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THE GOOD, THE BAD AND THE UGLY

Por volta de 1972, meu primo cantava o tema de Ennio Morricone enquanto brincava de cowboy. O assobio, e o vocal. Como pode um cara criar uma coisa tão esquisita? "aaaaaa....fiu fiu fiu....aaaaaaa....fiu fiu fiu..." Um moleque no Caxingui de 1972 cantava isso no meio do mato. E eu, com 9 anos, conhecia a canção. Canção? ------------- Nós perdemos a noção conforme o tempo passa. Mas podemos tentar imaginar. Como deve ter sido emocionante, em 1967, entrar numa sala escura, digamos na avendida São Luis, imensa sala, e ser invadido sensorialmente pela primeira audição do tema de Ennio Morricone. E também pelos letreiros do começo do filme. Desenhos de cowboys e sangue que se esparrama. E então o sol inclemente. Alguém já percebeu que o tema do filme é o sol? -------------- Primeiro um fato: Eu não sou fã deste filme. Nem de Sergio Leone. Acho seus filmes longos demais, me cansam. Uma edição faria bem a eles. Eu eliminaria do roteiro toda a história da prisão no acampamento militar. Uns 15 minutos que não fariam falta. Por outro lado eu reconheço sua genialidade. Ver este filme hoje é ver um filme que não envelheceu um só dia. Por isso, apesar de não ser um dos melhores westerns já feitos, é o mais amado pelo público em geral. Ele é contemporâneo. Pois no fundo, no âmago, não é um western. É um filme policial, um filme de samurai, uma comédia, mas não um western. -------------- Já comprei brigas em grupos de amantes de faroeste por isso. Para 90% deles, é este o melhor filme da história. E eu ouso o criticar. Não gosto da paisagem. É óbvio ser a Espanha. Os EUA não têm aquelas plantas, aquelas montanhas, e até a luz é outra. A comida tem batatas!!!! Cowboy não come batatas e muito menos usa prato de barro. As casas são de tijolo e há ainda uma cena entre monges católicos, além do que todos os coadjuvantes nos lembram que o filme é italiano. Se movem como gente de contos de Boccacio e não como americanos. As caras, imensas, são latinas. E na longa cena no deserto a gente percebe que esse deserto tem vegetação. Mas por outro lado.... ------------ Há uma sequência no filme que chega a causar espanto. Cada frame, ou take, é uma foto icônica. Todas viraram monumentos. Lá está o close em Clint. Os olhos. O charuto. A capa de lã. A cara suja de Elli Wallach. O sol. A cara ruim de Lee Van Cleef. Clnt com a capa puxada para trás. O chapéu. Cada segundo é um meme, um poster, uma foto de antologia do cinema. Não há como negar: é um dos filmes mais importantes da história. E nos últimos 60 anos, é o mais central. Mais que Bonnie e Clyde. Mais que 2001. Mais que Mash. Talvez apenas O Chefão de Coppolla tenha tanta centralidade. Nele vemos todo o cinema do futuro. ( Não por acaso é a Bíblia de Tarantino. Tudo o que ele fez está aqui. ) -------------- Leone, dizem, não queria Elli Wallach no filme. Pra quem não sabe, em 1967 ele era o mais famoso dos três. Grande ator de teatro. Grande no cinema. Ele tem uma das melhores atuações cômicas já vistas. Tuco é um palhaço. Tudo que faz dá errado. Sem ele o filme não teria vida. Lee Van Cleef é o ponto fraco do filme. E temos Clint Eastwood, o mito. O imortal. -------------- O filme é feito para amarmos Clint Eastwood. E a questão é: outro ator saberia tomar partido desse papel? Eis o grande mérito de Clint: ele recebe esse presente e sabe o usar. É uma personagem para dar ao ator condição de mito. Clint o toma para si. Sem ele, com um ator sem seu carisma, o filme seria outro. Seria vulgar. Seria vazio. Apenas Steve McQueen teria o dom para tal papel. Mas Steve em 1967 já era uma grande estrela. O que vemos aqui é a construção de uma grande estrela. E nisso o filme é exemplar. ---------------- Toshiro Mifune é o molde de Leone. Seus épicos são o esqueleto dos de Leone. O mesmo tamanho. O mesmo tipo de personagem. A força da música. Clint é um samurai. Por isso a capa. Por isso ele se move como se fosse usar uma espada. Leone intui, genialmente, que o filme de samurai do ocidente é o western. Ele acerta. Clint acerta. O futuro o prova. -------------------- É um grande filme icônico.

MEU PRIMEIRO DISCO

   Fazia um calor africano. As cigarras cantavam alto e o capim seco estava imóvel. Fui pra casa almoçar, era uma da tarde e eu tinha 7 anos de idade. Em casa havia um certo rebuliço. Meu tio João tinha acabado de sair e deixara para nós uma coisa chamada LP. Na minha cabeça cheia de pipas e de lagoas, eu imaginei um violão. Estranho isso, mas foi o que pensei, e assim fiquei decepcionado quando vi que era um disco. Enquanto minha mãe terminava o almoço eu e meu irmão ficamos na sala ouvindo o tal disco. E isso se repetiria por semanas e semanas. Minha mãe descobrira que uma forma ótima de fazer com que eu e meu irmão sossegássemos era deixar o LP rolar.
  Gosto de pensar e falar que minha mente musical foi impregnada na infância com canções como Help, Lady Jane, These Boots Are Made for Walking, A Whiter Shade of Pale, I'm a Believer e To Sir With Love. Mas devo dizer que meu primeiro disco, totalmente decorado aos 7 anos, foi Em Ritmo de Aventura. Eu cantava as letras junto com o disco. Aprendi, mesmo às vezes não entendendo direito do que ele falava. A guitarra arranhada, a flauta doce, o órgão agudo, e principalmente o excelente contrabaixo rítmico se enfurnaram na minha cabeça. " O Cara que Tinha a Minha Cara" era minha favorita. 'Quando voce se separou de Mim" é a melhor. E ao escutar ele outra vez, hoje, mais de 40 anos depois, posso destacar sua ingênua beleza. E sua breguice encantadora.
  O disco foi feito para um país que ainda guardava nas botas a terra do mundo rural. A cidade era uma novidade, como era o carro, a TV, o rock e a língua inglesa. Era o fim do mundo do rádio, do francês e da lotação. As letras nesse contexto, são "singelas". Encanta hoje o modo galante, delicado como a mulher é tratada nas letras. Ela é uma princesa, ele é um príncipe. As rimas são pobres, os temas são todos sobre o amor, o cantor sofre muito, a menina é indiferente, ele espera, ela partiu. Mas isso tudo é dito com delicadeza, uma chuva de suavidade fofa, um zero de cinismo. Ele acredita no amor, realmente acredita. Mais que tudo: ele crê NELA.
  A mulher comanda o sentimento. O homem obedece.
  Musicalmente há muito daquilo que nos anos 70 viraria "o Brega". Amado Batista, Waldick Soriano, Altemar Dutra, todos usaram a guitarra rítmica e o órgão agudo que abunda aqui. Mas neste disco, de 1967, há algo que no brega não há, um contrabaixo dançante e arranjos de metais e de cordas que são econômicos, exatos, pensados. Sim, é um disco brega como brega é Tom Jones ou Neil Diamond; a realeza do brega, aquilo que o brega tenta ser e nunca pode ser por ser mera diluição. E digamos a verdade, não há uma frase neste disco que eu não tenha vivido com paixão. Nossas emoções quando purificadas são todas bregas. Amo e não sou amado. Quero e não posso ter.
  "Olha" é filha direta de As Tears Goes By dos Stones. Lá está o cravo, os violinos, a doçura de inverno e o nobre servindo sua dama. É ainda linda. Assim como linda é a pulsação de "Quando voce se Separou de Mim". O disco se ouve com prazer. Absurdo pensar nos top 10 discos do Brasil e não colocar um RC.
  E tem a voz. RC jogou fora seu dom quando quis ser Julio Iglesias. Ou ousou pensar ser o Sinatra do Brasil. Grande orquestra, grandes canções, era isso que ele queria. Não deu certo. Em 1967 sua voz convence, ela é clara, sincera, perfeita, exata. O controle é absoluto. Ele nunca exagera, nunca fica frio, nunca explode. É a voz do amor "made in Brasil", um pouco acanhado, muito adocicado, cheio de promessas, encantador. E cristalino.
  É um bonito disco.

BRINQUEDOS

   Algumas pessoas, intelectualizadas, gostam de dizer que brinquedos são ferramentas que nos fazem na infância aprender a lidar com a realidade. Eu prefiro pensar que brinquedos são atores que usamos para aprender a amar. Eles são meios que despertam nossa estética, são focos de nossa atenção, concentração e imaginação. Amamos sua cor, seu peso, sua sinuosidade. Viajamos em suas possibilidades e agarramos sua realidade. Na minha vida poucos amores foram tão fortes como os que senti por meus brinquedos. Abrir o pacote em que eles vinham embalados nada ficava a dever ao ato de despir uma mulher.
  Um elmo de cavaleiro medieval, branco, com uma cruz vermelha. O escudo e a espada acompanhavam, nas mesmas cores. Uma cidade toda feita em madeira, cidade do faroeste, as portas de vaivém do saloon, a casa do sheriff. Ainda sinto o cheiro da madeira.
  Uma locomotiva movida a pilha, que corria e fazia barulho de trem, piscava luzes coloridas.
  Um Fusca vermelho, de bombeiro, que batia nas paredes e voltava, escandaloso.
  Um enorme cachorro marrom de pelúcia, tão grande que eu me sentava nele, como se fosse um cavalo. Desse eu ainda sinto sua presença. Eu olhava sua cabeça, esperando ver sua piscada.
  A noite em que ganhei um Fusca vermelho, dessa vez um desses carrinhos em que se pode montar e andar com pedais. Ele tinha buzina, faróis que acendiam, volante. O plástico duro, frio. Eu olhava apaixonado a luz amarela dos faróis.
  Minha bicicleta, vermelha também, uma Berlineta Caloi, onde aprendi rapidamente a correr sem o apoio das rodinhas de segurança.
   Meus bonecos, pelos quais me apaixonei completamente, um elefante de borracha com chapéu de circo, meu Cebolinha, um cachorro cor de vinho com grandes orelhas caídas, um gato azul, dengoso, com eles eu montava histórias sobre a manhã.
   Tive um Autorama que logo queimou, tive um Forte Apache, uma Corrida Mágica.
   No fim da infância vieram os carrinhos Matchbox, o primeiro um carro de corrida laranja que eu não cansava de olhar.
   Fiz casas com blocos de madeira, o cheiro que eu sempre adorava, construí coisas inúteis com os Pinos Mágicos, pequenos blocos de plástico barato, mal feitos, que me deixavam doido de ansiedade.
   Atirei com pistolas que soltavam flechas com ventosas. Botei fogo em carrinhos de lata. Voei com aviões da segunda-guerra. Colei álbuns de figurinha com cola feita em casa, grossa e com cheiro tão bom que eu queria comer.
  Nos meus cenários, o porão, o quarto, o quintal, o campo aberto e sem muros, brinquei amando e amei brincando. Um exército completo com meus soldados americanos, até bazuca havia. Os tanques dispostos no chão de tacos de madeira, meus joelhos esfolados. Deus meu! Eu não parava de brincar! Com as revistas de minha mãe, com cabos de vassoura, com pedras no chão, na cama, na escola, sozinho ou com meu irmão.
  E depois na faculdade, fazendo peças de brinquedo, gravando videos à toa, inventando coisas pra amar.
  Talvez aqui exista uma bela frase: o amor, a gente inventa pra brincar...

UMA HISTÓRIA DA MINHA VIDA

   Minha relação com a igreja começa já estranha desde cedo. Meus pais não eram casados no religioso e portanto achavam que entrar numa igreja, "solteiros", seria uma afronta à religião. Mas me faziam ir à igreja, aos domingos, com minha tia e meus primos. O que lembro dessa época é o calor, a igreja lotada, pernas de homens de pé, paletós e mulheres com véu. A igreja era a de Santo Antônio, no Caxingui, e a família toda sempre estava lá. Menos meus pais. O Caxingui era um bairro de casas grandes e chácaras, havia um sentimento de pioneirismo. Comunidade. Na calçada, na saída do culto, uma pequena multidão dava abraços e beijos e partia para o almoço do domingo.
  Eu não entendia absolutamente nada.
  Meu quarto era um horror. Quase uma cela da inquisição. Minha mãe o enchera de santos nas paredes. Havia um Cristo com o peito aberto, o coração vermelho exposto, sorrindo; havia uma Nossa Senhora em um altar de gesso, uma lâmpada vermelha acesa noite e dia iluminando sua figura azul. Eu sentia medo. Um medo inconfessável. A luz vermelha me apavorava.
  Fiz a primeira comunhão, fiz a crisma. Gostava do cheiro da Bíblia nova. Gostei de ser o leitor do versículo lá no altar. Mais nada. Um incômodo me cutucava. Eu não conseguia amar à Deus. Mal pensava nessas questões.
  Descobri a morte aos 12 anos, tive minha crise de finitude aos 16, e meu consolo não havia. Por mais que minha mãe falasse de Deus, eu sabia que Deus era somente um consolo para os fracos. E eu era forte. Havia lido Nietzsche. Era socialista. Sabia que a vida era um nada. Lera Sartre.
  Entrei em contato com Freud, e assim sabia o que nós éramos: apenas um ser que deseja. Me acostumei com esse modo de viver. Sentia superioridade perante os bobos. Eu era racional.
  Mas... eu queria crer em amor. Não para crer em Deus, não para vencer a morte, mas para ser feliz. Queria crer que o amor não era apenas vontade de procriar. Tinha de ser mais que isso.
  ...
  O tempo passa então. Décadas. E me encontro numa certa idade. Impossível precisar. E nada tenho para contar. O que devo dizer é que passei para o outro lado. E fazendo isso não me sinto mais feliz, e continuo temendo a morte como sempre temi. O que mudou em mim então que me faz ver a vida sob outro ponto de vista...
 Não tive  nenhuma experiência de quase morte. Não tenho nenhum amigo, namorada, parente, professor ou guru que me falem de religião. De concreto houve a morte de meu pai, brigado comigo. Mas antes de sua morte, oito anos atrás, eu já vinha num caminho que, lento e constante, só tem se tornado cada vez mais claro.
  Eu questiono. Eu me sinto fora de lugar. E ao mesmo tempo sinto fazer parte de algo. Mas jamais fui tão só. Sozinho e sendo parte.
  Continuo longe de Deus. Não sinto amor. Mas ao mesmo tempo sinto um profundo compromisso com a vida, com este mundo, com a continuidade. E sinto, profundamente, o quanto toda verdade não mora na razão.
  Caminho. Apenas isso, caminho uma estrada que não escolhi, vivo uma vida que não construí e sinto uma vontade da qual não dependo para ser. Vejo a vida como um dom. Tento a namorar.

EVERY PICTURE TELLS A "CAXINGUI"STORY ( DARLING )

   Uma prima me conta que tem em casa 4 fotos minhas. De quando eu tinha 3 e 4 anos de idade. O mais importante, essas fotos são as únicas existentes onde estou no meio da "minha paisagem", meu bairro, o Caxingui mitológico e idílico de mais de quarenta anos atrás. Surpresa! Pego as fotos e tenho um tipo de pancada-trans-abismal na cabeça: Deus! Era tudo verdade!
   Lá está o imenso campo sem fim, sem uma árvore, um campo plano, verde e alto, um tipo de platô de onde se podia ver a avenida Paulista lá longe e a névoa vinha envolver tudo em cores esmaecidas. A foto mostra a linha da Paulista ao longe e uma paisagem sem fim. Então é verdade, esse é o ambiente que me formou. Espaço, espaço sem fim. Solto, livre, um céu que nunca acaba, nuvens, aviões que parecem passar tão baixo, mato, cobras, vento. E na foto, pequeno eu ( sim, este é um texto masturbatório ), uso, aos 3 anos, uma maravilhosa camiseta de listras horizontais!!!!
  A gente é isso.

PORQUE A MEMÓRIA?

   Um dos grandes mistérios da vida: Porque certas coisas se fixam em nossa memória, para sempre, e outras desaparecem? Não falo das "grandes coisas", tipo um pé na bunda ou uma cirurgia. Falo de pedaços de imagens, momentos que parecem tão banais, mas que sobrevivem, exatos, próximos, enigmáticos, por todos os seus dias. Porque?
   Olho uma imagem na tv. E ainda estou numa idade em que aquilo que vejo na tv é tão real como o que observo pela janela. Um homem numa floresta, cercado de fadas, olha sua imagem refletida num lago e percebe que não é mais um homem, é agora um animal. Fascinado pelas imagens em preto e branco, guardo esse momento por toda a minha vida, com a força de algo recente. Tenho dúvidas se isso foi um sonho ou um filme na tv. Até que em 2008 compro o dvd de SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO, a versão da Warner de 1932, e descubro que essa era a imagem, que o homem era James Cagney e que aquilo era um filme na tv que passou de noite, num especial de Natal. E o fato de um filme clássico, de 1932,  ter passado na tv como especial, demonstra o quanto essa minha lembrança é antiga. Foi em 1966? 67? Eu tinha então três ou seriam quatro anos?
   Muito mais importante: Porque essa cena me impressionou tanto e não alguma cena de meus programas favoritos de então ( segundo meus pais ), que eram Bat Masterson e Circo do Arrelia? As fadas e a floresta, o lago e a transformação, a tristeza profunda e melancólica que James Cagney demonstrou ao se ver como bicho, porque isso me pegou tanto?
   No quintal de casa uma menina passa rodo no chão. Faz sol e venta muito e ela trabalha descalça. Usa um vestido leve e uma tachinha que não sei porque estava por lá, entra na sola de seu pé. Sem sentir dor, ela sorri e tira a tachinha do pé.
   Eu desço a rua dos Três Irmãos e olho as luzes, fracas, dos postes que se acendem lentamente.
   Uma manhã em que encosto meu rosto contra o vidro da janela de um táxi na avenida Angélica.
   Cheiro de chocolate no Itaim, andando na rua da Kopenhaguen.
   O sol entrando pela janela da sala de manhã.
   ...Todos esses são momentos comuns, preservados pela minha memória. Flashs sem enredo, sem antes e sem depois. São como planetas que orbitam ao meu redor, eternos e impassíveis, idestrutiveis. Porque esses planetas e não tantos outros?
   Talvez a chave esteja exatamente no fato de serem momentos sem enredo. Esses momentos não são prosa, não podem ser narrados, eles são poesia. O que os preserva e os faz vivos é uma qualidade de luz que eles possuem. São imagens, quadros que exibem a eternidade de um momento. Descobertas de mistérios. Nesses momentos eu vislumbrei o mistério da melancolia, da mulher, da noite, do cheiro. E todos eles, e tantos mais, são banhados por uma luz diferente, uma sombra, ou um brilho intenso. Segundos que duram para sempre e que me avisaram aquilo que eu era e não sabia ser.
   Tantos outros...Num Jeep em meio a chuva...Um graveto no mato que fura minha pele...O ruido da chuva nas calhas de lata que fazem eco...A roupa voando no varal ao sol....
   Fellini usava muito essas imagens em seus filmes. Imagens da infância em Rimini, imagens de sonho-verdade, flashs da memória, descobertas... E eu sei disso: Nossa mente ansia por poesia, por momentos de revelação. Amamos para isso, para viver esse momento, ter revelações, ter segundos de criação de planetas. É pra isso que amamos, lemos e viajamos. O resto nada vale.