo, faz um Heathcliff vulnerável, sofrido. A cena na janela, em que ele acha ter visto o fantasma de Cathy, é soberba. Faça o teste do olho, veja como os olhos de Olivier mudam com o desenvolver da fala. Merle Oberon enfraquece o filme. Ela é bela e exótica, mas não tem a força selvagem de Cathy. A fotografia é soberba. Um belo filme do mesmo ano de ...E O Vento Levou. Nota DEZ.
   DAVID COPPERFIELD de George Cukor com Freddie Bartholomew, W.C.Fields, Lionel Barrymore, Edna May Oliver, Roland Young
Tão bom voltar a ver meus filmes dos anos 30!!!!! Aqui temos Cukor, um dos mais consagrados dos diretores clássicos e a adaptação, luminosa, do clássico de Dickens. Esqueça a pavorosa atriz que faz a mãe de David Copperfield e relaxe, o filme é uma deliciosa e encantadora viagem. David sofre pacas, mas logo encontra quem o ajude. WC Fields dá um show! Sua voz enrolada e pomposa e seu tipo falso nobre picareta casam perfeitamente com o filme. Mas quem rouba o show é Edna May Oliver, aterradora e encantadora como a tia de David. Uma grande produção de David Selznick. Nota 9.
   OS 3 MOSQUETEIROS de George Sidney com Gene Kelly, Lana Turner, June Allyson
Gene Kelly fazendo Dartagnan! Só em Hollywood! Esta versão, leve e colorida, alegre e boba, de Dumas, é um grande hit de seu tempo. E ainda diverte! Sidney foi um grande diretor de musicais, e apesar de ninguém cantar, o filme é levado no clima de um grande musical. Jogue fora seu senso de realidade e deixe-se apreciar tanta tolice bem feita. Vale muito a pena! Nota 7.
   DESTINO TOKYO de Delmer Daves com Cary Grant e John Garfield
O patriotismo deste filme envelheceu mal. Acompanhamos a missão de um submarino rumo ao Japão. Cary é o capitão, Garfield um marujo meio tonto e mulherengo. Filmes da segunda guerra costumam envelhecer mal. Não é excessão. Delmer foi um bom diretor de filmes noir e de westerns. Aqui ele se perde. Cary Grant está elegante como sempre, mas pouco tem a fazer. Nota 4.
   BREAKFAST AT TIFFANY`S ( BONEQUINHA DE LUXO ) de Blake Edwards com Audrey Hepburn, George Peppard, Patricia Neal e Martin Balsam
Nunca gostei muito deste filme. Acho-o superestimado. OK, Audrey esbanja chic, mas em qual filme ela não o faz? Então o reassisto pela segunda vez e nada espero dele, e talvez por causa disso o acho agora bacaninha. Incrível como toda coisa chic se mantém! Tudo em Audrey é chic, os óculos, as roupas, o gato, o modo desleixado de se portar, a loucurinha bobinha e até o jeitinho de falar. E acontece uma coisa engraçada, começo a achar que a personagem Holly é um travesti ! Pois é incrível como os travestís pegaram TUDO desta personagem!!!! O filme se torna então um tipo de farsa chic, um catálogo da Bazaar clássica, uma Vogue vintage, um luxo! Truman Capote escreveu e a trilha de Henry Mancini é tudo de bom! Um cocktail, um bibelô, uma mesinha de laca. Um mundo perdido que a gente insiste em amar. Nota 7.
   THE SOUND OF MUSIC ( A NOVIÇA REBELDE ) de Robert Wise com Julie Andrews, Christopher Plummer e Eleanor Parker
Após Mary Poppins eis que Julie surge como a noviça que vai cuidar de crianças na Suiça e as ensina a ser crianças. E o mundo se rende a ela. Este é o filme que tirou ...E O Vento Levou do alto das paradas. Um fenômeno! NUNCA eu vira o filme. Tinha preguiça e confesso, apesar de amar musicais achava que ele fosse bobo. Bobo? Ele é uma aula de otimismo, de beleza e de ritmo. As músicas, de Richard Rodgers são obras-primas, a direção, do mestre Wise, um cara que fez clássicos de boxe, sci-fi, comédia e drama, e Julie, uma figura esfuziante, enfeitiçante, com malícia inocente e uma liberdade fantasiosa irresistível. O mundo em 1965 se apaixonou por ela. Ainda percebemos porque. É um grande, grande filme! São 3 horas de completo prazer! Viva! Nota DEZ!

COMING HOME( AMARGO REGRESSO )/ DINNER AT 8/ HENRY KING/ DEL TORO/ DON SIEGEL/ MEL BROOKS

   AMARGO REGRESSO de Hal Ashby com Jon Voight, Jane Fonda, Bruce Dern
Parece que Dern vai ganhar seu Oscar em 2014. É ator que trabalhou com Hawks e com Hitchcock. Mas seu filme favorito é este. Feito em 1978, deu a Dern indicação a Oscar de coadjuvante. Perdeu. Mas Voight e Jane ganharam. O filme é muito forte e amargo. Fala daqueles que voltaram do Vietnã. Jane vai trabalhar num hospital e lá se enamora de Voight, um sargento que voltou paraplégico. Há uma cena de sexo belíssima! O drama nunca cai em tédio. E o discurso final de Voight é brilhante. Todo elenco está sublime, Dern chega a dar medo, faz um direitista que pira. Os internos do hospital são ex-soldados de verdade. Talvez seja o melhor filme do grande Ashby, um dos diretores mais influentes de hoje. Nota 8.
   OPERAÇÃO SAN GENARO de Dino Risi com Nino Manfredi e Senta Berger
Tem coisa pior que comédia sem graça? Nota ZERO.
   O LEQUE DE LADY WINDERMERE de Otto Preminger com Jeanne Crain, George Sanders
Saiu numa coleção da Folha. Falta de critério! O filme é ruim. Fico imaginando o neófito, aquele cara que tem preconceito contra "filme velho" e que resolve pegar este na banca. Que mal! Todos os seus preconceitos serão reforçados. De Oscar Wilde nada restou. Fuja!
   THE KILLERS de Don Siegel com Lee Marvin, Angie Dickinson, Clu Gullager e Ronald Reagan
O inventor de Dirty Harry dirige este belo filme bastante Tarantinesco. Para quem conhece o conto de Heminguay, nada a ver. É sempre um prazer ver Lee Marvin! Que ator soberbo! O assassino frio nato! Este filme tem um final clássico. Nota 7.
   EPOPÉIA DO JAZZ de Henry King com Tyrone Power, Alice Faye e Don Ameche
Excelente diversão! A hstória de um maestro com pretensões sérias que vira band-leader de jazz e atinge a fortuna. O filme é alegre, exuberante, uma típica produção classe A dos anos 30. King foi rei da Fox por mais de 40 anos. Profissional, seu senso de ritmo ainda impressiona. Nota 8.
   ALTA ANSIEDADE, BANZÉ NO OESTE e A ÚLTIMA LOUCURA de Mel Brooks
Reassisti esses 3 filmes de Brooks, um rei da comédia grossa dos anos 70. Alta Ansiedade é muito ruim. Uma colagem de cenas de Hitchcock sem eira nem beira. Banzé no Oeste, sobre um xerife negro, ainda faz rir. De longe é o melhor dos 3. Gene Wilder imita o Dean Martin de Rio Bravo. E A Ùltima Loucura é um filme mudo. Não funciona. Gags muito fracas.
   DINNER AT EIGHT de George Cukor com John Barrymore, Lionel Barrymore, Jean Harlow
Sofisticado, chique, esperto, sempre elegante, irônico, Cukor sempre foi um grande diretor. Este é um dos seus melhores. Fala de uma familia em falência, um ator alcoólatra, uma periguete. O elenco é fabuloso e a produção, MGM, esbanja luxo e finésse. Amargo, cruel até, nunca perde seu poder de entreter. John Barrymore, o tio-avô de Drew, tem uma atuação comovente. Um ator canastrão que falido não aceita o fim de sua fama. Quem não conhece o grande cinema americano dos anos 30 tem aqui uma bela chance. Nota DEZ.
   CÍRCULO DE FOGO de Guillermo del Toro
Quer saber? É bem bom! Começa meio devagar, mas as cenas de ação são tão bonitas! Isso mesmo, bonitas! Uma pintura de vermelhos, dourados e céus escuros. A luta em Hong Kong é desde já um clássico: uma das mais belas cenas do ano. O cerne do filme é esse, a plasticidade da imagem. Uma raridade no cinema atual, um filme de ação que preza pela estética. Um grande cineasta! Nota 7.

GODARD/ TRUFFAUT/ RALPH FIENNES/ SOKUROV/ CUKOR/ ROSALIND RUSSELL

   BANDE À PART de Jean-Luc Godard com Frey, Karina e Brasseur
Livre como o fogo e filmado em locais gelados. Tem cenas em escola de inglês e nas ruas feias. Filmado em poucos dias, fala de uma dupla de ladrões que envolvem moça ingênua em crime. Várias cenas históricas: a corrida no Louvre, a dança no bar, o olhar para a câmera de Anna Karina. Adorado pelos diretores jovens dos anos 2000, confesso não ser dos meus Godard favoritos. Irregular ao extremo, perde o foco em vários momentos. Mas vale conhecer. Nota 6.
   FARENHEIT 451 de Truffaut com Oskar Werner e Julie Christie
Em sua bio Truffaut diz ter tido problemas nas filmagens. Falava mal o inglês e Werner tinha ataques de estrelismo. O filme é frio, distante, sem emoção. Mas está longe de ser um erro. No futuro os livros são proibidos. A TV é a grande ditadora. O livro de Bradbury acerta em várias antecipações: a ditadura do "bem estar", a tela sempre presente, o sexo como ginástica. Ainda recordo da impressão que me causou quando visto na TV Cultura, aos 15 anos. Hoje é apenas um curioso drama frio. Nota 6.
   PRINCESA POR UM MÊS de Marion Gering com Silvya Sidney e Cary Grant
Uma atriz fracassada se passa por princesa da Europa. O plano, armado por seus ministros, visa fazer dessa "nova" princesa algo de mais simpático aos americanos. Grant faz um repórter que se envolve com ela. Na época Cary Grant ainda não era Cary Grant. A Paramount ainda não sabia do star que tinha em contrato. O filme, classe B, é apenas uma bobagenzinha fofa. Nota 3.
   OS 3 MOSQUETEIROS de Paul WS Anderson
Dumas para teens. O visual é da França de Richelieu, mas as pessoas e os fatos são dos EUA de 2012. Absolutamente desinteressante. Nota ZERO.
   CORIOLANO de Ralph Fiennes com Ralph Fiennes, Gerard Butler e Vanessa Redgrave
O texto de Shakespeare transposto para hoje. O mundo como lugar de conflitos e de revoltas. Estranho ouvir os versos ditos em 2012.... Eles acabam por funcionar. Dão ao drama a profundidade e a eloquência do bardo inglês. O problema é que o visual do filme é excessivamente rebuscado, ofusca o trabalho dos atores. Bela tentativa de Fiennes. Nota 6.
   O SOL de Sokurov
Nenhum diretor em atividade é mais corajoso que o russo Sokurov. Ele não faz a mínima concessão. Aqui ele acompanha o imperador do Japão nos dias em que é obrigado a se mostrar como "humano". O que vemos é um homem-criança perdido em dias e salas. Lento, simples, solene, real, rebuscado. A arte de Sokurov não conhece limites. Nota 7.
   OS REIS DO SOL de J.Lee Thompson com Yul Brynner
Um desastre! Tribo Maia viaja aos Eua e toma contato com indios de lá. Brynner, hiper-vaidoso, é esse indio. Uma chatice.... Nota Zero
   ESCOLA DE SEREIAS de George Sidney com Red Skelton e Esther Willians
Um rapaz volta a escola para tentar convencer a esposa, que lá trabalha, a voltar para ele. O filme é um musical sem vergonha. Brega ao extremo, mistura comédia, dança, jazz, burlesco e carnaval. Me lembrou chanchadas da Atlântida. Antes da TV, um filme como este era o equivalente a zapear por vários canais. Nota 6.
   AS MULHERES de George Cukor com Norma Shearer, Joan Crawford, Rosalind Russell, Joan Fontaine e Paulette Godard
Caso único: um filme que só tem mulheres. Em duas horas não vemos o rosto de um só homem. Nem como figurante. O que se mostra são as fofocas, os dramas e as invejas de um bando de mulheres ricas e casadas. O centro é uma "boa esposa" que perde o marido para uma predadora. É óbvio que a boazinha é Shearer e a má só podia ser Joan Crawford. De pior o filme tem seu moralismo tolo e atrizes irritantemente compostas ( Shearer e Fontaine, duas estrelas insuportáveis ), de melhor há a presença da esfuziante Rosalind Russell ( uma das maiores comediantes da história, ela é adorável ), e o sex-appeal de Paulette Godard, uma das mais interessantes atrizes da época. Cukor foi um grande diretor de mulheres, ele penetra no mundo de salões de beleza, almoços entre amigas e quartos de vestir. Bom gosto e bons diálogos. Nota 7.

TARANTINO/ GRACE KELLY/ COEN/ DONEN/ DE MILLE/ CUKOR

   DUAS SEMANAS DE PRAZER de Mark Sandrich com Bing Crosby e Fred Astaire
Dois partners de shows se separam, por causa de uma mulher. Crosby que é o bonachão, vai viver no campo, e lá monta um hotel-teatro, onde apresenta shows só nos feriados. Astaire acaba indo parar lá, e eles disputam outra garota. O filme, muito alto astral, tem White Christmas, o single fenômeno de Irving Berlin. E tem muito mais, tem diversão, boas canções e atores simpaticos. Sandrich dirige tudo com finesse. Exemplo do filme standard da velha Hollywood. Nota 7.
   FUNNY FACE de Stanley Donen com Audrey Hepburn, Fred Astaire e Kay Thompson
Crítica longa postada abaixo. Que mais dizer? É lindo. Audrey convence como a intelectual que se torna modelo e Fred faz o fotógrafo que a descobre. Vão à Paris e a cidade nunca foi tão bonita. A verdadeira cidade sempre sonhou em ser esta Paris da Paramount. O filme tem um visual brilhante, as cores parecem respirar. Em termos visuais é uma obra-prima. Relaxe e aproveite! Nota DEZ.
   KILL BILL VOLUME I  de Quentin Tarantino com Uma Thurman
Um absoluto prazer! Rever este filme agora é tão bom como em seu tempo de lançamento. Tarantino, talento superlativo, um cara que sabe tudo de cinema, esbanja talento. A ação é incessante e nunca cansa. Música e cor, corpos que se lançam no vazio, olhares coreográficos. Com os Shaw Bros, Tarantino aprendeu tudo e uniu essa arte às referências dos anos 70 que ele tanto adora. Uma festa para os olhos, para os nervos, para o coração. Esse diretor dá dignidade ao cinema atual, mostra que a grande tradição da ação, do cinema tipicamente americano, é viva. Bato palmas para todos os seus filmes. DEZ!!!!!
   KING KONG de John Guillermin com Jeff Bridges e Jessica Lange
Quem esperaria que Jessica se tornaria uma atriz com dois Oscars? Ela, modelo de sucesso, estréia aqui, e brilha em sua sensualidade e beleza inebriante. Mas o filme é tolo, sem porque. O Grande Lebowski é um tipo de cientista-explorador meio hippie. O macaco é cômico. Jessica é a melhor vítima do Kong que já houve. Um tipo de nova Grace Kelly em tempos sem realezas. Nota 2.
   MATADORES DE VELHINHAS de Irmãos Coen com Tom Hanks
Pra que refilmar um filme perfeito? O original é inglês, de MacKendrick e tem Peter Sellers. Este é ridiculo. Não tem graça nenhuma, é irritante, mal escrito, sem sentido. Talvez o pior filme dos muito talentosos irmãos. Tom Hanks está constrangedor. Nota ZERO.
  MEIAS DE SEDA de Rouben Mamoulian com Fred Astaire, Cyd Charisse e Peter Lorre
Não gosto muito deste filme. E deveria gostar, afinal todos os seus ingredientes são excelentes. Mas algo desandou, as canções funcionam mal, as danças são comuns e o diálogo não tem graça. Fala de agentes russos que se deixam seduzir por Paris. Cyd é a super-russa que vai até lá, ver o que aconteceu. É refilmagem de Ninotchka. Não deu certo. É dos últimos musicais de Astaire, ele merecia coisa melhor. É um filme "de luxo", há quem o adore, não é meu caso. Nota 3.
   MESTRE DOS MARES de  Peter Weir com Russell Crowe
Foi uma das grandes decepções que tive nos cinemas na época. Revisto agora é ainda mais insuportável. Um monte de cenas escuras, tédio constante, o filme não se decide entre a ação e a tal arte. Acaba por não fazer nem uma coisa e nem outra. Quem procurar aventura ficará frustrado, quem quiser reflexão nada encontrará. Crowe parece com sono. Nota 1.
   LEGIÃO DE HERÓIS de Cecil B. de Mille com Gary Cooper, Madeleine Carroll, Paulette Godard, Robert Preston e Preston Foster
O filme fala da rebelião no Canadá. A população mestiça se rebela contra a coroa inglesa e a policia montada é enviada para cessar a briga. Cooper é um texano que está por lá com uma missão. É um filme exemplar. Após uma apresentação precisa, a ação se desenrola sempre no tempo certo. O diretor dá tempo para que conheçamos os personagens e logo em seguida cria mais uma reviravolta e mais uma cena de movimento preciso. De Mille era um cozinheiro-mestre, sabia sempre o que adiconar, a dose certa, a temperatura exata. Gary Cooper, já foi dito, era o americano perfeito, aquilo que todos eles gostariam de ser. Pouca gente lembra, mas era ele a grande estrela do cinema da época ( ele estava acima de Gable, Grant, Bogart e Fonda ). Já vi vários filmes de Cecil B. de Mille, este é aquele que mais me satisfez. Diversão pop de primeira. Nota 9.
   LES GIRLS de George Cukor com Gene Kelly, Kay Kendall e Mitzi Gaynor
Uma ex-corista lança uma biografia. Ela é processada por difamação. Quando o filme começa já estamos no tribunal. Três depoimentos serão dados, os três conflitantes, qual a verdade? O filme tem um problema sério, a primeira parte tem Taina Elg como centro, e ela não consegue segurar o interesse. O filme melhora muito nas outras duas partes. Kay Kendall, comediante inglesa de primeira, na época esposa de Rex Harriosn, dá um show como uma atriz beberrona; e Gaynor está ótima como uma bailarina americana virgem. Gene Kelly é o sedutor-diretor das três mocinhas. Não há nenhum grande número para ele brilhar, mas o filme é elegante, colorido e dirigido naquele estilo vistoso de George Cukor. Cukor foi um dos grandes de Hollywood, seus filmes sempre brilham. Nota 7.
   HIGH SOCIETY de Charles Walters com Grace Kelly, Bing Crosby e Frank Sinatra
Sempre me lembro de um reveillon em que voltei bêbado pra casa ( e insone ). Lembrei então que ia passar este filme na TV, e que no jornal saíra uma página sobre ele. O chamavam de o "filme mais chic" já feito. Liguei a TV, deitei no tapete e o assisti. Me senti tão chic, que no dia seguinte comprei uma cigarreira de prata. E procurei a trilha sonora em disco até achar. Depois desse dia já o revi por duas vezes. Ontem foi a terceira. Ele é sobre nada. O que vemos é Grace ficar bêbada, dançar, flertar e afinal se casar com seu ex-marido. Crosby é esse marido. Paciente, tranquilo, cool. E Sinatra é um jornalista pobre. Louis Armstrong faz Louis Armstrong, ele toca alguns números no filme, todos ótimos. Os outros números musicais são todos maravilhosos ( Cole Porter ). Destaque para True Love, uma das mais belas canções de amor já feitas, e tem ainda Did You Evah?, em que Crosby e Sinatra se preparam para ir à uma festa. O filme é uma bobagem, uma tolice leve e ebuliente...assim como é também um doce delicioso, um souflé, uma calda de chocolate. Vicia e delicia. Grace Kelly está muito bem. Sua personagem, nada fácil, é frágil, arrogante e sedutora. Falam de Audrey, de Liz Taylor, de Sofia Loren.  Mas para mim ninguém foi mais bonita que Grace Kelly. Ela era perfeita, sexy, tinha uma voz educada e elevada, um olhar de promessa. Mesmo ao lado de dois mitos ( Sinatra e Crosby ), o filme é todo dela. Maravilhosa!!! Nota 9.

MICHAEL POWELL/ LEAN/ HEPBURN/ FRED E GINGER/ CHOW

KUNG FU HUSTLE de Stephen Chow com Stephen Chow
Imenso sucesso na Asia, este filme é o que pode ser chamado de festa de reveillon. Ele é muuuito engraçado e é feito com uma técnica cinemática assombrosa. Chow usa todas as referências possíveis : Tarantino, Keaton, Tati, Scorsese e ainda Fred Astaire ( há bela homenagem a Top Hat ). Sem dúvida é um dos grandes filmes deste milênio. É ver para crer. Nota DEZ!!!!!
OS 5 VENENOS de Chang Cheh
Clássico da Shaw Brothers. Fala de grupo de ex discipulos Shao Lin que procura tomar posse de fortuna. É cada um por si. As lutas são estupendas, os cenários muito criativos e a diversão está garantida. Como já falei, após esse aprendizado de filmes orientais, fica dificil para mim engolir a parte de ação de filmes como Batman, Homem de Ferro e que tais. Nota 7.
O ESPIÃO NEGRO de Michael Powell com Conrad Veidt e Valerie Hobson
Para Scorsese e Coppola, Michael Powell foi um gênio, o maior diretor da Inglaterra. Eu concordo. Todos os seus filmes variam entre o genial e o excelente. Além do que ele fez de tudo : comédia, drama, musical, fantasia, aventura, filme experimental. E culminou com A Idade da Reflexão, o filme mais alegre da história. Este é de seus primeiros filmes e fala de espião nazi que trabalha na Escócia. Suspense hitchcockiano, belo clima de fatalidade, tudo feito com rapidez e simplicidade. Um gênio em seu nascimento. Nota 7.
UMA MULHER DO OUTRO MUNDO de David Lean com Rex Harrison
Mas a maioria acha que David Lean é o maior dos ingleses ( Spielberg e Fincher o colocam nas alturas ). Sem dúvida foi um gigante. Aqui, no começo de sua hiper vitoriosa carreira, ele adapta uma peça de imenso sucesso de Noel Coward....Ah Noel Coward....Nada foi mais pop no final do imperio britânico que Coward ( lá entre 1915/1955 ). Suas peças, suas canções, as frases que ele dizia... Noel era o inglês que todo inglês queria ser. A partir de 1959, quando os Angry Men tomaram a cena, Noel Coward se foi para o limbo. Waaaal....esta peça/filme trata de fantasma de esposa que volta a terra para atrapalhar o casamento de ex-marido. Há ator de comédia fina melhor que Rex Harrison ? O filme é uma efervescente bobagem. Nota 7.
PAT E MIKE de George Cukor com Kate Hepburn, Spencer Tracy e Aldo Ray
Kate e Spencer tiveram um caso extra-conjugal que durou toda a maturidade dos dois. Mas, por ele ser um fervoroso católico irlandês, jamais se divorciou da esposa. A imprensa, que respeitava muito os dois, sabia de tudo mas não divulgava nada ( belos tempos éticos ). O caso só veio à tona quando a esposa de Tracy morreu. Nesse tempo de affair ( que terminou com a morte dele em 1967, foram 35 anos de caso ), os dois fizeram uma série de comédias adultas. O tema era sempre sobre casais de opostos, ela geralmente sendo uma feminista e ele um machão bonachão. Alguns desses filmes se tornaram clássicos absolutos e outros nem tanto. Este, que fala de esportista fenomenal ( Kate ) que se sente insegura quando assistida pelo noivo chato, é dos menos bons. É bacana ver como eram o tênis, o golfe e o basquete na época, mas Cukor está em seus dias de preguiça. ( George Cukor tinha o dom da imagem. Fez alguns dos filmes mais "belos" do cinema. Sabia ser chic, esperto, leve. Mas por ser um grande festeiro e colecionador de arte, as vezes parecia fazer filmes preguiçosos, feitos no piloto automático. Este é desses. ) De qualquer modo, é sempre um prazer ver Kate em ação. Nota 5.
FOLLOW THE FLEET de Mark Sandrich com Fred Astaire e Ginger Rogers
Ele é um marinheiro em folga. Ela é sua ex-noiva. Ele tenta reconquistá-la. Com as músicas de Irving Berlin fica fácil. O filme é dos menos geniais da dupla: é "apenas" delicioso. Ginger Rogers está belíssima e apimentada como sempre. Fico imaginando a alegria que deveria ser em 1937, ver esse filme e em seguida levar sua menina para jantar e dançar.... Nota 8.
TOP HAT de Mark Sandrich com Fred Astaire, Ginger Rogers, Edward Everett Horton
Cenários art-déco em branco. As paredes são brancas, os móveis são todos em branco, o chão é prata, os objetos de vidro. Van Nest Polglase e Carrol Clark faziam esses sets que eram como o paraíso na tela. O filme fala de homem que conhece garota, se apaixona, a perde e tenta a reconquistar. Astaire consegue o milagre: dizer tudo dançando. Para entender a genialidade dos melhores musicais é preciso entender isso : quando a música começa, a alma dos personagens fala. Ouvimos e vemos o que eles pensam e sentem. E ninguém fez isso melhor que Fred e Ginger. Cada passo e cada olhar transmitindo tudo aquilo que voce já sentiu ou viveu com alguém. Isso é magia pura. Este foi o maior sucesso da dupla e salvou a RKO do vermelho. Um dos maiores clássicos do cinema, homenageado em Wall E, em Kung Fu Hustle, em A Lenda e mais uma infinidade de filmes. Ele é sempre usado como " a coisa mágica que ficou do passado lembrando ao homem que viver vale a pena ". Quem fez mais que isso? Nota impossível.
SWING TIME de George Stevens com Fred Astaire e Ginger Rogers
Os críticos mais "sérios" consideram este o melhor filme da dupla. Eu discordo. Acho o mais esquisito. A parte cômica é a menos ótima, porém, a parte musical é a melhor. Jerome Kern fez uma seleção de canções que variam do sublime ao inesquecível. Bojamgles of Harlem em que Fred se pinta de negro e homenageia seu ídolo ( Bill Robinson, o gênio do taps ) é dos maiores momentos da história das telas. Mas tem mais: a cena na neve ( que lindo set ! ) e a hora em que se canta The Way You Look Tonight, quem já amou irá se comover. Mas a magia insuperável nasce quando Fred e Ginger se despedem "para sempre", e tentando reatar ele canta Never Gonna Dance ( para mim, junto com Falling in Love Again, as duas músicas que melhor retratam o amor ). Nesse momento, junto a escadaria em set vazio, Fred consegue em música e dança, transmitir todo o desespero de alguém que percebe o amor partir. É de uma beleza aterradora ! Bergman precisa de duas horas para fazer o mesmo efeito ! ( E Bergman é um gênio ! ). Quando Ginger afinal cede e começa a dançar com ele, voce percebe então : eis a tal "arte americana", a arte puramente da América, a arte de se dizer muito se usando pouco, a arte de se comunicar a muitos um segredo de poucos. O filme, em que pese suas várias cenas erradas, se afirma como um monumento ao sentimento de amor. Nota DEZ.
SHALL WE DANCE de Mark Sandrich com Fred Astaire e Ginger Rogers
Eis o meu favorito ( ou será The Gay Divorcée, que preciso rever ). É o mais tolo de seus filmes, quase um cartoon. E por isso eu o venero. Fred é Petrov, um americano que se finge russo bailarino clássico. Ginger é uma apimentada sapateadora yankee. E vêm os desencontros de sempre: mal entendidos, frases ferinas, muito bom humor e os números que contam exatamente o que eles sentem. A trilha é de George Gershwin... precisa dizer mais ? Todas as canções são clássicos do jazz. Cenários em branco e prata, figurinos chics ao extremo ( os anos 30 são estranhamente a era da depressão e ao mesmo tempo o ponto mais chic do século vinte ). Quando estou chateado e quero me reerguer é fácil : boto este filme pra rodar ! Foi o primeiro da série que assisti ( lá se vão vinte anos ) e foi na época uma revelação. Nota DEZ !!!!!!!!!!!!
CIÚME: SINAL DE AMOR de Charles Walters com Fred Astaire e Ginger Rogers
Ginger sempre brigou com Fred. Ela queria ser uma atriz séria e achava que Fred lhe roubava o mérito. Quando a dupla acabou, ela conseguiu ser a tal atriz séria e logo ganhou seu Oscar em drama. Dez anos depois da separação, eis que os dois se reencontram aqui. E é um filme estranhamente triste ( o único dos dois ). É claro que é uma comédia, mas há algo de muito melancólico em todas as cenas. Eles fazem um casal que se separa porque ela quer ser atriz séria. Fred não a esquece ( na vida real ele jamais foi apaixonado por ela ) e no fim eles se reencontram ( felizmente tem um final feliz ). Ginger está já madura, ainda leve e linda, mas com algo de sério naquela menina dos anos 30. Fred envelheceu bastante. Continuava insuperável ( faria em cinco anos seu grande clássico: A Roda da Fortuna ), mas não é mais o jovem alegre e tolo da década anterior. E tudo isso dá ao filme algo de muito doído: a consciencia da passagem do tempo. Torna-se o único musical trágico da história. Nota 7.

ALICE/ TUDO PODE DAR CERTO/ LEÃO NO INVERNO/ ORGULHO E PRECONCEITO

ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS de Tim Burton
Como Spielberg fez com Peter Pan, Burton resolve mostrar uma Alice mais velha. Coisa de bilheteria.
Difícil falar deste filme. Ele é totalmente calculado para agradar doidinhos-soft e psicodélicos-light. Burton fez um filme que usa personagens e título emprestados de Lewis Carroll, mas que negam tudo o que o autor inglês pregou. Ninguém é obrigado a filmar um livro ao pé da letra, mas é sim obrigado a respeitar o espírito da obra, a intenção do autor. E a única intenção de Carroll era o nonsense. O filme grita e implora uma gota de humor, não consegue. Burton continua preso ao darkismo mais convencional, é um emo cinquentão. O filme, belíssimo e vazio, é enfadonho. Chato em sua loucura fake e profundamente convencional. Tudo pede um toque de Terry Gillian. Alice torna-se assim uma chatíssima moça magrela e tuberculosa do século XXI. Os personagens, e o coelho é o mais mal entendido, tornam-se apenas bobos. Em Carroll eles são perigosos. O filme nada tem de perigoso.
O mandamento número um do livro era o de que nada nele poderia fazer sentido e nada poderia ter uma moral a ser demonstrada. Burton faz sentido e joga uma moral à história. Noto agora a dificuldade que Tim Burton tem com o sexo. Há alguma cena de sexo em algum filme dele ? Ele fez algum filme passado em nosso tempo ? Uma bela decepção este Alice. Apenas uma bonita sequencia de belos cenários com trilha sonora fraquíssima e perdida de Danny Elfman. Um equívoco que será amado pelos emos, góticos e moderninhos de butique. Nota 4.
O LEÃO NO INVERNO de Anthony Harvey com Peter O'Toole, Katharine Hepburn, Anthony Hopkins, Timothy Dalton, Jane Merrow
Um filme perfeito. Texto, foto, trilha e atores. Ele começa forte e não para de crescer até seu final exultante. É um filme que nos dá alegria, força, vontade de criar e de viver. Ele é grande. Comento-o mais abaixo. Nota DEZ !!!!!!!!!!!
ORGULHO E PRECONCEITO de Joe Wright com Keira Knightley, Mathew MacFayden, Rosamund Pike, Donald Sutherland e Carey Mulligan
Joe é bom diretor. Foi ele quem fez o excelente Desejo e Reparação. Aqui, em história de Jane Austen, ele acerta outra vez. Ao contrário de Burton, ele entende e respeita o livro, não se mete a fazer desconstruções e outras tolices. Ele compreende acima de tudo que no mundo de Austen o dinheiro manda no amor. O filme é uma festa. E o elenco se mostra a altura, principalmente Brenda Blethyn e Donald Sutherland, que fazem os pais das cinco filhas casadoiras. Um filme que diverte, emociona e não apresenta um só erro. Austen, Henry James e Dickens são adorados pelo cinema. Felizmente. Nota 8.
PAISAGEM NA NEBLINA de Theo Angelopoulos
Mais uma chance para Theo. Não dá ! Ele é muito chato. É a história de duas crianças procurando seus pais. Mal filmado, mal encenado. Nota Zero.
OS ASSASSINOS de Robert Siodmak com Burt Lancaster, Ava Gardner e Edmond O'Brien
Os primeiros dez minutos são coisa de gênio. Dois caras entram em lanchonete e prendem todos lá dentro. Os dois estão lá para matar um homem. Em termos de clima, fotografia e movimento de câmera é uma aula. Os dois acabam por matar o homem e o filme é a história do porque desse crime em flash-back. É um dos maiores clássicos do filme noir. Tudo nele é fatalidade, pessimismo, podridão e tem Ava, perfeita como a mulher muuuuuito fatal. Não é para ser apenas assistido, é aula de cinema. Nota 9.
A IDADE DA INOCÊNCIA de François Truffaut
O filme fez com que eu lembrasse do porque Truffaut ser tão famoso. Após o fracasso de Adele H, ele lançou este barato e simples filme sobre crianças e escola. Foi sucesso de crítica e estouro de bilheteria. É um filme paraíso : amamos as pessoas e aquela vila. Tudo é dirigido com leveza de poeta e com amor de anjo. Um filme para trazer alegria ao mundo. É pouco ? Nota DEZ.
QUATRO IRMÃS de George Cukor com Katharine Hepburn, Joan Bennet e Jean Parker
Baseado no classico de Louisa May Alcott, livro e filme mostram exemplarmente o modo como os americanos se viam e ainda tentam se ver. Kate está encantadora como a irmã mais estourada de uma família de quatro irmãs no norte dos EUA de 1865. Seus romances, suas tragédias, seus risos. O filme é bastante antiquado. Uma peça de museu. Mas é bonito. Nota 6.
TUDO PODE DAR CERTO de Woody Allen
É engraçado ver Larry David fazendo Woody Allen. E é bom saber que ainda existem filmes como este : adultos sem serem tristes. Se voce ama Woody ( e este é meu caso ) voce vai adorar. Se voce o detesta, fuja dele. Não é como seus filmes europeus, filmes que podiam agradar até os anti-Woody, este é o Woody de New York, cheio de palavras, amargo e engraçado, classe média, urbano, neurótico. Fica longe dos melhores filmes dele, mas nos faz lembrar do verdadeiro Woody. E eu adoro isso ! Nota 7

MY FAIR LADY/ FRED E GINGER/WALLACE E GROMITT/A FELICIDADE NÃO SE COMPRA

SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO de Max Rheinhardt e William Dieterle com Mickey Rooney, James Cagney, Olivia de Havillande, Joe E Brown, Dick Powell
Devo ter assistido num Natal aos 5 anos de idade. Suas imagens entraram em mim e passei minha vida pensando que fossem um sonho que tive. Ao assistir o DVD recordo tudo e vejo que não foi sonho, foi cinema. O visual é fantástico : fadas descem do céu, bosques que brilham, casacatas e lagos. Rooney aos 10 anos dá uma interpretação de gênio : seu Puck é aterrador. Um leprechaun de riso maldoso, um diabinho pulando e aprontando sem parar. O filme é desigual, tem momentos ruins. Mas tem outros ( Joe é humorista completo, James Cagney tem carisma para o papel ) que redimem tudo. Nota 7.
DANÇA COMIGO de Mark Sandrich com Fred Astaire e Ginger Rogers
Fred é psiquiatra que se apaixona por paciente. Todo fim de ano revejo musicais. São presentes que me dou. Este é delicioso, mas não é uma das obras-primas da dupla. Ginger era de uma sensualidade espertíssima ! Ela dá calor ao muito etéreo Astaire. Nota 8.
A HISTÓRIA DE VERNON E IRENE CASTLE de HC Potter com Fred Astaire e Ginger Rogers
É a bio de uma dupla de dançarinos que realmente existiu. Portanto, os dois têm de dançar no estilo 1910 dos Castle... é frustrante. Considerado o mais fraco da dupla, tem falta do humor que sempre abundou em seus outros trabalhos. Nota 6.
A ALEGRE DIVORCIADA de Mark Sandrich com Fred Astaire e Ginger Rogers
Ginger faz um tipo um pouco mais retraído, quase tímida. O filme é típico do estilo da dupla : ela o detesta, ele a ama, depois ela começa a amá-lo, vem um mal entendido e então o final feliz. Quando Fred canta NIGHT AND DAY para ela, a conquista. Vemos um orgasmo musical na tela ( que termina inclusive com um cigarro ). Essa cena é histórica : uma canção transforma indiferença em amor... e cremos no que vemos ! O filme é perfeito : os dois dançam e nos fazem rir, nos fazem rir e dançam. Os coadjuvantes brilham, os diálogos ricocheteiam, o filme é um iate de luxo. DEZ!
BROADWAY MELODY de Norman Taurog com Fred Astaire e Eleanor Powell
Dois amigos dançarinos disputam o amor de dançarina famosa. Powell, muito famosa na época, dança pesado. Seus pés têm chumbo. Fred dança poucas vezes, mas rouba o filme. Nota 6.
O MÁSKARA de Chuck Russell com Jim Carrey e Cameron Diaz
Porque este filme fez sucesso ? É tremendamente amador, mal dirigido, muito mal escrito e pior interpretado. A trilha sonora é de karaokê e os cenários de filminho pornô. Vai entender... Cameron, um pouco mais cheinha, nunca mais foi tão bonita. Nota 1.
WALLACE E GROMITT NA BATALHA DOS VEGETAIS de Nick Park
O cão, Gromitt, é criação de grande talento. Com poucos movimentos de sobrancelha ele transmite milhares de expressões. O roteiro mistura suspense e horror, cheio de humor. Uma delícia !!!!!! Nota 7.
MY FAIR LADY de George Cukor com Rex Harrison, Audrey Hepburn, Stanley Holloway, Gladys Cooper e Mona Washbourne
O mundo se divide em dois : os que desprezam esta obra-prima de Alan Jay Lerner, e os que a adoram. Não há meio termo : ou voce vê este filme como enfadonha frescura pseudo artística, ou voce a adora como exemplo perfeito de artesanato imortal. Eu fico com a segunda opinião, e ainda acrescento que é lembrete daquilo que perdemos nos últimos 40 anos : bom-gosto. O filme é aula de diversão adulta e elevada, suas músicas exemplo de genialidade. Rex e Audrey estão em pleno vigor : apaixonantes ! É um de meus cinco filmes favoritos. Nota... Ora ! Que nota dar ? Um mero número desmerece tanta perfeição.
A FELICIDADE NÃO SE COMPRA de Frank Capra com James Stewart, Lionel Barrymore, Donna Reed, Ward Bond
Capra, cineasta de imenso sucesso, voltou da segunda-guerra mudado. Seus filmes que eram odes à democracia, plenos de otimismo, adquiriram um travo amargo. Este foi fracasso de público e crítica na época, mas na década de 70, ao ser reprisado na TV no Natal, , foi descoberto e se tornou desde então um clássico desta época de festas. Não há filme atual sobre fim de ano que não o cite. O filme é pura fantasia, começa com estrelas conversando no céu. Stewart abre mão de seus sonhos para ajudar sua cidadezinha, o filme é a história de sua vida. James Stewart prova mais uma vez o que ele foi : o mais simpático dos astros. Seu George Bailey é complexo, mostra doçura e amargor. A cena em que ele grita com a filha no Natal é das coisas mais dolorosas já filmadas, choramos, não há como evitar. É um filme que nada teme : ele é piegas, tolo e infantil; e ao mesmo tempo é profundamente humano, verdadeiro e atemporal. Filme favorito de meu amigo Tucori ( que foi quem me convenceu a o assistir ) é uma aula de bons sentimentos e de bom, grande cinema. Nota DEZ.

MY FAIR LADY - ELEGÂNCIA E PARAÍSO

Primeiro são as flores. Closes de flores em variadas formas e cores. Durante um minuto e meio é tudo o que vemos : flores. Estão jogadas as cartas : o filme trata de estética, a estética da visão e a estética da língua. Mas é também a estética do amor e do cinema em sí. Vêm os créditos do filme : Jack Warner produziu pessoalmente, o que significa muito. Audrey Hepburn significa perfeição. Audrey fez algum filme ruim ? Rex Harrison, que Paulo Francis tanto amava, significa civilidade em grau absoluto. A Warner queria Cary Grant, mas foi o próprio Cary, com sua elegância de sempre, quem disse ser um crime tirar Rex do filme. Rex Harrison era o professor Higgins da Broadway, e ele é Higgins. Temos ainda Stanley Holloway, que significa humor em alto grau e Wilfrid Hyde-White, que é simpatia suprema. Mas há mais. Hermes Pan cuidou da coreografia, e apesar de não haver dança propriamente, todos se movem com graça e leveza. Harry Stradling fotografou, esse mestre dos diretores de fotografia, e há no filme um brilho colorido que remete a conforto e solidez. Mas vem mais : Alan Jay Lerner escreveu o roteiro e fez as letras, adaptando Bernard Shaw. Foi este filme que me ensinou que em musicais as músicas não são "pausas", elas são o centro da obra, são elas que revelam a alma do personagem. Este filme tem as melhores letras, diálogos deliciosos e uma leveza de sonho. As melodias são de Frederick Lowe e os arranjos de André Previn. Todas as músicas desta obra são perfeitas. Todas são inesquecíveis, ele é o musical para quem não gosta de musical. Se após My Fair Lady voce continuar a detestar musiciais, bem... seu caso é perdido. Cecil Beaton cuidou do visual geral. Beaton foi o Oscar Wilde dos fotógrafos, o luxo dos luxos, o nome chave do esteticismo, o dandy supremo. O que mais este filme pode ter ? George Cukor na direção, o que quer dizer gosto e tato. Após tantos diamantes, eis que ele começa.
Um cenário que é Londres, talvez em 1910. Cenário que foi feito de verdade, com suas colunas, pedras e ruas. Vemos roupas elegantes, cartolas, calhambeques, carruagens, jóias, rostos asseados. É a tal era vitoriana. Estamos no mundo da elegancia e dos bons modos. Chove então, e se abrem guarda-chuvas. Observe, nada de importante aconteceu, mas seu senso estético já está desperto. Surge Audrey, suja e com voz deplorável. Ela é uma florista de rua. Com a fala das ruas de Londres. Surgem Higgins e Pickering ( nomes adoráveis ). Um é linguista, o outro é um coronel culto. Higgins diz que a língua é tudo, e o filme é ode de amor à língua inglesa. E vem a primeira canção.
Paulo Francis em belo artigo dizia que Rex Harrison, em Londres, colocou a audiência abaixo na estréia teatral de MY FAIR LADY quando abriu a boca para cantar. Rex era péssimo cantor, então criou um tipo de "fala cantante" que é simplesmente genial. E dificílima de ser imitada. Nesta primeira canção ele fala da língua inglesa. A letra de Lerner é coisa de gênio. Rimas e ritmo, tudo flui, apesar da complexidade das palavras. Estamos capturados : o filme triunfa.
Eliza Doolittle é Audrey. O mundo queria que fosse Julie Andrews, a estrela da versão teatral. A Warner, sem Cary Grant, dessa vez bateu pé : precisamos de uma estrela das telas : Audrey. Pois Audrey está como sempre : adorávelmente adorável. Na rua ela canta sobre a alegria que seria ter uma poltrona macia e um chocolate quente. Nos ajoelhamos. Que música linda ! Ela nos transmite uma beleza que chega a doer, a beleza da esperança. O filme cresce muito. O que já era excelente fica ainda melhor.
Uma cena de poesia suprema é aquela em que amanhece nas ruas de Londres. A cidade de Dickens e de Thackeray nunca foi tão bela. Eis o pai de Eliza, um malandro bêbado chamado Alfred Doolittle. Criação genial de Holloway. Ele canta na rua, unido aos pobres maltrapilhos. Fala de sorte, de futuro. Sorrimos. O filme é de uma alegria encantadora. O mundo de MY FAIR LADY é um tipo de paraíso estético. Entramos então no santuário de Higgins, sua casa.
Um esbanjamento. Observe as janelas. Vidros azuis e amarelos, desenhos em cristal fino. Veja o imenso tapete persa no chão. As maçanetas de cobre polido, as luminárias belgas. Madeiras que cheiram a verniz em todo canto e imensos sofás de couro. O banheiro com seus azulejos pintados um por um, à mão. O padrão do papel de parede. É o ambiente de luxo masculino vitoriano. Ambiente que pede charutos, um Porto, um volume de Conrad. Não queremos sair de lá. Rex e Wilfrid moram alí. São dignos daquilo tudo. Mas a "mulher" surge e a paz se vai.
Antes de Eliza irromper na casa como sujo furacão, Higgins canta. O hino supremo dos solteiros. Jamais ouvi tantos bons argumentos sobre a vida de solteiro. Obra-prima masculina. O filme sobe ainda mais : ele é também sobre a guerra dos sexos. Me surpreendo : letras de canções podem ser tão ricas ? Alan Jay Lerner é um gênio !
Pois bem. Os dois amigos apostam. Higgins fará de Eliza uma Lady. Em seis meses. A levará a festa da embaixada, onde todos serão enganados. Estará provado que voce é o modo como fala. Higgins passa a ensinar Eliza a falar corretamente. Eliza sofre, se submete, e de súbito, no momento mais feliz de um filme cheio de momentos felizes, ela acerta : the rain in Spain... Os três dançam. A música é sublime. Um dos maiores momentos da história da sétima arte : Rex, Audrey e Wilfrid cantando e pulando. A vida pode ser perfeita. Mas o amor complica tudo....
Ela se apaixona. E canta a canção mais conhecida do filme. Impossível saber qual a melhor. Não há uma que não seja perfeita. As letras sempre são fascinantes e a melodia inesquecível. A peça/filme é momento único. Vem então a primeira prova de Eliza : as corridas em Ascott.
Essa cena em Ascott é das coisas mais belas já filmadas. E artificiais. Um desfile afetado de roupas elegantes, mulheres em fantasias divinas onde Audrey/Eliza entra como fada. O diálogo que ela trava com os lords e ladys é comédia perfeita. E o final da cena é soberbo. O filme, que se iniciara lindo continua em seu crescendo. Ele sobe todo o tempo.
Vem então o baile. Nessa cena o filme se arrisca. Não ouvimos nada do que se diz. Ficamos como distantes espectadores. Danças, poses, silêncios, exibicionismos. Eliza triunfa ! O filme se aquieta em planície alta. Cessa seu crescimento. Em duas horas de incessante êxtase ele interrompe-se. MY FAIR LADY. agora, é drama.
O filme fala então de tragédia séria : Eliza adquiriu cultura, mas o que fazer com ela ? Seu passeio pela praça onde trabalhava antes é dramático. Não faz mais parte daquilo, mas faz parte do quê ? Ela é uma Lady, mas não nasceu Lady e não tem dinheiro. Reencontra o pai, que em frenética cena de pub celebra sua despedida de solteiro. O filme continua maravilhoso, mas agora ele é doído. Higgins é incapaz de entender Eliza. Ele é masculinidade pura. Ela é só feminilidade. Não se tocam.
Mas um precisa do outro. Rex Harrison se supera em cena onde ele confessa ter se acostumado com sua presença. Sem ela a casa é vazia. Mas Eliza o repele. Ela foi pisada demais. Rex volta para casa só. E vem o final, que é de uma falta de romantismo chocante, mas que é puro Bernard Shaw. Após três horas de projeção o que queremos é mais. Pena ter acabado...
MY FAIR LADY ganhou oito Oscars em 1964. Cukor, Rex, Warner... todos levaram seus prêmios. Menos Audrey, que nem indicada foi ( injustiça. Ela está sublime. ) Foi imenso sucesso ( o que depõe a favor dos frequentadores de cinema da época. ) Foi o filme que me fez entender musicais. O assisto todo ano desde então, sempre próximo ao Natal. Ele é um presente que me dou. A alegria de rever MY FAIR LADY é a mesma de reencontrar uma festa querida. Brilhos e cores amadas, vozes amigas, canções de sonho. Nenhum filme me é mais "precioso". MY FAIR LADY é como jóia de família, foto de infância, coração de amigo : não tem preço. Ele dignifica o cinema popular, enobrece a profissão de ator, faz de uma sala um salão. É ouro puro.
MY FAIR LADY é soberbo !!!!!

PATTON/MASTROIANNI/DELIVERANCE/KATE E CARY GRANT/

CRY OF THE CITY de Robert Siodmak com Victor Mature e Richard Conte
Siodmak foi um dos vários alemães que emigraram para os EUA e que criaram o estilo noir do cinema americano. Este é um belo exemplo. Filme muito forte, sobre bandido italiano que usa todos para tentar escapar da lei. Mature está ok, como o policial que cresceu no mesmo bairro e tenta incriminá-lo. Mas é Conte quem impressiona, mais uma vez dando show. O filme tem um clima realista, sujo, feio, que o torna muito absorvente e emocionante. nota 8.
SIROCCO de Curtis Bernhardt com Humphrey Bogart, Lee J. Cobb e Marta Toren
Conhecido como um dos piores filmes de Bogey, ele incomoda por ser seu personagem um fraco. Ele nada consegue e tem um fim nada heróico. Mas tem seus méritos, nesta história onde franceses colonialistas tentam domar revolta na Siria. nota 5.
PATTON de Franklyn J. Schaffner com George C. Scott e Karl Malden
Grande vencedor do Oscar de 1970, este filme representa bem uma das melhores safras do cinema americano ( 66/74 ). Trata-se de uma bio como não se faz mais : completamente verdadeira, mas sem jamais perder o caráter de espetáculo. Caramba ! Porque não se fazem mais filmes como este ??????????? Patton, feito por um Scott endiabrado, é fascista, egocentrico, homossexual enrustido, cruel, vaidoso ao extremo. Mas o admiramos, e depois o odiamos e voltamos a admirar. Na história deste gênio da guerra, que amava ópera e acreditava em reencarnação, assistimos a um filme perfeito em seu gigantismo. Gigantismo que jamais se torna frio, falso, impessoal. Tudo nele é belo e cruel, verdadeiro e mitológico. Foi este filme que deu o primeiro Oscar à Coppolla ( é dele o roteiro ) e deu a Scott um Oscar merecido. Aliás, bem de acordo com o clima político desse tempo, Scott não aceitou o prêmio e nunca foi o buscar. Disse que atores não são esportistas para concorrer entre sí, e que o único modo de se julgar dois atores seria dar a ambos o mesmo papel no mesmo filme em condições iguais. Ele está errado ? Tudo neste filme é superior : a música de Jerry Goldsmith, a fotografia de Fred Koenekamp, e esse absoluto extase que é assistir à Scott como este magnífico e inesquecível general. Apesar da concorrência fortíssima de 1970, o filme mereceu cada prêmio ganho. Trata-se de cinema de primeira, de arte e diversão, de política e emoção. Assistir este filme é compreender o que o cinema popular pode e deve ser. nota Dez.
THE LOVE PARADE de Ernst Lubistch com Maurice Chevalier, Jeannete MacDonald e Lilian Roth
Envelheceu muito este filme do importante Ernst. É um tipo de filme realmente morto, ancião, enterrado. De bom, os cenários luxuosos e Lilian, uma maliciosa atriz de beleza sapeca, que teve a carreira destruída pelo alcoolismo. Seria uma estrela. O que encanta é a malicia do filme, feito antes da criação do código de censura. nota 4.
UN FLIC de Jean-Pierre Melville com Alain Delon, Richard Crenna e Catherine Deneuve
John Woo, Guy Ritchie e Tarantino adoram os filmes de Melville. Neste, que é seu último trabalho, dá pra se notar o porquê. É cinema policial durão, nada simpático, árido, cool, muito cheio de coisas dúbias, onde o bandido é tão ruim quanto o policial e tudo cheira a corrupção e existencialismo crú. Melville adotou este sobrenome como homenagem ao autor de Moby Dick. Amava tudo o que era americano, se vestia como Bogey, ouvia jazz e acima de tudo, assistia os noir de Huston, Wilder, Wise, Preminger e Dassin. Alain Delon, com sua cara de absurda beleza gelada, nasceu para fazer este papel. nota 7.
O BELO ANTONIO de Mauro Bolognini com Marcello Mastroianni, Claudia Cardinale e Pierre Brasseur
Em toda a história do cinema de qualquer nação, ninguém fez tantos filmes bons em tão pouco tempo quanto Marcello. Entre 55/75, a quantidade de filmes eternos que ele fez é impressionante. Mesmo tendo de concorrer com Gassman, Tognazzi, Manfredi e Sordi. Nesse período o cinema italiano era o melhor do mundo e Marcello seu rei. Este foi um de seus maiores papeis : um homem da Sicilia, lugar de machismo absoluto, que não consegue consumar seu casamento, pois ama demais sua bela esposa, que vê como um anjo. Este poderia ser tema de comédia, mas aqui, graças a sensibilidade de Bolognini, discípulo de Visconti, o que seria riso se torna melancolia. Marcello tem uma interpretação digna de um deus. Seu olhar na cena final é coisa para se guardar para a eternidade. Seu personagem, que tem fama de comedor, se torna a piada da cidade. Claudia brilha, com sua transformação de belo anjo para mulher rancorosa e Brasseur, como o pai orgulhoso e maschio, passa toda a patetice desse garanhão de meia idade. Em destaque a bela cidade de Palermo, cheia de vielas, varandas e varais. Rica de gente. Um filme belo, vivo e muito triste. nota 8.
DELIVERANCE de John Boorman com Jon Voight e Burt Reynolds
A coisa de uma semana assiti um filme de Boorman feito antes deste. Um filme em que Lee Marvin e Mifune duelam numa ilha deserta. Agora me cai em mãos este Deliverance. Outra prova da maestria desse inglês Boorman, cineasta ainda na ativa, poeta da violência e da sobrevivência. Este filme é, em seu gênero, uma pequena obra-prima da crueldade. Poderia ser feito hoje ? Com certeza não. Sua violência é real demais, seu sangue não é glamuroso, seu horror é adulto, nunca infantil. Sua história : quatro amigos partem para a mata. Irão remar num rio que será eliminado, transformado em lago de represa. O que acontece com eles ? O absoluto horror. O filme nos mostra todo o tempo o ridículo de cada um deles. Como nos tornamos seres desajeitados, anti-naturais, desconfortáveis em meio a mata, e em como tentamos crer em nossa " pureza". Eles erram em tudo e todo o tempo, e pagam caro por todo erro. Cada passo que dão é um passo de aliem num planeta que nunca é o deles. A mata os repele, e os caipiras são de um mundo distante, além do que eles podem ver. Nada neste filme é bonito. Ninguém é heróico. Não há poesia: a mata é o que é, mundo fechado, inescrutável. Surpresa : o filme não tem trilha sonora, apenas o som de pássaros, da água, de gemidos e gritos, de conversas tolas. É uma obra-prima feita por um corajoso. Cineasta que se queimou nos anos oitenta com dois filmes muito ruins ( inclusive um deles feito no Amazonas, com Sean Connery e José Wilker ). Mas Boorman é invulgar, original, forte e difícil. Este Deliverance ( grande sucesso na época ) é para se guardar e rever. nota Dez.
SYLVIA SCARLETT de George Cukor com Kate Hepburn, Cary Grant, Edmund Gwenn, Brian Aherne.
Maior prazer que ver Kate na tela ( minha atriz favorita ), só o de ver Grant na tela ( meu ator favorito ). Cukor, que apesar de grande diretor, não é ousado ou muito criativo, faz aqui um filme completamente doido. Sua primeira parte ( 40 minutos ) é deslumbrante ! Pai e filha fogem da França endividados. Na Inglaterra se envolvem com malandro cockney ( Grant fala, pela única vez, com seu sotaque de origem. Uma delícia!!). O que vemos então são os hilários golpes dos 3, e o filme, de 1935, se torna um milagre : um filme dos irmãos Coen, o melhor deles, feito mais de meio século antes. Kate se faz passar por menino e o filme brinca com travestismo, roubo, trapaça, egoísmo, pai infantil, tudo isso com imensa alegria e em cenas curtas e meio improvisadas. Kate, de paletó, cabelo de menino, leve como um Peter Pan, se mostra alegre, se diverte com seu papel, e vemos o mais bonito menino da história do cinema. Cary Grant começa neste filme a chamar a atenção do mundo sobre sua figura. Vemos o nascimento do mais adorável dos comediantes, do mais elegante dos malandros. E vendo este espetáculo pela primeira vez, penso : que fantástico show ! será meu filme favorito!!!! Mas... Kate se apaixona, larga as roupas de menino e se assume mocinha... e o filme, esquizofrenicamente, se torna outro, drama de amor. O personagem de Grant desaparece, e sentimos saudade de sua saudável malandrice. São 40 minutos de romance inconvincente, empolado, sem motivo. Nunca ví tal sucídio de expectativas na tela. Quando o filme acaba, parece que assistimos dois filmes totalmente diferentes : um que nos mostrou a verdadeira Kate, rapazinho bissexual, leve, alegre, linda; e o verdadeiro Cary, ambicioso malandro inglês, palhação, acrobata, charme de gigolô. Mas toda essa maravilha é morta pelo covencionalismo, pelo romance banal. Você se entristece com o filme, cai na razão, esmorece. O filme, em seu tempo, foi imenso fracasso. Hoje é um cult de primeira. É tão estranho que não pode ser julgado. Toda nota seria injusta.
EFEITO DOMINÓ de Roger Donaldson com Jason Statham e Saffron Burrows
O velho Roger continua filmando ( nunca vivemos uma era com tanto diretor velho. No cinema, até os anos 90, diretores eram encostados aos 60 anos. Hoje filmam até morrer. Bergman, Minelli, Ford, Hawks, Wilder, Donen, Capra, Stevens, Renoir, todos pararam aos 60, 62. Hoje, Lumet, Chabrol, Scorsese, Donner, Resnais, Spielberg, Penn, Boorman, De Palma, Eastwood, Woody Allen, filmam e filmarão até o fim. Como filmaram Altman, Pollack e Kubrick. Bom ou mal sinal ? ) Bem... eu gosto de Jason. É um Bruce Willis atual ( eu preferia Bruce. Mas Jason é ok. ) O filme, delícia de filme de assalto, é muito agradável, ágil, divertido. E tem Burrows, uma bela atriz. nota 6.

depois da vida, la jetèe, pic nic...

DEPOIS DA VIDA de hirokazu kore-eda
lutei bravamente com este chatíssimo filme japonês. Algo sobre lembranças e vida após a morte. Longos planos que jamais terminam, câmera tremida ou não. Confesso que não entendo se é para ser levado a sério, se é uma homenagem ao cinema, não entendí nada ! Levei 3 dias para o assistir inteiro e não valeu a pena. 2.
OS DUELISTAS de ridley scott. com harvey keitel e keith carradine.
em termos de fotografia, raros filmes são mais bonitos. é a estréia de scott como diretor e talvez seja seu filme mais simples. trata da obsessão de um soldado em limpar sua honra. tudo filmado ao estilo "inglês" de longas tomadas de neblinas, chuvas, campos verdes e amanhecer radioso. 7.
UM ESPÍRITO BAIXOU EM MIM de carl reiner com steve martin e lily tomlin.
se a comédia não fosse o gênero de cinema ( e de teatro também ) mais subestimado, o maravilhoso steve martin teria já seus dois oscars e lily os teria ganhado também ( assim como william powell, cary grant, rosalind russel, jim carrey, gene wilder, carole lombard e tantos outros ). neste delicioso filme, steve abriga a alma de lily. passa não só a abrigar duas almas rivais, como se apaixona por seu lado mulher. façamos justiça a esse ator: quanto prazer ele nos deu! nota 7.
ASAS de william wellman com gary cooper e clara bow.
eis aqui o primeiro ganhador do oscar de melhor filme! as cenas aéreas são muito bonitas. 6.
ANNA CHRISTIE de rouben mamoulian com greta garbo
peça de eugene o'neil. e parece teatro. arrastado, chato, inconvincente. 3.
BLOOM de sean walsh com stephen rea.
creia, este filme é a adaptação para cinema de ulysses de james joyce!!!!! e erra em tudo. ulysses transforma nossa vida banal em epopéia. descreve a vida medíocre de um comum irlandês num mito universal. mostra o eterno no cotidiano, o mágico no real. o filme faz o inverso: mostra o casal do filme como pequenos seres, homenzinhos com seus probleminhas pequeninos. mesmo assim seus monólogos são tão fortes, seus atores tão competentes e tudo é levado com tanta paixão que o filme nos pega. nada a ver com joyce, mas funciona. nota 7.
DAQUI A CEM ANOS de william cameron menzies
este filme criou blade runner. todo filme que mostra o futuro como um lugar de destruição e sujeira, bebeu nesta fonte. é um dos mais desagradáveis filmes que assisti. 6.
FÉ DEMAIS NÃO CHEIRA BEM de richard pearce com steve martin, debra winger, liam neeson e philip seymour hoffman.
chaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaatoooooooooooooooooooooooooooooooooo!!!!!!!!!!!!!!! zero!
GET CARTER de mike hodges com michael caine.
se voce quer saber onde nasceu o filme inglês de sub-mundo, tipo "dois canos" ou "snatch", nasceu aqui, com carter. stallone o refilmou e quebrou a cara. este filme é sórdido!!!!! duro, cruel, espertíssimo e tem uma trilha sonora idêntica a dos filmes do soderbergh. e michael...sublime! foi o cara que mostrou ao mundo que nem todo britânico parecia saído de uma peça de noel coward. assiste correndo. 8.
O CÉU MANDOU ALGUÉM de john ford com john wayne.
desertos, cavalos, o sol se pondo...eis meu paraíso. quando wayne entra em cena eu penso : viva! um ford médio, tranquilo, calmo. dá pena quando termina... nota 8.
MR.SKEFFINGTON de vincent sherman com bette davis e claude rain.
novelona braba. o tipo de filme feito pra mulher dos anos 40 e que é molde para qualquer best-seller banal de hoje. bette está fantástica, mas quando ela não esteve? 4.
DAVID COPPERFIELD de george cukor com wc.fields e um enorme etc incluindo a lindíssima maureen o'sullivan.
transpor o clássico de dickens não é fácil. o livro tem milhares de personagens e centenas de fatos acontecendo todo o tempo. porém... surpresa...o filme se sai maravilhosamente bem! uma delícia de diversão boba, cheia de ação, romance, bons diálogos, atores carismáticos, bela fotografia e um cenário sublime. 8.
PIC NIC de joshua logan com william holden, kim novak, rosalind russell, arthur o'connel e susan strasberg.
um caroneiro-vagabundo chega a pequena cidade e com sua virilidade exuberante desestabiliza todas as relações estabelecidas. peça de imenso sucesso de william inge nesta linda versão ( fotografia do genial james wong-howe ) o elenco dá um show ( menos holden que é muito velho para o papel ). belo filme que tem em ruy castro um fã radical. 7.
O DIABO VESTE PRADA de david frankel com meryl streep e anne hathaway.
como anne é uma atriz muito querida pelos críticos americanos, resolvi finalmente ver este filme. bem...não se trata exatamente de cinema, é um video-clip. a música está sempre em mais evidência que os diálogos, a câmera não pára de girar e correr, os atores não têm nenhum tempo de desenvolver qualquer profundidade em suas atuações e toda cena é feita para agradar e parecer fofinha. quando ela abre mão de miranda pelo namorado insosso- só podemos pensar: vai plantar batatas!- o filme é tolo. nota 3. ( frankel dirigiu agora Marley e eu- dá pra adivinhar os executivo-aqueles caras que são contadores, jamais produtores- pensando: hey! este cara dirigiu um best seller! vamos chamar ele! )
KUNG FU PANDA
que belos cenários! e que saco de desenho irritante! o que faz de uma animação algo memorável é a simpatia de seu personagem central. esse panda é um gordinho-mala! 1.
O DELATOR de john ford com victor mclaglen
este foi o filme que deu o primeiro dos 4 oscars que ford tem. ( record que pensaram que spielberg iria quebrar ). um filme cruel sobre a revolução irlandesa. um show de mclaglen que levou o oscar de ator. escuro, dark até, bastante poético e forte. 7.
INDISCRETA de stanley donen com ingrid bergman e cary grant
olhar para cary e ingrid é sempre um prazer. mas o filme é só isso. os dois namorando numa londres mágica e em apartamentos belíssimos. 4.