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TEM ARTE NA TV? ÁGUA VIVA.

   Acho que foi Benjamin quem disse que o melhor juiz da arte é o tempo. Arte sobrevive, o resto passa. Ou vira apenas nostalgia de quem viveu aquele tempo. Quando esses saudosos morrem a coisa se vai com eles.
   Sou testemunha disso. Entre meus filmes favoritos, alguns são itens de nostalgia. Eu gosto porque me recordam a primeira vez, feliz, que os vi. Lembram um tempo de minha vida, uma pessoa, um sentimento. Mas há o filme que se impõe apenas por seu valor. Não vivi os anos 30 por exemplo. Não tem essa década o charme dos anos 20 ou a rebeldia cool dos 60. Nunca assisti um só filme dos anos 30 quando criança ou quando teen. E meu pai nunca via filmes tão velhos, sua praia eram os anos 50 e 60. Mas vejo os filmes de Hawks, MacCarey, Cukor, Dyke ou Capra e me apaixono por filmes feitos mais de 30 anos antes de meu nascimento. Porque? Arte.
   Falo tudo isso pra dizer que a principio não creio em arte na TV. Se adoro Columbo é por nostalgia. Nenhum garoto de 15 anos vai ver Columbo hoje e gostar. Noto que Seinfeld já não produz efeito sobre os teens de 2013 e duvido que em 2030 um cara de 20 anos se dê ao trabalho de ver Lost.
   Ou será que erro? Star Trek, o original, não é visto pela molecada? Mas ele não tem a propaganda dos novos filmes da série? O Pernalonga é atemporal mas o Pernalonga é cinema. Foi criado e exibido em cinema.
   Falo tudo isso pra contar que ontem vi um capítulo de ÁGUA VIVA e senti uma hiper nostalgia. Vi a novela em 1979 e adorava. Queria ser o Reginaldo Faria. Vendo hoje acho tudo tão lindo e tão antigo também. Tenho a impressão, confirmada pela novela, de que as pessoas então pareciam mais calmas, mas chiques e bem mais bronzeadas. Fábio Jr era bem mais bonito que o Fiuk e Glória Pires tinha 16 anos. Raul Cortez, Beatriz Segall, José Lewgoy, Tônia Carrero, todos eram um luxo! As roupas leves, bem cortadas, com caimento. E ao mesmo tempo me dá um bode, uma sensação de que todo o mal estava ali, que aquele monte de playboy quarentão, em festas sem fim, com seu ouro e seus iates, que todos aqueles caras chiques e sorridentes, praieiros e magros, são os malandros que deixaram a coisa virar o vale tudo de hoje.
   A novela é pura antropologia. Reginaldo em crise, percebe que a vida não é apenas a zona sul. E nesse capítulo ocorre uma cena que seria impensável hoje numa novela. Claudio Cavalcanti vai visitar Reginaldo e os dois conversam. Uma longa conversa que parece improvisada e onde NADA acontece. Falam da vida, da crise, falam em ser amigos, em companheirismo. Acho que aquilo foi quase um momento de arte. Solto. Hiper natural.
   O mundo de Água Viva não tem pressa. Pessoas muito magras, muito bronzeadas falam e vão a praia. Era a Abertura Politica, um otimismo eufórico no ar. O sexo começava a se liberar e por isso ainda era novidade. Tinha gosto de festa. A novela, pudica, mostra isso nas entrelinhas. Tempo de Mascarenhas e de Gabeira.
   Tenho a certeza de que ninguém com menos de 40 anos vê Água Viva.

BOB CLAMPETT - PARA TUCORI E PAGOTTO

Em 1935, apotou na Warners um gênio de 17 anos. Robert Clampett.
Quem?
Clampett, que eu também mal conhecia, mas que descubro ser o cara que ensinou Tex Avery a enlouquecer e Chuck Jones a sorrir.
Seus cartoons, feitos na Warner entre 35/48, são tudo aquilo que vemos hoje na tv e pensamos ser originais. São um tipo de "A vaca e o frango" com mais riqueza na animação e mais detalhes de lay-out. Um tipo de "Beavis e Butthead" do jazz ( e bota jazz nisso ! ), uma espécie de " Eu sou o máximo" menos repetitivo.
Patolino era seu cartoon favorito, e com Bob Patolino dava as cartas. Ele criou o Duck louco, gritando, pulando, e sempre vencendo ( é triste ver que com Chuck, Patolino se tornou alvo de Hortelino e de Bugs ).
Gráficamente, os desenhos remetem à Dali e Magritte, as expressões faciais são hiper-exageradas, e o resultado geral é LSD antes de sua invenção!
Um gênio que se demitiu da Warner e migrou para a TV, onde ficou rico em comerciais. Uma pena...
Procurem conhecer. E observem como cada diretor da casa tinha estilo próprio:
Frank Tashlin ( que depois foi para o cinema - com atores- onde criou Jerry Lewis ) fazia humor puramente visual; Tex Avery criava muita ação e rapidez nos diálogos; Chuck Jones era o mais musical, o mais elegante e muito filosófico; Friz Freleng contava histórias, seguia o roteiro e jamais errava; MacKimson desenhava de forma cubista, era o moderninho, o colorista...e Clampett, o mais louco, que fazia o que queria, improvisava sempre, sendo o Charlie Parker da turma ( Tash era Ellington, Tex era Monk, Chuck era Beethoven, Friz Brahms e Mac era Sonny ).
É de Clampett a mais genial das cenas : Bugs e um condor caindo de um abismo. Eles berram...e berram...e berram...e é só...berram...puro Miles Davis, o quase nada que é tudo. Gênio...

AJUDA

Neste mês trágico, o que me ajudou:
As ruas. Sol nas árvores, crianças de bike, skatistas se atirando, cães...
Yeats, Eliot e Joyce. Entendí seu universo, feito de símbolos eternos, de beleza que não se acaba, de heranças atemporais. Yeats salvou minha alegria.
Faroestes. Eu sabia que um bom western nos ensina a viver, mas jamais imaginei que nos ensinasse a morrer. Um tesouro de superação da dor, de heroísmo que só os muito idiotas ou os snobs afrscalhados não entendem.
Cachimbo. Fumaça subindo na noite. Meu cão ronca a meu lado. Pássaros se aninham. As coisas são assim porque precisam ser.
Django Rheinhardt. Som dos deuses ( se eles existissem ), som da felicidade ( e ela existe mesmo na dor ). Django era um anjo ( um anjo mau ).
O COELHO PERNALONGA, PATOLINO, ROAD-RUNNER, MARVIN, TAZ, FRAJOLA... alguém tem idéia da felicidade que gente como Friz Freleng, Chuck Jones, Bob MacKimson, Mel Blanc, Carl Stalling, Michael Maltese deram ao mundo ? A extrema inventividade, alegria, capricho, anarquia que havia em seu trabalho? Trabalho que não envelheceu um dia, que não é nostálgico, que ensina comédia e roteiro. Passei o mês com suas 3 caixas. Quanto prazer!!!!!!!
E um especial thanks aos amigos que tentaram entrar em contato. Valeu! è para voces que escrevo.