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A EXPLOSÃO DO DIQUE ( REVOLUÇÃO )

Ontem na tv Cultura foi exibido um documentário sobre Maiakóvski. Revolução russa, arte e poesia. Quem me acompanha sabe que tenho imensas prevenções contra tudo o que é russo. Essa coisa leninista foi valorizada demais nesta terra de Lula e Sarney e isso me causa profundo tédio. Há no Brasil uma idolatria pró-russia, assim como um anti-americanismo irracional e profundamente preconceituoso. Mas não posso cair na armadilha que revelo, há sim na Russia pré-comunista e imediatamente pós-revolucionária algo de novo, de ousado e de muito vivo. A morte-em-vida do comunismo logo destruiu toda essa exuberância, mas é fantástico perceber que coisas tão díspares como o video-clip e a linguística moderna têm sua raiz na terra de Maiakóvski.
O documentário, capitaneado por Cacá Rosset e Zé Celso é mais que fascinante, beira o trágico. Há uma sensação de que agora tal exuberância nos é inalcansável. Pois para ser verdadeiramente revolucionário é preciso abrir mão de tudo que se tem, ou nada possuir de seu. Em mundo século XXI em que não podemos nos separar de nossa rede social, de nosso plano de saúde e de nossa tv a cabo, não há a possibilidade de transformação absoluta a partir da destruição completa daquilo que não nos serve. O máximo que podemos fazer são críticas ao que aí está, críticas que buscam seu aprimoramento e jamais sua destruição. A inflação de vida, a extrema liberdade que vemos nas cenas russas nos são tão distantes quanto uma guerra grega ou uma paisagem em Urano.
Dziga Vertov institui o cinema olho. Câmeras que filmam em absoluta liberdade. Eisenstein cria a montagem criativa. Uma imagem traz uma imagem que se completa em outra imagem e que é reafirmada por mais uma cena. Mas o que mais impressiona são os cartazes revolucionários. Passado um século sua assustadora força permanece. São como capas de discos maravilhosas, peças de propaganda vencedoras em Cannes, posters radicais, imagens de camisetas exclusivamente modernas. Maiakóvski, poeta da vida que se matou aos 36 anos ( de tédio stalinista ), cria slogans: MELHOR MORRER DE VODKA QUE DE TÉDIO; TODO SER HUMANO NASCEU PARA BRILHAR; MEU CORPO ENLOUQUECEU SOU TODO CORAÇÃO; O SOL EXISTE PRA MIM... Além de tudo, ele foi ator, músico, pintor, diretor de cinema, escritor. As fotos em que ele surge ( belo com seu olhar de apaixonado e a cabeça raspada ) são soberbas, há nela a força da vitalidade jamais fake. Que bela época para se viver!
Assistir esse documentário dá uma enorme vontade de escrever, de desenhar, de amar mulheres loucas, de viver, viver revolucionariamente.
Tivemos uma muito minúscula prova do que significa um momento como esse. Foi no final dos anos 70, inicio dos 80. Um dique que represava forças libertárias foi rompido, a abertura politica de Figueiredo rompeu essa represa ( sem querer querendo ) e uma festa se instituiu. É a época do Gabeira de tanga na praia, do topless, do nú frontal; mas é também a época do Asdrubal, do rock brasileiro ( sim, eu sei que Ultraje e Titãs são um porre, mas suas letras não eram melhores que as do Restart, Cine e que tais? ). Um monte de coisa é liberada pela censura, peças/filmes e livros. As pessoas tentam viver vinte anos em um. Cazuza é um belo exemplo dessa era.
Uma pequena pitada de "desrepresamento". Imagine então o que foi o fim de mil anos de servidão. Isso foi Moscou em 1917. Jovens nas ruas criando o conceito do que conhecemos como jovem radical. Melhor, criando uma coisa que ainda não fora rotulada. Criando sem saber estar criando, vivendo sem tédio, sem rumo, sem censura e sem mercado. Não podia durar, mas caralho, aconteceu. MELHOR VIVER DEZ ANOS A MIL QUE CEM ANOS A DEZ.
Os rabugentos da covardia sempre podem dizer: mas deu em que? E os jovens irados devem responder: E voce? Deu onde?