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O WESTERN MODERNO

No fim da década de 50 a TV americana chegava a ter 40 séries de western em exibição ao mesmo tempo. Foi isso e só isso que matou o filme de western no cinema. As pessoas não queriam pagar para ver numa tela grande aquilo que recebiam às dúzias na sala de casa. Quando em 1964 os italianos começam a fazer westerns eles atendem um desejo do público europeu, pois na Europa não havia tanta série de TV e o povo sentia falta dos cowboys. Acontece então o que aconteceu na mesma época com o rock, uma criação americana se renova após ser adotada pelos europeus. No caso do rock, isso foi 100% benéfico, no caso do western, penso que não. O cinema de Hollywood começou a usar tiques do estilo italiano para tentar renovar o gênero, e assim mataram a coisa de vez. Desde 1965, filme de faroeste é sempre saudosismo. ---------------------- Vejo aqui um pack com 6 filmes de faroeste moderno. Todos feitos no auge da crise do estilo, entre 1970-1974. Violência é o que os diferencia do filme de cowboy feito antes, mas além da violência há a vontade de ser original, os ângulos de câmera esquisitos e a trilha sonora intrusiva. --------------- Vejo os dois primeiros filmes de Monte Hellman, escritos por Jack Nicholson, filmes que hoje os críticos defendem, mas que têm como característica seu tédio sem fim. São westerns que tentam mostrar o que os filmes de Hawks ou Mann não mostrava, revelando assim que era o tédio aquilo que não se mostrava. A VINGANÇA DE ULZANA é de Robert Aldrich e fala de Ulzana, líder apache sendo caçado por Burt Lancaster. O filme exibe a crueldade do apache, uma cultura que exigia a tortura de seus inimigos. Quanto mais sofrimento voce infrigisse a seu rival, mais poder dado pelos deuses voce obtinha. Dizem que Huston era o mais macho dos diretores, mas Aldrich era mais. Diretor com obra variada, seu cinema é sempre forte. É o melhor filme do pacote. OS 3 DISCÍPULPOS DA NOITE é o nome péssimo de THE SPIKES GANG. Richard Fleischer dirigiu a saga de 3 garotos que fogem de casa para seguirem o estilo de vida do ladrão Lee Marvin. Nostálgico, tem momentos melosos demais, mas acaba sendo uma boa diversão. Com final amargo. HANNIE CAULDER é o primeiro western feminista. Tem Raquel Welch e Burt Kennedy dirigiu. É bem ruim. E por fim ASSIM NASCE UM HOMEM, produção que passava muito na TV dos anos 80 e que fala de um garoto que deseja ser vaqueiro. Observe que na tentativa de se renovar, o gênero usa jovens como tema central, mulheres sexy como as heroínas e muito sangue em tiroteios pseudo realistas. Dentre os 6, apenas o filme de Aldrich, em que pese a violência é o mais tradicional, é um grande filme. Os demais variam do ruim ao razoável. ---------------- Nos anos 80 apenas Clint e mais meia dúzia de filmes nostálgicos manteriam o gênero vivo. Uma pena, pois western é o mais cinematográfico dos estilos. Numa tela grande nada se compara ao espetáculo de cavalos correndo, imensos desertos, vento de noite e cidades fantasmas.

JAZZ, MENTIRAS E JAMES WONG HOWE

A EMBRIAGUEZ DO SUCESSO e´constantemente votado como um dos top filmes de história. Feito em 1957 pela produtora de Burt Lancaster, é um dos melhores filmes em estilo jazz e o melhor sobre o poder da imprensa. ---------------- Ratos. Falco, feito de forma brilhante por Tony Curtis, é um puxa saco. Asqueroso, ele é xingado o tempo todo por seu chefe, JJ Hunsecker ( os nomes dos dois personagens se tornaram míticos nos EUA ). Para subir no ramo, jornalismo, Falco joga muito, muuto pesado. Sua missão agora é destruir o romance da irmã de JJ com um guitarrista de jazz. Para isso ele vai usar todo o veneno que puder. Enquanto isso vemos JJ, um tirano que usa sua famosa coluna de jornal para humilhar inimigos, criar celebridades e ganhar ainda mais poder. Vaidoso, auto centrado, frio, arrogante, Burt Lancaster tem uma atuação de pedra. Observe suas imensas mãos. Observe seus óculos que mais parecem objetos militares. E observe Falco, sempre ansioso, sempre humilhado e jamais deixando de servir, de se rebaixar, e de criar armadilhas para o tal guitarrista. o Filme é revoltante, e é forte, muito forte. --------------- Chico Hamilton e seu quinteto estão no filme e ele é um filme de jazz também. Os cortes enviezados, as cenas nada melosas, os diálogos agudos ( Clifford Odets e Ernest Lehman, duas feras ), e a fotografia do grande James Wong Howe, dão ao filme o sabor de um solo de trompete. A cidade, confusa, cheia de rostos, os bares chiques, esse é o ambiente do filme, nervoso. ------------ Alexander MacKendrick era um diretor inglês de comédias e suspense e foi chamado para dirigir. Acertou em cheio. O filme é um clássico. ------------- Reação após ver o filme? Graças a internet o poder absoluto e inquestionável da imprensa tradicional foi para o esgoto. Eles ainda chiam dentro dos detritos, mas nunca mais terão o poder de JJ. Seus cigarros não são mais acesos pelo primeiro Falco à disposição.

RUSSELL CROWE* RYAN GOSLING# SACHA BARON COHEN+ AVA GARDNER* LAUREL E HARDY * BURT LANCASTER

   THE NICE GUYS de Shane Black com Russell Crowe, Ryan Gosling
Acho que ainda não passou por aqui este muito, muito, muito bom policial. Não há um só minuto que seja menos que bom, são 150 minutos de completa diversão. É sexy, é irado, é cheio de ação, tem diálogos nonsense, e é muito engraçado sem ser bobo. Tem 3 momentos que me fizeram gargalhar. A história fala sobre cinema pornô, politica, fracasso e bebidas. Crowe é um ajustador de contas, um cara que voce contrata para bater em alguém. Gosling é um detetive doidão que tem uma filha esperta ( uma excelente atriz jovem, Angourie Rice ). Os dois, por acidente, se conhecem e passam a trabalhar juntos numa história de chantagem e assassinatos. O roteiro tem furos, mas quem liga pra isso se o filme funciona hiper bem... Russell trabalha com vontade ( enfim... ) e Ryan está no seu momento, ele é engraçado, tem o dom. Shane Black dirige poucos filmes. Os que vi são sempre inteligentes, leves e muito sedutores. Diálogos, ele sabe fazer ação com bons diálogos. Ah sim, o filme se passa em 1977 e isso me traz uma ideia: Parece que é preciso situar um filme em 77 para ele ter a licença de ser amoral, safo, esperto, com ação sem efeitos digitais, muito diálogo e com cenas sexy-alegres. Why... Se fosse em 2016 tudo isso teria de ser triste ou neurótico...É estranho... O clima de 1977 está perfeito, sem exagero nenhum. Não é de 1977 que rimos, é do belo roteiro ( de Black ). Nota 9.
   IRMÃO DE ESPIÃO de Louis Leterrier com Sacha Baron Cohen, Mark Strong e Penelope Cruz.
Um fiasco. Muito ruim, muito apelativo, sem interesse. Sacha é o irmão hooligan de um super agente. Estão separados desde crianças. E se reencontram no meio de uma ação de Strong. Aff... So What! O tipo proletário inglês de Sacha poderia ser engraçado, é apenas grosso. Um completo desastre. Nota ZERO.
   AS MARGARIDAS de Vera Chytilová com Ivana Karbanová e Jitka Cerhová.
Um filme tcheco de 1966 feminista e muito livre. Faz parte da renascença tcheca, aquele momento de liberdade que em 68 foi esmagado pelos tanques russos. E é um filme moderno, ainda, e ao mesmo tempo muito velho. Moderno por não ter regras, a diretora faz o que quer quando quer. Velho por ser bastante otimista, alegre, uma alegria que hoje nos parece antiga. O que depõe contra nós... São duas amigas que moram onde der, comem enganando velhos ricos e fazem o que dá na cabeça. Acima de tudo elas não precisam de homens. E os usam. Inocentemente. O que encanta no filme são as duas atrizes. Elas interpretam como crianças grandes. Riem de vergonha, improvisam, cantam, fazem beicinho. Uma delas é de uma beleza eslava arrebatadora..Musa. O filme é curto, apenas 80 minutos e é ainda interessante. Uma peça de museu. Nota 7.
   O NAVIO CONDENADO de Michael Anderson com Gary Cooper, Charlton Heston e Michael Redgrave.
No Canal da Mancha, uma barcaça topa com um navio abandonado. O capitão Heston entra nesse navio e lá encontra o capitão Cooper. O mistério se faz: Por que esse navio foi abandonado pela tripulação... Os primeiros 30 minutos são muito bons. Sem diálogos. Depois vira um filme bem comum. Os atores, claro, seguram a atenção. Mas ele se perde no final apressado. Nota 5.
   ZONA PROIBIDA de William Dieterle com Burt Lancaster, Claude Rains, Paul Henreid, Corinne Calvet, Peter Lorre.
Na África do Sul assistimos num pb deslumbrante, a história de um homem que escondeu diamantes de uma mina particular. O filme então mostra o embate entre esse aventureiro, Lancaster, o gerente da mina, sádico, Henreid, o dono da mina, o cínico Claude Rains e uma prostituta francesa, Calvet. O elenco não podia ser melhor. Dieterle foi ator do cinema mudo alemão e imigrou durante a guerra. Fez excelentes filmes de tudo quanto é gênero. Um profissional que sabia tudo de cinema. E sempre usando o clima do expressionismo alemão. Peter Lorre aparece pouco. E quase rouba o filme. Nota 8.
   A DEUSA DO AMOR de William A. Seiter com Robert Walker e Ava Gardner.
Um modesto vitrinista de uma loja imensa se envolve com Vênus, a deusa do amor. Ela vem à terra como uma estátua, que ganha vida quando ele a beija. Sim, é uma fantasia total. E, à beira do desastre, funciona. É um filme que grita por uma refilmagem da Disney. Ava está absolutamente linda. É este o filme que a revelou para o mundo. Walker foi um grande ator de carreira curta. A bebida o levou cedo. Para melhorar tudo, temos Speak Low, de Kurt Weill. Pra quem não sabe, Weill foi parceiro de Brecht em seus musicais. Sabia tudo de música. O filme é uma comédia leve e sublime. Veja. Nota 7.
   O FILHO DE ALI-BABÁ de Kurt Neumann com Tony Curtis e Piper Laurie.
Filme da Sessão da Tarde dos velhos tempos. Não, não é bom. Curtis, um ator sempre simpático, faz o playboy filho de Ali Babá, que perde tudo o que tem por causa de uma trama de um vizir rival. O clima é relaxado demais e a gente percebe todo o tempo ser um filme B. Envelheceu mal. Nota 3.
  ERRADO NOVAMENTE e HABEAS CORPUS de Leo McCarey com Laurel e Hardy.
Stan Laurel foi um gênio. Somente Buster Keaton e W.C.Fields chegam perto de sua genialidade. ( Os Marx eram um grupo que funcionava como grupo ). Laurel consegue ser um pateta sem nunca nos irritar. Consegue ser ingênuo sem nunca despertar pena. E Oliver, o gordo irritado, o completa à perfeição. Foi McCarey quem os burilou e lhes deu o passaporte para a eternidade. Aqui temos dois curtas silenciosos. No primeiro eles devolvem um cavalo à um milionário. No segundo eles procuram corpos em cemitério. Os dois filmes são simples, diretos e ainda engraçados. Os dois são parte do tesouro do cinema.

OZON/ FREUD/ BILLY CRYSTAL/ LANCASTER/ BORZAGE

   UMA FAMILIA EM APUROS de Andy Fickman com Billy Crystal, Bette Midler e Marisa Tomei
Avôs alegres e soltos e netos de vida programada e utilitária. Óbvio que os avôs irão salvar a vida chata dos netos. O roteiro nada tem de novo. Mas o filme se mantém ok. Porque? Billy Crystal é um tremendo comediante! E Bette Midler sempre foi uma diva. Tomei, ainda bonita, é a filha dos dois e mãe dos tais netos problemáticos. Nota 4.
   ANGÉLICA E O SULTÃO de Bernard Borderie com Michele Mercier e Robert Hossein
Um pavor! Este filme foi um hit na França dos anos 60. Tanto que foram feitas cinco sequências. Nos anos 70, na Tv Tupi, ele foi um dos primeiros a despertar minha "paixão" por um símbolo sexual. Lembro de assistir escondido, de madrugada. Visto agora é uma imensa decepção! Tem a pior trilha sonora da história, ação mediocre e nenhuma emoção. E Michele nem era tão bonita! Nota ZERO.
   FREUD ALÉM DA ALMA de John Huston com Montgomery Clift, Susannah York e Larry Parks
Existem momentos em nossa vida que são decisivos. Houve uma madrugada quando eu tinha 15 anos que foi assim. Na Globo passou, era segunda-feira, este filme no Corujão. Porque o assisiti? Uma bela crítica no JT. Fiquei abestalhado quando o vi. Tudo nele me enfeitiçou: o p/b genial e austero de Oswald Morris, a trilha sonora de Jerry Goldsmith, trilha que usa até mesmo música eletrônica-concreta. O romantismo rebelde do homem inovador contra tudo e contra todos, a incompreensão de seus colegas. O tom sofrido de Clift, numa atuação que joga em nossa cara um misto de inteligência e perdição. É um Freud sempre crível. A beleza dos pesadelos vienenses.... Lembro que não consegui dormir. Esperei minha mãe acordar para lhe dizer, às seis da manhã, que meu futuro se decidira: eu iria ser um psicólogo. Freud se tornou um de  meus ídolos por vinte anos. Depois percebi que meu ídolo era na verdade John Huston que fizera o filme. O filme passou esta semana em versão dublada na Cultura. Pensei em não o rever. Freud a muito se tornou um passado morto para mim. Mas não resisto. O filme volta a me enfeitiçar. E noto então que o que me seduzira fora a narrativa, a saga do intelectual contra o mundo, a saga da curiosidade em sua jornada e principalmente o soberbo e sublime clima vitoriano que o filme exala. Não me fiz psicólogo e não lamento isso. Me fiz um tipo de vitoriano. O filme antecipou sentimentos que eu encontraria em Henry James. Esteticamente é um primor. Huston, diretor de homens solitários contra seu meio, diretor dos derrotados, venceu. Nota DEZ!
   STREET ANGEL de Frank Borzage com Janet Gaynor e Charles Farrell
Gaynor ganhou o Oscar de atriz em 1929 por este filme. Que é um belo exemplo de filme silencioso. A câmera desliza, rola por ruas e fachadas, voa. Janet é uma moça sem lar que se une a trupe de circo. Há um bocado de alegria no filme. Uma alegria tristonha. Borzage foi um dos primeiros grandes do cinema americano. Os rostos são fascinantes. Nota 7.
   O ESPADACHIM NEGRO de Tay Garnett com Alan Ladd e Patricia Medina
Boa aventura medieval. Há ritmo na história chavão do ferreiro pobre que se disfarça de cavaleiro negro para se vingar de injustiças. Eu adoro filmes que usam espadas, muralhas e cavalos. Aqui temos tudo isso. Ladd não convence muito como herói medieval, ele é muito baixo e meio americano demais, mas a coisa funciona por causa de sua rapidez e falta de seriedade. Nota 5.
   DENTRO DE CASA de François Ozon com Fabrice Luchinni, Emmanuelle Beart e Kristin Scott Thomas
Tenho me "obrigado" a acompanhar o cinema atual. Tento ficar razoavelmente por dentro daquilo que rola nas telas deste século. E está na hora de confessar...não é fácil ! Tenho sido condescendente com filmes feitos de 2000 para cá. Quero gostar deles. Não os comparo aos clássicos. Os comparo com filmes de seu tempo. Mas, para ser sincero, isso começa a me enjoar. Quando entrei na era do dvd, passei três maravilhosos anos em que descobri 80% dos clássicos do cinema. Minha paixão foi lá em cima ! Que noites fantásticas ao lado dos filmes dos anos 30, 40, 50... Mas agora...É tudo tão pobre! Veja este filme: Um suspensezinho muito do comum que alguns críticos, e eu os entendo, colocam em alto posto. Não é um filme ruim. Apenas banal. Um aluno enrola um professor com redações que contam seu envolvimento com familia de amigo. É só isso. Devo dizer que o filminho cansa aos 40 minutos. Nota 3.
   BASTA, EU SOU A LEI de Burt Kennedy com Robert Mitchum, George Kennedy e Martin Balsam
Mitchum já era um veterano neste western que brinca com a velhice. Ele é um xerife que é aposentado por idade. Mas acaba por se unir a ex-rival e juntos eles salvam a cidade. Como se pode notar, o tom é leve, mas o tema é sério: a idade dos heróis, o momento em que o velho mundo dos cowboys morre e eles são afastados. Pode-se dizer que o filme fala também do fim do filme de western também. É um bom filme. Mitchum atua de seu modo distanciado. Kennedy está ótimo. Nota 6.
   APACHE de Robert Aldrich com Burt Lancaster
Dificil aceitar Burt como um apache. É um filme duro em seu começo. Vemos os apaches como judeus em campo nazista. Burt Lancaster é Masai, que foge a pé do exilio e volta a sua terra. Os brancos o perseguem. Aldrich foi um excelente e forte diretor. Sua filmografia é repleta de presentes dados ao público. De "Baby Jane" à "The Dirty Dozen". Ele se perde aqui ao esticar demais as cenas de romance. O filme cai e não se ergue mais. Pena. Nota 4.

HANSON/ DIANE LANE/ DICKENS/ BIG WAVES/WESTERNS RUINS/ PARKER

   PARKER de Taylor Hackford com Jason Statham, Jennifer Lopez, Nick Nolte
Hackford é o tipo do profissional pra toda obra. Ele pouco se preocupa em "provar" sua inteligência ou seu talento artistico. Ele filma em função do roteiro, ele conta uma história, narra. Foi assim com Ray, com A Força do Destino ou Advogado do Diabo. Aqui, usando o carismático Statham, o que se narra é uma ótima história de malandragem. Ação, suspense e humor. Que mais voce quer? Eis o cinema ao estilo Curtiz, Hawks e Sturges. Pura eficiência. Vamos deixar de ser idiotas. Cinema também é e sobretudo é, circo. Amar o cinema é amar tudo o que ele tem de mais vital, de mais verdadeiro. A emoção, o objetivo alcançado, a alegria do fazer, a satisfação do público que ainda crê nessa arte tão mal entendida. Há quem procure num filme filosofia. Ora, deixe de ser preguiçoso e vá ler Kant ou Hegel. Há quem procure no cinema Anna Karenina ou Morte em Veneza. Deixe de ser preguiçoso e vá ler os livros de Mann e Tolstoi. Cinema é imagem em movimento, cinema é fantasia, magia que pode ser alegre, triste, perturbadora ou futil, mas que deve ser sempre movimento, cinema. Hawks, Hitchcock e Ford me ensinaram isso. Nota 8.
   O VALE DA VINGANÇA  de Richard Thorpe com Burt Lancaster e Robert Walker
Um faroeste ruim. E assim como acontece com musicais, um faroeste quando é ruim é o pior tipo de filme que há. O que é um faroeste ruim? É um filme sem ação, sem nada de mitológico, arrumadinho, limpo, higiênico. Burt está mal utilizado e o filme é um tédio. Nota 2.
   OBRIGADO A MATAR de Joseph H. Lewis com Randolph Scott
Outro mal faroeste. Nada acontece nesta pseudo-aventura sobre ex-matador agora da paz. Lewis foi um diretor B que os Cahiers adoravam. Ele não é aquilo que os franceses gostariam que fosse. Nota 1.
   HERANÇA SAGRADA de Douglas Sirk com Rock Hudson e Barbara Rush
Ross Hunter produz na Universal este western em que Hudson faz um indio pacifico. Sua luta é contra seus companheiros comanches, ainda em guerra. Sirk dirige e carrega no drama familiar, sua especialidade. A fotografia é belíssima. O filme acaba poe ser comum, indefinido entre ação e drama. Nota 4.
   O AMANTE DA RAINHA
Filme dinamarquês. Indicado ao Oscar 2012. Fala de um rei meio insano e de sua rainha inglesa, do bem. Ela se envolve com um médico moderninho. Hum... e daí? O filme é horrivelmente tolo. Nada consegue mostrar da época observada. O rei é um maluquinho de 2012, assim como a rainha parece saída de algum café de Copenhaguen. Pior é o médico: sociólogo da Vila Madalena, nada nele é de verdade. Iluministas não eram como esse bobinho, reis loucos não eram como esse tontinho e rainhas esclarecidas não se portavam como essa dondoca do Arouche. Queres conhecer de verdade a época retratada? Barry Lyndon de Kubrick ou Ligações Perigosas de Frears é vosso filme. Ah sim! Este filme poderia ser uma deleitosa fantasia como o Anna Karenina de Joe Wright, um show de técnica que nunca tenta ser retrato fiel de 1880. Mas esta tolice nada tem de deleite, muito menos de show. Zero.
   TUDO POR UM SONHO de Curtis Hanson e Michael Apted com Gerard Butler, Abigail Spencer
História real sobre um garoto dos anos 80 que se torna um surfista de big waves ( Maverick ). Na verdade o filme tem o esquema de um western: o veterano amargo que ensina o novato empolgado. Butler está bem como o rei veterano e anti-social das big waves. Ele produziu o filme com Hanson. É um filme modesto, simples e sincero. Nada de especial, mas tem cenas no mar incríveis e sem efeitos digitais. Hanson foi o grande diretor de Garotos Incríveis e de LA Confidential. Apted teve fama nos anos 80 de muito bom diretor. Porque dois diretores? Brigas? Filme ok. Nota 5.
   SOB O SOL DA TOSCANA de Audrey Wells com Diane Lane e Raoul Bova
Li o livro e gostei. O filme foge do livro, muda tudo. Coisas do cinema.... Lane, sempre adorável e bonita, ( a acompanho desde 1979!!! Ela começou em Pequeno Romance com Laurence Olivier aos 13 anos.... ) bem, aqui ela é uma mulher que leva um pé do marido e acaba na Itália, onde compra casa caindo aos pedaços. Assim como acontece com os livros de Peter Mayle, vemos uma americana em contato com uma cultura mais antiga, mais relax, muito mais sensual. O filme é lindo de se olhar e nunca ofende a inteligência. Nota 6.
   GRANDES ESPERANÇAS de Adolfo Cuáron com Ethan Hawke, Gwyneth Paltrow e Anne Bancroft
Assisti em 2000 e não gostei. Dei mais uma chance ontem...Em 1945 David Lean fez um belíssimo filme sobre este livro de Dickens. E quando Lean fazia um filme belo, bem, era um filme muito belo! Cuáron refilma o livro colocando-o no sul dos EUA nos tempos de hoje. Cuáron se humilha... coitado. O filme é muito, muito ruim. Pior ainda, ele é risivel. Quando a grande Anne Bancroft começa a dançar em sua casa de mulher louca tudo o que queremos fazer é rir e desligar o DVD. Robert de Niro também comparece como um ladrão fugitivo. Um dos maiores fiascos da história dos filmes.

   

CLOONEY/ SEAN CONNERY/ MARLOWE/ ANG LEE/ ALDRICH

   SETE PSICOPATAS E UM SHIH TZU de Martin McDonagh com Colin Farrell, Sam Rockwell, Abbie Cornish, Woody Harrelson, Christopher Walken e Tom Waits
Um elenco interessante em mais uma imitação de Tarantino. Diálogos sem sentido, violência de HQ, musiquinhas cool e uns personagens esquisitos. Tempere essa receita com humor e cores fortes. Certo? Não, tudo errado. Neste filmeco sobre um escritor sem inspiração e seu amigo tonto ( que vive de sequestros a cães ), tudo dá errado. O humor é medíocre e pior, os personagens são frouxos. Insuportável de tão vazio. Nota Zero.
   UM HOMEM MISTERIOSO de Anton Corbijn com George Clooney
Clooney é um assassino de aluguel que se refugia na Itália. Anton foi um famoso diretor de clips. Isso se percebe logo, ele é incapaz de encenar um diálogo. O filme é uma série de imagens frias, mal montadas e sem porque. Clooney posa e o filme é um nada absoluto. Nota Zero.
   NUNCA MAIS OUTRA VEZ de Irvin Kershner com Sean Connery, Klaus Maria Brandauer, Kim Basinger e Max Von Sydow
Em 1983 dois filmes de James Bond foram feitos. Um oficial, produzido por Saltzman e Brocolli; e um alternativo feito por outra equipe, mas com o trunfo de ter Sean Connery de volta ao papel, após 12 anos longe. É estranho, porque é um Bond sem o tipo de letreiro habitual e sem a trilha sonora de John Barry. Mas é 100% o velho Bond de sempre. A trama é sobre o roubo de arma nuclear e Connery está excelente no papel: cínico, mulherengo e frio como aço. De bônus há o fato de ele brincar com sua idade. James Fox faz seu patrão e diz que Bond está ultrapassado. O filme tem uma ótima primeira parte ( e uma péssima trilha sonora, de Michel Legrand ), mas perde ritmo no fim. Kershner vinha de dirigir O Império Contra-Ataca e Kim Basinger começava a chamar a atenção. É uma aventura que jamais se leva a sério. Nota 5.
   LOCAL HERO de Bill Forsyth com Peter Riegert e Burt Lancaster
Faz muito tempo que eu queria ver esse filme. Isso porque ele é sempre eleito pelos ingleses um de seus filmes favoritos de todos os tempos. Trata-se de um modesto filme dos anos 80 que fala de um jovem americano que vai à uma vila escocesa. Esse jovem trabalha numa enorme companhia de petróleo e seu objetivo é comprar a vila para construir uma refinaria. O filme tem seus primeiros quinze minutos sem nada de especial, mas de repente ele cresce e nos seduz completamente. A população adora a ideia de vender a vila inteira e o filme transcorre desse jeito: as coisas acontecem imprevisíveis e em ritmo normal. Nada de chocante acontece, nada é grande ou esquisito, entramos na vida banal daquela gente, que não são tristes e nem alegres, e sentimos estar diante de gente real e de vida de verdade. O lugar nem é tão bonito! Lancaster está excelente como o dono da empresa de petróleo, um solitário que é apaixonado por astronomia. O filme, discreto e bonito, é cheio de vida. Nota 8.
   MURDER, MY SWEET de Edward Dmytryck com Dick Powell
Excelente filme noir. Powell faz Marlowe, o mitico detetive de Raymond Chandler, e sua abordagem é completamente diferente daquela de Bogart. Powell faz um Marlowe muito mais pé de chinelo, sem moral, cheio de humor. Dmytryck era um ótimo diretor antes de ser pego pela comissão de McCarthy e demonstra isso aqui. O filme tem estilo, tem ritmo, ótimas cenas e diverte muito. Todo passado no mundinho de botecos, becos e sombras, é boa opção para quem quer conhecer esse maravilhoso gênero de cinema. Másculo, direto, e muito influente. Nota 7.
   COM A MALDADE NA ALMA de Robert Aldrich com Bette Davis, Olivia de Havilland, Joseph Cotten e Agnes Moorehead
Após o sucesso de Baby Jane, Aldrich reconvoca Bette Davis e lhe dá mais uma vez um filme de horror em que ela faz uma velha doida. E coloca outros veteranos a seu lado. Mas se Baby Jane foi inesquecível, este é apenas correto. Não assusta como o filme anterior e Bette não tem um papel tão forte como foi aquele. A gente percebe que alguma coisa aqui foi forçada. De qualquer modo, é um prazer ouvir Bette Davis e temos Agnes Moorehead dando um show como a maltrapilha empregada da casa. Nota 5.
   AS AVENTURAS DE PI de Ang Lee
Visualmente belíssimo, ele passa por alto das implicações contidas no primeiro terço do livro de Martell. Dessa forma, deixamos de conhecer Piscine em profundidade e nem sabemos o porque de sua familia. Mesmo assim Ang Lee produz mais um filme que nos surpreende. Vivemos uma época de cineastas pouco versáteis. Um filme de Wes Anderson ou de Thomas Anderson ou de Tarantino, por melhor que seja, sempre se parece com tudo aquilo que seu diretor sempre fez e faz. Mas não Ang Lee. Ao melhor estilo John Huston ou William Wyler ou Fred Zinnemann, Lee faz filmes em função da história a ser contada. Desse modo, Hulk nada tem que lembre Brokeback Mountain que nada tem a ver com Tempestade de Gelo. É um dos maiores talentos de nosso tempo. O filme é o que poderia ser, nem mais nem menos. Emociona menos que deveria, erra menos do que seria provável. Em mãos menos hábeis teria tudo para ser ridiculo. Nota 7.

SEAN CONNERY/ TOM CRUISE/ BURT LANCASTER/ STEVE MARTIN/ STENO/ O MORRO DOS VENTOS UIVANTES

   OS DIAMANTES SÃO ETERNOS de Guy Hamilton com Sean Connery e Jill St.John
Pagaram uma grana preta para fazer Connery voltar ao personagem. George Lazenby tinha dado errado e com medo de perder a série convenceram Sean. Mas pluft! o filme não dá certo. O roteiro é confuso, a ação sem suspense e até as bond girls são fracas. Sean está contrariado e dois anos depois teríamos a estréia de Roger Moore e um novo Bond. Em tempo, todos falam do novo Bond de Craig...Ora! Todo Bond quando troca de rosto é um novo Bond. O 007 de Roger nada tem a ver com o de Connery. O antigo era tenso, nervoso, quase mal-humorado, o de Moore será suave, fanfarrão e pouco sério. Quanto a este, é de longe o pior da série original. Nota 3.
   ROCK OF AGES de Adam Shankman com Tom Cruise, Alec Baldwin, Catherine Zeta-Jones e Paul Giamatti
O que falar de um filme muito bobo que nos faz rir? E que usa uma trilha sonora que voce nunca escutaria em casa, mas que funciona no filme? Tem Cruise fazendo Axl Rose, Baldwin ( excelente ) de peruca e com cena gay e mais Giamatti como um produtor do mal. OK. admito, é divertido. Nota 5.
   ABRAHAM LINCOLN CAÇADOR DE VAMPIROS de Timur Bekmanbetov
No mundo do mercado/propaganda o que importa é: isso funciona? Não existe nesse mundo a palavra verdade. Se a mentira for agradável ou se ela vender, dane-se a tal verdade. Desse modo, pode-se inventar que Lincoln foi um caçador de vampiros. Se essa nova versão cair no gosto do público ela se tornará uma "nova verdade". O filme é de uma idiotia atroz. Nota Zero.
   AMOR À QUEIMA ROUPA de Tony Scott com Christian Slater, Patricia Arquette, Gary Oldman, Dennis Hopper, Christopher Walken, Brad Pitt, Samuel L. Jackson
Todo o mundo de Tarantino está aqui, neste seu roteiro brilhante: filmes de kung-fu, westerns, conversas espertas, citações pop, bandidos de HQ, rock, musas perigosas e sofridas. Scott, diretor que tem estilo radicalmente oposto ao de Quentin ( Scott é tipico dos anos 80, pseudo-sofisticado, brilhoso e vazio, Quentin é anos 70, exagerado, colorido, vivo, viril ), não conseguiu estragar de todo o roteiro. Mas bem que ele tenta.  Adoraria ver Tarantino o refilmar em 2020. Uma festa para olhos, ouvidos e imaginação. Foi este o filme que em 1994 me fez voltar ao cinema. Nota 9.
   ZONA PROIBIDA de William Dieterle com Burt Lancaster, Peter Lorre, Paul Henreid
Um belo filme noir. Se passa na Africa do Sul. Lancaster é um homem perseguido por policial. Motivo: ele teria tentado entrar em zona de minas de diamantes. O filme, tenso, é esse combate entre um vilão policial sádico, feito com maestria por Henreid, e o herói sonhador e teimoso, feito por um Lancaster magnético como sempre. O filme, rápido, forte, bem narrado, é delicioso. Dieterle foi um desses alemães que ao fugir do nazismo ajudaram a dar caráter ao cinema americano. Muito do que conhecemos como cinema tipico da Hollywood clássica é feito por alemães, austríacos e húngaros. Nota 8.
   RATOS E HOMENS de Lewis Milestone com Burgess Meredith e Lon Chaney Jr.
É o texto de Steinbeck em versão famosa. Temos dois miseráveis. Um deles é deficiente mental, um gigante de coração de criança. O outro toma conta dele. Eles andam pelos empobrecidos EUA da depressão. Arrumam trabalho numa fazenda, onde têm de lidar com tipos estranhos. O filme, tipico da esquerda americana dos anos 30, é muito, muito original. Não parece ser de 1939 e nem de tempo nenhum. Ele é cruel, tristíssimo, amargo ao extremo. Tem trilha sonora de Aaron Copland. Milestone, que dirigiu o melhor dos filmes de guerra ( Nada de Novo no Front ), era um diretor muito corajoso! O filme não tem a menor concessão. Sua falha é ser teatral demais. Temos a impressão de estar vendo uma peça. Nota 6.
   CIDADE NEGRA de William Dieterle com Charlton Heston e Lizabeth Scott
Seria um grande filme se a atriz central não fosse tão ruim. Ela estraga com sua canastrice a estréia de Heston na Paramount. O filme, noir, fala de um otário que ao ser surrupiado no poker por grupo de malandros, se mata. O irmão doido desse suicida surge e começa a matar os malandros. Heston é um dos que deram o golpe no trouxa. O filme tem bom suspense e consegue o ponto certo. É crível. Pena a péssima Scott. Heston, muito jovem, está bem. Consegue ser frio e cinico. Mais um acerto de Dieterle. 6.
   CLIENTE MORTO NÃO PAGA de Carl Reiner com Steve Martin e Rachel Ward
Mesmo não sendo uma grande comédia ( é pouco engraçada ), eu sempre a revejo. Como todo cinéfilo, adoro o filme por ter conseguido unir pedaços de velhos filmes noir com a história moderna. A produção construiu cenários como o dos filmes originais e insere cenas desses filmes na trama de Steve Martin. Temos Cary Grant num trem contracenando com Martin ( a cena é de Suspeita, de Hitchcock ), e além dele há Ava Gardner, Burt Lancaster, Alan Ladd, Veronica Lake, Vincent Price, James Cagney, Bette Davis, Ray Milland, e claro, Humphrey Bogart, que domina o filme inteiro. É engraçado ver Bogey como empregado de Steve Martin e levando bronca dele! Deveriam fazer isso hoje em dia. Com os recursos técnicos que temos os resultados seriam fabulosos!!! Mas talvez jamais será feito, o público, grande, que reconheceria os velhos ícones não frequenta cinemas. Os atores modernos teriam de contracenar com, no máximo, Nicholson e Hoffman, dái para trás seria o analfabetismo em cinema. Adoro Steve Martin, Rachel Ward foi a mais bonita atriz do começo dos anos 80, mas o roteiro é bem fraco. Nota 5.
   O MORRO DOS VENTOS UIVANTES 2012 de Andrea Arnold
Espero que seja/tenha sido um fracasso. Tivemos muitas versões da obra-prima de Emily Bronte. Todas erraram. A mais famosa é a de William Wyler, com Olivier, mas essa é também falha. Fria demais, muito sóbria. sem paixão e loucura. Há uma de Bunuel que é sem sentido. Aquela com Juliette Binoche é doce e bobinha e agora temos mais esta. ( Falo só das que já vi ). Uma versão analfabeta. Escrevi recentemente que o cinema do futuro será mudo e barulhento. Pois este é um filme mudo. Ninguém fala e quando fala nada é dito. A diretora tenta ser poética. Ela pensa que poesia é filmar no escuro  em big close. A câmera nunca deixa de tremer, Heathcliff agora é negro e Cathy é feia. Um pavor. Nota ZERO.
   MINHA AVÓ POLICIAL de Steno com Tina Pica e Ugo Tognazzi
A Itália, no auge de sua produção, chegou a lançar por ano quase tantos filmes quanto os EUA. Eram filmes de horror, épicos, westerns, filmes politicos, de arte, documentários. E muitas comédias. Steno começou dirigindo em dupla com o grande Mario Monicelii. Depois se separaram e logo deu pra notar que Monicelli era o gênio dos dois. Os filme de Steno são simples e envelheceram mal. Aqui temos uma avó mal-humorada que ao ter uma jóia roubada atrapalha o casamento do neto e a vida da policia. O filme não é ruim, os atores são ótimos, é apenas banal. Nota 3.

O LEOPARDO, de GIUSEPPE TOMASI DI LAMPEDUSA

   Um dia eu teria de escrever sobre essa obra-prima. É um dos grandes romances do século XX e deixou embasbacados os leitores ao ser editado em 1954. Quem era esse tal de Lampedusa?
   Nobre italiano, Giuseppe Tomasi di Lampedusa viveu a realidade de seu personagem central. O empobrecimento da nobresa européia e a consequente mudança de valores. Escreveu pouco. Apenas este livro, editado já postumamente, e um volume de contos ( excelentes ). 
   Salinas é esse inesquecível personagem. Poderoso, rico, viril, ele foi educado para existir num mundo sólido, ordenado, imutável. Mas o que ele verá será bem diferente. Revoluções fazem do mundo algo de cambaleante e a classe dos mercadores assume o poder financeiro. Mas não o poder sobre as mentes. Aliam-se então. Vem a famosa frase de Lampedusa : " Ceder os anéis para não perder os dedos, ou melhor, mudar tudo para não mudar nada."
   O livro vale por tratado de sociologia, de história e de costumes. Dói em Salinas perceber a falta de cultura e de sabedoria da nova classe dirigente. E esses mercadores sabem, têm consciência de sua vulgaridade. Unem-se. Toda a melancolia explode no enredo. Por mais que os vulgares novos-ricos admirem o nobre Salinas, ele se encontra em posição subalterna. Olha suas coisas, suas terras, sua vida com a consciência de que é um mundo condenado. O que ele simboliza vira mito. A única verdade passa a ser a do dinheiro, não a do berço.
   A prosa de Lampedusa é magnífica. Simples e rica. Amamos o nobre e ao mesmo tempo vemos o quão duro ele é. Um pavão, um touro reprodutor. E pouco a pouco percebemos sua queda. Ele afunda em meio a herdeiros ambiciosos e inseguros e a alianças vergonhosas. Tudo tomba e afunda em cada página sublime.
  Eu amo este livro. Tanto quanto O Morro dos Ventos Uivantes ou Anna Karenina, ele demonstra e escancara alguma coisa que me é muitocara: a amarga e viciante beleza da decadência.
  PS: O filme de Visconti consegue algo de muitíssimo raro: ser tão bom quanto o livro, sendo igual e diferente. Burt Lancaster é Salinas. Seus olhares transmitem toda a dor perplexa do personagem. Ele tem autoridade, savoir faire e também uma humilhante impotência.  E há a cena do baile, uma das sequências mais lindas da história da arte. São 50 minutos em que cada frame é pleno de significado, drama e sentido. E de esfuziante e acachapante beleza. Jóia de imenso requinte, junto ao Oliver Twist de David Lean e Os Mortos de Huston, é dos raros filmes que não decepcionam os amantes de seus livros originais.
  

BURT LANCASTER/ GEORGE CLOONEY/ EWAN MCGREGOR/ BURT REYNOLDS/ KIM NOVAK/ CHRISTOPHER PLUMMER

   SERVIDÃO HUMANA de Ken Hughes com Laurence Harvey e Kim Novak
Baseado no famoso livro de Somerset Maugham, eis um filme onde tudo dá errado. O diretor teve todas as chances em sua carreira e nunca as aproveitou e Harvey é um dos piores atores da Inglaterra. A história fala do jovem estudante de medicina que se apaixona por uma mulher falsa e interesseira. Ele procura ver só o lado bom dela, mas isso se faz cada vez mais dificil. O filme é completamente desinteressante, chato, arrastado. E tem um visual muito feio. Kim Novak, a deslumbrante beleza de Vertigo e de Pic Nic, está irritantemente deslocada. Não é papel para ela, força um sotaque cockney tolo. A carreira dela começava a desabar. O filme é nada. Nota ZERO.
   A FILHA DA PECADORA de Lewis Allen com Lizabeth Scott, John Hodiak e Burt Lancaster
No recente livro de entrevistas de Scorsese, ele e o entrevistador elogiam este obscuro filme de 1947. É um dos mais esquisitos filmes que já vi. Com certeza muito adiante de seu tempo, ele se parece com coisas que Douglas Sirk faria dez anos mais tarde e tem ecos de Almodovar e de Lynch. A história já é bizarra. Uma garota rica e mimada, que tem relação estranha com a mãe divorciada, se enamora de misterioso e durão forasteiro. Esse homem vive a anos com um "amigo", amigo este que cuida dele e morre de ódio da tal garota. Lancaster, em começo de carreira, é um policial impotente. Como a censura rígida de 47 deixou passar este filme é um mistério. É óbvio que os dois forasteiros são gays, como é claro que a garota não gosta de homens. O diretor foi sempre de classe B, mas aqui ele faz um filme perturbador e de colorido maravilhoso ( Charles Lang ). Mary Astor, no papel da mãe rouba o filme. Lancaster já tem todo o jeitão do astro que viria a ser: o sorriso vibrante, a postura elegante, a simpatia esfuziante. Nota 7.
   COLOMBIANA de Olivier Megaton com Zoe Saldana
Produzido por Luc Besson, é um filme de Jason Statham sem Jason Statham. O que faz com que não tenhamos nínguém para torcer. Tem tudo aquilo que Besson sempre usa: velocidade nas cenas, gente com cara de HQ, ambientes sombrios e metálicos. Mas a mocinha é um zero e os vilôes não nos dão raiva. Ah sim... fala sobre tráfico na Colombia e menina que vai vingar o pai. Nota 1.
   OS DESCENDENTES de Alexander Payne com George Clooney
Procurei mas não achei uma só crítica que demonstrasse ter entendido o filme. Visões ralas, superficiais, tolas até. A maioria dos criticos, assim como o público, começa a só entender o que é explicito. A forma dissociada do conteúdo é algo que desapareceu da critica. Quando topam com um filme como este, discreto, elegante, todo centrado no formato e não no conteúdo, os criticos se perdem. Preguiçosos, não se dão ao trabalho de pensar. O filme de Payne é primoroso. Uma aula de bom cinema, ele evita todas as armadilhas do óbvio e jamais cai na tentação do modernismo afetado. Sabe mostrar e sabe conduzir. Clooney brilha em papel sem grandes lances. É um homem perdido. Me causa espanto ninguém ter falado do fato de termos um conjunto de personagens adultos. Aqui ninguém parece personagem de cartoon ou tipo de manual de casos psiquiátricos. Gente, gente como eu e como voce. Isso ainda existe. Nota 9.
   TODA FORMA DE AMOR ( BEGINNERS ) de Mike Mills com Ewan McGregor e Christopher Plummer
É o filme que provávelmente dará a Plummer um merecido Oscar de coadjuvante. A não ser que o mito Max Von Sydow estrague sua festa. Plummer faz um homem de 75 anos que assume sua condição gay após a morte da esposa. Ewan é o filho desse homem, que sofre com o câncer do pai. Um cãozinho comenta o filme. Uma ruiva esquisita se torna o amor desse filho. Weeellll..... eis um filme que é a cara destes tempos frouxos. Ele é tristinho, fofinho, bacaninha, delicado, moderninho e antenadinho. Tem até hospital e imagens que lembram clips de cantores folk. Ewan fala baixinho e ama a menina como se tivesse 12 anos ou menos. Já a mocinha, tão alternativa, vive como se fosse uma fadinha num mundo tristonho. Milhares de filmes são como este. É feito para os fãs de Michel Gondry. Mas ele tem duas coisas que o salvam da absoluta chatice. O cão, que é a coisa mais inteligente do filme, e a atuação de Plummer. O pai se torna o único humano viril de todo o filme. Ele sabe escolher, sabe decidir, luta para ser feliz. É um homem de outra época em tempos de cinzas passivos e flores pálidas. Ah geração Morrissey..... O filme serve como retrato da atual geração de vampiros bonzinhos que infesta o planeta e de filmes fofinhos e docinhos que são como coisas de outro planeta para alguém como eu. Devo estar muito velho, esses seres me são completamente incompreensíveis. Seu modo de falar e de viver são como lingua marciana pra mim. Nota 4.
   ENCONTROS E DESENCONTROS de Alan J. Pakula com Burt Reynols, Jill Clayburgh e Candice Bergen
Burt leva um pé na bunda de Candice, que é uma cantora bem sucedida e bonita. Deprimido, ele conhece Jill, um tipo de Annie Hall de Boston. Burt fica na dúvida quando Candice volta. O roteiro é de James L. Brooks. E ele é que deveria ter dirigido. Brooks é o cara que na TV fez Mary Tyler Moore, Cheers, Taxi e os Simpsons. No cinema dirigiu Laços de Ternura e Melhor é Impossível, campeões de Oscar. Pakula era um diretor triste. O filme é todo escuro, silencioso, travado. Jill Clayburgh era a atriz da moda em 1979. Uma Diane Keaton mais feinha. Burt tentava se tornar um ator "sério". Pra quem não sabe, na década de 70 ele e Clint Eastwood eram os astros campeões de bilheteria. Com Charles Bronson e Steve McQueen formavam a nata dos atores de ação. Nos anos 80 seriam suplantados por Harrisson Ford, Bruce Willis e a dupla Stallone/ Schwarza. Este filme, completamente chato, não fez de Burt um "novo" ator. Nota 2.

KON ICHIKAWA/ POLLACK/ RISI/ MINELLI/ CLARK GABLE/ WALSH/ BURT LANCASTER

   A HARPA DA BIRMÂNIA de Kon Ichikawa
A segunda guerra acabou de terminar. Estamos na Birmânia e um soldado japonês, que toca harpa, tenta convencer grupo de soldados kamikazes a se entregar. Depois o acompanhamos em suas caminhadas pelo país. Sua jornada é ao mesmo tempo uma reportagem sobre os horrores da guerra e um mergulho em sua alma. Belíssimo filme de um dos grandes do Japão. O fato de filmes como este serem lançados em dvd dignifica e justifica a invenção do formato. Se o inicio desta obra parece banal, conforme ela se desenvolve seu crescimento se agiganta. Imperdível. Nota 9.
   A DEFESA DO CASTELO de Sidney Pollack com Burt Lancaster, Peter Falk e Patrick O'Neal.
Pollack em seu momento mais "artístico". O filme é maneirista. Cheio de zoons, cortes abruptos, som que invade a cena seguinte, pistas e rastros de simbolismos vários. Fala de um pelotão de soldados americanos que toma posse de um castelo belga para deter avanço nazista. Até aí tudo normal, mas o que vemos é um bando de yankees que desejam destruir o castelo. Lancaster faz o capitão do grupo. Uma de suas falas é exemplar "-A Europa não está sendo destruída, ela já morreu." Há em sua voz e em seu olhar um imenso desprezo pela arte que abunda naqueles salões, pelos nobres que lá moram. Seu desejo é vencer os nazis, mas também ver o castelo em ruínas. Falk faz um italo-americano, tudo o que ele quer é fazer pão na padaria da vila belga. O'Neal é um amante das artes patético. O filme está longe da perfeição, mas faz pensar e é original. De ruim a trilha sonora de Michel Legrand. Para onde foi esse Pollack tão ousado? Nota 6.
   A MARCHA SOBRE ROMA de Dino Risi com Vittorio Gassman e Ugo Tognazzi
Maravilhosa diversão. Estamos na Italia de 1920. Gassman ( excelente como sempre ), é um desempregado metido a malandro. Um colega, que agora se tornou fascista, o convence a se juntar ao partido. No inicio suas ações são patéticas, mas com o tempo eles terminam por matar. Tognazzi ( outro ator fantástico ), é um camponês que se une ao grupo, mas ao contrário de Gassman, ele tem dúvidas. Todos tentam chegar em Roma, onde haverá um grande comicio dos fascistas. O filme é uma estupenda comédia. Faz aquele misto que o cinema italiano tão bem sabia fazer, une coisas muito sérias com o riso, une emoção com educação. O filme não tem um só momento ruim. Nota 9.
   A RODA DA FORTUNA de Vincente Minelli com Fred Astaire, Jack Buchanan e Cyd Charisse.
Um dos meus filmes favoritos. De todos os gêneros de cinema, em termos de prazer puro, nada se compara ao musical. União de design, ação, humor, teatro, dança e melodia, o musical quando acerta é completo. Este é um deles. Astaire dança pouco, mas as músicas são todas coisas de gênio. Clássicas. A meia-hora final, toda em musica e dança é delirantemente deliciosa. É um dos que eu levaria para uma ilha deserta. Nota DEZ!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
   O CAMINHO DO GUERREIRO de Sngmoo Lee com Geofrey Rush, Kate Bosworth e Danny Huston
O céu é uma coisa amarela. Os cenários são todos como desenhos de graphic novel. Cada faca ou tiro desferido é fake e o sangue abunda em vermelho rubi. A luz que ilumina as cenas parece doentia, é de um azul cobalto viciado e putrido. A história, algo a ver com vingança em vila de western, chega a ser irrisória. Como é possível um adulto escrever algo tão ruim? Uma certeza: OS PIORES FILMES DA HISTÓRIA DO CINEMA ESTÃO SENDO FEITOS AGORA. Impossível negar, é o fundo do poço. Filmes ruins sempre foram feitos. Mas nunca tantos em tão grande ruindade. E o pior, tão caros. Nota(.........)
   TO PLEASE A LADY de Clarence Brown com Clark Gable e Barbara Stanwyck
É sobre um muito macho piloto de fórmula Indy. Interesse principal: corridas de Indy em 1950 muito bem filmadas. Os caras corriam sem capacete, sem barra Sto. Antonio e sem cinto de segurança!!!! E vestidos de camisa pólo!!!! As pistas não têm guard-rail e o piso é de areia dura. Haja cojones!!!!!! Gable faz, com seu jeito de machão protetor e decidido, um piloto arrogante. Barbara é a jornalista snob que cai de amores por ele. A gente vê o filme e torce por mais cenas de corrida. Elas logo vêm, são muitas. Boa diversão. Nota 6.
   TRÊS DIAS DE GLÓRIA de Raoul Walsh com Errol Flynn e Paul Lukas
Errol Flynn em seu primeiro filme após problemas com a lei ( uma acusação de estupro de uma menor ). Faz um condenado a guilhotina que troca sua execução pela vida de cem franceses. Como? Se entregando aos nazis como sabotador francês procurado. O filme é totalmente inverossímel. Mas Errol e Walsh eram profissionais maravilhosos. Gostamos de olhar e ouvir Errol Flynn, e Raoul Walsh tinha o dom do corte na hora exata. Nota 6.

DONEN/ CARY GRANT/ BURT LANCASTER/ AL PACINO/ POWELL/ CAPRA

ARABESQUE de Stanley Donen com Gregory Peck e Sophia Loren
No inicio dos anos 60 foi moda fazer filmes do tipo "mistério-policial-chic". Donen fez em 63 o melhor deles: Charada. Aqui ele tenta fazer um filme tão bom quanto aquele. Infelizmente não consegue ( Pudera! ninguém mais conseguiu fazer outro Charada.) Mas este Arabesque não é ruim. Diverte e é bonito de se ver. Sophia nunca esteve tão perfeita e Peck é sempre ok ( Embora não sirva pra comédia. Suas cenas de humor naufragam ). Stanley Donen é o soberbo diretor que ajudou Gene Kelly a fazer Cantando na Chuva e que depois provou sua maestria com Sete Noivas para Sete Irmãos. Donen sabia dar a seus filmes um toque sublime de leveza, brilho, chique, humor e muita inteligencia. Em 1994 foi homenageado no Oscar e sua dança com seu prêmio é dos melhores momentos da academia. Nota 6.
NIGHTFALL de Jacques Tourneur com Aldo Ray, Brian Keith e Anne Bancroft
Ótimo policial noir. Tourneur foi um daqueles caras que sabia fazer qualquer tipo de filme. O que ele dava a todos os seus trabalhos era senso de ação, clima, e boas interpetações. Este filme tem tudo isso, e mais um enorme fatalismo pessimista. Tudo dá errado para seus personagens vulgares. Uma excelente diversão. Nota 8.
O LADRÃO DE BAGDÁ de Michael Powell com Sabu, June Duprez
Em que pese a maravilha de foto ( Georges Perinal ), o filme é muito irregular. Na verdade Powell dirigiu apenas um quarto do filme. Korda e Whelan dirigiram o resto. Isso lhe dá uma alternancia de ritmos, climas que não evoluem. Mas funciona como fantasia solta e tem seus momentos. Mas não espere demais. Nota 5.
ESTE MUNDO É UM HOSPICIO de Frank Capra com Cary Grant, Peter Lorre, Raymond Massey
Um filme que é todo falho. É a versão nas telas de peça de imenso sucesso. Fala de duas velhinhas que aliviam a vida de velhos solitários: elas matam esses infelizes. Mas a comédia não funciona. O motivo? Todos os personagens são irritantemente histéricos. Mesmo o maravilhoso Cary Grant está fora do tom. Dá para se perceber seu desconforto. Nota 4.
O HOMEM DE ALCATRAZ de John Frankenheimer com Burt Lancaster e Telly Savallas
Baseado em fatos reais. Um homem anti-social, ruim, é preso. Ele odeia as pessoas e idolatra sua mãe ( uma assustadora/edipiana Thelma Ritter ). Na prisão, um diretor passa a persegui-lo ( um odiável Karl Malden ), porque ele não se encaixa em seu plano de prisões ultra-racionais. Por acidente, esse preso cria um canário na cela, e passa, com o tempo, a ser uma das maiores autoridades do mundo em ornitologia. Sem jamais sair da prisão. O filme é muito dificil. Todo filmado dentro das celas, sem sol, sem alegria, nada apelativo. Lancaster está contido, seco, bastante viril e o resto do elenco está a sua altura. Frankenheimer, um dos grandes da época, sabe filmar esse tipo de tema. A câmera testemunha, não julga, mostra e jamais escancara. Não é fácil acompanhar vida tão árdua, mas caraca! Vale muito a pena. Nota 7.
O IMPÉRIO DAS ARANHAS de John Bud Cardos com William Shatner É um thrash fuleiro sobre aranhas que matam e aprontam. É versão pobre de Os Pássaros. Voce se senta e se deixa ver, e de repente se pega gostando. Nota 5.
ANNA CHRISTIE de Clarence Brown com Greta Garbo
Peça de Eugene O'Neill, ou seja, pessimismo ao extremo. Garbo prova mais uma vez ser grande atriz. Faz um papel sem nenhum glamour. Mas o filme, feito no inico do cinema falado tem um enorme problema: seu peso. No começo do falado, os aparelhos de gravação de som eram imensos, isso fazia com que câmera e atores não pudessem se mover. O que temos são longas cenas sem movimento ( isso seria resolvido no ano seguinte ). Chato pacas! Nota Zero.
JUSTIÇA PARA TODOS de Norman Jewison com Al Pacino, Jack Warden e Christine Lahti
No tempo em que o cinema americano era adulto, se fez este filme. É sobre um advogado que tem de defender de processo por estupro, o juiz que ele mais detesta. O roteiro de Barry Levinson mistura drama pesado e comédia louca, funciona e muito. Jewison, diretor engajado, mostra a vida de travestis, pequenos ladrões, julgamentos falhos e escritórios cheios de processos infindáveis. Pacino vai enlouquecendo e sua atuação é das melhores coisas que ele já fez. A explosão que ele sofre no final é das cenas mais citadas pelos jovens atores. Mas há mais: o filme é maravilhosamente rico. Um juiz que tenta se enforcar, um outro fascista, um advogado que enlouquece, um travesti sensível, todos são meio loucos neste filme que parece faiscar em mil direções, mas que jamais se perde. Posso dizer que se voce é daqueles meninos que ainda não descobriram o cinema adulto dos 70, que ainda pensa que Rede Social e Cisne Negro são o máximo...bem, veja este filme e depois a gente conversa. Há aqui uma complexidade fílmica não afetada maravilhosa. E há Pacino. Nota 9.
NESTE MUNDO E NO OUTRO de Michael Powell com David Niven e Kim Hunter
Uma obra-prima. Fantasia pura e poesia soberba em filme que trata de espíritos e anjos sem jamais ser fofo ou lacrimoso. Sério e socialmente nobre, Powell era um gênio. Este filme, diferente de tudo o que voce já viu, é testemunho de alma sem igual. Ver e crer. Nota DEZ!!!!!!
PARALELO 49 de Michael Powell com Laurence Olivier, Raymond Massey e Leslie Howard
Um grupo de nazis, perdidos no Canadá, tentam escapar. Coragem de Powell, o filme, feito durante a segunda guerra, tem nazis como personagens centrais e mostra os alemães como não-vilões. O filme, claro, ataca o nazismo, mas exibe o fato de que os alemães não são todos ruins e mais, que há soldados alemães inocentes. Fora isso, é uma aventura de primeira com deslumbrantes paisagens canadenses. Mais um show de Powell. Nota 7.

LOSEY/ VISCONTI/ BURT LANCASTER/ OLIVIER/ HITCHCOCK/ HELEN MIRREN/ JACK NICHOLSON

EVA de Joseph Losey com Jeanne Moreau, Laurence Harvey e Virna Lisi Se eu gostasse tanto de Moreau como Losey parece gostar, o filme seria melhor. A trilha sonora de Michel Legrand é fascinante e a fotografia de Gianni di Venanzo faz deste um dos mais elegantes filmes já feitos. Fala de uma relação completamente vazia entre um homem poderoso, confiante e uma mulher sem alma. Ele sucumbirá. Filme bom de se olhar, mas tão árido quanto seu tema. Losey fugiu do MacCarthismo e se deu bem na Europa. Tem vários filmes maravilhosos, este não é um deles. Nota 5.//////// RUMO A FELICIDADE de Ingmar Bergman com Maj-Britt Nilsson, Stig Olin e Victor Sjostrom Bergman é uma alegria em minha vida. Toda a dor que ele mostra em seus filmes ( e que deprime alguns ) me dá força, paz e confiança. Porque? Pela magnifica beleza que existe em seu mundo. Cada close, cada tomada, todo ator em cena, a escolha das músicas, tudo é digno, claro, hipnótico, belo sem ser tolo ou piegas. Este é seu último filme antes da entrada em sua fase genial, fase de inigualável sequencia de obras-primas ( entre 1951/1982 ). Este fala de jovem casal que não consegue ser feliz. O egoismo dele tudo aniquila. Um filme simples, um ensaio para coisas maiores. Nota 6. ////////HAMLET de Laurence Olivier com Olivier e Jean Simmons Não preciso falar da excelencia dos atores. Este foi o primeiro filme ingles a ganhar o Oscar de melhor filme ( em ano muito forte, basta dizer que venceu Sierra Madre ). Já foi meu filme favorito, o que confirma a tese de Paul Valery de que crescemos todo o tempo com a prática da apreciação artistica. O filme é ainda maravilhoso, mas com esse texto e esses atores que filme não seria? Shakespeare tem alguns bons filmes no cinema, mas o melhor não é este ( é RAN de Kurosawa, baseado em Rei Lear ). O cenário é feito de escadas em espiral, fumaça e escuridão, e Simmons é a Ofelia mais bela possível, mas a direção de Olivier se perde as vezes num excesso de freudianismo ( sim, este é Hamlet sob a ótica de Édipo ). De qualquer modo é um espetáculo nobre e que deve ser sempre visto e revisto ( é minha sexta apreciada ). Hoje um filme tão elevado ganharia o prêmio? Nota 9.//////////// O AGENTE SECRETO de Alfred Hitchcock com John Gielgud e Madeleine Carrol Hitch na Inglaterra fez filmes melhores que nos EUA? Ele próprio pensava que não, mas fica bem para um certo tipo de esnobe dizer que sim. Tolice! Embora na Inglaterra ele tenha feito algumas obras-primas, é nos EUA que ele atinge o cume dos cumes. Este é um suspense médio que serve para mostrar Gielgud, o melhor ator ingles de teatro ( é dele o maior dos Hamlets ), e que jamais deu certo nas telas. Nota 6. ////////////SABOTAGEM de Hitchcock com Silvya Sidney e Oskar Homolka Um belo Hitch da fase inglesa. Cheio de ação e com um clima opressivo, sórdido, cruel até. Lemos em entrevistas que ele não gostava do filme, mas é incompreensível: é uma obra invulgar. Destaque para a cena no ônibus e a da sala de cinema, Hitchcock já sendo um mestre absoluto. Nota 7. ////////////////A ÚLTIMA ESTAÇÃO de Michael Hoffman com Helen Mirren, Christopher Plummer e Paul Giamatti Só agora é lançado este filme que assisti um ano atrás!!!! Escrevi sobre ele na época e o registro novamente. Se voce quer saber algo sobre o gênio Tolstoi nada vai saber vendo o filme. Mas se voce quer ver dois atores dando aulas de magia e carisma, aqui está. Helen Mirren é a melhor atriz viva, Plummer não desaparece ao seu lado. O filme é bastante melancólico ( existe algum filme "artisitico" feito hoje que não o seja? ), e está longe de ser do tamanho que o tema merecia. Mas é bem superior a 99% daquilo que voce pode ver agora. Nota 6. /////////////////VIOLÊNCIA E PAIXÃO de Luchino Visconti com Burt Lancaster e Helmut Berger Citando Valery outra vez, se voce tem já alguma intimidade com grandes filmes corra ao Cinesesc e se dê o privilégio de ver esta obra-prima. Se voce ainda está naquela ração de lançamentos da semana, fuja. Visconti é o contrário de tudo o que se faz em cinema agora ( quase tudo ), ele é titânico. Seu tema nunca é modesto, tudo é sempre grande, vasto, operistico. Este adorável filme me toca profundamente por falar de meu tema favorito: decadencia. Vemos a vulgarização do mundo de um esteta, o assassinato da aristocracia de gostos e de gestos. O filme exibe a vitória da vulgaridade, do espalhafato, da grosseria. Quando os novos inquilinos chegam, vemos a barbárie rica e pretensamente chic tomar o poder. Impotente, só resta ao aristocrata assistir estoicamente o fim de seu mundo. Lancaster brilha intensamente. Cada olhar que ele nos dá é um testamento de nobre pensamento. O filme é inesquecível. Nota DEZ!!!!!!!!!! O MÁGICO de Sylvain Chomet Que decepção!!!! Este desenho homenagem a Jacques Tati ( parece que ele deixou um esboço de roteiro que foi aqui usado ) é tudo o que Tati nunca foi: chato. Os traços são maravilhosos, as ruas de Londres e de Edimburgo estão belas como em sonho, mas o desenho é de uma melancolia que parece forçada, poética demais. Há que se comentar um fato: por que os desenhos feitos a mão parecem mais humanos? Sem saudosismo, os digitais são mais perfeitos, mas um desenho como este sempre tem mais "autoria", mais calor. Mas o roteiro, sobre um mágico modesto, é enfadonho! Nota 4.////////////////// HEAD de Bob Rafelson com Monkees, Jack Nicholson, Frank Zappa e Victor Mature Jack Nicholson e Rafelson, amigos até hoje, se encheram de ácido e escreveram o roteiro desta viagem psicodélica. Entregaram tudo aos Monkees, que após o fim de seu seriado de sucesso na NBC, se despediam da fama com este fracasso. O filme é um caleidoscópico dia na vida da banda. Mas é dificil resumir a história ( que história? ). A trilha é fascinante e o filme, que hoje é hiper-cult, acaba sendo uma diversão bastante instigante. Para se ter uma idéia do filme, há uma cena com Zappa puxando uma vaca e outra com os Monkees presos num secador de cabelos. Foram meus primeiros ídolos, eu os amava apaixonadamente aos 7, 8 anos de idade. Ainda sinto algo quando os vejo. Nota 6.