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DAISY MILLER. QUANDO PETER E CYBILL ERAM FELIZES

Nos extras deste dvd, o diretor, Peter Bogdanovich diz que em 1974, época de lançamento do filme, Cary Grant lhe disse para parar de falar em entrevistas que ele era feliz. Lhe disse Cary que as pessoas odeiam quem é feliz e pior ainda, odeiam a beleza. Peter Bogdanovich havia largado sua esposa para se casar com CybilL Shepherd. Ou seja, era um casal belo, rico e feliz. Que alardeava isso para todos. Cary Grant percebeu que um só erro de Peter e de Cybil iria destruir sua carreira. O erro foi DAISY MILLER. Filme feito por ele para ela. --------------- Na geração que estourou no começo dos anos 70, creia, Peter Bogdanovich era até 1974 o mais bem sucedido. Coppolla havia feito os dois Chefões, mas A Conversação seria um flop nas bilheterias e sua fama de egocêntrico intratável já se firmara. Scorsese só se tornaria importante com Taxi Driver, em 1976. De Palma era marginal, condição que ele manteve por quase toda sua carreira. Friedkin era sucesso imenso, mas já estava perdido em cocaína. Hal Ashby nunca foi um nome grande. Bogdanovich era o único que permanecia invicto: grandes filmes e grandes bilheterias. Além do que, era careta e amado pelos diretores veteranos. Mas veio o divórcio e Cybil. DAISY MILLER foi feito para provar que ela era uma grande atriz. Foi massacrado pelos críticos e passou em branco nos cinemas. Peter começou a afundar. Apesar de ter filmes maravilhosos feitos após Daisy Miller, ele, como aconteceu com Friedkin, nunca mais se tornou um diretor classe A. Inclusive em 1979 e 1980 ele fez duas obras primas perfeitas e divertidas. Mas que nem sequer passaram nos cinemas do Brasil. Quando a indústria marca alguém, essa pessoa fica estigmatizada forever. ------------------------ O livro de Henry James é soberbo. Foi Daisy Miller que me fez apaixonar por James, paixão que se mantém inalterada. O romance fala de uma americana muito rica que passa férias na Europa. Lá, ela irá viver o choque de culturas. Os europeus não aceitam o modo americano de ser, e ela não percebe a malícia da Europa. Daisy é sincera. Ingênua. Livre. Os europeus têm códigos de conduta. São cínicos. Fofocam. Henry James era um americano que viveu quase toda vida em Londres. Esse era seu tema. O conflito entre o modo americano de viver e o velho modo europeu. Nos seus livros ele anuncia a grande mudança psicológica do século XX. O modo americano se faria dominante. Ser "livre e sincero" seria o valor supremo. Pregar o que "fica bem" seria abolido. Claro que James, gênio que era, percebeu que ser livre e sincero seria o novo "ficar bem". Tudo que parece novo e ousado logo se transforma em convenção. E o filme? Como é? ----------------------- Nos extras Bogdanovich diz que se tivesse sido feito após 1985, Daisy Miller teria sido um sucesso. Adaptar Henry James em 1974 era um ato de ousadia. A partir de 1985, adaptar James ( e Austen, Forster, Wilde ) se tornou moda. Não havia público para Daisy Miller em 1974. ------------------- O filme é bom, é bonito, é invulgar. Visto hoje eu não entendo o porque de seu fracasso. Cybli não está nada ruim. Sua Daisy é uma americana adorável. Ela fala sem parar, fala tudo que pensa, age, é impulsiva. O olhar que ela dá em sua última cena, quando olha para trás, é coisa de grande atriz. Peter Bogdanovich teve a inteligência de não tentar abarcar todo o livro. Ele transforma a densidade de James em cinema popular. Na primeira metade ele é quase uma comédia esquisita e depois se torna um drama cruel. O americano que vive a muito tempo na Europa, Barry Brown, perde Daisy Miller porque crê ser ela uma grande mentirosa. Daisy diz sempre a verdade, mas europeus não podem crer que alguém fale tantas verdades. Quando ele a perde percebe que ela dizia a verdade. E vem sua bela frase final: "Talvez eu tenha morado tempo demais na Europa". Esse é Henry James falando. ------------------- Comentando o filme em 2014, Peter Bogdanovich ainda chora ao se recordar da cena final. Eu não chorei. Mas é um fim de pungente tragicidade discreta. Henry James foi o maior escritor a tratar da incomunicabilidade entre seres que ansiam pela comunicação. O filme é digno dele.

PARAÍSO INFERNAL ( ONLY ANGELS HAVE WINGS ), O MUNDO DE HOWARD HAWKS

   Em dois minutos de filme estamos dentro do mundo de Howard Hawks: vemos um país fictício, uma praia que existe só em Hollywood, gente que não se parece com gente de lugar nenhum e um navio que chega ao porto, um navio que traz mais gente de ficção ao país da imaginação. Esse é o mundo do Howard Hawks maduro, aquele dos últimos vinte anos de vida. Este filme, de 1939, foi feito muito antes dessa fase em sua carreira, mas ele já anuncia o que seria o mais constante Hawks style.
  Uma americana desce do navio. Jean Arthur. E ela faz a típica mulher Hawksiana: Tem um passado meio marginal. É forte e independente. Fala o que pensa. E está sempre alegre, apesar da sombra que lhe faz companhia. Essa mulher conhece um grupo de homens. Neste filme, um grupo de aviadores. Eles arriscam a vida entregando cartas numa rota perigosa. É o mundo do melhor livro de Saint Exupéry, Correio Sul. Temos então mais outra marca de Hawks: o grupo de amigos que enfrenta o perigo estoicamente. E por ser um filme típico desse diretor, o filme não terá um alvo. Ele meio que se espalha em pequenos acontecimentos do dia a dia. Um dia a dia excepcional, mas é cotidiano para aqueles homens. Mundo masculino, porém sacudido por uma mulher tão forte quanto eles. Dentro desse mundo há um veterano em decadência física, Thomas Mitchel, um piloto acusado de covardia que deverá se redimir, Richard Barthelmess ( soberbo ), a esposa sexy desse piloto, Rita Hayworth ( nunca mais tão bonita ), e o chefe do grupo, o mais estoico e mais amargo entre eles, Cary Grant ( num papel pouco Cary Grant, e atuando de uma forma contida que convence e muito ).
  Se eu contar o que acontece no filme irei falar várias coisas. Mas nenhuma delas poderei chamar de o centro do filme. Howard Hawks não faz filmes com um centro. Rio Lobo, Rio Bravo, Red River, Hatari!, todos são filmes sem um centro, sem um enredo central. Todos são sobre grupos de homens. Todos são tratados sublimes sobre a amizade e a lealdade. John Ford, o diretor que mais invejava e admirava Hawks, tem sempre O Tema. Rastros de Ódio é sobre um cowboy indo resgatar uma menina. E assim são todos os seus filmes. Por isso Tarantino lembra tanto Hawks em modo de pensar um roteiro: ele também não tem um tema definido. São temas. Ou, para quem não gosta, é um monte de papo furado.
  Fala-se muito nos filmes de Hawks. Ele ama o diálogo. E essas falas não carregam mensagem alguma. É conversa. Apenas conversa. O sentido não está no que se fala. Ele está em como se fala e com quem se fala. O sentido é o ato de falar, não a palavra. Por isso eu amo tanto seus filmes. Ele não explicita nada, mas também não esconde. Seus filmes são o que vemos e só o que vemos. E que prazer eu sinto em os ver!
  A maior beleza é poder ver aquelas pessoas existirem. Alguém disse que em Hatari! sentimos amor por um café da manhã. A melhor cena do filme é ver John Wayne e seus amigos tomando café todas as manhãs. Concordo plenamente. Somos convidados àquele grupo. E nos sentimos bem dentro dele.
  Eu seria desonesto se falasse que Hawks nos ensina a ter coragem, a ser viril, a ter estoicismo. Isso é para Ford ou Huston. Hawks não quer ensinar, ele quer deixar um testemunho. Esses aviadores nos apaixonam. Antes o apaixonaram.
  Durante o filme, foi a segunda vez que o vi, a cópia é perfeita, cheguei a pensar: Que coisa! Este talvez seja agora meu filme favorito! Nenhum filme de Hawks será o favorito de ninguém. Isso porque eles não são SENSACIONAIS.  Mas vários filmes dele estarão entre os mais queridos. Pois eles são um remédio. Nos fazem bem.
  Eu realmente amo esse diretor.

VAMOS FALAR DE ERROL FLYNN

   20 de junho é aniversário de Errol Flynn e eu vou falar um pouco desse ator.
   Ele foi o maior nos anos 30, e hoje está bem mais esquecido que Cary Grant ou Bogey. Não vou dizer que ele foi maior que qualquer um dos dois, James Stewart, Gary Cooper e Clark Gable são mitos maiores. Merecidamente. Mas mesmo Cary Grant, dono de uma vida fascinante, não tem uma biografia mais rica que a dele. Tristemente eu constato que a campanha feita contra Flynn nos anos de guerra surtiram efeito. Até hoje.
   Errol Flynn nasceu na Tasmânia. Cresceu se exercitando. E tudo indica que se tornou ator apenas por acidente. Fez um filme na Austrália, gostou da coisa, e foi para Hollywood pra ver o que acontecia. Rapidamente foi contratado pela Warner e sem sequer fazer uma ponta, estreia como big star em Capitão Blood. Só Audrey Hepburn teve um começo tão por cima. De repente Flynn era maior que James Cagney.
   Durante oito anos ele foi um dos cinco grandes do cinema. Grant, Cooper, Gable, Stewart e Cagney.  Mas, ao contrário dos outros, que esticaram sua fama pela década de 40 e até 50, Flynn teve uma súbita e fulminante queda a partir de 1944-1945. Humphrey Bogart toma seu lugar entre os cinco grandes, e essa mudança faz todo o sentido.
   Muita gente já disse que os anos da segunda guerra mudaram o cinema americano muito mais do que se fala. Diretores e atores serviram no front, e ninguém vai à guerra e volta o mesmo. George Stevens, Frank Capra, Howard Hawks, Leo McCarey nunca mais fazem o tipo de filme que faziam nos anos 30. E os atores mudam também. Humphrey Bogart é a cara dos novos tempos: feio, seco, frio, duro, feito de aço. Subitamente, James Stewart e Clark Gable parecem saltar anos e se transformam em adultos perdidos. Gary Cooper deixa de fazer comédias e aventuras, se estabiliza como o americano calado. James Cagney se afasta do cinema por anos. Cary Grant envelhece e se torna um tipo de tio boa vida. Todos parecem menos juvenis, mais comprometidos com algum tipo de realidade, não há mais espaço para o glamour e o escapismo surreal dos anos 30. Errol Flynn não muda. Mesmo nos filmes de guerra, e ele fez um dos melhores, Objetivo Burma!, ele permanece o cara dos anos 30. Suave. Nada agressivo. Bons modos. Urbano. O olhar é de quem quer ser amigo, a voz, inconfundível, é polida, educada, em tom baixo, sempre a beira do sorriso. Percebo agora que não há ator mais oposto a Bogart que ele. Bogey era chumbo, Flynn era uma brisa, Bogey era pouco ou nada atlético, Flynn era um modelo de nadador, Bogey falava como quem cospe, Flynn falava sorrindo. Bogey era anos 40. Flynn, assim como William Powell e John Barrymore, anos 30.
   Mas a queda foi grande demais e não apenas uma mudança no gosto explica isso. A vida pessoal de Errol Flynn o sabotou. Ele bebia, ele fazia muito, muito sexo, e ele se achava imortal. Brigou com a principal colunista de Hollywood, ela começou uma campanha de difamação, ele não se ajudou, e em dois anos ele já era passado. De superstar passou a Quem?
   Flynn se casou um monte de vezes e nenhum durou muito. Seu último casamento foi com uma fã e jovem estrela ( menor de idade, o que não o ajudou nada ). Foi nos braços dela que ele morreu do coração, em 1958, ainda com menos de 50 anos, mas parecendo ter mais. Ironicamente, no fim da vida ele se tornara um ótimo ator. Como coadjuvante ele brilha em O Sol Também se Levanta, roubando o filme de Ava Gardner e Tyrone Power, e fez ainda um filme com John Huston, Raízes do Céu, onde ele é a melhor coisa. Mas a bebida não lhe deu uma chance. Sua turma nos áureos tempos tinha a nata dos bêbados de Hollywood, seu modelo era John Barrymore.
  ( Há uma história de que Barrymore quando morreu teve o corpo roubado por Flynn. Ele levou o corpo à casa de David Niven. Colocou o corpo à lareira com um copo na mão. Niven ficou horas conversando com Flynn e Barrymore até notar que ele estava morto ).
  Andei vendo alguns filmes de Errol nestes dias. Robin Hood. Westerns. Burma. É impressionante como ele é soft. Mesmo em seus filmes de pirata, ele nunca parece bruto ou agressivo. Ele vence por lutar bem, não por ser forte. É leal. É um desportista. Nos westerns, ele fez vários, ele nunca vence por atirar bem. Ele vence por falar bem. É um cowboy educado. Gentil. E que usa artimanhas. Eis uma boa palavra: Flynn é manhoso. E vence com prazer. É a definição do savoir faire e do joie de vivre.
  Não houve e não há ator que tenha conseguido seguir sua estrada. Todos que tentaram não vingaram. Stewart Granger foi o que chegou mais longe. Johnny Depp tentou a vida toda. E errou miseravelmente. A mistura de suavidade com humor, educação com charme, heroísmo leal, bem...se já parecia estranha em 1948, imagina em 2020.
  Sempre que voce vir em um filme algum herói sorrir enquanto briga, fugir da violência se possível, emitir palavras como se fossem miados, e erguer as sobrancelhas ao ver toda e qualquer mulher, isso é o Flynn Style. Ele não se impõe, ele rodopia. Ele não ameaça ninguém, ele tece teias.
  Seria fantástico ver um filme onde Flynn e Cary Grant estivessem juntos. Isso nunca aconteceu. Talvez porque seria um filme tão leve que se desmancharia em luz.

TENHO ESCRITO SOBRE FILMES QUE VI ANTES DA EXISTÊNCIA DESTE BLOG, MEUS PRIMEIROS DVDS PORTANTO. MAIS UM? THE AWFUL THRUTH, LEO McCAREY

   Primeira cena: Cary Grant em um clube usa uma lâmpada de bronzeamento. Ele mentiu para a esposa. Disse que ia à Miami e ficou na cidade. Não saberemos o que ele fez.
  Cena seguinte: Ele chega em casa. Amigos estão à sua espera. Cadê sua esposa? Ela também sumiu. Ele inventa uma desculpa para não ficar mal com os amigos. Diz que ela está com a mãe. Mas eis que chega a mãe. E em seguida chega a esposa, Irene Dunne. Ela vem sorridente. O professor de canto a trouxe de carro. Os dois passaram o fim de semana numa pousada. O carro dele havia quebrado.
  Próxima cena: o divórcio. Quem vai ficar com a guarda de Mr. Smith, o cão do casal?
 Daí para a frente é puro prazer. Entra em cena Ralph Bellamy, fazendo um rico herdeiro de Oklahoma, caipira que se enamora dela. Grant, ainda querendo salvar o casamento, visita Mr.Smith, cruza com a esposa num night club, aparece sempre onde ela está, como quem não quer nada. Já ela, óbvio também, usa o caipira como peça de ciúmes, finge estar nem aí, se faz de tonta. Sim, voce já viu esse argumento milhares de vezes. Mas voce também já viu a saga de mafiosos ou a crise do homem moderno milhares de vezes. E daí? O que importa é como o tema é desenvolvido e não qual o tema. E aqui, Leo McCarey, diretor vindo dos curtas de Laurel and Hardy, e que seria um dos nomes mais fortes dos anos 30 e 40, conduz tudo com tanta leveza e gosto que somos pegos de surpresa. Voce pensa que será um filme frenético e maluco, mas não, ele é calmo e suave.
  Acumulam-se ótimas cenas, e a do night club é a melhor. Filmes como este não nos fazem mais rir, mas nos deixam alegres. Nessa cena porém me peguei rindo, o que não esperava.
  Os grandes filmes de humor dos anos 30 e 40 não têm mais o dever de nos fazer gargalhar. O humor, assim como o horror, envelhece e perde a força explosiva. Se tiver sido em seu tempo uma grande fonte de emoção, ele corre o risco de visto hoje ser apenas uma decepção.
  Entretanto, quando o filme é acima da média, ele sobrevive. Não nos faz mais rir, mas nos deixa num belo estado de alegria, um leve sorriso nos lábios, uma sensação de prazer indefinido. Isso ocorre aqui. Os risos não vêm, como deveriam vir em 1937, mas o otimismo se faz sentir. Estamos dentro de hora e meia de humor, de bom humor, não de risadas. Cary Grant deixou de parecer ser um humorista desde os anos 50, em lugar disso ele hoje parece um mestre de bom humor. Ele não nos faz mais rir, mas em troca nos dá um bem maior: aprender a encarar a vida de um modo leve. Isso é sublime, daí meu encanto por esse ator.
  De Irene Dunne posso dizer que ela está à altura de Grant. Acho que ela o completa melhor de Hepburn. Kate sempre é pesada, ela tem um acento de seriedade que nunca some completamente. Irene não. Ela é jovial. Sempre jovial.
  Imenso sucesso de bilheteria, o filme se mantém plenamente satisfatório, fato que não acontece com o filme que comentei acima.

O TESOURO DE SIERRA MADRE E A ARTE COMO SIMBOLO DE VIRILIDADE

   Nunca mais teremos alguém como John Huston. Ou Humphrey Bogart. Eles, assim como Heminguay e John Ford, são homens fora de moda. Figuras patriarcais. Interessante observar que Cary Grant é um modelo perfeitamente condizente com os tempos de hoje. George Clooney sabia disso e seguiu o modelo até onde pode. Spencer Tracy cabe em 2020. Mas John Wayne jamais. Scott Fitzgerald é admirado como homem sensível. Henry James como personalidade complexa. Mas Mark Twain não.
  Roger Scrutton defendia a caça à raposa, esporte que eu considero absurdo. E temos um presidente que defende armas como garantia de liberdade civil. Eu vivi nos anos 70, época em que se comprava um 38 na Mesbla. A liberdade não era maior por causa disso. Mas... há sempre um "mas" não é?
  Scrutton estava longe de ser um idiota e ele sabia que tudo era uma questão de símbolo. O simples fato de se ter a liberdade de caçar ou de se ter uma arma, de forma aberta e clara, é uma afirmação de poder, e portanto, de liberdade individual. Toda a constituição americana se baseia nisso. E se nas democracias inglesa e japonesa não há essa garantia, isso se deve ao fato de que lá nem polícia e nem bandidos possuem armas. A igualdade é plena. Uma das características do artista viril, o tipo que hoje é impossível, é o fato de ele ter sempre uma arma por perto. Cary Grant muito raramente usa uma arma. Muito menos posa com uma.
  Uma das várias armadilhas em que a esquerda se colocou é a questão das armas. Ao se feminilizar, eles chutaram as armas para longe. E esqueceram assim, pasmem, que homens como Heminguay e Huston foram de esquerda. E que tanto Fidel como Che Guevara, Mao e Stalin, estavam sempre armados. Não se faz revolução sem armas. O que se faz é perfumaria.
  Eu sou muito mais Cary Grant que John Huston. E não é surpresa nenhuma o fato de nenhum dos dois jamais ter cogitado em trabalhar juntos. Mas eu adoraria ser John Huston. E fosse eu um diretor de cinema, amaria ter tido a capacidade de fazer um filme como O Tesouro de Sierra Madre. Ele tem toda a virilidade que Clint Eastwood procurou por toda a vida. E é seco, duro, direto como Tarantino jamais conseguiu ser.
  Três fracassados, no México dos anos 1920, partem para a busca de ouro. Nada mais que isso. Nada de romance. Nada de diálogos bacaninhas. Nada de filosofia barata. É sobreviver. Sair da merda. Como voce reage? Com o fígado. Entra na coisa em dois minutos de filme. Huston te fisga. E pronto.
  Bogart tem a maior atuação de sua vida. Faz de um tipo banal um ser humano completo. Walter Huston cativa como o velho minerador. É uma performance icônica. A gente sente que o filme foi feito entre goles de tequila e baforadas de charutos. Ele transpira virilidade. É arte. Do mais alto nível. Mas infelizmente é um filme inviável hoje. Duvido que muita gente ainda o assista. De Huston andam vendo muito mais os filmes problema: aqueles sobre Lautrec, Freud e o que tem Marlon Brando.
  O cinema viril de hoje é sempre uma caricatura. Não exibe homens patriarcais, são na verdade adolescentes brincando de bandido. São filmes às vezes deliciosos, como os primeiros de Guy Ritchie ou os melhores de Tarantino. Mas são fantasias de adolescente. São homens como garotos imaginam que homens são. Não são pais. São filhos.
  Sem as figuras guias, os modelos de masculinidade, nossa sociedade se torna cada vez mais aquilo que ela já é agora: um mundo de filhos sem rumo. Filhos de 20, 40, 60 anos de idade. As mulheres, obrigadas a fazer papel duplo, provedora e mãe, arcam com uma responsabilidade desumana. E enlouquecem. Homens que fogem da vida e mulheres que brigam com a hiper realidade da natureza. Nunca os dois estiveram tão distantes.
  Fui longe não é? Divaguei. E provavelmente falei muita asneira. Coisa de homem falar asneira. Mas eu digo que às vezes falta na vida um John Huston que grite com a gente. E fale: Garoto! Se joga nesse lago gelado e cura essa gripe na marra! Deixa de frescura e vai logo se alistar na porra dessa guerra. A guerra é a pior merda do mundo, mas voce não pode se omitir. Garoto! Vai até essa menina e fala logo o que voce quer. Se ela não quiser azar o dela e bola pra frente. E por favor, come esse bife e deixa de pensar na morte da bezerra! Shit!

O HOMEM QUE EU QUERIA SER. CARY GRANT, MEU ATOR FAVORITO.

   Em 1986, quando Cary Grant morreu, aos 82 anos, Billy Wilder, sempre um mestre quando se trata de escrever a frase perfeita, mandou uma carta à viúva. A frase, simples, dizia: " E agora quem irá nos guiar? ". Vou contar aqui a vida de Archibald Alexander Leach, nascido em Bristol, filho de um alfaiate pobre. Mas antes um pequeno adendo.
  O primeiro ator em minha vida, aquele que lembro de querer ver tudo o que ele havia feito, foi Peter O'Toole. Isso quando eu tinha já 25 anos de idade. Antes eu admirava Peter Sellers, Vittorio Gassman, Kirk Douglas ,Erroll Flynn,   mas nenhum deles eu chamava de ídolo. O primeiro foi o irlandês O'Toole. Aos 25 eu queria ser ele. Achava ele o máximo de elegância e com verniz de artista. Cary Grant era para mim apenas um ator de filmes da Sessão da Tarde ( uns três de seus últimos filmes passavam nesse horário ). Aos 35 eu cultuava Clint Eastwood. Sua virilidade fria me atingia em cheio. Eu desejava possuir sua impassividade cool. Após os 40 me dividi entre Steve McQueen, um Eastwood mais cult, e Humphrey Bogart, o homão da porra. Mas com os dois há um problema: McQueen fez poucos filmes, seu estrelato durou apenas dez anos, e Bogey é feio, muito feio. Amo Bogey, como amo John Wayne, mas não quero ser nenhum dos dois. Eles não são focos de atração para as mulheres.
  Desde meus 35 anos aprendi a admirar Cary Grant. Ele tem estado sempre entre meus 5 atores favoritos. Minha ligação começou com Intriga Internacional, North By Northwest, o filme de Hitchcock mais divertido e engenhoso de todos. Hoje, na meia idade, eu tenho Cary Grant como o único ator que me emociona. Eu, como todos os homens que o amam, sinto que sua simples presença dignifica qualquer filme. Grant transmite força, controle, bom humor, classe, e ao mesmo tempo, algo de oculto, perigoso, agressivo, uma mácula secreta. Como dizia Hitchcock, Cary Grant é uma instituição. Um ícone. Crianças e adolescentes tendem a não ver nada demais nele. Preferem o explícito. De Niro, Brando, Nicholson, a escola pseudo realista. A neurose esfregada na cara. Para esses Cary Grant não terá o menor apelo. Para o admirar é preciso ter vivido. Captar o valor daquilo que ele é : Guia dentro da tempestade. Graça e leveza em meio à pressão.
  Cary nasceu Archie Leach e é inglês. Quando ele tinha 9 anos a mãe fugiu de casa e desapareceu. Cary se sentiu culpado e sua vida a partir desse momento é uma fuga. Aos 14 fugiu de casa e se uniu à um grupo de artistas de vaudeville. Excursionando pela Inglaterra, ele aprende a ser um malabarista, adquire sua habilidade corporal. Aos 16 ele embarca com o grupo para os EUA. Quando a gang volta para a Europa, ele fica. Sozinho nos EUA com 17 anos de idade.
  Sobrevive vendendo gravatas na rua. Anunciando shows em pernas de madeira. Pintando casas. Ao mesmo tempo frequenta o mundo teatral de New York, não o chique, o mundo do teatro popular. Consegue algumas peças e exercita um dos seus dons: faz bons contatos. Archie Leach começa a imitar os modos sofisticados dos ricos americanos, das famílias tradicionais. Seu sotaque cockney desaparece.
  Aos 21 anos vai para a California. Começa no cinema usando sua beleza. Seus primeiros filmes mostram Archie como o rapaz que será seduzido por uma vamp. Mae West e Dietrich fazem filmes com ele. Nesta altura ele já é Cary Grant, Archie Leach ficou no passado.
  Em 1935 ele faz Sylvia Scarlet, filme de George Cukor com Kate Hepburn. O filme é um fracasso, mas ele chama a atenção. No filme Cary Grant faz um papel que é aquilo que Archie Leach era: um cockney malandro, mal caráter, e absolutamente adorável. Assisti o filme a poucos dias. Cheio de momentos não tão bons, mas Cary e Kate brilham de um modo adorável. Para quem não sabe, o filme é sobre travestismo.
  1936 traz Cary transformado em astro. The Awful Thruth de Leo McCarey, uma comédia maluca, faz com que ele exploda. Eis o Cary dos anos 30: leve, elegante, engraçado, ágil. atlético, comediante não bobo, ingênuo nunca tolo, mestre no diálogo rápido, no olhar que diz tudo, no uso do corpo como instrumento solo. Se voce tem a falha vergonhosa de não conhecer Cary Grant assista esse filme ( aqui ele se chama CUPIDO É MOLEQUE TEIMOSO ), e ainda HOLIDAY, sucesso com George Cukor, onde ele faz um tipo de jovem dos anos 60 antes do tempo, e principalmente JEJUM DE AMOR, uma obra prima de Howard Hawks. Cary é aqui o mais esperto dos repórteres. Hawks fez o mais veloz dos filmes.
  Os sucesso se acumulam. Para quem não sabe, Cary Grant é até hoje o ator com melhor média de lucro da história. Imune a fracassos. Até 1966, ano em que ele se aposenta, aos 61 anos, Cary foi uma estrela. A número um entre os homens. Sempre no topo. Inteligente, se aposenta por saber que seus fãs não mereciam ver Cary Grant envelhecer.
  Casou 5 vezes, os dois primeiros duraram menos de um ano. Nunca dava entrevistas. Morou anos com Randolph Scott, o que sempre deu margem aos boatos de sua homossexualidade. Milionário, era sovina. Até o fim da vida cobrava 25 centavos por autógrafo. Fez cem sessões de LSD entre 1961-1966. Elogiava o ácido como o meio em que Archie encontrava Cary. Reencontrou a mãe, já rico e famoso, nos anos 40. Ela estava internada numa clínica psiquiátrica a mais de 20 anos. Ele a tirou de lá, mas sua mãe nunca o aceitou. Como consequência óbvia, Grant jamais confiou em mulheres.
  Seu último casamento foi com uma mulher 50 anos mais jovem. Foi ao lado dela que ele morreu, de derrame, sem sofrimento. Todas as suas esposas eram ricas e sofisticadas. Por ter sido pobre, Cary sabia a dor de não ter dinheiro. E dava às boas maneiras o valor que só dá quem viveu entre as maneiras ruins. Ele se fez sozinho. Ele se construiu. E manteve a persona até o fim. Nunca foi visto mal humorado. Nunca baixou a guarda. Seus filmes são como um presente que ele nos legou. Voce vê  Cary Grant e aprende a ser homem sem ser duro demais. Ser elegante sem parecer um boneco. Ser alegre sem passar futilidade. Ser forte. Muito forte. Mas sempre com graça.
  Uma vez ele deu um conselho à uma jovem atriz ( com quem esteve casado por 7 anos ), Nunca  deixe de sorrir em público. Principalmente quando estiver por baixo. As pessoas irão te atacar assim que perceberem uma fraqueza em voce. Não lhes dê essa chance.
  Esse era Archie Leach. Esse era Cary Grant.

ASSUNTOS VARIADOS EM TEMPO DE PESTES

   Se voce mantiver a sanidade em tempos como estes, parabéns. Ou talvez não. Sua sanidade será prova de que voce tem algum tipo de autismo. Tudo que posso falar é de mim mesmo, e não tem sido fácil ser eu mesmo. O instinto de manada ressurge forte em crises assim. A questão é: Como manter sua individualidade sem se tornar um egoísta irresponsável?
   Escrevo para dois ou três amigos. Eles me conhecem. Sabem que meu eu inteiro reside neste blog. No facebook sou apenas a fatia que faz propaganda. No instagram exercito relações públicas.
   Diálogo não há. Quem é, será mesmo contra toda evidência. Na verdade as pessoas pouco ligam pra verdade. O povo foi tomado pelo orgulho de estar certo. E esse certo será mantido. Mesmo que errado. Sempre soube que o Face faz o ego inflacionar. Voce se sente numa tribuna todo o tempo. Mas eu jamais pensei que seria tanto assim. Quanto ao instagram, ele é apenas um desfile de gente bacana. A questão lá não é estar certo. É se vender bem.
   Mudando de assunto. Duro escrever sobre Henri Bergson. Ele meio que me estuprou mentalmente. Só hoje percebo que ele nega tudo que acredito. Bergson diz que o tempo é tudo que existe. É a própria realidade. Eu tendo a ver o tempo como uma invenção arbitrária. Na verdade ele é apenas um meio cômodo de medir a vida. Bergson crê na mudança eterna de tudo. Nada é o que foi. E nem será. Eu tendo a crer que nada muda. Que tudo é sempre aquilo que foi de fato. Voce é agora o que foi aos 10 anos. E será aos 90 o que é hoje.  As aparências mudam e o mundo pode te fazer mudar hábitos. Mas voce permanece. No pensamento de Bergson me sinto hiper desconfortável. Minha intuição diz que não é assim. O universo está em expansão, a história anda, mas em sua base tudo é o que sempre foi. Nascemos e morremos. Queremos e perdemos. Comemos e sonhamos. Penso inclusive que meu pensamento é mais moderno. KKKKKKKKKK Que contradição minha né? Eu falando como se ser moderno fosse um mérito! Mas pensar que o tempo é apenas uma convenção está mais de acordo com 2020.
   Reassisti dois filmes com Audrey Hepburn. Charada e Como Roubar Um Milhão de Dólares. O primeiro é um pequeno clássico. Ele é considerado um dos melhores filmes de Hitchcock não feito por Hitch. Foi um big sucesso de bilheteria. É de 1963. O que tenho a dizer? Que ainda fico impressionado com a elegância das pessoas nos anos imediatamente anteriores á explosão hippie. Que é um prazer ver Cary Grant em mais um dos seus sucessos ( ele é o único ator entre todos que jamais teve um fracasso de bilheteria ). Apesar que leio que Cary estava bastante desconfortável no papel. Ele não queria mais fazer par romântico com ninguém. Se sentia velho ( tinha na época 58 ).  Mais um ano ele se aposentaria.  O diretor do filme é Stanley Donen. Quem? Claro que voce não conhece, ele nunca foi um intelectual. Tinha "apenas" bom gosto. Fez filmes entre 1948- 1984. Viveu até este milênio e em 95 ganhou um Oscar especial. Foi linda a entrega, ele dançou pelo palco com a estátua. Dirigiu Cantando na Chuva. Sete Noivas Para Sete Irmãos. E mais uns 10 filmes que se vê hoje com imenso prazer. Charada é uma diversão que respeita sua idade. É adulto. É bobo e é fútil. E também esperto e chique. 1963 era um tempo em que adultos ainda iam ao cinema. E por isso se faziam filmes para eles.  Creia, havia filmes no topo da bilheteria que não eram endereçados aos teenagers. Como Roubar Um Milhão foi feito 3 anos depois e tem Peter O'Toole como par de Audrey. O diretor é William Wyler. Quem? Wyler, o veterano que venceu 3 Oscars. Dá um google. Ele tem mais de 20 grandes grandes grandes filmes. Este não é um deles. Eu adoro porque adoro a dupla central. Mas faltou roteiro. E o sucesso de bilheteria foi bem mediano. De qualquer modo a gente fica lá, sentados vendo aqueles lugares lindos com aquelas pessoas glamorosas.
  Mais um assunto? RocknRoll, disco de 1975 de John Lennon. É o único dele que ainda ouço. Covers de rocks dos anos 50. Phil Spector produziu mais da metade das faixas. Bom modo de voce conhecer Spector. Em 1975 ele já estava louco. Mas tá lá o estilo dele. Conto...em 1962 não tinha essa coisa de produtor como a gente conheceu mais tarde. Em 1972 por exemplo, a gente percebe quando um LP é produzido por Bob Ezrin. Ou por Jimmy Miller. O som é outro. A escolha dos instrumentos. A mixagem. Em 1962 Spector criou isso sozinho. Ele era a estrela dos discos que produzia. Sacou primeiro que a mesa de mixagem era talvez o instrumento mais importante de um disco. E começou a criar. Aumentar o baixo aqui. Enfiar cinco guitarras ali. Uma orquestra de sopros no refrão. Esconder esse piano. Maga egocêntrico, ele enchia tudo de som. É o homem que odeia o silêncio. No disco RocknRoll preste atenção em 3 faixas: You Can't Catch Me é uma massa de som que te engole. São cinco guitarras. Três bateras. Três teclados. E mais um monte de sopros e percussão. 25 instrumentos. Todos tocando como se fossem um só. É aquilo que ficou famoso como Wall of Sound. Uma parede que esmaga o cantor e marcha direto aos eu ouvido. Ouça também Bonny Moronie. Tem gente solando a música inteira. Mas tá lá no meio da confusão ordenada. Tem gente fazendo backing vocals. Mas sumiu. Ouça Peggy Sue. Vale muito à pena. E preste atenção. PS: Bom aparelho é obrigatório.

BILLY WILDER ESTRAGA MAIS UM FILME: SABRINA.

   Sabrina começa com...era uma vez...e termina bonitinho, daquele modo que Billy Wilder sabia fazer. Esperto, ele sempre se superava em finais. Assinava seus filmes. Revejo este filme após 10 anos. Gosto? Sim. É um belo filme azedo. Mas, como todo filme do austríaco, ele é cheio de defeitos que hoje me incomodam bastante.
  Como voce sabe, Sabrina é uma menina que cresceu numa casa terrivelmente rica. Filha do chauffeur, ela se apaixona por David, o herdeiro playboy da casa. Com seu amor frustrado, ela tenta se matar, é salva por Linus, o irmão que vive pelo trabalho. Sabrina vai para Paris fazer um curso de gastronomia. ( Moderno o filme, em 1954 ninguém fazia isso ). Volta dois anos depois transformada em Audrey Hepburn vestida por Givenchy. David se apaixona por ela, Linus a seduz para que o irmão se case com uma moça rica, e no fim, Sabrina e Linus ficam juntos. Conto de fadas típico né? Não. É um filme quase tétrico.
  Billy Wilder se mete no roteiro e faz com que, sutilmente, como em todos os seus filmes, o que parecia simples se revele "vienense". Sabrina é inocente? Ela ama David ou ama o luxo daquela casa? Ela se apaixona por Linus ou não será pelo irmão mais rico? Não há um só amor no filme que convença, e isso é proposital. Wilder sabe que amor e poder, sexo e medo andam sempre misturados.
  David se apaixona ou quer transar com Sabrina? O caso de Linus é mais estranho ainda. Nada nele demonstra amor. A impressão que temos é que ele parte com Sabrina apenas com o intuito de descansar uns cinco dias e voltar ao trabalho, seu amor de fato.
  Humphrey Bogart, que faz Linus, odiou trabalhar com Wilder. Bogey tinha um modo seco e impessoal de trabalhar. Ele aparecia no set, fazia seu papel e voltava para sua mulher e seu iate. Billy gostava de formar famílias no set. Todo o elenco se tornava uma máfia fechada, as filmagens eram cheias de piadas, risos e casos amorosos entre o elenco. Bogey odiava isso e ficava à parte. Linus é feito com extremos mal humor. Bogey não está nem aí para o filme. Isso prejudica todo o roteiro. Sabemos que é IMPOSSÍVEL Sabrina amar aquele senhor feio e sem charme. Bogart parece o contador da empresa. Não há glamour. Há um momento em que o filme ronda a pedofilia, tamanho o desconforto.
  William Holden faz David. Apesar de ser 20 anos mais velho que Audrey, o flerte convence. Holden era bonito e na vida real os dois tiveram um caso durante o filme. Vejo nos extras que CARY GRANT iria fazer o papel de Bogey. Mas ele desistiu na última hora. Com Cary Grant todo o filme pareceria real e o humor seria soberbo. Linus era Cary Grant, maduro, charmoso, bonito e meio bobo, sem Grant jamais se deveria ter convocado Bogart.
  Muitos filmes de Billy Wilder são menos bons por um erro de casting. Billy amava trabalhar com atores amigos e isso danificava a credibilidade de certos papeis. Sabrina é um filme muito famoso, mas é apenas um bom filme. Meu incômodo é que ele deveria ter sido grande, muito grande. Cary Grant melhoraria todos os filmes já feitos, mas aqui sua falta afunda o barco.

MARIA ANTONIETA É UM APURADO RETRATO DE 1999.

Não é um filme feito em 1999. Ele é deste século. Mas Sofia Coppolla faz um dos mais perfeitos retratos da geração que tinha 20 anos em 99. Mas vamos por itens...
Um dos mais exaustivos problemas em estudos literários, e que serve para tudo mais, é o fato de que jamais vamos saber o que significava ler Dante em 1400 ou assistir Wagner em 1860. Nós somos, em nossa parte mais profunda e básica, os mesmos homens de 1400 ou de 1860, mas jamais saberemos o que era SER um homem desses tempos. Sabemos o que um leitor de Dickens queria, temia, pensava, mas não sabemos "como ele se sentia lendo Dickens". Aquilo lhe era engraçado, triste, perturbador, tolo, mero passatempo, inesquecível...não há como saber. Basta dizer que um livro que voce leu aos 15 anos não é o mesmo aos 40 anos. Voce é o mesmo leitor. Mas sua experiência de leitura é outra.
Sofia Coppolla foi esperta. Um dos grandes problemas das adaptações literárias e dos filmes históricos é que os personagens se tornam "limbo". Não são figuras da época retratada porque não sabemos como elas andavam, falavam ou riam. E não são de nosso tempo, pois isso pareceria "tolo". ( Game of Thrones é um exemplo desse limbo ). Sofia teve a sacada de fazer da princesa da Austria uma menina de 1999. Isso faz com que o público de hoje SINTA o que seria ser uma princesa em meio a um ambiente hostil. Ninguém no filme tem atitudes ou gestos de 1780. Eles falam, agem e pensam como nós. O rei Luis é apenas um boa vida velho, o herdeiro real é um nerd virgem e a princesa é uma patricinha gastadora e de bom coração. Eles, os verdadeiros, eram desse jeito...Impossível saber como eles eram. Então, já que tudo na história oficial é uma convenção, que se faça aqui mais uma convenção.
Kirsten Dunst mereceria o Oscar do ano. Ela consegue ser crível em um papel impossível. Seu rosto de maravilhamento e de deslumbramento é sublime. Ela quase não atua, o que sempre, como Cary Grant dizia, é o mais difícil. Atuar, super atuar é simples. Dar um show de atuação, maquiagem e trejeitos, isso é muito mais fácil e óbvio que atuar "quase" como se não se atuasse. Quem subiu em um palco sabe disso. Dunst faz isso. O filme é uma linda oferta para ela. A gift.
Muito se falou da beleza estética do filme e do fiasco que ele foi. Nem isso e nem aquilo. Hoje ele está se tornando cult e a beleza não se compara aquela de Ophuls. Quem já viu um filme histórico de Ophuls sabe que a beleza de Coppolla é simples. Nunca suntuosa.
A crítica atual é tão mal preparada que chega a dar desgosto. Ninguém percebeu que toda vez que a princesa acorda e tem seu ritual da manhã, a música que toca é a mesma de ALL THAT JAZZ. A peça de Vivaldi. Só faltou ela dizer "Showtime!", como faz Joe Giddeon no filme genial de Bob Fosse. Esse é o paralelo genial de Coppolla. Giddeon fuma, bebe, transa muito e se arrebenta. Ele é o cara de 1960-1970, o cara do século XX. Quando no futuro olharem esse século todos os historiadores dirão que foi um século onde todos eram Joe Giddeon: Loucos. O que Maria Antonieta diz, e por isso a mesma música, é que ela aposta que este século será visto no futuro como um tempo parecido com Versalhes 1780. Luxo, futilidade, festas, inocência infantil e consumo. Jogo, drogas e risos em MEIO À RUINA TOTAL. Algum crítico notou isso...Não lembro de ter visto.
A revolução francesa venceu. Nosso tempo é o tempo que ama a liberdade, a fraternidade e a igualdade. Poucos percebem que elas são miragens e que sempre vão ser. Isso porque a liberdade não existe, pois somos limitados pela natureza, a igualdade nunca pode ser completa, pois nascemos diferentes e desejamos diferente, e a fraternidade é uma mentira. Somos naturalmente competitivos. Mas, nunca tanta gente viveu bem. O mundo ocidental tem uma fartura que não foi sonhada em tempo algum. E disso o filme também trata. Pois 200 anos de capitalismo moderno fez dos ricos pessoas menos ricas ( ainda ricas demais, mas muito menos que os ricos de antes ) e fez dos pobres pessoas com um estilo de vida inimaginável em 1780. ( Falo do mundo que contava em 1780 ). Milhões de pessoas vivem hoje a vida de Maria Antonieta. Jogo, droga, festa e sapatos novos. E inocentemente ajudam os pobres lhes dando brioches.
Por fim, o filme começa com Gang of Four. Uma obra prima do rock de esquerda dos anos 80. Isso faz voce esperar um filme sobre a revolução. Mas é um blefe. A trilha sonora, maravilhosa, é sobre melancolia. Pois junto às festas, há todo o tempo a sombra cinza da tristeza que flutua. Muito anos 80. Muito 1999. Muito hoje. Nada 1780. ( Incrível como para a geração nascida nos anos 60 a trilha sonora é tão importante quanto o filme em si. Culpa dos maravilhosos hits feitos entre 1963-1983 ). A trilha tem Sioussie, Cure, New Order, Bow wow wow e até Adam Ant. É um clipão chic dos anos 80. Muita gente disse isso. Mas provo aqui que é mais, muito mais.
Enjoy it!

CARMEN MIRANDA SPENCER TRACY HILLARY SWANK CLIVE OWEN LIZ TAYLOR

   ENTRE A LOURA E A MORENA de Busby Berkeley com Alice Faye e Carmen Miranda
Um roteiro bobo num musical hiper colorido da Fox. Busby Berkeley era completamente louco. Seus números musicais são imagens de LSD antes da invenção do psicodelismo. Carmen Miranda era genial. O filme abre com Aquarela do Brasil. Emociona. Tem ainda a orquestra de Benny Goodman. E eu adoro Benny! E Edward Everett Horton. Mas o roteiro podia ser um pouquinho melhor... Nota 4
   DÍVIDA DE HONRA de Tommy Lee Jones com Hillary Swank, Tommy Lee Jones e Meryl Streep
Aff...no tempo do oeste, em Nebraska, uma mulher parte sozinha para resgatar mulheres que enlouqueceram em outro estado. O filme é um pé no saco. Hillary faz seu papel de machona, Tommy é um velho esquisito e todo o filme nada tem de atraente ou de novo. Tédio, puro tédio.
   DEPOIS DA VIDA de Hirokazu Kore-Eda
Os países que perderam a guerra tiveram de se reinventar. Mantiveram a tradição, mas ao mesmo tempo zeraram sua história. Li isso no livro sobre o Kraftwerk. Este filme, extremamente chato, extremamente gratificante, é aquilo que o Japão é: uma cultura em construção eterna, ou: o mesmo de sempre se vestindo de novo. Passei todo o filme em quase transe, minha memória trazia de volta coisas que eu achava ter esquecido. É um filme que tem esse poder, ele nos faz mergulhar dentro de nós mesmos. Japonês. Os atores são sublimes.
   POR AQUI E POR ALI de Ken Kwapis com Robert Redford e Nick Nolte
Um filme bem simples. Um velho escritor de viagens resolve fazer uma viagem pelos EUA a pé. Sua esposa, Emma Thompson, só o deixa ir se for com companhia. Ele convida um monte de amigos e nenhum aceita. Mas do passado surge um amigo esquisitão, um bêbado meio sujo. Os dois partem então. Well...a geração baby boomer ficou velha e os filmes geriátricos abundam. Quando minha geração chegar aos 70 esse tipo de filme será maioria. Este é ok. Não é comédia, é apenas um filme leve, tranquilo e alto astral. Redford está um caco. Mas envelhece dignamente. Nota 5.
   A CONFIRMAÇÃO de Bob Nelson com Clive Owen e Maria Bello.
Na verdade é Ladrão de Bicicletas em versão 2016. O que vemos é um pai fracassado perder suas ferramentas de carpinteiro. Com o filho ele parte numa busca por quem as roubou. Emoção zero. O filme é bem bobo. Se a América é hoje desse jeito, estamos ferrados.
   ESPOSA SÓ NO NOME de John Cromwell com Cary Grant, Carole Lombard e Kay Francis.
Melodrama pavoroso! Cary é um homem casado que conhece Carole. Se apaixonam. A esposa de Cary, uma megera, faz de tudo para os separar. Uma pena ver dois atores tão geniais num roteiro tão ruim. O filme é velho, mofado, quase inacreditável.
   A GAROTA DOS OLHOS DE OURO de Jean Gabriel Albicocco com Marie Laforet, Françoise Dorleac e Paul Guers
Em 1961 este filme causou sensação. A fotografia era ousada, esquisita, bela. Hoje ela ainda impressiona...por dez minutos. O filme é insuportável. Uma mixórdia sobre um playboy que se apaixona por uma mulher misteriosa. Tudo contado de um modo truncado, torto, abrupto, bem à moda de então: nouvelle vague. Duvido que alguém consiga o ver até o fim.
   NO CAMINHO DOS ELEFANTES de William Dieterle com Elizabeth Taylor e Peter Finch
Uma inglesa jovem vai morar com seu marido rico no Ceilão. Lá ele se revela um doido. machista e beberrão. E há ainda os elefantes que ameaçam destruir a casa... Este filme dá pra passar o tempo. O cenário é bonito, Liz está linda e a direção faz a coisa fluir.
   A SELVA NUA de Byron Haskin com Eleanor Parker e Charlton Heston
Agora é na Amazônia. Uma moça se casa por procuração e vai à selva encontrar o marido que nunca viu. Ele a trata muito mal e aos poucos os dois se aproximam. Enquanto isso formigas ameaçam a fazenda...Quase a mesma história. Este é pior. Algumas falas são de doer! Eleanor Parker exala desejo por todos os poros...isso é fascinante.
   AMOR ELETRÔNICO de Walter Lang com Kate Hepburn e Spencer Tracy
Numa emissora de TV se instala um computador. As funcionárias não aceitam isso, têm medo de perder o lugar...É 1956, o computador ocupa toda a sala e faz ruídos " de computador". Kate e Spencer são tão bons que a coisa funciona! É um gostoso passatempo. E uma doce curiosidade. O computador é da IBM.

CARY GRANT- BETTE DAVIS-JAMES CAGNEY-COLIN FIRTH-UMA- NEIL SIMON

   A GAROTA DO ADEUS de Herbert Ross com Richard Dreyfuss e Marsha Mason
Foi uma das maiores zebras do Oscar a vitória de Dreyfuss em 1977. Mas vista hoje sua atuação é sensacional. O texto, de Neil Simon, é bem anos 70. Fala de uma mãe solteira que é obrigada a dividir o apto com um ator desconhecido. Eles se odeiam e aos poucos passam a se aceitar. Parece óbvio, mas os diálogos são maravilhosos! Engraçado perceber que o personagem de Dreyfuss é um típico estudante paulista de 2016! Até as roupas são atuais! Não conseguimos sair de 1977... Este é o típico filme adulto popular daquele tempo. Se comparados aos adultos pop de hoje vemos que regredimos muito. Assista. Nota 7.
   BE COOL, O OUTRO NOME DO JOGO de F. Gary Gray com John Travolta, Uma Thurman, Vince Vaughn, Cedric, The Rock e Danny de Vito.
O roteiro é pobre pacas! Chili Palmer, o personagem de Travolta no ótimo Get Shorty, ressurge aqui como produtor de música. Para lançar jovem cantora ele deve passar por cima de mafiosos russos, produtores bandidos e artimanhas do mal. A esperteza se foi, os golpes são primários e mal explicados. O filme se salva por The Rock, que rouba o filme como um capanga que quer ser cantor country. Hilário! Uma nunca esteve tão bonita. Travolta está com preguiça e Vince não tem a menor graça. Seu tipo é cópia descarada do Gary Oldman de Amor a Queima Roupa. Um filme bom de olhar, mas bem tolinho. Nota 5.
  HOPE SPRINGS de Mark Herman com Colin Firth, Heather Graham e Minnie Driver.
Parecia bom. Adoro Colin. Mas é um tédio. Ele é um inglês que vai parar no interior dos EUA. Quer esquecer um amor perdido. Heather, como sempre, é uma doidinha legal, eles se envolvem. Minnie é a megera. O filme é lento, chato, preguiçoso, sem nenhuma imaginação. Pior de tudo, é uma comédia triste! ZERO.
   G MEN CONTRA O IMPÉRIO DO CRIME de William Keighley com James Cagney
Um exemplar filme de gangster dos anos 30. Cagney é um advogado que abandona a profissão para ser um agente do que viria a ser o FBI. O que acompanhamos, no estilo rápido e objetivo da época, é sua escalada para se infiltrar na gang e destruir a organização criminosa. Um bom filme de macho. Nota 7.
  BALAS OU VOTOS de William Keighley com Edward G. Robinson e Humphrey Bogart.
Não tão bom, o filme também faz parte do estilo "gangster da Warner". Mas o roteiro é mais meloso e Robinson não é tão bom quanto Cagney. Bogey faz mais um bandido. Ele, em 1936, ainda era o cara que todo mundo ama odiar. Nota 5.
  SOMOS DO AMOR de Archie L. Mayo com Leslie Howard, Bette Davis e Olivia de Havilland.
Uma alegria voltar a ver os bons filmes pop dos anos 30. Este é mais um da Warner. Sobre um casal de atores que vive em guerra. E uma mocinha tola que se apaixona pelo ator. Leslie dá um show como o ator estrela, empoado e meio tonto. Bette brilha menos como a atriz nervosa. Olivia está excelente no papel da milionária doida. Tem ainda Eric Blore fazendo Eric Blore, ou seja, um delicioso mordomo afetado. Bom passatempo. Nota 7.
   SOLTEIRÃO COBIÇADO de Irving Reis com Cary Grant, Myrna Loy e Shirley Temple.
Decepção. Um filme com Cary e Myrna consegue não ser bom. Uma garota de 16 anos se apaixona por Cary Grant, solteirão de 37. A irmã da menina, Loy, obriga-o a namorar com ela para que ela se decepcione com ele. Mal dirigido, sem ritmo, mesmo assim fez imenso sucesso, graças aos nomes das estrelas. Cary está contido, só se solta na única cena boa, a da gincana estudantil. Myrna não tem nada a fazer a não ser parecer elegante. Nota 4.

MAD MAX- CARY GRANT- SOPHIA LOREN-CHARLTON HESTON

   MAD MAX 2015 de George Miller com Tom Hardy e Charlize Theron
Max, o de Mel Gibson, de 1980, foi o primeiro filme que assisti no meu primeiro VHS. Não se engane, foi um filme revolucionário. Trouxe às telas, pela primeira vez, o conceito de aventura pura. Só ação, sem diálogos relevantes, pouca trama, a pura adrenalina. Era o novo cinema australiano. Uma onda que trouxe além de Miller, Peter Weir, Bruce Beresford e Gillian Armstrong. Miller construiu uma carreira interessante, fez As Bruxas de Eastwick e até o ótimo Babe, o filme do porquinho que é a mais bela defesa do vegetarianismo do cinema. Mais uma vez eu falo: não se engane, este Mad Max é muito mais profundo do que você pensa. Os primeiros quinze minutos me fizeram pensar: Deus! Este é o pior filme do ano! Temos toda a tolice, em exagero proposital, dos filmes de teenager: machos violentos, cenários de inferno, máquinas do mal, vilão horrendo e um herói calado. Há até uma banda tocando ao vivo seus riffs de metaleiro. Mas lentamente a gente vai percebendo: há inteligência aqui! Há muita ironia, e a ironia, como provaram Sterne, Thackeray e Machado, é a arma da mais fina Inteligência. A coisa fica deliciosa...O mundo desértico, sem vida, só de machos violentos, é o mundo da pura masculinidade. Ação, morte e a religião transformada em Valhala. Aqui nada nasce, nada faz conexão com nada. Tudo é um fetiche: carros, armas e morrer como num palco, rumo à Valhala. Esse mundo abomina a mulher. Nelas existe a amizade, o cuidado, e principalmente o desejo de viver. Elas sonham. Têm esperança. Dão vida à Terra. Assim que percebemos isso toda aquela correria passa a fazer sentido. O filme se agiganta e se torna a melhor aventura dos últimos anos. Uma ópera adolescente que é contra os adolescentes. Alguns sentem isso, farejam no ar e desgostam do filme. Ele é brilhante. Nota 9.
   KARTHOUM de Basil Dearden com Charlton Heston, Laurence Olivier e Ralph Richardson
Feito em 1968, ele tenta, de forma desajeitada, ser Lawrence da Arábia. Falha miseravelmente e beira o ridículo. Gordon, como Lawrence, é um herói real. Inglês, ele lutou no fim do século XIX no Sudão. Tentou salvar o país do ataque de muçulmanos fundamentalistas ( sim, isso vem de longe ). O roteiro é mal desenvolvido. O herói, feito por um Heston perdido ( ele parece perceber que nada vai dar certo ), nunca parece real. E temos Olivier no pior desempenho de sua carreira. Em sua primeira cena, quando ele abre a boca e emite um sotaque árabe de cartoon, sentimos uma vontade de rir que destrói tudo ao redor. Uma chanchada involuntária. O filme serve como exemplo de como não se gastar dinheiro em vão. Nota 1.
   HOUSEBOAT ( TENTAÇÃO MORENA ) de Melville Shavelson com Cary Grant e Sophia Loren
Em 1958 papai e mamãe iam sábado às oito da noite ao cinema e deixavam os filhos com a babá que ouvia Pat Boone no rádio. Este filme é o tipo de filme que se parou de fazer por volta de 1970. O filme para esse casal comum, porém com bom gosto, conservador, mas não exageradamente sem sal. Cary faz um viúvo que deve cuidar de seus 3 filhos. Os filhos não se dão com ele. Loren é uma italiana ( claro... ), rica, que como Audrey Hepburn em A Princesa e o Plebeu, foge de sua vida protegida e se finge pobre. Vira babá dos tais pirralhos. Vão todos viver numa casa-barco. Funciona. O profissionalismo é tamanho que funciona. Pura bobagem doce, com acentos bem amargos ( os filhos são infelizes. Há uma pitada muito séria no doce ), e algum humor leve. Papai e mamãe saem do cinema contentes. Tiveram uma boa noite de verão. Um adendo: Cary está visivelmente magro e doente. Sabemos que ele se apaixonou por Sophia durante o filme. E ela o repeliu, se casando com Carlo Ponti, o produtor. Foi então que Cary, em crise, se aproximou do LSD. E voltou a ser o cara bonito e saudável de sempre. Não aqui. Ele está abatido. Sophia, que chorava no camarim, disfarça melhor. Está absurda de tão bonita e feliz. Nota 7.
   ENQUANTO SOMOS JOVENS de Noah Baumbach com Bem Stiller, Naomi Watts
Naomi é a atriz mais interessante de sua geração. Ela aceita filmes que fogem do óbvio ( e é linda ). faz a esposa de Ben, uma quarentona que passa a dançar rap. Alguém notou que este filme pode ser a continuação, vinte anos depois, de Reality Bites, o filme que Ben dirigiu com Winona Ryder... Aquele é um filme chave dos anos 90, este é magnífico. Mostra a diferença de gerações, mas esse não é o foco! O foco é o valor da arte e o peso da verdade. Que bom ver um filme moderno que não apela para rocks geniais a fim de ganhar seu público!!! Só no final temos a exibição de duas músicas chave: Golden Years do Bowie e Let em In, do Paul. Eu amei. Nota DEZ!!!!
  

ALAIN DELON/ CARY GRANT/ HAWKS/ DORIS DAY/ ANNE BANCROFT/ SPENCER TRACY/ AL PACINO

   O INVENTOR DA MOCIDADE ( Monkey Business ) de Howard Hawks com Cary Grant, Ginger Rogers, Charles Coburn e Marilyn Monroe.
É o primeiro fracasso de bilheteria de Hawks e um dos raros de Cary. Hawks vinha de 15 anos seguidos de sucessos quando resolveu fazer na Fox este roteiro de Lederer e Diamond. Os dois são roteiristas que trabalharam com Billy Wilder, e isso explica muito sobre o filme. O humor tem a grossura despudorada de Billy. Não tem o estilo humanista de Hawks. De qualquer modo o filme é tão louco que diverte, além do que o elenco é sensacional. Cary é um cientista que tenta criar a fórmula do rejuvenescimento. Um macaco cobaia mistura elementos e Cary bebe aquilo sem querer. Súbito ele volta aos 19 anos. Passa a ter o comportamento de um teen. Ginger é a esposa, que acaba por voltar aos 14 anos. Monroe faz uma secretária e este é dos seus primeiros papeis importantes. Ainda gordinha, ela é tremendamente sensual. O final, com Cary voltando aos 7 anos e amarrando um adulto na árvore para tirar seu escalpo é uma mistura de hilariedade com o incômodo do excesso de ridiculo. O filme se equilibra o tempo todo nesse fio, de um lado uma soberba alegria, de outro o ridiculo. As cenas com Ginger passam todas do ponto. Cary mantém a elegância. Um grande ator! Quer saber? Após seu encerramento deu vontade de ver outra vez. Nota 7.
   CARÍCIAS DE LUXO de Delbert Mann com Cary Grant, Doris Day e Gig Young.
Doris é a super-virgem. Desempregada, ela conhece o super rico Cary Grant. Ele tenta a seduzir com dinheiro. E consegue! Mas ela é virgem e defende sua honra. Bem, não poderia haver tema mais antigo. Imagino um cara de 15 anos vendo isso! Belos cenários e um Gig Young hilário como um paciente de um freudiano, não conseguem salvar o filme. Cary parece desinteressado, entediado ( este era o tempo em que ele descobria o LSD ). Nunca ninguém, naquela época, percebeu como Doris era sexy? A voz dela é de erguer defunto! Nota 4.
   STANLEY AND LIVINGSTONE de Henry King com Spencer Tracy, Walter Brennan e Cedric Hardwicke.
As convenções do filme de aventuras foram criadas por 3 grandes aventureiros da vida real: Raoul Walsh, Howard Hawks e Henry King. Todas as técnicas criadas pelos 3 são usadas até hoje. Pode-se enfeitar um filme o colocando no espaço, em outra dimensão ou fazer do mal o bem, mas o esquema é exatamente o mesmo. Aqui temos um dos melhores exemplos. Feito em 1939, o filme mostra Stanley, feito por um brilhante Spencer Tracy, partindo para a África desconhecida, em 1870, atrás do paradeiro de Livingstone. Em hora e meia o filme, com ritmo, tem um pouco de tudo: exploração do desconhecido, humor com o amigo do heróis, encontros inesperados, suspense e depois a edificação e o crescimento do herói. Ele retorna à sua terra como um homem melhor. Até uma cena de tribunal temos. Henry King foi um grande diretor. E como ser de seu tempo, dirigiu de tudo, westerns, comédias, dramas e musicais. Nota 8.
   O RIO DA AVENTURA de Howard Hawks com Kirk Douglas e Arthur Hunnicut.
O dvd tem belos extras. A voz do velho Kirk falando do filme, fotos de Michael Douglas aos 6 anos visitando o pai no set e Todd MacCarthy, um dos melhores críticos, falando do filme. Mas, surpeendentemente, a imagem não foi refeita e a foto está em mal estado. Feito em 1952, é o segundo maior fracasso da carreira de Hawks. O público da época estranhou esta aventura lenta, calma, primeira experiência do estilo Hawks de filmagem, que seria mais bem desenvolvida nos filmes seguintes. Como é esse estilo? Focar nos personagens e não na ação. Veja: aqui temos Kirk como um aventureiro no Oeste que vai com um grupo à procura de peles em terras inexploradas. Sobem o rio e encontram aventuras. Muitas. Mas todo interesse do filme é mostrar o cotidiano, o dia a dia, a personalidade de Kirk e de seus companheiros ( dentre eles um excelente Hunnicut fazendo um velho do mato ). Desse modo a sensação que fica é de pouca ação e de muito papo furado, o tal estilo Hawks. MacCarthy descreve bem, achamos o filme falho, mas quando termina queremos mais. Acabamos por gostar daquelas pessoas e desejamos sua companhia. É isso que acontece com os bons filmes de Hawks, o mais discreto dos mestres. O filme tem falhas sim, mas a gente acaba querendo mais. Nota 8.
   MOMENTO DE DECISÃO de Herbert Ross com Shirley MacLaine, Anne Bancroft, Tom Skerrit, Mychail Baryshnikov, Leslie Browne.
Este filme de 1977 tem um recorde. Junto com A Cor Púrpura, é o maior perdedor da história do Oscar. Foram 11 indicações e nenhum prêmio. Na época era moda falar mal dele. Ou melhor, os críticos o detestaram, o público adorou. Hoje a situação é a mesma. Não virou cult. Conta a história do reencontro de duas mulheres de meia idade. Amigas antigas, as duas foram grandes bailarinas. Uma largou tudo ao ficar grávida. A outra persistiu e se tornou estrela em NY. No reencontro se faz o balanço, a briga, a reconciliação. Eu adorei o filme. Assisti sem a menor expectativa e gostei muito. Me emocionei. Ele mostra com sagacidade a questão da idade, da fama e da solidão. E Anne está soberba! A diva é sempre humana, e a mulher é uma diva. A cena da briga entre ela e Shirley foi homenageada em Dancin Days, a novela. Gilberto Braga é um grande fã do filme. A fotografia de Robert Surtees impressiona muito. E vemos a estréia da super estrela e do sex symbol da época, Baryshnikov. Foi indicado a coadjuvante! Faz um bailarino hetero e playboy. Bom. Vemos Marcia Haydée nas cenas de dança, em seu auge como bailarina. Um lindo filme que teve o azar de concorrer nos ano de Annie Hall, Julia e Star Wars. Nota 8.
   UM MOMENTO, UMA VIDA ( Bobby Deerfield ) de Sidney Pollack com Al Pacino e Marthe Keller.
Assisti este filme no cine Astor, em 1978. Senti um profundo tédio. Revendo agora, senti um profundo desgosto. É o pior filme de Pollack, isso é aceito por todos, mas é também o pior de Pacino, e olhe que Pacino fez muito filme ruim. Uma sopa melosa e lenta, metida à filme de arte, sobre um famoso piloto da Fórmula 1. Ele perdeu suas raízes, virou um tipo de robot arrogante. Ao visitar um piloto acidentado na Suiça, conhece uma italiana doidinha que está morrendo...O filme evita o drama e vira um vazio. Tudo é seco e lento. Argh. Vemos James Hunt, Pace e Depailler nas cenas de corrida....que duram cinco minutos!!! Uma enganação...fuja! PS: Keller era um alemã que tinha corpo e rosto, bonito, de Valkiria. Como acreditar que frau Keller é uma italiana maluca????? Aff....ZERO!
   O SOL POR TESTEMUNHA de René Clement com Alain Delon, Maurice Ronet e Marie Laforet
Simplesmente o filme mais chique já feito. Itália em 1960 alcançou um nível de elegância sem ostentação que transparece em cada segundo do filme. Ronet descalço e sem camisa, parece o mais chique dos homens. Delon, com terno claro, com dock sides, com polo, sempre parece modelo da Vogue. Mas, eis o charme, tudo sem formalidade, sem afetação, com certo desleixo. Foi o auge do estilo mediterrâneo, que todos procuram e quase ninguém o revive. Clement consegue, ao seguir o livro de Patricia Highsmith, fazer um filme à altura de suas imagens. Ele é lindo e tem muito suspense. Gostamos de canalha Delon. O ator se confunde com o tipo. Houve ator mais diabólico e bonito? A refilmagem de 1999, de Minghella, colocou Matt Damon como Delon...aff!!! Jude Law era Maurice Ronet. O que era chique virou novo rico, parecia formal e Damon era um teen vestido de adulto. Aqui não! Até a carteira de Delon parece elegante! E temos o final, um dos mais inesperados da história. Um grande filme e um super sucesso de bilheteria. DEZ!!!!!!

MAX OPHULS/ JASON REITMAN/ GEORGE CUKOR/ JAMES BROWN/ LUC BESSON/ MYRNA LOY/ JEAN RENOIR

   HOMENS, MULHERES E FILHOS de Jason Reitman
É um daqueles dramas que eu chamo de "drama do abat-jour pastel". Tudo filmado no escurinho, em tons pastéis, com as pessoas falando baixinho, com suas caras sem expressão. Tenho uma colega que é mormon. Incrível como a América é marcada por essas religiões da limpeza, do comedimento, da ordem. Tudo se parece com ela, as roupas, as caras, o modo de viver e de reagir. O filme tem cenas de sexo, claro que vestidas, o filme fala de um mundo interligado, claro que superficialmente. E ainda termina com cenas bastante apelativas, digna do pior de Party of Five. Aliás, eu tenho uma teoria de que Party of Five, com seus teens falando baixinho e seus climas pastéis ( e aqui as pessoas chegam a ler no escuro ), é a realização cultural americana mais influente dos últimos 30 anos. Mais que Sopranos, Pulp Fiction ou X Men. A trilha sonora é sonâmbula. Por outro lado, o filme não me cansou, não me entediou e me fez sentir pena daquilo que fazemos com os pobres adolescentes...pobrezinhos. Só que o buraco é bem mais embaixo. Nota 4.
   JAMES BROWN de Tate Taylor
Das biografias que não param de produzir, esta é das menos óbvias. Isso porque se evita a odisséia das drogas e álcool, que estragou a bio de tanta gente. O filme tem uma excelente recriação do Alabama negro da década de 30 e sabe usar as músicas sem exagero. Uma coisa ótima:: as cenas musicais sabem passar a energia do som de James Brown, o cara que mais mudou aquilo que se entende por pop music. Brown trouxe o ritmo para o centro do som e desse modo criou o som de nosso tempo. O filme não é triste, é bem editado e diverte. Legal. Nota 6.
   UM AMOR DE VIZINHA de Rob Reiner com Michael Douglas, Diane Keaton
Deus meu que filme vazio! O planeta está envelhecendo e é isto que oferecem a esse público? A batida história do cara viúvo, ranzinza, que conhece uma maluquinha divorciada e após muitas brigas ficam juntos. God! Isso já era velho em 1970! Tudo bem, nada impede mais um plot batido, desde que bem feito, fresh, vitalizado. Jack Nicholson e a mesma Diane fizeram isso muito bem em 2000. Aqui não! Nota 1.
   AS DUAS FACES DE JANEIRO de Houssein Amini com Viggo Mortensen e Kirsten Dunst.
Em 1960 René Clement fez o filme mais elegante da história do mundo. Com roteiro de Patricia Highsmith, O Sol Por Testemunha, um suspense digno de Hitch, teve a sorte de capturar a Europa em seu momento mais classudo. Era aquele classudo esportivo, leve, fresco, que foi destruído pela onda hippie a partir de 1966. Este filme, também baseado em Highsmith, tenta esse clima classudo todo o tempo. Se passa em 1962, a beira do Mediterrâneo, e os atores se vestem naquele estilo despojado com finésse da época. Mas assim como o suspense vira brutalidade, a elegância vira afetação. Fake ao extremo, mesmo o ótimo Viggo e uma Dunst linda de doer não salvam a gororoba. Fuja! Nota 1.
   3 DIAS PARA MATAR de Luc Besson com Kevin Costner, Amber Head e Connie Nielsen
Quer saber? Bom pacas! Muito bem dirigido em suas cenas de ação, que são poucas, o filme tem trama, tem suspense, surpresas e um Costner na ponta dos cascos. Vale muito a pena! É melhor que um monte de besteiras tratadas como arte só por sua lentidão e pretensão. Nota 7.
  NÚPCIAS DE ESCÂNDALO de George Cukor com Katharine Hepburn, Cary Grant, James Stewart.
A peça de Philip Barry deu dois filmes clássicos, este, o melhor, de 1940, e Alta Sociedade, de 1956. Kate fez a peça em NY e a comprou. O filme salvou sua carreira. Ela faz a mimada socialite prestes a se casar pela segunda vez. Cary, no auge do relax, é seu ex-marido e James Stewart ganhou um Oscar fazendo um repórter que vai cobrir a festa. Sinal dos tempos, um repórter num casamento rico é considerada coisa de extremo mal gosto! O filme é um souflé perfeitamente realizado: leve, gostoso, chic e inesquecível. Os diálogos voam como tiros de açucar e os atores parecem brilhar com papéis que pedem esse brilho. É um filme obrigatório para quem ama a palavra no cinema. A edição do dvd traz um doc sobre Kate que vale muito ser apreciado. Ela foi única! Nota DEZ.
  TOO HOT TO HANDLE de Jack Conway com Clark Gable, Myrna Loy e Walter Pigeon
Hummm....este filme choca um pouco por seu machismo, racismo, e sua defesa do mau caráter "legal". Se voce conseguir relativizar tudo isso terá um agitado filme de sucesso típico do mais pop dos anos 30. Clark é um fotógrafo de jornal que vive usando mentiras para vender suas fotos. Pigeon é seu rival. Myrna Loy é uma milionária que vai a Guiana para procurar o irmão perdido na selva. Clark era na época o modelo do macho sexy. Gary Cooper era mais bonzinho, Cary Grant mais chic, Charles Boyer o romantico, e Clark o homenzão. Dos 4 é hoje o mais ultrapassado. Mas o filme diverte, diverte como um tipo de cartoon absurdo, um pastelão onde tanta coisa acontece que a gente fica até tonto de ver. Nota 6.
   OS SETE SUSPEITOS de Johnathan Lynn com Tim Curry, Madeline Kahn, Christopher Lloyd
Um bando de tipos estranhos são convidados a uma casa. Lá, um por um começam a ser mortos. Vi o filme por causa de Tim Curry, ator que é sempre um show. Ele quase consegue salvar o filme, mas o roteiro, de John Landis, é um desastre! Mesmo o clima soturno é mal realizado. Nota 3.
   BOUDU SALVO DAS ÁGUAS de Jean Renoir com Michel Simon
Ah o sacrifício que a gente fazia pelo cinema....Eu tinha visto este filme numa cópia horrível nos anos 80, na TV. Era um borrão truncado. Aqui está a cópia nova! O filme brilha! É um dos clássicos de Renoir, e como todo filme de Renoir, ele nos desconcerta! Boudu é um vagabundo que cai no Senna. Recolhido por um senhor burguês, ele se mostra um homem irritante. Boudu seria um tipo de homem "foda-se", o cara que não tá nem aí, que não liga para educação ou bons modos. O filme fica assim duro de ver, porque Boudu nos irrita. Ele  mal agradecido, egoísta, sujo, mentiroso, um chato. Mas não sei porque, quando ele termina, e só quando termina, sentimos ter gostado do filme. Estranhamente, parece que pressentimos que havia algo ali. Bom, as cenas de rua são lindas! Renoir mostra a França de 1933, coisa rara então, e essas tomadas nos encantam. É um filme que preciso rever.
   LA RONDE de Max Ophuls com Simone Signoret, Gerard Philipe, Daniel Gelin, Danielle Darrieux, Simone Simon, Fernand Gravey e Jean-Louis Barrault
Lindo, alegre, mágico, encantador. Ophuls dá uma aula de cinema. Como diz PT Anderson no post abaixo, os personagens dão aos atores a possibilidade de atuar, Anderson mostra uma tomada, sem cortes, onde a câmera roda pelo set e deixa a atriz, Darrieux, atuar. Todd Haynes em outro post abaixo fala da beleza dos filmes de Ophuls. Este filme é uma dádiva, um presente, um prazer. Nota DEZ!

TS SPIVET/ WOODY ALLEN/ NICOLE KIDMAN/ WARREN BEATTY/ MARVEL/ PIERCE BROSNAN/ CARY GRANT

   THE YOUNG AND PRODIGIOUS T.S.SPIVET ( UMA VIAGEM EXTRAORDINÁRIA ) de Jeunet com Helena Bonham-Carter, Judy Davis, Kyle Catlett e Callum Keith Rennie.
Todos sabem o enredo: no meio da nada mora uma familia esquisitinha. O filho, aos 7 anos, cria um aparelho de moto-perpétuo. Ganha um prêmio do Smithsonian e viaja só para receber o prêmio. Well...os primeiros dez minutos são excelentes. E isso se deve a fotografia e ao ambiente. Depois o filme cai muito e fica até meio chato. A América que Jeunet mostra é um país francês. Ele não chega perto do que seja o ser americano. Assim como Wenders em Paris/Texas mostrou a América alemã, Jeunet esbugalha olhos franceses sobre o deserto. O filme ameaça emocionar, Descartes não deixa. O que seria um lindo filme bobo se fosse dirigido por um Tim Burton ou um Alexander Payne, se torna com Jeunet um filme travado. Tudo é quase aqui, quase bom, quase bonito, quase triste, quase engraçado. E quase ruim. Apesar de tudo eu gostei do filme. Porque? Porque ele é bonito. Porque eu gosto muito de Helena Bonham-Carter. Porque adoro filmes on the road. E porque em meio a toda aquela baboseirinha tristinha há uma nesga de verdadeiro afeto. Há amor pelos personagens, todos eles. O que trava é essa reticência de Jeunet, essa coisa de nunca deixar a coisa subir, aquecer, deixar o sentimento perder razão e aflorar. Não darei nota.
   NOVEMBER MAN de Roger Donaldson com Pierce Brosnan e Olga Kurylenko
Brosnan é um ex matador da CIA. Ele volta a ação em complicada trama de espionagem, traição e chantagem. O filme nunca ofende a inteligência e tem ação. Pierce tem fleugma, e incrivelmente consegue convencer. É o tipo de ator que gostamos de ver. Olga é belíssima! Mas estou cansado desses filmes cheios de batidas de carro, tiros e cenários cheios de russos frios e ruins e moças magrinhas e fatais. Nota 4.
   DIZEM QUE É PECADO de Joseph L. Mankiewicz com Cary Grant, Hume Cronyn e Jeanne Crain.
A poucas semanas vi 3 filmes de Mankiewicz e falei deles aqui. Todos excelentes. Pouca gente sabe que ele foi dos raros diretores a ganhar dois Oscars no mesmo ano, por roteiro e direção. Seu ponto fraco aparece todo aqui: a verborragia. Mankiewicz escreveu alguns dos melhores diálogos do cinema, mas às vezes passava do ponto. Este filme mostra Cary como um cirurgião de sucesso que desperta a inveja de um colega. O tema é ótimo, Cary se esforça e está ótimo, mas há diálogos muito longos, muito blá blá blá dispensável e uma cinematografia pobre. Parece TV. Nota 5.
   HEAVEN CAN WAIT ( O CÉU PODE ESPERAR ) de Warren Beatty com Warren Beatty, Julie Christie, Jack Warden, Dyan Cannon e Charles Grodin.
Um grande sucesso de 1978 que concorreu a vários Oscars e venceu apenas um. É a primeira direção de Warren Beatty e dá pra perceber isso. O filme tem sérios problemas de ritmo. Ele corre a de repente fica lento. A história é refilmagem de um lindo e muito melhor filme dos anos 40. Um homem morre por engano. É devolvido `a Terra em outro corpo e vemos então seu envolvimento com gente que não sabe que ele é outro. O tema daria uma comédia hilária, mas aqui o humor só funciona com Dyan Cannonm que está ótima. Julie está perdida, o filme não é para ela, e Warren, seu namorado então, desfila charme, mas não dá risos. O filme acaba sendo uma coisa estranha, uma comédia melancólica ou um drama leve. Assisti a ele na época, num cinema cheio na Paulista. O que senti então é o que voltei a sentir hoje, decepção. Nota 5.
   GRACE DE MÔNACO de Olivier Dahan com Nicole Kidman, Tim Roth e Frank Langella.
O filme me surpreendeu, ele é bastante bom. Isso porque nada tem de biográfico. Não se trata de vermos o casamento de Grace ou sua história. É a radiografia do momento crucial de uma nação, Monaco, de um planeta, a Terra e de uma mulher, ela. Grace sente falta do cinema, sente falta dos EUA e se sente negligenciada como mulher por seu marido, Rainier. Indecisa, ela tem de tomar uma decisão. Ou desiste e retorna ao cinema, ou se assume como princesa. O momento é terrível. A Argélia luta contra a França e De Gaulle quer se apossar do principado, a França precisa de dinheiro. Grace consegue, em golpe de estream sutileza, fazer com que De Gaulle não possa agir. Como? Veja o filme! Ele tem suspense, muito drama, realismo e atores excelentes. É uma das melhores atuações de Nicole. Aturdida, presa, com raiva, com medo, tudo misturado num pacote de beleza. Voces que são mais jovens saibam, Grace Kelly foi um mito. Maior que Angelina Jolie, Madonna... Lady Di chegou perto com uma diferença, Grace era muito mais bonita, inteligente e elegante. O filme é digno dela. Nota 7.
   MAGIA AO LUAR de Woody Allen com Colin Firth e Emma Stone.
Colin é um mágico na Europa de 1920. É levado por amigo à Riviera, onde ele deverá desmascarar uma vidente impostora. É mais um filme agradável de Woody Allen. Divertido, fácil de ver, gostoso. Mostra gente rica em lugares lindos, mostra bons atores em bons papéis. Demorou para Woody trabalhar com Colin Firth, meu ator favorito do cinema de agora. E Emma Stone é bonita e boa atriz. Mas Woody tem um grande problema: seu nome. Fosse o filme de um diretor novato, todos o elogiariam. Mas é de Woody...sabe como é, a gente espera um novo Hannah, Annie Hall, Manhattan....mas não! Woody é hoje um cara de bem com a vida, aproveitando para viajar, comer, beber e filmar. Ele filma apenas o que não lhe dá trabalho, apenas prazer. Seus filmes são como pequenos contos de um autor delicioso e de pouca ambição. São para usufruir. Nota 6.
   GUARDIÕES DA GALÁXIA de James Gunn com Chris Pratt e Zoe Saldana.
Muito, muito bom! Fazia tempo que não via uma aventura tão bem construída, tão cheia de humor, ação e prazer. Porque gostei tanto? Estava pronto para odiar! Mas os personagens são legais, as cenas nunca parecem bobas, e principalmente, não há medo de viajar, de se deixar levar pela fantasia. Uma delicia de filme. Espero pela continuação! Os Guardiões são muito legais! Nota 8.

BLAKE EDWARDS/ JULIE ANDREWS/ WYLER/ CUKOR/ CLIVE OWEN/ BINOCHE/ AUDREY/ WC FIELDS

   FRONTERA com Ed Harris e Eva Longoria
Fujam! Um lixo sobre imigrantes ilegais.
   POR FALAR DE AMOR de Fred Schepisi com Clive Owen e Juliette Binoche
O nome nada tem a ver com o filme. Ainda inédito aqui, fala de um professor de inglês com a corda no pescoço. Bebendo muito, corre o risco de perder o emprego. Uma nova professora de artes chega, amarga e com doença degenerativa. Os dois se odeiam e depois se amam. Parece uma tolice? Juro que não é! Tem bons diálogos, nunca desce a apelação, nada melado. Owen está excelente, faz um professor cínico, antipático e maníaco por palavras. Esse o centro do filme: a palavra ou a imagem, o que vale mais? Juliette, uma atriz por quem não morro de amores, está muito radiante.Nota 6.
   OS 39 DEGRAUS de Alfred Hitchcock com Robert Donat, Madeleine Carroll e Peggy Ashcroft
Talvez seja o melhor filme inglês de Hitch. O roteiro é totalmente inverossímil, mas who cares? Hitch era sempre assumidamente inverossímil. O que ele queria era poder criar grandes cenas e este filme tem várias. A cena inicial, no show de variedades, com seu sabor expressionista. Depois as cenas na casa do casal que dá abrigo ao fugitivo. Cenas no trem, na estrada, no hotel e por aí vai. O tema é caro a Hitch, um homem foge acusado falsamente de crime. Ação sem parar, humor, e muito, muito clima. A fotografia de Bernard Knowles é brilhante. Observe logo no começo a luz sendo acesa no quarto, o canto da tela iluminado e todo o resto escuro...Ótimo! Hitch faz aqui uma das mais perfeitas diversões. Nota DEZ!
   O MORRO DOS VENTOS UIVANTES de William Wyler com Laurence Olivier, Merle Oberon, David Niven, Flora Robson e Donald Crisp
Wyler foi o melhor diretor do cinema americano? Nada de surpreendente nessa pergunta! Ele tem 4 Oscars e dominou a arte de filmar comédias, westerns, dramas, peças filmadas e policiais. O livro de Bronte já foi filmado até por Bunuel e se aqui ele nunca atinge a magia do texto inglês, é de longe a melhor versão para a tela. E devo dizer, os primeiros 40 minutos são dignos do mais alto cinema. Heathcliff é adotado, se enamora da meia irmã, é banido e se vinga. O filme é tristíssimo. Olivier, jovem e belo, faz um Heathcliff vulnerável, sofrido. A cena na janela, em que ele acha ter visto o fantasma de Cathy, é soberba. Faça o teste do olho, veja como os olhos de Olivier mudam com o desenvolver da fala. Merle Oberon enfraquece o filme. Ela é bela e exótica, mas não tem a força selvagem de Cathy. A fotografia é soberba. Um belo filme do mesmo ano de ...E O Vento Levou. Nota DEZ.
   DAVID COPPERFIELD de George Cukor com Freddie Bartholomew, W.C.Fields, Lionel Barrymore, Edna May Oliver, Roland Young
Tão bom voltar a ver meus filmes dos anos 30!!!!! Aqui temos Cukor, um dos mais consagrados dos diretores clássicos e a adaptação, luminosa, do clássico de Dickens. Esqueça a pavorosa atriz que faz a mãe de David Copperfield e relaxe, o filme é uma deliciosa e encantadora viagem. David sofre pacas, mas logo encontra quem o ajude. WC Fields dá um show! Sua voz enrolada e pomposa e seu tipo falso nobre picareta casam perfeitamente com o filme. Mas quem rouba o show é Edna May Oliver, aterradora e encantadora como a tia de David. Uma grande produção de David Selznick. Nota 9.
   OS 3 MOSQUETEIROS de George Sidney com Gene Kelly, Lana Turner, June Allyson
Gene Kelly fazendo Dartagnan! Só em Hollywood! Esta versão, leve e colorida, alegre e boba, de Dumas, é um grande hit de seu tempo. E ainda diverte! Sidney foi um grande diretor de musicais, e apesar de ninguém cantar, o filme é levado no clima de um grande musical. Jogue fora seu senso de realidade e deixe-se apreciar tanta tolice bem feita. Vale muito a pena! Nota 7.
   DESTINO TOKYO de Delmer Daves com Cary Grant e John Garfield
O patriotismo deste filme envelheceu mal. Acompanhamos a missão de um submarino rumo ao Japão. Cary é o capitão, Garfield um marujo meio tonto e mulherengo. Filmes da segunda guerra costumam envelhecer mal. Não é excessão. Delmer foi um bom diretor de filmes noir e de westerns. Aqui ele se perde. Cary Grant está elegante como sempre, mas pouco tem a fazer. Nota 4.
   BREAKFAST AT TIFFANY`S ( BONEQUINHA DE LUXO ) de Blake Edwards com Audrey Hepburn, George Peppard, Patricia Neal e Martin Balsam
Nunca gostei muito deste filme. Acho-o superestimado. OK, Audrey esbanja chic, mas em qual filme ela não o faz? Então o reassisto pela segunda vez e nada espero dele, e talvez por causa disso o acho agora bacaninha. Incrível como toda coisa chic se mantém! Tudo em Audrey é chic, os óculos, as roupas, o gato, o modo desleixado de se portar, a loucurinha bobinha e até o jeitinho de falar. E acontece uma coisa engraçada, começo a achar que a personagem Holly é um travesti ! Pois é incrível como os travestís pegaram TUDO desta personagem!!!! O filme se torna então um tipo de farsa chic, um catálogo da Bazaar clássica, uma Vogue vintage, um luxo! Truman Capote escreveu e a trilha de Henry Mancini é tudo de bom! Um cocktail, um bibelô, uma mesinha de laca. Um mundo perdido que a gente insiste em amar. Nota 7.
   THE SOUND OF MUSIC ( A NOVIÇA REBELDE ) de Robert Wise com Julie Andrews, Christopher Plummer e Eleanor Parker
Após Mary Poppins eis que Julie surge como a noviça que vai cuidar de crianças na Suiça e as ensina a ser crianças. E o mundo se rende a ela. Este é o filme que tirou ...E O Vento Levou do alto das paradas. Um fenômeno! NUNCA eu vira o filme. Tinha preguiça e confesso, apesar de amar musicais achava que ele fosse bobo. Bobo? Ele é uma aula de otimismo, de beleza e de ritmo. As músicas, de Richard Rodgers são obras-primas, a direção, do mestre Wise, um cara que fez clássicos de boxe, sci-fi, comédia e drama, e Julie, uma figura esfuziante, enfeitiçante, com malícia inocente e uma liberdade fantasiosa irresistível. O mundo em 1965 se apaixonou por ela. Ainda percebemos porque. É um grande, grande filme! São 3 horas de completo prazer! Viva! Nota DEZ!

STALLONE/ CARY GRANT/ SCARLETT/ ALAIN DELON/ DEPP/ KIDMAN

DIÁRIO DE UM JORNALISTA BÊBADO de Bruce Robinson com Johnny Depp
Muito, muito ruim. Depp está numa ilha do Caribe. Décadas atrás. Ele bebe, trabalha em jornal tosco, se envolve com bando de corruptos que pretende lotear a praia e ama a garota de figurão. Isso tudo, diz o filme, é baseado em Hunter Thompson. Onde? Uma chatice. Nota ZERO.
HEMINGUAY E MARTHA de Philip Kaufman com Nicole Kidman, Clive Owen e James Gandolfini
Esqueça a fidelidade histórica. Este não é Heminguay! Clive se esforça, mas o filme retrata Papa Heminguay como um alcoólatra meio chato, meio machista e nada verossímil. De qualquer modo o filme é dirigido para a personagem Martha Gelhorn, a terceira mulher do escritor e talvez a que ele menos entendeu. Uma jornalista forte e dura, mas não tão maior que Ernest Heminguay. O filme, feminista, pinta Martha como espiritualmente mais dotada que o escritor...bobagem! De qualquer modo é emocionante a recriação da revolução espanhola. O filme deveria ser só sobre isso, a guerra civil da Espanha. São momentos de grande cinema. Inclusive com a recriação das filmagens do grande Joris Ivens e de um tal de Capa perambulando por lá. Claro que Capa não era tão garoto, mas é sempre legal ver isso. Kaufman um dia fez uma obra-prima, Os Eleitos ( the right stuff ), baseado em Tom Wolfe. Depois fez a insustentável levez do ser, um belo filme, e o interessante henry e june. Como se vê, o interesse desse ex assistente de Clint Eastwood é a cultura, a boa cultura. Isso faz com que em seu pior ele seja muito pedante. Como aqui. De qualquer modo, na média o filme é ok. Nota 6.
A PISCINA de Jacques Deray com Alain Delon, Romy Schneider, Maurice Ronet e Jane Birkin
Quer saber o que seja o chic francês? Veja este filme. Ele repete a dupla masculina de o sol por testemunha e quase consegue atingir o alto nível da obra de René Clement. A história: um casal recebe a visita de um amigo. Ele vem com a filha. Forma-se a tensão. Todo filmado numa casa de campo, o chic de que falei não se mostra na casa ou nas roupas, ele existe nos corpos, nas cores, no modo como o filme é conduzido. Deray dirige matematicamente. Tudo cronometrado, exato. Devagar, mais rápido, devagar, súbito. Uma delicia de filme, um terço final inesperado e um Alain Delon no auge de seu carisma. Nota 8.
RED HEADED WOMAN de Jack Conway com Jean Harlow
Um filme impudico dos anos 30. Jean é uma secretária que seduz o patrão para ficar rica. Consegue e casa com ele. Depois seduz um outro mais rico. Consegue. E por aí vai. Nada moralista, bem dirigido, curto, foi um sucesso mas não é um grande filme. Ele tem humor, mas nunca grande humor. No mais, Jean Harlow, que foi um sex symbol famosíssimo na época, e que morreu jovem de uma apendicite, é das grandes estrelas da época a que envelheceu pior. Ainda conseguimos entender o porque da fama de Garbo e de Marlene, ainda sentimos a força de Kate e de Bette Davis, além do que Myrna Loy e Carole Lombard estão incólumes em 2014, mas Jean Harlow não. Ela parece muito antiquada. Seu apelo se foi. De qualquer modo é um filme razoável. Nota 5.
ANÁGUAS A BORDO de Blake Edwards com Cary Grant e Tony Curtis
Foi um grande sucesso em 1960. O primeiro grande sucesso de Blake, que faria na sequência breakfast at Tiffanys e a série da pantera cor de rosa. Foi mais um grande sucesso de Cary Grant, que aqui provava ainda ser uma estrela, e foi a confirmação de Tony Curtis, o novo Cary Grant que nunca deu completamente certo. Fala de um submarino na segunda-guerra. Uma sucata que é reformada pela tripulação e que depois dá carona a um grupo de mulheres marujas. Uma comédia agradável, mas não mais hilariante. De qualquer modo vemos excelentes atores ( Cary é hors concours ), um clima de alto astral e boa direção. Nota 7.
SOB A PELE de Jonathan Glazer com Scarlett Johansson
Scarlet é linda de doer. E a nudez anunciada é pudica. O filme não tem como ser pior. Me lembrou o filme de Nicolas Roeg, o homem que caiu na terra, aquele com David Bowie. Mas este é bem mais chato e vazio. Tudo nele transpira e anuncia: arte. Uma gororoba pretensiosa de quem sonha em ser Kubrick e mal pode lamber as botas de John Carpenter. Fuja! ZEEEEEEEROOOOOOO!
AJUSTE DE CONTAS de Peter Segal com Stallone, Robert de Niro,  Alan Arkin e Kim Basinger
De Niro é um ex-boxeador convencido e fanfarrão, Sly é seu ex-rival, um cara modesto que quer esquecer o passado. Kim Basinger, ainda bonita, é a mulher que dividiu os dois. Uma revanche é marcada. O filme é absolutamente tolo. Nada faz o menor sentido. Mas há algo de bom, os atores levam tudo no bom-humor, Eles não levam o filme a sério também. Dá pra ver em video, como alguma coisa pra se ver antes do jantar. Não ofende e não dá pra lembrar de nada depois de dois dias. Nota 5.
OS MERCENÁRIOS 3 de Patrick Hughes com Stallone, Mel Gibson, Harrison Ford, Antonio Banderas, Jason Statham, Wesley Snipes, Schwarzenegger...
Imagina esse elenco em 1994!!! Há um erro aqui, a graça razoável dos dois primeiros estava no trabalho em equipe. Mas aqui Sly faz quase tudo sozinho! É uma exibição narcisista que relembra o Sly descontrolado dos anos 80. O filme não é ruim em seu gênero, mas ele nada tem que nos faça torcer. Mel Gibson quase rouba o filme como um odioso bandido. Nota 3.

O MEU ESPORTE : CAMINHAR POR ENTRE OS TUMULOS DAQUELES QUE FIZERAM ESPORTES POR TODA A VIDA

""o meu esporte favorito é caminhar entre os túmulos daqueles que passaram a vida fazendo esportes". Essa frase é de Peter O`Toole e eu não a conhecia. Leio hoje, na nova Isto É, um texto muito bom de Giron sobre Peter. 
  Conheço Giron desde 1987. Dele foi o melhor texto sobre Bryan Ferry escrito no Brasil. Na Folha. A Ilustrada de Suzuki. 
  "Produtores de cinema de Hollywood são todos porcos. Nunca conheci um que não fosse." Essa frase deve explicar as oito vezes em que Peter perdeu o Oscar. Well, ela condiz com aquilo que Peter dizia ser ( e era ), um esquerdista radical que amava tanto os grandes sucessos como as vaias apaixonadas. Teve logo os dois. Aplausos pelo Hamlet que fez em Londres, dirigido por Olivier, em 1964, e vaias em seguida, por um texto de vanguarda, feito em 65. Tomates voaram ao palco e o acertaram. De verdade!
  Giron descreve maravilhosamente o modo como Peter atuava. Vendo-o logo sentiamos sua fragilidade. Apesar de alto, ele era quase feminino. Noel Coward chamou seu Lawrence da Arabia de Nancy da Arabia. Para fazer o papel, eu desconhecia isso, ele passou meses vivendo com beduinos. 
  Mas tudo mudava quando ele abria a boca e atuava. Era viril, mais que isso, agressivo. Gestos amplos, falas altas, quase a histeria. Giron atenta para os olhos de Peter. Belos. 
  Fiel a sua classe social e sua Irlanda natal, Peter sempre uniu esse seu espirito etereo com a agressividade da anarquia. Foi fiel a si-mesmo. Tinha de ser posto em geladeira. E nunca deixou de provocar.
  Queria ser jornalista quando jovem. Aos 15 anos estava empregado. Mas foi ver Michael Redgrave em Lear e isso mudou sua vida. Quis ser ator! Na escola dramatica conheceu Alan Bates e Albert Finney. A melhor das turmas desde 1925. E os excessos vieram, bebida, mulheres, brigas. 
  Hollywood o queria como um novo Cary Grant. Ele foi ser Peter O`Toole.
  Como disse Giron, sossego post-morten. Peter se cala agora.
  Foi grande em tudo. Nunca no meio, nunca o banal.
  Na mesma revista...
  Quem viu o filme CADA UM FAZ O QUE QUER ( FIVE EASY PIECES ), de Bob Rafelson, sabe o que Belchior sentiu. Como Jack Nicholson, como Larry em O Fio da Navalha, ele se desvencilha das coisas da vida e acha seu mundo.
  Em tempos mais liberais seria tudo bem aceito e nada misterioso. Em 2013 se torna o graaaande misterio!
   Deu?

007/ LINCOLN/ COLE PORTER/ WILLIS/ TOM HANKS

   A VIAGEM de Tykwer e os Wanchowski com Tom Hanks, Halle Berry, Jim Broadbent, Hugh Grant
Em 1998 nada era mais excitante que Run Lola Run e Matrix. Em 2013 nada é mais cool que meter o pau nos diretores desses dois filmes ( Shyalaman é outro ex gênio daquela geração ). Este filme não tem pé nem cabeça! Faz uma mistureba de espiritismo, fisica, futurologia e termina como apenas uma ode óbvia a all you need is love. São três horas de profundo tédio. Tom Hanks se diverte em imitar Alec Guiness, faz um monte de personagens.  É a única diversão do filme, descobrir quem é quem debaixo daquela montanha de maquiagem. Nota 1.
   LINCOLN de Spielberg com DD Lewis e Tommy Lee Jones mais a grande Sally Field
Escrevi sobre ele abaixo. Como aula de história, vale. Como cinema é enfadonho. Lincoln fala e fala e murmura. Salas escuras e negociações. Lewis está ok. Tommy é o único que dá vida ao filme. Longe de ser um grande filme, não diverte e jamais emociona. Mas dá dignidade a profissão de politico. O que hoje é louvável. Cavalo de Guerra era bem melhor. Quem quiser saber mais sobre o presidente, veja o muito superior filme de John Ford. Nota 6.
   SKYFALL de Sam Mendes com Daniel Craig
Ó James Bond...então é esse o nosso Bond versão 2013? Craig não é mal ator de todo, ele apenas nada tem a ver com o personagem. Fleming sonhava em ver Cary Grant como Bond e ninguém é menos Cary Grant que Craig. Esse Bond tem cara de burro com suas orelhas de abano. Nada sedutor, ele parece sempre estar fingindo ser James Bond. Well...cada época tem o Bond que a reflete, Danny é um pseudo-Bond numa época de virtualidades. O filme tem ação banal, enredo pobre e nunca mostra aquela coisa divertida e sacana que fez a lenda de Bond. Alguns criticos o elogiaram. Com certeza são aqueles que nunca gostaram de 007. Nota 1
   E A VIDA CONTINUA  de George Stevens com Jean Arthur, Cary Grant e Ronald Colman
Este roteiro é muito esquisito. Começa como drama, vira comédia leve e termina como drama novamente. A impressão é a de que as 3 partes não se unem. Fala de um acusado de assassinato que foge e se esconde na casa de ex-namorada. Um famoso juiz se hospeda lá... Stevens foi um dos gigantes de Hollywood e o fato deste filme ser agradável, mesmo tendo roteiro tão confuso, mostra o quanto Stevens sabia dirigir. Ele começou como montador nos filmes de Laurel e Hardy, sabia dar ritmo aos filmes. Nos anos 50 Stevens faria clássicos como Giant, e Shane. Cary está meio fora de papel e Colman domina o filme com muito tato e humor. Agradável. Nota 6.
   ALTA SOCIEDADE de Charles Walters com Bing Crosby, Frank Sinatra e Grace Kelly
Um filme com Bing e Frank cantando ótimas canções de Cole Porter. O que mais se quer? Grace Kelly, bonita como uma deusa. E ainda tem Louis Armstrong fazendo Louis Armstrong. O filme, modelo de chique, fala de uma moça frigida que vai se casar. O ex-marido fica por perto e a perturba. O roteiro é uma simplificação da peça de Philip Barry que fez a glória de Kate Hepburn. Hollywood teve duas aristocratas atrizes: Kate e Grace, as duas fizeram este papel. O filme é alegre, leve, colorido, elegante, um exemplo do que antes se chamava de "diversão civilizada". As canções de Porter são sensacionais, saltitam. True Love foi um hit depois regravado por George Harrison. Grace brilha intensamente. Frank nunca esteve tão simpático. Nota 9.
   HUDSON HAWK de Michael Lehmann com Bruce Willis, Danny Aielo e Andie MacDowell
O filme que quase acabou com a carreira de Willis. Superprodução, foi um fracasso em 1991. É uma comédia sem graça que fala de plano para roubar pedras que formariam uma máquina de Leonardo da Vinci que transformaria chumbo em ouro. As piadas não têm graça, Willis está exagerado e a ação é confusa. De qualquer modo há a bela Itália e o estilo de Andie. Nota 4.
   ZOOLANDER de Ben Stiller com Stiller e Owen Wilson
Fuja! Nada aqui tem graça. Nota Zero.