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CARAVAN, IN THE LAND OF GREEN AND PINK

Hoje, primeiro dia do outono, sinto as coisas perdidas. O que nos constroi não é o que temos muito menos aquilo que desejamos, mas sim o que foi perdido. Há um momento nessa canção, quando o piano começa a ser dedilhado, que fala exatamente disso. Ganhamos a beleza desses acordes, mas ao ganhar os perdemos, pois tudo é uma perda...ou não? Os dedos se vão entre as teclas produzindo beleza superlativa e meus ouvidos e minha alma vai junto até essa Terra da Inocência. Sim, eu posso reouvir quantas vezes eu quiser, mas aquele momento...onde? Se perdeu. Caravan era uma banda de Canterbury e isso faz deles ilheus dentro de uma ilha. Da turma de Kevin Ayers, eles conjugam magia com beleza e beleza com alegria etérea. Então vou ir adiante nessa ideia ( e eu sei que este texto está como lodo ): Se tudo é perda então cabe à vida ser construção incessante, pois cada perda deve ser compensada. E quando o piano é dedilhado e aquele momento único é perdido, pois ele nunca mais será como o primeiro, então essa impressão e esse sentimento devem ser levados avante, desenvolvidos e usufruidos ao infinito. Eis então John Keats: um momento de beleza é alegria para sempre. E se ameacei cair na negação de afirmar que a vida é perda, então agora afirmo que não pode haver perda onde mora a beleza. O disco é sublime.

Caravan In the Land of Grey and Pink

IN THE LAND OF GREY AND PINK- THE CARAVAN

   Naquele tempo se juntava um grupo de músicos e se ia para o mato. Depois de seis meses numa casa junto ao nada se sabia. Se o astral batia. Se as viagens sintonizavam. Não se pensava em excelência musical ( só o Cream embarcara nessa e dera tudo errado ). O que valia era fazer um som com quem tinha a ver. Magia.
 Sim, isso tudo parece bem bobo nos olhos cínicos de hoje. But, why not...Dar preferência ao astral é no mínimo tão válido quanto escolher um baixista por ser mulher e loira.
 Então os caras nasceram em Canterbury e isso muda tudo. Além de pronunciar o H como se fosse F. Canterbury foi o centro católico da Inglaterra e ainda é o lugar do cardeal que abençoa os reis. Nascer lá é como nascer no foco espiritual da ilha. E se em 1967 toda a nação bretã mergulhava numa viagem mística medieval ( alguns mais, outros bem fake, ia de acordo à capacidade de cada um ), era lá que a coisa pegava de um modo mais "pra valer". Pra valer porque mais discreta. Basta dizer que toda a galera do lugar nunca mais saiu da viagem. Eles não viraram reis do glamour e nem funkearam nada. Continuaram ciganos ingleses. Até morrer.
 Os irmãos Sinclair, Richard e Dave fizeram parte de uma banda fundadora de lá: The Wilde Flowers. Wilde em homenagem ao Oscar. Dessa trupe saiu nenhum yeah yeah yeah. Era 1964 e eles já falavam em decadência e chás suspeitos. Ok. Em 1968, depois da estada na fazenda, gravaram um disco: Caravan. Os irmãos Sinclair com Pye Hastings e Richard Coughlan. Sem ego trip. Não há um líder. O guitarrista, Hastings, nunca sola. Richard Sinclair canta com voz de barítono e toca baixo como ninguém. Mestre. Pye canta com voz de quase falsete. E o hammond organ de Dave Sinclair comanda todo o som. Os caras além de amigos tocam bem.
 Invernal, um leve acento de melancolia, mas sempre com um espírito leve, de paz e amor, letras nonsense, eles nunca se ocupam de temas da vida lá fora. Tudo neles é pra dentro. E são ingleses pra caramba!
  Seu grande disco é o terceiro: In The Land Of Grey and Pink, de 1971. Quase um sucesso. Mas os quatro primeiros são ótimos. É pra ouvir andando no mato com uma xícara de chá. E os amigos. Ou com uma menina de olhos cinzentos enrolada num cobertor. É da lama. E dos cogumelos.
  Viciei-me.