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BRUCE LEE E O DESEJO DE AUTO-EXPRESSÃO

  Após ler tanta besteira nesta semana ( Calligaris perdendo a noção e dando destaque a uma "descoberta" cientifica idiota, pois desde criança eu sei que lombrigas fazem com que a gente faça asneiras, e uma Veja que dá de capa uma pesquisa que revela o óbvio ), topo com algo de instigante onde não esperava, na Fox Sports. Um especial chamado Bruce Lee Lives.
  Se antes vivemos o desejo de ser respeitado, o desejo de ser cidadão e o desejo de ser livre, desde a década de 70 vivemos o desejo de auto-expressão. Após a conquista da liberdade, ou melhor, após a superação da necessidade de se poder viver em paz, nasce o querer ser aquilo que se é.
  Em seu aspecto mais tolo esse desejo faz com que todos pensem ser especiais. A ilusão de que ser voce-mesmo é ser único. E na busca desse dom, vale tudo, desde dar tiros em alunos até se mutilar em programas de Tv. É como se a única coisa que pudesse dar valor a vida fosse isso: se descobrir e ter a "coragem" de ser aquilo que se é. A propaganda logo entendeu isso e hoje todo produto quer que voce seja voce.
  Bruce Lee foi um dos filósofos desse movimento. E isso eu não sabia.
  Baixo, franzino, chinês em país que não aceitava chinas, Bruce se entendeu como ser especial e usou uma disciplina férrea para ser aquilo que ele poderia ser. O melhor. Criou uma nova arte-marcial, toda baseada na auto-expressão, uma técnica em que voce cria sua própria técnica baseada em seus dons e no adversário do momento. Bruce Lee domina o que já existe antes de sua chegada e tira de dentro de si a novidade, se diferencia. É um "radical".
   Radical no sentido de se ir ao limite. Pegar uma disciplina e usá-la como expressão de si-mesmo. Tornar o esporte um tipo de arte consciente. E isso foi novo.
   Bruce Lee é um mito para skatistas, bikers, DJs e Rappers. Porque? É também um pioneiro que deu as coordenadas dos filmes de ação de hoje e um guru para diretores como Tarantino e Rodriguez ( além de infinidades de outros como McG, Rob Cohen e Zack Snyder ). Porque?
   O que marca seu estilo e sua mensagem ( ele deixou uma filosofia de vida ), é sua atitude de "foda-se" perante a vida. Lee não queria ser o melhor, ele queria ser ele-mesmo. É esse o espirito que move nosso tempo. Um skatista, um músico, um pintor, se ele tiver o ideal de ser "cool" está pouco se lixando com sua concorrência, com o que seja sucesso, com as regras. Sua única vontade é ser aquilo que ele é: único. É uma atitude adolescente. Só adolescentes têm essa ilusão de que dentro de cada um há a originalidade. Normalmente essa atitude leva a uma vontade arrogante de se chamar a atenção. Mas os que compreenderam o significado da mensagem, de que ser voce-mesmo não quer dizer ser diferente mas sim TENTAR ser original, PROCURAR sua verdade, esses conseguem atingir a liberdade, uma atitude relaxada de auto-suficiência, um verdadeiro espirito Foda-se. Tentar e procurar, e não necessariamente chegar.
   Fato que salta aos olhos: os idolos que sobrevivem desde então são aqueles que passam essa atitude Bruce Lee de ser. Olhamos o passado e não mais entendemos atores espetaculares como Olivier, Clarck Gable ou Jean Gabin. Eles não tinham esse compromisso de auto-expressão, eram "apenas" grandes atores.  Gostamos deles, admiramos seu talento, mas não pensamos em ser como eles. Somos muito mais próximos de gente como James Dean, Steve McQueen ou Brando, atores que procuravam ser uma usina de auto-expressão. Tudo desde então, seja em literatura, música, politica, segue essa estrada. O que permanece é o artista/homem comprometido com seu eu, o que passou a ideia de auto-expressão. A valorização do auto-centrado, do angustiado, do eterno mutante, a desvalorização do simplesmente competente, do satisfeito, do fiel ao meio.
  Bruce Lee, como Steve McQueen, cria o herói como homem que procura, mas não mais aquele que procura recompensa oficial ou honra perante a cidade, é o herói que procura ser livre e que tem a certeza de que ser livre é ser si-mesmo. Se essa recompensa é ilusória ou não, bem, isso não o preocupa. Sua vida é improviso constante, adaptação ao momento, criação sob pressão do meio.
  Se hoje, como em 1973, Lee e Steve são mitos para aqueles que importam, isso se deve ao fato de intuitivamente eles terem percebido que após a queda de tabús e de restrições o que viria era o desejo de auto-expressão. Seja criando uma nova luta, rabiscando paredes ou arriscando novas manobras sobre uma prancha. Eis nosso mundo. Eis a nossa impossível satisfação.