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O MAIS ICÔNICO DOS FILMES GAYS: REBEL WITHOUT A CAUSE, FILME DE NICHOLAS RAY COM JAMES DEAN. ( QUE ATOR HOJE NÃO IMITA JAMES DEAN? )

O filme começa numa longa, e muito aborrecida, sequência numa delegacia. Clichés sobre clichés são derramados sobre nossos ouvidos. Isso porque hoje, em 2021, estamos realmente cansados dessa conversa de "meus pais não ligam pra mim". Mas em 1955, isso era uma enorme novidade. Okay, já disse que a sequência é chata, mas lá está James Dean e nós logo sentimos o óbvio: ele é Ethan Hawke. Jared Leto. Joaquim Phoenix. E um inesgotável etc. Fato muito interessante: a geração de Jack e Al e Warren amava James Dean mas não o imitava de modo tão explícito. A geração que começou nos anos 90-2000 repete cada gesto, cada olhar, cada tom de voz do ator de 1955. ------------- James Dean, como por exemplo Joaquim Phoenix ou Christian Bale, durante todo o filme, nunca se senta num sofá simplesmente. Ele coloca as pernas no encosto e deixa a cabeça pendendo junto ao chão. James Dean não atira uma pedra ao longe, ele estica o braço atrás das costas e joga a pedra por detrás do pescoço. Ao abrir uma porta ele nunca pega a maçaneta e abre a porta, ele se joga contra a porta, torce o pulso e abre a porta se atirando ao espaço seguinte. Não há um único gesto de Dean que não seja "criativo". Ele interpreta o ato de fumar um cigarro como um malabarismo original. Ele não é apenas um ator, atua como artista. Não haveria o Coringa sem James Dean. ( Aliás seu raro riso no filme é Coringa em 100%. Um ruído de dor e de raiva ). -------------- Tudo que atores como Phoenix consideram cool nasceu aqui. -------- Eu escrevi abaixo sobre a hora certa de morrer? Bem....se vivo James Dean, pasmem!, teria a idade de Clint Eastwood!!!!! James Dean poderia estar vivo e ter feito filmes com Quentin Tarantino e Sidney Lumet. Talvez fosse ele o cara do Ultimo Tango. Ou não. Talvez ele não tivesse sido mais que um tipo de Montgomery Clift, o primeiro ator moderno do cinema, Clift o foi, mas morreu em 1967 doente e junkie, uma caricatura de si mesmo. James Dean morreu na hora certa. E levou Marlon Brando com ele. Pois há uma teoria que diz que Brando perdeu toda a motivação assim que Dean morreu. Fato: Brando foi um gênio enquanto Dean viveu. Competitivo ao extremo, Marlon precisava de alguém que corresse em sua raia. Outro fato: Brando nunca foi um adolescente. Mesmo em The Wild One ele parece adulto. James Dean não teve tempo de fazer um adulto. Outro fato interessante: Brando é perigoso sempre. James Dean não parece perigoso. Ele é carente. O tempo todo. Jovens de 2021 não são mais Marlon Brando. Não lembram em nada o rebelde feroz de The Wild One ou o Kowalski de Um Bonde Chamado Desejo. Mas eu convivo com bandos de James Dean todo dia. Jovens de sexualidade confusa, ressentidos, calados, quietos, deprimidos, sem onde ficar. Eu falei sexo? -------- Nicholas Ray era gay. Nos reprimidos anos 50. Se casou com Gloria Grahame, uma atriz mega sexy, eu a adoro, sou louco por ela, que era ninfo e bissexual. Sal Mineo, James Dean e Natalie Wood são os 3 astros deste filme. Dean morreria no ano seguinte. Sal Mineo, gay, teria uma vida de drogas e muita dor e seria assassinado nos anos 60. Natalie Wood teria casos com toda Hollywood, de Sinatra à Warren Beaty e morreria afogada no começo dos anos 80. Não se sabe até hoje se foi suicidio ou assassinato. ----------------- Faz pouco tempo que assisti um filme que tinha Kirk Douglas, Doris Day e Lauren Bacall. Kirk viveu mais de 100 anos. Doris chegou aos 97. Bacall aos 85. Os 3 morreram nesta década. Não há contraste maior entre os dois elencos. -------- Voltando a Ray, ele é o cara que fez Johnny Guitar, aquele western sobre duas lésbicas que se odeiam por se amarem. Sim, o cara era foda. E o que Nick Ray nos dá aqui? Um imenso filme gay. ----------------------- Na delegacia James Dean conhece Sal Mineo. E Mineo tem uma das atuações mais comoventes da história. Em cada cena nós vemos com clareza pornô o modo como ele se excita e se derrete na presença de Dean. A boca úmida à espera dos beijos e o coração aos pulos. Há uma cena que me fez gargalhar, e eu imagino como Nicholas Ray deve ter se divertido em ver os censores de Hollywood não perceberem nada...Sal Mineo encontra Dean no portão de casa e enquanto fala vai aproximando seu rosto de anjo do rosto de dor sem solução, de James Dean. Sal não fala, balbucia. Então James Dean entra em casa e o que vemos? O pai de Dean caído na escada com uma bandeja. USANDO UM AVENTAL ROSA COM FLORES AZUIS!!!!! Eu comecei a rir muito. É inacreditável. Então vem uma longa sequência que se traduz no desejo de Dean para que o pai seja menos maricas. ------------- Natalie Wood é outro caso perverso e delicioso. Ela passa todo o filme com uma expressão de quem precisa devorar um homem JÁ! E troca, alegremente, o namorado morto pelo desconhecido James Dean ( quem não ? ). O modo como Dean e Wood se beijam é extremamente 2021: ele pega a mão dela e a leva com ele. Sem palavras se beijam. E é isso. ------------- Estamos a séculos do elaborado flerte de Cary Grant ou Gary Cooper. -------------- Já para o fim do filme, Wood e Dean vão à uma casa abandonada. E, claro, cheio de ciúmes, Sal Mineo pede para entrar. Se forma um ménage. Dean é dos dois. Mas Sal é sadico. A turma do cara que morreu vem bater nele. Uma curra. Óbvio. Ah sim! Dennis Hopper tá na turma. Sendo o que sempre foi: um sádico maluco. -------- Posso ainda falar do beijo na boca que Natalie Wood dá no pai. E como ela fica furiosa quando ele não aceita o beijo. A menina precisa de um homem. Qualquer homem---------- Pouco antes de morrer o namorado de Natalie Wood, o chefe da gang que não aceita Dean e Sal por eles serem gays, só um bobo não nota isso, confessa que "gostou de conhecer Dean"....e morre no penhasco. Um macho que não aceita seu impulso gay latente e se pune por isso....kkkkkk....estou brincando? Ora, o filme é uma imensa brincadeira! Imagino como, na casa de Ray, ele e Gloria não riram pacas da seriedade das críticas dos jornais. ---------------------- Sociologicamente o filme é um monumento. Fala da primeira geração rica, a primeira leva de adolescentes na história do mundo a não ser obrigada a trabalhar desde os 14 anos. E com tempo livre, sem onde gastar sua energia, se perdem em dor, tédio e no futuro, em rock n roll. Nicholas Ray viu, genialmente, que haveria um outro componente, a carência emocional-sexual. Hormônios não gastos em esforço de trabalho ou guerra seriam soltos em desejo sexual febril. O filme é sobre um triângulo: um gay, um bissexual e uma ninfomaníaca. Exatamente como eram Ray, Gloria e James Dean. Como eram Marlon e Clift. -------------------- Uma comédia.

MARLON BRANDO E UM OUTRO ATOR

Assisti dois filmes hoje. Um deles feito com Marlon Brando. Acho que na história do cinema, apenas Anthony Quinn e Michael Caine têm tantos filmes ruins como Brando. Com uma diferença: tanto Quinn como Caine trabalharam em muitos mais filmes. A porcentagem de filme muito ruim de Brando deve ser de 90%. Assim de memória, posso citar os poucos filmes que fizeram sua fama: UM BONDE CHAMADO DESEJO, SINDICATO DE LADRÕES, THE WILD ONE, ÚLTIMO TANGO, PODEROSO CHEFÃO. Com boa vontade voce pode colocar mais três: VIVA ZAPATA, O PECADO DE TODOS NÓS, e o filme que ele dirigiu. O problema maior é que aquilo que sobra não é apenas ruim, é péssimo. Brando quando está mal nos faz sentir aversão por sua figura. Voltando a citar Caine e Quinn, quando os vemos num mal filme pensamos: Poxa! Apenas a presença dele alivia tanta ruindade! Brando não! Quando em filme ruim, ao vê-lo pensamos: Poxa! Como Brando é ruim!!!! Sua voz de pato velho nos dá ganas de o matar. Sua cara inchada provoca riso. Para sua curiosidade o filme ruim é OS QUE CHEGAM COM A NOITE, mais um péssimo filme de Michael Winner. Feito em 1972, ano do Chefão e do Tango. -------------- Michael Redgrave é o oposto de Brando. Difícil lembrar de algum filme ruim feito por ele. Dos cinco grandes do teatro inglês: Gielgud, Olivier, Richardson, Guiness, ele é o que tem a maior quantidade de grandes interpretações em cinema. E talvez seja o menos conhecido. Ninguém transmite mais profundamente na tela sentimentos negativos como Redgrave faz. Impotência, arrependimento, medo, cansaço existencial, tudo isso ele exibe no rosto em vários filmes. Neste excelente filme de Joseph Losey, A SOMBRA DA FORCA, ele é um pai ausente e alcoólatra, que tenta em poucos dias, salvar o filho condenado injustamente à forca. O filme, de 1957, feito com urgência e rapidez por um diretor em seu auge, é uma espécie de Hitchcock sem humor. Vemos esse pai preso numa teia de bebida, pistas falsas e dor. É um grande ator em mais um grande papel. Tente achar e ver esse filme.

TANGO SOLO, a bio de ANTHONY QUINN com DANILE PAISNER

   Se tudo for verdade a vida de Quinn é a mais rica de todos os atores.
   O pai foi um emigrante irlandês que acabou no México. A mãe era mexicana e a avó materna um tipo de nobre espanhola. Na infância ele vivia numa favela imunda, chão de terra e muita fome. Viu Pancho Villa e a revolução. Estudou e queria ser arquiteto. Conheceu Frank Lloyd Wright, o maior arquiteto do século e estagiou com ele. Virou ator meio sem querer. Casou com a filha de Cecil B. de Mille, o nome mais poderoso do cinema nos anos 20 e 30. Foi amigo de John Barrymore, o mito, já em sua decadência. Depois fez parte da turma de Erroll Flynn, isso tudo antes de ser famoso.
  Ao mesmo tempo era amigo de John Steinbeck, William Faulkner e de Saroyan. No cinema fazia papéis de índio e de mexicano, até que foi pro teatro. Na Broadway substituiu Marlon Brando em Um Bonde Chamado Desejo. Brando foi Kowalski por 4 meses apenas, Quinn por seis meses seguintes. Faz Viva Zapata com Marlon, ganha Oscar e vira ator respeitado.
  Muito bacana sua descrição de Brando. O cara que podia fazer tudo o que desejasse. E escolhia esculhambar sempre. Assim como o retrato de Barrymore, um mito alcoólatra que vivia para criar pegadinhas e dar festas.
  Depois vem Fellini, que Quinn considera o maior talento que conheceu e o sucesso de A Estrada da Vida. Vem ainda David Lean, o mais perfeccionista dos diretores, Lawrence da Arábia, uma filmagem toda desastrada. Vem sua amizade com Laurence Olivier, talvez o mais falso dos amigos, um homem que era fino e classudo no palco, mas um perfeito caipira na vida pessoal.
  Zorba então. E não vou falar de Zorba.
  O mais impressionante: apesar de se dizer tímido, Anthony Quinn teve incontáveis filhos com diversas mulheres. Desisti de contar, mas acho que chega a 14, os filhos. Ele viveu até mesmo um caso a quatro, uma esposa, uma amante, uma relação tórrida e ainda uma paixão surpreendente. Todas ao mesmo tempo. O cara era um Zorba!
  Tudo contado em flash back enquanto ele pedala sua bike pelas colinas próximas a Roma, onde viveu seus derradeiros 40 anos. É um livro ótimo para ler descontraidamente, ao sol, crendo ou não em tudo o que esse ator, sempre intenso, sempre vaidoso, diz.
  Saiu em 1995, mas é fácil de achar.

FRANK SINATRA/ BRANDO/ MEL GIBSON/ MONICELLI/ JEAN COCTEAU/ DORIS DAY/ GILLO PONTECORVO

   OS COMPANHEIROS de Mario Monicelli com Marcello Mastroianni, Renato Salvatori, François Perrier e Bernard Blier
Norte da Itália, fins do século XIX. Estamos numa fábrica, entre seus operários. Eles vivem em condições miseráveis, trabalham 14 horas por dia. O filme acompanha sua tentativa de obter melhores condições de vida. Uma greve acontece. Mastroianni é um professor pobre que aparece do nada , e que procura organizar os operários. O filme adota um tom quase documental. Não é o Monicelli humorista, é um filme de esquerda, como tantos em seu tempo. Ele consegue nos deixar revoltados e comovidos ao exibir o contraste entre as crianças operárias e os donos da fábrica. Mas hoje sabemos onde o esquerdismo iria dar...Teremos nos tornado mais cínicos? Admitimos a vitória do capital ? Porque nos é tão dificil tomar pura e simplesmente o partido dos explorados? Bem...é um filme forte. Nota 7.
   SANTO ANTONIO de David Butler com Erroll Flynn e Alexis Smith
Não é um dos bons faroestes de Flynn. Falta um melhor vilão, falta um personagem melhor definido para seus talentos de estrela. Ele já estava aqui no inicio de seu fim, as marcas dos excessos e dos escândalos já se podem notar. Mas é ainda uma produção de bom nivel da Warner. Alexis faz uma cantora de saloon e Flynn é um forasteiro que tenta livrar a cidade de seus bandidos. Apenas isso. Nota 5.
   QUEIMADA! de Gillo Pontecorvo com Marlon Brando
Em seu livro Brando diz ser este seu melhor papel. Não é. Posso citar cinco atuações melhores de Brando ( Um Bonde, O Chefão, Tango, Os Pecados de Todos, A Face Oculta ). Mas é um grande filme e uma grande atuação! Ele conta no mesmo livro ter discutido muito com o diretor. Pontecorvo insistia em fazer um filme completamente de acordo com a cartilha marxista, Brando queria mais sutileza. E lhe revoltava ver que um marxista como Pontecorvo explorava os figurantes de um modo tão óbvio. Mas ao mesmo tempo ele elogia o diretor e o filme. Com uma trilha sonora mágica de Ennio Morricone, o filme mostra a história de William Walker, um enviado da Inglaterra que "ajuda" os escravos negros a se livrar de seus senhores. A coisa se complica quando esses mesmos negros se voltam contra Walker, que afinal era apenas um novo explorador. Brando consegue refinar Walker. Ele é apenas um funcionário da Inglaterra, sem opiniões e sem nenhuma paixão. Faz um jogo impecável, obtém o poder para os ingleses, mas não vê nada de glorioso ou de errado nisso. Marlon Brando foi um gênio. O filme é muito bom, uma soberba aventura marxista. Um tipo de western de colonizados. Nota 8.
   O PIRATA de Vincente Minelli com Judy Garland, Gene Kelly e Walter Slezak
Numa ilha do Caribe, moça sonha em conhecer o famoso pirata Mococo. Mal ela sabe que seu ridiculo noivo é Macoco. Kelly faz o papel de um ator de circo, que para a conquistar finge ser o pirata Mococo. Músicas de Cole Porter em filme que não é um dos geniais musicais da época, mas que está longe de ser vulgar. Hiper colorido, alegre, cheio de vida e com belas canções, seu ponto fraco são as coreografias. Minelli e Kelly fariam bem melhor em outros filmes. Nota 6.
   ORFEU de Jean Cocteau com Jean Marais, Maria Casares, Marie Dea
Ou voce ama ou odeia. Cocteau traz o mito de Orfeu para a França de 1950. Para gostar voce deve se despir de linearidades e razões. O filme é só poesia. As coisas acontecem como em sonho e Cocteau tinha o dom para isso. Vê-lo é de certa forma como sonhar. Em dado momento voce perde a certeza de estar vendo um filme. Porém, se voce procura uma história emocionante ou um espetáculo, fuja. Os filmes de Cocteau, em que pese sua poesia, sempre resultam frios, distanciados. A fotografia é belíssima e surpreende a elegãncia francesa de então. São belas roupas e belos décors. Nota 7.
   PLANO DE FUGA de Adrian Grunberg com Mel Gibson
Mel Gibson era um excelente ator de ação. Como Bruce Willis, ele conseguia fazer tudo o que Stallone ou Arnold faziam, mas com muito mais humor e uma dose refrescante de hironia e inteligência. Mas após os Oscars de Braveheart Mel pirou. Aqui ele volta a ação pura e consegue ser outra vez o ator irônico que eu e minha geração adoramos. Mas o filme não é digno dos talentos do ator. É um desses filmes que tem prazer em mostrar dor, sujeira, destruição e vísceras. Ele é um americano em prisão mexicana. Lá ele tenta se dar bem. E é só. Eis a estética do cinema deste século: o prazer em se ver coisas sendo destruídas e sangue espirrando.  Moral: O mundo é uma merda. O filme também é.
   YOUNG AT HEART ( JOVEM NO CORAÇÃO ) de Gordon Douglas com Doris Day, Frank Sinatra, Gig Young, Dorothy Malone e Ethel Barrymore
Uma surpresa. O filme mostra aquilo que se conheceu como a tipica familia americana feliz. Uma familia de musicos felizes com três irmãs. Duas namoram, Doris não. Chega a vizinhança um alegre, confiante e rico compositor. Não, não é Sinatra, é Gig Young. Doris se enamora dele. Mas ele tem um amigo, e só no meio do filme surge Sinatra. E que impressão ele causa! Mal humorado, pobre, pessimista, Sinatra faz uma imitação de seu amigo Humphrey Bogart que magnetiza o filme inteiro. E quando ele canta, com sua voz no auge da forma, tudo fica muito mais real. Doris foge com ele e juntos passam momentos ruins. O filme, que surpresa, é muito bom. Tem a doçura saudosista da América em seu apogeu, e também anuncia a amargura daquilo que estava reprimido. Doris é encantadora. Nota 8.

DEPP/ SELTON MELLO/ BRANDO/ KAUFFMAN/ SEAN CONNERY/ VERGONHA

   O PALHAÇO de Selton Mello com Selton Mello e Paulo José
Pauline Kael disse uma vez que a crítica de cinema estava numa decadência tão grande que existiam críticos que só conheciam dois ou três filmes de Fellini. Era, óbvio, uma "boutade" de Kael, mas dá o que pensar. Alguém disse que este filme é felliniano. Onde? Esse crítico deve ter visto o trailer de La Estrada e pensado: O Palhaço tem um circo on the road, portanto é felliniano!!!! Caraca, eis o pensamento de alguém que pensa que todo filme com um neurótico é bergmaniano. O Palhaço nada tem do gênio de Rimini. Este é melancólico, lento, feito todo de silêncios e de coisas que não acontecem. Tudo o que Fellini não era. Mas é um filme bonito, e dá um alivio ver um filme que mostra gente de verdade e não conjuntos de sintomas. Tem um problema sério, o miolo perde ritmo e o filme trava. Mas o final é corretíssimo, nada piegas, emocionante sem ser falso. Bela atuação desse maravilhoso Selton Mello. Ele é, sem dúvida, um dos melhores atores do mundo. Nota 6.
   SHAME de Steve McQueen com Fassbender
Numa entrevista do diretor ele conta ter passado O ÚLTIMO TANGO para o elenco antes das filmagens. Bem, pelo jeito McQueen não entendeu nada da obra-prima de Bertolucci. O Tango mistura Sartre, Marx e Freud e o resultado é o devastador retrato de um intelectual a beira da destruição. Brando é como eu e como voce, retrato de um homem. Aqui temos o oposto. É um compendio de sintomas de um pobrezinho sofrido. Como é moda em tempos moralistas, mostra-se o persoangem como doente, como alguém longe de nós. Estudamos seu caso à segura distância, e se não somos fanáticos por casos psiquiátricos, morremos de tédio. A criatividade passa longe de seus planos, mas penso que ele dá à seu público exatamente o que ele deseja, a sensação sem pensamento. McQueen, que dirige como se fosse um professor jesuíta, aponta o dedo e nos diz: Olhem! Quanta sujeira!!! Excelente produto para uma geração travada. Após esse filme todo garoto que se masturbar 4 vezes ao dia terá seu auto-diagnóstico prontinho. Pior, é um filme chato de doer.... Nota 3 pela bela atuação de Fassbender. Pena que num papel tão óbvio.
   OS VIOLENTOS VÃO PARA O INFERNO de Sergio Corbucci com Franco Nero e Jack Palance
A verdade é que não tenho Paciência para o western italiano típico. Tudo parece falso, de brincadeira. Apesar da bela trilha sonora de Morricone é um filme ruim. Nota ZERO
   TOP SECRET de Zucker, Zucker e Abrahams com Val Kilmer e Omar Shariff
É aquela comédia que todo mundo já viu sobre um cantor à Elvis que vai à Alemanha Oriental ( esse país existiu Ó criança... ) e se mete em caso de espionagem. Foi um imenso fracasso em seu tempo e dá pra notar porque: não tem graça. Nota 1.
   DON JUAN DE MARCO de Jeremy Leven com Johnny Depp, Marlon Brando e Faye Dunaway
Coppolla produziu esta bobagem. Aqui Depp treina para n papéis que faria depois e Brando se diverte brincando em fazer um psiquiatra que trata de um jovem que pensa ser Don Juan. O filme resvala em coisas muito sérias: a influência do paciente sobre o médico, a medicalização da vida, a fantasia como aquilo que faz a vida ter valor, a oposição entre arte e ciência. Mas tudo isso é jogado no lixo da indecisão. O filme não se decide entre ser comédia ou drama, fantasia ou romance realista. Um Michael Powell faria maravilhas com esse tema. Nota 2.
   SOL NASCENTE de Philip Kaufman com Sean Connery, Wesley Snipes e Harvey Keitel
Em 1983 Kaufman fez uma obra-prima. OS ELEITOS é um dos melhores filmes sobre heroísmo da história. Mas desde então sua carreira foi numa queda livre. A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER ainda era muito bom, mas este Sol Nascente é puro lixo. Ele se rebaixa e imita Tony Scott. De bom apenas os 3 minutos iniciais em que ele cita cenas de Peckimpah e de Kurosawa. Até Sean Connery, ator que sempre adoramos ver, não se encontra numa trama confusa e preconceituosa. Lixo. Nota ZERO.

BRANDO/ DONEN/ DELON/ MALICK/ WALSH/ ZURLINI/ MASTROIANNI/ HUSTON

   CANDY de Christian Marquand com Marlon Brando, Richard Burton, John Huston, Charles Aznavour, James Coburn, Walter Mathau, Ringo Starr, Anita Pallemberg e Ewa Aulin
Um dos mais famosos dos filmes "bem louco" dos anos 60. Não há uma cena de drogas, mas o filme é uma viagem. Do que fala? De uma menina meia ingênua, meia idealista, que zanza pela vida sendo perseguida por homens que desejam levá-la pra cama. Ewa Aulin é muito bonita, mas como atriz é um desastre. De qualquer modo, o filme é surpreendentemente bem feito, e tem alguns momentos divertidos. Burton faz um professor super-star, é uma das boas cenas. Brando aparece no fim, como um guru charlatão. Magro, e de peruca longa, é hilário ver o mito Brando tirando uma do movimento hippie. Ele finge levitar, diz bobagens new age e transa com a menina até se esgotar. É a melhor coisa do filme. Há ainda Aznavour em cena ruim, Coburn como cirurgião superstar ( o filme é cheio de críticas aos superstars ), Mathau faz um militar tarado ( é a pior cena do filme ), e Ringo é um jardineiro mexicano virgem. Como disse, é um filme doidão. Nota 4.
   O DIABO É MEU SÓCIO de Stanley Donen com Dudley Moore e Peter Cook
Cook e Moore se tornaram famosos na tv inglesa fazendo um tipo de humor à Monty Python antes dos Python. Cook escreveu este roteiro que fala de rapaz tímido que é ajudado pelo diabo em sua tentativa de conquistar o amor. O filme nunca teme o politicamente incorreto, Deus é objeto de humor crítico e tudo aquilo que o diabo diz tem a marca de alguém que sabe falar. Peter Cook é um filósofo. Mas trata-se de uma comédia, e é triste dizer, nada aqui tem graça. Os cenários são tristes, o ritmo é lento, e Dudley é péssimo!!! Stanley Donen começa aqui a rumar a sua aposentadoria. De bom, o estilo "dandy do rock psicodélico" de Cook. E a cena em que Dudley se torna um astro do pop. É pouco. Nota 2.
   BORSALINO de Jacques Deray com Jean-Paul Belmondo e Alain Delon
Um grande sucesso de bilheteria do cinema francês em 1970. Fala de dois pequenos malandros que se tornam amigos e passam a dividir suas tramóias. Bem.... os atores se divertem muito com seus socos, tapas, caretas e mulheres bonitas. As roupas anos 30 são charmosas, a trilha sonora de jazz é perfeita, os cenários são lindos, mas falta alguma coisa.... Talvez falte Paul Newman.... Delon é excelente para fazer tipos angustiados e frios, ou seja, tipos que são o oposto do humor; e Belmondo, bom ator em comédias, está aqui totalmente descontrolado. Vê-se o filme com indiferença. Nota 4.
   A ÁRVORE DA VIDA de Terrence Malick com Brad Pitt, Jessica Chastain
Crítica abaixo. Malick tenta ser Kubrick e se torna um sub-Tarkovski. O tema que ele escolhe é sublime, mas boas intenções não fazem um grande filme. Se tirarmos a soberba trilha sonora de Alexandre Desplat e a fotografia de Emmanuel Lubeski, o que sobra? Um diretor com boas ideias perdido em sua pretensão absurda. Me emocionou porque toca na minha vida, mas que efeito ele causaria em alguém diferente de mim? Esquecendo o que ele tenta falar, como cinema puro, o que ele é? Uma coleção de cenas que não se resolvem e um amálgama de conceitos que jamais se desenvolvem. Falho, mas jamais vulgar.  Nota 6.
   BLITZ de Elliot Lester com Jason Statham e Paddy Considini
Ah! Maravilhoso cinema.... indústria que vai da arte de Loach e Frears ( para falar dos caras de agora ) à pretensão fru-fru de Malick e Boyle. Da eficiência nobre de Eastwood e Scorsese á arrogância tipo novo-rico de Jackson e Bay.... Se o cinema fosse culinária, diria que o filme de Malick seria um souflé que murchou, excelentes ingredientes, excelente intenção, porém desandado. Aqui temos um belo pão com manteiga e média escura. Pão quente e café fresco, manteiga gordurosa, como deve ser. Gosto muito de Statham, como adorei em seu tempo Bruce Willis e Mel Gibson. Atores de ação com carisma são como dádivas das telas, nos dão prazer, prazer em estar, prazer em os reencontrar. O suflê é melhor, mas no dia a dia é a média que nos sustenta. Dá-lhe!!!!! Nota 6.
   GIGANTES EM LUTA de Raoul Walsh com Yvonne de Carlo e Rock Hudson
Walsh era um desses diretores-padeiros. Faziam a toda hora, por toda a vida, aqueles filmes pão-quente, filmes deliciosos, simples, leves, inesquecíveis. Ação, humor, romance e bons diálogos: isso é cinema puro. Este fala de espionagem em tempos de Napoleão. Rock Hudson era desses atores-prazer ( como eram Erroll Flynn, John Wayne, Steve McQueen, e agora Brad Pitt ou George Clooney ), atores que a gente sabe não serem tão bons assim, mas são rostos e vozes que adoramos reencontrar sempre. Nota 6.
   DOIS DESTINOS de Valerio Zurlini com Marcello Mastroianni e Jacques Perrin
Aqui a coisa pega. Um tristíssimo filme do delicado Zurlini, um dos melhores diretores da Itália. Fala de dois irmãos. O mais velho foi criado pela própria familia, o outro foi adotado por um tipo de nobre decadente inglês. Mas esse nobre se vai e o mais velho, que agora é um jornalista comunista muito pobre, vai ter de ajudar o mais novo a viver. Esse irmão, delicado, bom, indefeso, é feito com talento poético por Perrin, mas o amargo e contido comunista, feito por Mastroianni, é uma das maiores atuações da história. O jornalista procura se livrar do peso de ter de ajudar e proteger um irmão que lhe é estranho, mas acaba por se render quando esse irmão adoece e morre. É um dos mais trágicos filmes já feitos e nada nele nos alivia a dor. O filme nada tem de "belo", são os dois atores, quase sempre sós, falando e sofrendo sem parar. Sentimos a fome deles, vivemos em sua sujeira, ansiamos pelo que eles ansiam. As cenas no hospital se tornam quase insuportáveis. Voce nunca irá esquecer o rosto de Perrin. Marcello foi o maior ator da história do cinema como querem alguns? Porque não? Veja isto e tire suas conclusões. Nota 8.
   A GLÓRIA DE UM COVARDE de John Huston
Este é o filme fracasso de Huston. Ele não pode terminá-lo e o que ficou completo tem apenas uma hora de duração. Mas que filme!!!! Baseado no livro de Stephen Crane, fala de soldados na guerra de secessão americana. Há quem diga que nosso tempo nasceu nessa guerra, o filme pensa que sim. O absurdo impera. Poucos filmes têm uma fotografia tão bonita, rostos imensos em closes profundos, fumaça e gestos duros, olhos gigantes. Harold Rosson se superou. Huston, em seu estilo seco, acompanha um soldado covarde, que abandona a batalha, mas depois é tido como um tipo de herói. Ironia hustoniana pura. Não há uma cena menos que ótima, o filme é todo superlativo. É um prazer voltar a ver um filme de John Huston. Nota 8.

CLINT/ PAUL NEWMAN/ MARLON BRANDO/ FRED ASTAIRE/ RITA/ POWELL

SUPER 8 de JJ Abrams
Simpático filme de um sub-spielberg. Uma repórter ( não lembro o nome ) ao escrever de Abrams falou dos caras vindos da tv e que não deram muito certo. Ela esqueceu do principal, James L. Brooks, um diretor vindo da tv ( Mary Tyler Moore, Taxi, Os Simpsons ) e que ganhou Oscar de direção ( Melhor é Impossível ). Este filme, leve, bem levado, efeitos sem exageros, é uma competente diversão de fim de tarde. Um alivio. Nota 7.
A MARCA DA FORCA de Ted Post com Clint Eastwood
Em 1968, retornando de seu auto-exilio italiano, Clint faz este western. É sobre um vaqueiro que é enforcado e sobrevive a isso. Ele se torna delegado e parte à vingança. Há algo de Dirty Harry aqui, mas falta ritmo ao filme, falta direção. Sinto em dizer, é chato. Nota 3.
REBELDIA INDOMÁVEL de Stuart Rosenberg com Paul Newman, George Kennedy, Dennis Hopper, Harry Dean Stanton
Kennedy levou Oscar de coadjuvante e o filme foi sucesso de público em 1967. Newman é um cara que cumpre pena de dois anos por danificar parquimetros. Na prisão rural, ele se torna uma lenda por seu jeito safado-cool de ser e por suas fugas que nunca dão em nada. Filme pop de primeira. Se voce o assistir como aventura ficará satisfeito, mas se pensar sobre suas cenas verá uma parábola sobre Jesus Cristo. Tudo com humor, drama e uma atuação maravilhosa de Paul Newman. Um ator sempre adorável. Assista que vale muuuuuito a pena. Nota 8.
ZORRO, THE GAY BLADE de Peter Medak com George Hamilton e Lauren Hutton
Em 1978 foi considerado o pior filme do ano. Hoje é cult. Zorro tem um irmão gay. Quando ele se machuca, o gay assume seu posto. Chanchada simpática, mas muito menos engraçada do que se desejaria. Motivo: o irmão gay aparece pouco. Hamilton faz os dois. Foi considerado o pior ator do mundo na época. Nem tanto, o afetado com suas roupas de cores fortes é boa criação à Mel Brooks. Nota 3.
OS QUE CHEGAM COM A NOITE de Michael Winner com Marlon Brando e Stephanie Beacham
Em seu grande ano ( 1972 ), Brando fez 3 filmes: O Chefão, O Último Tango e este gótico inglês. O roteiro conta o que teria acontecido na mansão de Os Inocentes antes do filme de Jack Clayton. Ou seja, é um prólogo a Henry James e seu A Outra Volta do Parafuso ( que no cinema é o clássico Os Inocentes ). Brando é um brutal e infantil trabalhador rural. Ele é amigo dos filhos do patrão, um casal de crianças que o tem como ídolo. Os dois começam a imitar Brando em tudo, principalmente em sexo, pois eles espionam Brando em suas cenas de sexo sádico com a professora dos dois. O filme tem um belo clima soturno e filmes passados no campo pantanoso inglês são sempre interessantes. Mas tem mais, uma excelente trilha sonora de Jerry Fielding e uma atuação magistral de Brando. Enorme, cruel, sensual, simpático e ruim, tudo o que ele faz é violento, estúpido, errado. Ele faz crescer muito o filme com seus olhares tortos, as mãos de animal e a voz que é um sussurro primitivo. O roteiro tem momentos de quase tolice, mas Brando salva tudo por estar quase sempre em cena. Winner era considerado um diretor enganador em seu tempo ( anos 60/80 ), mas este filme está longe de ser ruim. Boa diversão para madrugadas de insonia. Nota 7 ( por Brando ).
O DIA DEPOIS DE AMANHÃ de Roland Emmerich com Dennis Quaid e Jake Gyllenhal
Todos conhecem esse filme. Posso jogar nele a filosofia de Pascal: imaginação. Usamos nossa imaginação para acreditar estar vendo um belo filme de ação. Mas o que vemos na realidade é um filme sem imaginação, sem suspense algum, sem alma. Neve, gelo, e o prazer doentio de se ver o planeta morrer. Os efeitos são ok, apesar dos lobos ridiculos. Quaid foi um dos atores mais interessantes nos anos 80 e envelheceu muito bem. Ainda tem aquele ar de malandro boa gente. Já o tal Jake é a cara dos anos 2000: um nerd inofensivo com olhos de mangá. Nota 4.
BONITA COMO NUNCA de William A. Seiter com Fred Astaire e Rita Hayworth
Uma menina que atende na 2001 conversou comigo quando comprei este dvd. Ela fala como pode existir gente que gosta de cinema e não assiste os clássicos. Falo que essas não são pessoas que gostam de cinema, são pessoas que gostam de ir ao cinema ou de ver dvd, o que é muito diferente de gostar de cinema. Ela descobriu os filmes clássicos através dos musicais, o que é uma coincidência, pois eu também tomei contato com a velha Hollywood via musicais. Aqui temos o gênio de Astaire na Buenos Aires made in California. Lá, ele se envolve com filha de rico argentino que não quer que eles se casem. Mas ela, Rita, o ama.... Como em quase todo musical, a história é um quase nada, mero acessório para as canções e danças e também as frases espertas dos diálogos. Não é um dos grandes musicais, mas é tão bom olhar para Fred, ele nos dá uma alegria tão leve, tão prazerosa é sua visão... assim como a beleza de Rita, no momento em que ela começava a ser estrela. Agradável, alegre, é aquele mundo do musical em que a gente pensa: Ok, nada a ver com a vida real, mas e daí? Viva a ilusão!!!!! Nota 7.
UM DE NOSSOS AVIÕES NÃO REGRESSOU de Michael Powell
Feito em plena segunda-guerra, fala de um avião que é atingido pelos nazis ao voltar de um bombardeio em Dusseldorf ( foi bombardear a fábrica da Mercedes ). Caem na Holanda, e o filme mostra seu retorno a Inglaterra ajudado pela resistência holandesa. Um elogio ao povo holandês, e os nazis não são pintados como demônios. Powell fez várias obras-primas, mas este filme, de certo modo propaganda de guerra, não é dos maiores. A volta acontece de forma fácil demais, sem grandes perigos, simples. Nota 6.

KUROSAWA/ CLINT/ DE PALMA/ ELIA KAZAN/ BRANDO/ LOACH/ OLIVIER/ MANKIEWICZ

O ÚLTIMO VÔO de Karim Dridi com Marion Cotillard e Guillaume Canet
Chato... é sobre mulher que procura marido perdido em deserto africano. Soldado da legião estrangeira vai a ajudar. Ela pilota avião. Podia ser uma boa aventura. Mas não há interesse, ritmo, suspense, nada. E a personagem de Marion é rasa como de resto são todos os diálogos. Um pé no saco. O filme é de 2010 e acho que não passou aqui. Nota ZERO.
SUGATA SANCHIRO de Akira Kurosawa
Eis o primeiro filme do mestre. Feito em 1943, antes da bomba, vemos o Japão ainda de tamancos e kimono, de muita gente e paredes de papel. O roteiro fala de mestre de Judô ( uma nova arte ) que desafia os mestres de Jiu Jitsu ( a arte tradicional ). Curto e simples, é um belo filme. Nota 6.
O ESTRANHO QUE NÓS AMAMOS de Don Siegel com Clint Eastwood
Um soldado Yankee ferido, se abriga em escola feminina no sul rebelde. Ele seduz cada uma das alunas, mas o ciúmes das meninas e a vaidade do soldado faz com que tudo caia em violência e horror. O filme tem um belo clima gótico e realmente sentimos que ele caiu numa cilada, que será castrado. Mas ao mesmo tempo falta mais ousadia a Siegel. Nota 5.
HI, MOM de Brian de Palma com Robert de Niro e Gerrit Graham
Auge da contracultura. De Niro é um cara que filma as janelas vizinhas para fazer um filme pornô. Mas depois o filme explode em faíscas: ele participa de uma peça: Seja Negro Baby! A peça é aquele tipo de espetáculo cruel em voga naqueles tempos irregrados. O público é atacado, humilhado, e agradece por isso. É o segundo filme de Brian de Palma. Mal feito, tonto, sem rumo, solto, tolo. E mesmo assim, fascinante. Um adendo: o que se pode hoje em Londres? E em Madrid? E na Grécia? Grana. Emprego. O que se pedia em 1970? Um mundo novo. Liberdade absoluta, paz e socialismo. Algo recuou. Nota 5.
O VELHO QUE LIA ROMANCES DE AMOR de Rolf de Heer com Richard Dreyfuss e Hugo Weaving
Que bom ator que é Dreyfuss!!! Aqui ele faz um latino americano e realmente, sem nenhuma caricatura, ele se torna um latino americano do Amazonas! Richard Dreyfuss foi uma estrela nos anos 70 ( Tubarão, Contatos Imediatos ), mas ele foi sempre tão cool que jamais ligou muito para sua fama. Ainda é grande, muito grande.... Este bom filme ( e que não passou aqui ), fala de onça que mata pessoas na Amazônia. Dreyfuss é um homem velho que sempre viveu isolado, amigo dos índios e que lê livros banais de amor. Ele e alguns amigos ( e Hugo nunca esteve tão bem ) vão à caça. O filme é lento, respeitoso, nada new age. Uma bela surpresa! Nota 6.
UM BONDE CHAMADO DESEJO de Elia Kazan com Vivien Leigh, Marlon Brando, Karl Malden e Kim Hunter
Eis o gênio em ação. Brando cria o ator de hoje no fim dos anos 40. Sua atuação é tão violenta e sensual que causa espanto. Mas Vivien também está genial como a delicada Blanche Dubois, a falida dama que vai morar com a irmã em New Orleans e afunda na sordidez. Veja o modo como Brando repete o tal "código napoleonico", observe a riquesa dos cenários, os olhares patéticos de Leigh. Os diálogos de Tennessee Willians são poesia de primeira. E temos Kazan, o homem que entendia o significado da tal "crise familiar". É um filme para ser visto e estudado. Nota 9.
CINCO DEDOS de Joseph L. Mankiewicz com James Mason e Danielle Darrieux
Durante a segunda-guerra, mordomo da embaixada inglesa vende segredos militares aos nazistas. Tudo ocorre na neutra Ankara. E o filme sabe usar o clima turco. Mas tem mais: sabe criar suspense, sabe tirar proveito do rosto de James Mason ( e poucos atores sabem fazer canalhas tão bem ). Há uma frase que nos toca. O espião diz que vende segredos apenas pelo dinheiro. Seu sonho é fugir para o Rio. Diz ter visto uma vez, de um navio, um homem de smoking branco, fumando um cigarro em varanda sobre o mar, no Rio. Para ele, aquele era o homem mais feliz do mundo. Ele quer ser como ele. Não consegue. Ou quase. Mas o filme faz o que promete, é diversão de primeira classe. Nota 8.
MEU NOME É JOE de Ken Loach com Peter Mullan
Este fez sucesso em Cannes e deu prêmio de ator a Peter. Passa-se em Glasgow. Ele é um frequentador dos AA. Treina time de futebol e vive do seguro desemprego. Enamora-se de médica e tenta ajudar amigo envolvido com drogas. Loach é um homem a moda antiga. Ele se preocupa com o mundo real. Seus filmes falam do que acontece de verdade, ele não divaga. Uma informação: nos anos 60 havia uma corrente de criticos que odiavam Bergman. Diziam que seus filmes só podiam interessar a burgueses bem de vida com problemas existenciais recorrentes do tédio de se ter a barriga cheia. Que a vida real não era aquela. O tempo mostrou que aquela também era a vida real. Mesmo que de suecos ricos. Mas o que me incomoda hoje é que não se mostra mais a vida de gente pobre e normal. Sempre que se mostra um pobre ele é um traficante, um tarado serial ou uma prostituta. Parece que todo pobre americano é personagem de comédia ou louco perigoso. E todo pobre britânico seria um cara de filme de gangster. Isso não acontece com Ken Loach. Ele ainda crê na humanidade individual de cada personagem. Joe é rico em emoções, é comovente sem ser piegas e enfrenta o mundo da droga sem jamais parecer um personagem de cinema. O filme, verdadeiro e poético ao mesmo tempo, é obrigatório para quem perdeu a crença na força do cinema. Eu tenho a certeza de que é para filmes como este que ele foi criado pelos Lumiere. Um detalhe: o time de futebol joga com as camisas da Alemanha de 74. Assim, rimos aos ver o grosso do time correr com a camisa 5 de Beckembauer e o gordão com Muller às costas. Depois eles roubam uniformes e cometem aquilo que o técnico rival chama de "sacrilégio". Jogam com as sagradas camisas do Brasil de 1970. Pelé e Rivellino são citados. Escoceses pobres respeitam e idolatram a amarela camisa dos "deuses"da bola. Me parece que isso nos ensina algo. Nota 9.
O DIVÓRCIO DE LADY X de Tim Whelan com Laurence Olivier, Merle Oberon e Ralph Richardson
Fog em Londres. Fog tão forte que a cidade pára. Um casal que não se conhece fica em mesmo quarto para passar o fog. Ela se apaixona por ele, ele pensa que ela é casada.... Vemos uma comédia dos anos 30 para obter 3 coisas: alegria, calma e bem estar. Pessoas bonitas e bem vestidas em locais luxuosos esbanjando dinheiro e bons modos, dizendo frases alegres e espertas e sendo todo o tempo adoráveis. Este filme tem tudo isso. E ainda nos dá o prazer de ver Olivier fazendo Cary Grant e Ralph Richardson em seu jeito levemente louco de ser. Ver filmes como este é como tomar champagne gelada em noite de luar a beira-mar. Felizmente eles existem. Nota 7.

MARIA SCHNEIDER

Existem milhares de Marias hoje. Mas como bem disse Keith, uma coisa é ser doido agora, com mapa e bússola já feitas pelos doidos anteriores; outra bem diferente é ser o navegante sem mapa, vivendo e criando ao mesmo tempo uma rebeldia e uma loucura sem testes feitos por outros. Voce entra na piração e não tem nenhum exemplo pra te guiar. Maria foi dessas.
Ela estava pouco se lixando para o cinema. A menina começou pelo muito alto, pelo perigosamente alto: Brando e Bertolucci em Último Tango.
O mais intenso e enlouquecedor dos atores, no melhor desempenho "bruto" que um homem ousou exibir. Assitir o filme é ver um cara totalmente nú. Brando se exibe inteiro, sem medo e com imenso sofrimento. E Maria peitou o cara. Enfrentou o queridinho da esquerda cinéfila ( Bertolucci ) e o bicho doido gênio ( Brando ). E na sequencia mergulhou em Antonioni ( o niilista ) com Jack Nicholson ( o cínico ) na obra-prima O PASSAGEIRO.
Ela era apenas uma mocinha bem-lôca. Numa época em que ser assim não era moda e portanto nunca era fake. Correu riscos, partiu para excessos e se arrebentou toda. Viveu enfim.
Ter chegado aos 50 e poucos anos foi um milagre.
2011, a mais policiada das épocas não era pra ela. Se houver um além, a gente se vê por lá.

CINEMA DE AVENTURA E QUE TAIS

Os filmes sobre os quais escrevo aqui, caso voce não saiba, são aqueles que assisti na semana. Tenho sempre uma pilha de dvds que nunca vi e às vezes revejo o que me dá vontade. Nunca escrevo sobre filmes que vi muito tempo atrás, é sempre o que é assistido na hora.
Escrevo isso porque lamento não ter tido blog em 2006/2008 que foi a época em que montei minha coleção de filmes. Foi o período em que descobri aquilo que o cinema pode ser. Primeiro contato com o cinema dos anos 30, os clássicos silenciosos e tudo de Bergman, Dreyer, Bresson, Godard, Melville e que tais. Foi um tempo bom demais! As comédias dos anos 30, os noir dos 40, Carné e Clair.
Ainda existe um monte de clássicos que não vi, mas o tempo do descabaçamento já se foi. Até 2005 eu achava que conhecia cinema, não sabia nada! ( E sei que ainda sei pouco ).
Escrevo isto porque os filmes que vi esta semana são de nivel bem baixo.... talvez seja a mais fraca semana que já tive. Aí vai :

ERA UMA VEZ NO MÉXICO de Robert Rodriguez com Antonio Banderas, Johnny Depp, Salma Hayek, William Dafoe e Mickey Rourke
Rodriguez homenageia Leone e seu The Good, The Bad and The Ugly ( talvez seja o filme mais homenageado dos anos 90/2000 ). Mas se perde. As 3 histórias não mantèm seu interesse. Depp seria o mau, Antonio o bom e Dafoe o feio. A fotografia e a música são ótimas, mas os personagens não sustentam o filme. Apenas um curioso filme pop. Nota 6.
VELOZES E FURIOSOS 4 de Justin Lin com Vin Diesel, Paul Walker, Michelle Rodriguez
Quer saber ? As cenas de ação são muito boas. É o melhor dos 4 filmes. Tem alguma história e os carros são demais! Lógico que é um filme bobo, mas dá uma certa adrenalina ( se voce desligar o senso crítico ). Nota 6.
CARGA EXPLOSIVA 3 de Olivier Megaton com Jason Statham e Natalya Rudakova
Um excelente filme de ação ( do tipo atual ). Ou seja: é completamente inverossimel. Esqueça os diálogos, esqueça a construção de personagens. É movimento todo o tempo. Filme feito para criar sensações, nunca emoções. Jason nasceu para esse tipo de durão com voz rouca ( à Clint ) e Natalya é linda de doer. A trama não faz o menor sentido. Nota 7.
O GRANDE MESTRE de Yip Wai-Shun
É a história de grande mestre de artes marciais da China dos anos 30. O filme começa maravilhosamente bem. Acompanhamos o cotidiano do mestre, seus desafios, a vida entre valentões. Mas vem a guerra. O Japão invade a China, o mestre conhece a fome e o filme se torna tão patrioteiro que chega a irritar. Para quem pensa que americanos fazem filmes patriotas, bem... veja este. Os americanos são neutros perto disto. Os japoneses são mostrados como bestas sanguinárias, agentes de maldade infinita, sádicos e sub-humanos. E no fim ainda é dito que o Japão foi derrotado " graças a valentia do povo chinês ". E Hiroshima ???? Mas mesmo com essa baboseirada o filme é legal. As lutas, coreografadas por Sammo Hung, são de tirar o fôlego e os atores são muito bons. Belo filme. Nota 7.
O GRANDE TRUQUE de Christopher Nolan com Hugh Jackman, Christian Bale e David Bowie
O estilo Nolan de cinema: ele pega uma coisa banal e a complica ao máximo. Tome flash-back, tome divagações vazias, tome um monte de frases ruins. É um enganador. Fake até o osso. Nada de novo tem a dizer, mas como se acha muito intelectual para fazer filmes simples, enche tudo com truques que enganam aqueles que pensam que o cinema nasceu em 1998 com Matrix. Hugh é legal, Bale é outro chato. O filme fala de mágicos e truques. Uma chatice. Nota 1.
PAIXÃO SEM LIMITE de Alan Shapiro com Cary Elwes e Alicia Silverstone
Lolita para tvmaníacos. Tiraram todo o humor de Nabokov e toda a malícia. O que restou? Uma tolice sobre ninfeta fatal. E ainda termina tudo em loucura e crime ( claro! Ela tinha de ser louca! Afinal, ela gosta de sexo! ). Desprezível. Nota Zeríssimo!
DIA DE OUTONO de Ozu
Em se tratando do hiper-original Ozu, eis aqui um de seus filmes mais fracos. O que, em seus melhores filmes, é humanismo nobre e refinado, aqui se torna preguiçosa contemplação. O mestre não conseguiu criar personagens marcantes e o filme fica a deriva. Mas as composições de cena são lindas e sempre é bacana ver a forma como Ozu filma. Ninguém se parece com ele. Cinquenta anos após sua morte ele é ainda original. Nota 6.
SANGUE EM SONORA de Sidney J. Furie com Marlon Brando e John Saxon
Western passado na fronteira sul. Pó e mexicanos. Marlon tem seu cavalo roubado. Vai o recuperar. O filme é simples, as imagens são ótimas, mas ele consegue não emocionar. Porque? Falta um motivo mais forte para a vingança. O bandido não é mal o bastante e o herói parece flácido. Dá pra ver, mas é um western que anuncia a decadência do gênero. Nota 6.
KELLY'S HEROES de Brian G. Hutton com Clint Eastwood, Telly Savallas e Donald Sutherland
É um dos primeiros filmes de Clint como estrela ( 1968 ). Mas é principalmente um show do muit jovem Donald Sutherland. Do que trata o filme? Na segunda guerra, um bando de soldados americanos tenta roubar ouro nazista. O filme é uma comedia ácida: vê a guerra como farsa sem sentido. Nesse gênero, MASH dá de mil a zero. A loucura aqui é tanta que chega a enjoar. Clint é um muito cool comandante que só quer se dar bem, Savallas é um brutamontes histérico e Sutherland cria um tipo genial : um hippie perdido em 1943 ! Seu cabelo, sua roupa, seu modo de falar é de alguém que acabou de tomar um ácido em show do Grateful Dead. A guerra pra ele é uma viagem e tudo deve ser feito com good vibrations. Criação de gênio, a gente sente um imenso prazer em vê-lo atuar. Tipo de ensaio para o que ele faria em MASH dois anos mais tarde. Os Black Grapes têm uma música ( ótima ) que cita este filme cult. Mas é histérico demais!!!! Nota 6.

MARLON BRANDO/ KUROSAWA/ LANG/ WISE/ CLINT EASTWOOD/ LEE MARVIN

O TIRANO DA FRONTEIRA de Anthony Mann com Victor Mature
É o primeiro filme de Mann que não me satisfaz. Por um motivo muito óbvio: não gosto de westerns sobre a cavalaria. Adoro faroestes que falam sobre cidades em crise, sobre solitários cowboys, sobre corrida do ouro. Mas todos aqueles que mostram a cavalaria me entediam. Para piorar, este se apoia no talento inexistente de Mature. Nota 3.
BRILHO DE UMA PAIXÃO de Jane Campion com Abbie Cornish e Ben Whishaw
John Keats para moçoilas. Campion transforma Keats em EMO. Belas imagens e algumas belas páginas recitadas. Melhor ler o gênio romântico inglês. Nota 1.
DUELO SILENCIOSO de Akira Kurosawa com Toshiro Mifune e Takashi Shimura
Eis um Kurosawa que eu nunca vira. É de seus primeiros filmes e é a primeira reunião com Mifune. Fala, em cenário cheio de sombras e que exemplifica o Japão detonado pós-guerra, de um médico, que ao ser contaminado pela sífilis, abre mão de seu noivado e até de seu desejo sexual. É o trágico levado a seu limite. Mifune, com máscara impassível de médico que atende de graça os necessitados, mostra já o dom que lhe daria a imortalidade, ele faz muito com pouco. Sua explosão de dor, em cena quase ao final, nos corta o coração. É mundo sórdido, mas nunca nos deprime. A medicina é um dos temas recorrentes de Kurosawa. Sempre vista como mundo de abnegados. É um filme invulgar, Kurosawa foi o maior. Nota 8.
UM RETRATO DE MULHER de Fritz Lang com Edward G. Robinson, Joan Bennet e Dan Dureya
Quem nunca viu um noir de Lang está perdendo um dos maiores prazeres do cinema. Fico imaginando como seria, numa São Paulo de garoa e paletós, assistir este clássico em algum cine perdido da Lapa. O vapor subindo do pipoqueiro de rua, os táxis na saída, os cigarros no saguão... Este filme é perfeito. Um professor casado se envolve em assassinato e com mulher fatal. Todo o filme é pleno de suspense, de destino inexorável e...milagre! Lang usa um dos finais mais banais com maestria. O final tinha de ser aquele, só poderia ser esse. Bennet, máscara bela de sensualidade, e Robinson, um ator que consegue ser simplório sem ser cômico, são tão certeiros quanto o filme, mas é Dureya, um vilãozinho pé de chinelo, que rouba o filme. Exemplo perfeito do que era um filme pop da década auge de Hollywood. Nota DEZ!!!
O MITO de Stanley Tong com Jackie Chan e Tony Leung
Acho Chan um dos atores mais mal-utilizados dos anos 90. Ele merecia melhores filmes e ter estourado no Ocidente mais cedo. Este muito ambicioso projeto se perde em idas e vindas no tempo e nos continentes. Não era mais fácil ter feito uma boa chanchada com lutas? Mas não! O roteiro nos enche a paciência com seu espiritismo de araque, sua love story infantil e efeitos especiais pueris. Uma chatice!!!!!! Nota 1.
O DIA EM QUE A TERRA PAROU de Robert Wise
O clássico, infinitamente melhor que sua refilmagem ( como infinitamente melhores são os originais de A Guerra dos Mundos, A Máquina do Tempo e O Planeta dos Macacos. ) Um filme muito barato, mas com efeitos eficientes, e uma mensagem pacifista sem pieguice. Wise não perde tempo com nada supérfluo, toda tomada é em função da história, nada é enfeite ou exibicionismo. Robert Wise foi um dos grandes, seja em western, sci-fi, horror, musical ou drama. Faltou a comédia nessa carreira vitoriosa ( com dois Oscars por West Side Story e por A Noviça Rebelde ). Nota DEZ.
O CAVALEIRO SOLITÁRIO de Clint Eastwood
Eastwood tem filmes tipo Hawks e tipo Kurosawa. Quando faz um Hawks ele é relaxado, usa roteiros semi-improvisados e parece sorrir enquanto dirige. Quando é Kurosawa ele fala de heroísmo, de honra e filma de modo mais crispado. Cavaleiro Solitário é em seu tema e roteiro totalmente Kurosawa. A cidade de mineradores se parece com as vilas japonesas e sentimos todo o tempo que aqueles cowboys se tornarão samurais. A camera olha a rua através de janelas, como faz o mestre japonês e há aquele solene toque de vingança e de coragem. O tema é de vila oprimida que vê surgir um vingador que os redimirá. O duelo final é excelente. Clint tem um de seus mais tipicos personagens e é uma diversão soberba. Lançado em 1985, este filme seguiu a sina de todo filme de Eastwood até Os Imperdoáveis : a critica chamou-o de lixo, o público universitário o esnobou e o povão lhe fez justiça. Era um tempo em que filme bom tinha de ser europeu ou um americano com "grande tema", tipo Amadeus, Gandhi ou O Último Imperador. Clint Eastwood viveu o bastante para ser justiçado. Ele é o máximo e é o último dos ícones. Nota DEZ!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
OS PROFISSIONAIS de Richard Brooks com Burt Lancaster, Lee Marvin, Robert Ryan, Claudia Cardinale e Woody Strode.
Brooks foi um dos diretores machos de Hollywood. Aqui ele faz um quase-western sobre bando de bandidos que é contratado ( o bando ) para salvar a esposa de rico ferroviário de seus raptores mexicanos. É um Dirty Dozen mexicano. É mais um filho de Os 7 Samurais. Mas, com um elenco como esse ( ver Burt pular e sorrir, ver Ryan ser durão e sofrido, e ver Lee Marvin ser Lee Marvin... quanto prazer! ) e a direção segura e firme de Brooks, tudo flui em emoção, ação e reviravoltas bem urdidas. Claudia foi milagre da natureza: em cinco anos ela trabalhou com Fellini, Visconti, Monicelli, Brooks, Leone, Blake Edwards e Richard Quine. E que bela ela foi!!!!!!! Nota 7.
A FACE OCULTA de Marlon Brando com Marlon, Karl Malden e Ben Johnson
Única direção de Brando, foi caríssimo e imenso fiasco. Graças a essa péssima experiencia, ele nunca mais pensou em dirigir. O filme, que começou com Kubrick, é longo, muito longo, cheio de cenas belíssimas, mas que poderiam ter sido evitadas. Foram meses e meses de filmagens, meses de edição e uma recepção gélida de público e hostil de crítica. Com o tempo foi se tornando um semi-cult ( é um dos top 20 de Tarantino ). Não deixa de ser um western doido: há toda uma sub-trama gay e sado-masoquista na história de ex-comparsas de crime que se traem. Marlon faz um "herói" bastante esquisito, rebolativo, glamuroso. Mas é sem dúvida um filme invulgar e que deve ser conhecido. É vasto, corajoso, ousado e muito belo. Como Brando foi. Nota 7.

SINDICATO DE LADRÕES/ PASOLINI/ ALDRICH/ VERHOEVEN/ SCOLA

O ÚLTIMO PÔR-DO-SOL de Robert Aldrich com Kirk Douglas, Rock Hudson, Dorothy Malone

Western perfeito. Kirk é o bandido, Rock o herói. Os dois conduzem gado do México à América. Com eles vai família. O filme com roteiro de Dalton Trumbo não pára. Surpreende a todo instante. Você pensa que tal coisa irá suceder, mas não, vem a virada. Uma diversão de nível superior em que todo o elenco brilha. Divirta-se ! Tem um duelo final que é coisa de gênio. Nota 9.

RIO BRAVO de Howard Hawks com John Wayne, Dean Martin, Angie Dickinson, Rick Nelson e Walter Brennan

Voce ama ou detesta. Apaixona-se pelo elenco ou o ignora. Se o ignorar, bem, azar o seu ! O filme é profunda lição de vida. Para quem souber ver. Como toda obra superior, não esfrega em nossa cara seu brilho. Convida-nos a observar, nada impõe. Nota DEZ.

O OUTRO HOMEM de Carol Reed com James Mason, Claire Bloom e Hildegarde Neff

A Inglaterra produziu 3 grandes diretores clássicos : David Lean, Carol Reed e Michael Powell. Hitchcock não conta, é do universo. Powell é meu favorito. Lean é o melhor sucedido e Reed fica no meio termo. Este filme de espiões foi feito nas ruínas de Berlin antes do muro. As imagens são belíssimas ( existe terrível beleza nas ruínas ). É um filme de fotografia linda e de atuações perfeitas. Mas algo no roteiro falha : há um romance dispensável. Nota 6.

A BATALHA DO RIO DA PRATA de Michael Powell

E aqui está um de meus diretores favoritos em filme fraco. Odeio toda forma de patriotismo. Mesmo se justificado, como aqui. E mesmo quando Powell, em plena segunda-guerra, dá um retrato humano dos alemães. O capitão alemão tem honra, caráter e até joga limpo. O filme conta a primeira batalha naval da guerra, no Uruguai, em 1939. Mas tem jeito de propaganda, o que o faz hiper-datado. Nota 4.

LEVADA DA BRECA de Howard Hawks com Cary Grant e Kate Hepburn

A melhor comédia da história do cinema. Tem roteiro perfeito, atores de gênio, ritmo constante e alegria sem culpa. Um milagre de época de grandes comédias ( os anos 30 foram tempo dos Irmãos Marx, Chaplin, W C Fields, Myrna Loy, William Powell, Clair, Joe E. Brown, Harold Lloyd, Rosalind Russell e etc vasto e risonho ). Nota MIL.

UM BOM ANO de Ridley Scott com Russell Crowe, Albert Finney e Marion Cotillard
Belas paisagens. Engraçado... eu lí o livro de Peter Mayle e ele não tinha esse clima tão vulgar ! Faltou comida e vinho neste filme ! Sobraram bobagens. O personagem de Crowe é muito antipático. Nota 3.

SIDEWAYS de Alexander Payne com Paul Giamati, Thomas Haden Church e Virginia Madsen
Payne é muito bom diretor. O filme é gostosa diversão. Mas é estranho... esperávamos mais de Payne, de Giamati, de Church e de Madsen... cadê eles ? Problema central do cinema atual : faltam carreiras consistentes. Talvez faltem oportunidades. Filma-se pouco e quando o cara erra é o fim. Aqui todos acertaram, mas, cadê eles ???? Nota 6.

SINDICATO DE LADRÕES de Elia Kazan com Marlon Brando, Karl Malden, Eva Marie Saint, Lee J Cobb e Rod Steiger
No Oscar deste ano se citou Karl Malden e Budd Schulberg como mortos de 2009. Malden brilha ( como sempre ) neste filme que tem um dos melhores elencos da história. Budd fez o roteiro, que é básicamente uma defesa da deduragem. A trilha sonora de Leonard Bernstein enfatiza com genialidade a aridez deste filme áspero. Raros são tão pouco simpáticos. Ele é todo cinza ( foto do soberbo Boris Kauffman ), frio, macho, sem um mínimo sinal de alegria. Kazan defende a sí-mesmo, ele que havia dedurado os "comunas" no MacCarthismo. Marlon Brando tem atuação de gênio. Faz um bronco que se humaniza pelo amor. É convincente todo o tempo. Nas mãos de Sean Penn ou de De Niro este personagem seria apenas um bandidinho. Com Brando ele nos comove. A cena no táxi é considerada por todo ator americano ( principalmente os mais rebeldes ) o momento máximo da arte de interpretar. É usada como prova de admissão no Actors Studio. Dá pra ver a sombra de Pacino, Cage e etc nela. Eles construíram toda sua carreira estudando estes 4 minutos. O filme é dos maiores. Mas não dá o menor prazer. Você o admira, jamais ama-o. Nota 8.

LOUCA PAIXÃO de Paul Verhoeven com Rutger Hauer e Monique VandeVen
Os Holandeses consideram este o melhor filme já feito por lá. Não é. CHUVA, de Ivens, com apenas 20 minutos bate-o de longe. Mas é um filme invulgar. Mostra, na Holanda dos anos 70, ou seja, num lugar onde a liberdade vai ao limite, a paixão de um casal. Paixão que começa como sexo casual, evolui para a paixão dela por ele, e depois, dele por ela. Há o rompimento e um tipo de retorno dolorido. O filme é cheio de nudez, sexo, escatologia e paixão. Tudo vai sempre fundo e Hauer tem uma atuação corajosa. Monique comove. Ela é linda e ousadíssima. Como sempre falo, o mundo pirou nos anos 70 e este filme mostra isso. Verhoeven emigraria para a América, onde faria Robocop e Tropas Estelares. Nota 7.

NÓS QUE NOS AMÁVAMOS TANTO de Ettore Scola com Vittório Gassman, Nino Manfredi e Stefania Sandrelli
Os barbudinhos da Vila Madalena que me desculpem, mas este filme ( que tem uma das piores trilhas sonoras da história ) é um pé no saco. O cinema italiano dos anos 70 perde todo o apelo que conquistara nos anos 40/50/60 ao se empobrecer. O que era um belo humanismo se transforma em esquerdismo primário. Dá pena ver aquela geração brilhante mergulhar na lábia malandra dos comunas italianos. O filme é tão simplório que chega ao ridículo de mostrar todo direitista como gordo, velho e beiçudo. Por favor !!!!! Eles querem mudar o mundo, na marra, e nunca percebem que o problema não é o mundo, é o homem. O homem é instintivamente capitalista. Ele quer segurança e segurança se obtém no acúmulo. O homem quer ser superior ao vizinho, superior em alguma coisa, força, dinheiro ou inteligência ( e todos os personagens não percebem que passam todo o filme desejando liderar ). É um filme tão velho quanto uma opereta de Nelson Eddy. Nota 1.

O EVANGELHO SEGUNDO SÃO MATEUS de Pier Paolo Pasolini
Existem diretores que reconheço serem excelentes, mas dos quais não consigo gostar. Buñuel é um deles. Sei que ele é genial. Mas não consigo me animar com seus filmes. Pasolini é outro. Vejo nele tudo que admiro : coragem, sinceridade, força. Mas ele nunca me enfeitiça. Aqui ele despe Cristo de emoção e o que temos são momentos secos de atos de fé. O evangelho sem poesia, objetivo. Nada há de ofensivo, Pasolini respeita Jesus como revolucionário, mas o filme torna-se frio, distante, sem porquê. De soberbo ele tem sua trilha sonora. Gospel e blues de raiz, isso sim, um emocionante milagre. Nota 5.

ULYSSES/ BRANDO/ LUMET/HENRY FONDA/RESNAIS

ULYSSES de Joseph Strickland com Milo O'Shea e Barabara Jefford
Um filme difícil. Se você não conhece o livro de Joyce nem tente assistir este filme. Strickland levou vinte anos procurando quem o financiasse. O filme, muito bem interpretado, é quase incompreensível. Mas tem alguns momentos que recordam a força demoníaca de Joyce. O monólogo de Molly, ao final, é maravilhoso. Prosa poética erótica extraordinária. Não posso dar nota a este filme. É único.
O ÚLTIMO TANGO EM PARIS de Bernardo Bertolucci com Marlon Brando, Maria Schneider e Jean-Pierre Leaud.
O filme é um poema sobre a coragem. A coragem de Bernardo por fazer um filme tão burguês numa época em que todo cinema italiano era político e furiosamente de esquerda. Coragem de Brando por fazer de Paul sí-mesmo, dando a nós, generosamente, sua alma e suas fraquesas. Coragem de Maria, por se desnudar sem glamour e por jogar no lixo, sem afetação, seu possível estrelato. Coragem do público, por transformar em sucesso um filme tão triste. Ele analisa a loucura do amor e sua destruição. Ele mostra o vazio existencial e a irremediável solidão. E ainda antecipa a falência da política e do próprio amor verdadeiro. Que mais voce pode querer ? E ainda nos dá um milagre : Marlon Brando. Nota DEZ !
INFERNO NA TORRE de John Guillermin com Paul Newman, Steve McQueen, William Holden, Faye Dunaway, Fred Astaire e Jennifer Jones
Que elenco!!!! E que filme ruim!!!! Mas é divertido. Vemos chamas, vemos gente correndo, música de espetáculo, atores que amamos. É o tipo de super-produção da época : a grana era gasta em caras famosas e não nos efeitos. Nota 5.
OS PICARETAS de Frank Oz com Steve Martin, Eddie Murphy, Heather Graham
Adoro este filme. Vivêssemos em tempos de comédia teria sido um grande sucesso. É a história do diretor ruim e fracassado ( Martin, excelente !) que usa ator doido e paranóico ( Eddie, maravilhoso ! ) em filme de ficção à Ed Wood. Engraçado e nunca apelativo, o roteiro, de Martin é criativo e afetivo. Oz é um diretor subestimado, ele não tem um só filme ruim. Nota 7.
A ÉPOCA DA INOCÊNCIA de Martin Scorsese com Daniel Day-Lewis, Michelle Pfeiffer, Winona Ryder
O livro de Edith Wharton é um dos que mais me deu prazer ao ser lido em dois dias em 2005. É obra-prima de estilo e de elegância. O filme não. É frio, distante, vazio. Scorsese não acredita no que mostra e se perde. Parece desistir. Nota 5.
RETORNO A HOWARDS END de James Ivory com Emma Thompson, Anthony Hopkins e Helena-Bonham Carter
Este sim. Ivory nasceu para fazer este filme. A primeira parte é uma obra-prima. Tudo funciona a perfeição. Você se vê completamente envolvido pelo lugar e pelas personagens. Depois ele perde um pouco de força, mas no geral é um muito grande exemplo do mais alto requinte em visual e escrita. Os atores estão soberbos ! Nota 8.
12 HOMENS E UMA SENTENÇA de Sidney Lumet com Henry Fonda e Lee J. Cobb.
Um juiz chama os jurados a sua sala. Eles irão decidir o destino do réu. O filme, todo passado numa sala, mostra os 12 discutindo a sentença. Nós nada sabemos do réu. E terminamos o filme sem saber se ele é inocente ou não. O que se discute não é isso. Se discute a certeza - como condenar alguém sem ter absoluta certeza de sua culpa ? E como ter certeza de alguma coisa ? O roteiro de Reginald Rose, habilmente nos mostra isso, nada é o que é, tudo pode ser discutido.
Este é o primeiro filme de Lumet e é considerado sua obra-prima. Não sei se é seu melhor, mas é coisa de imenso talento. 90 minutos numa sala com 12 homens desagradáveis. E queremos mais !!! A habilidade de Lumet ( e do câmera, Boris Kaufman, o cara que fez L'Atalante ) é espantosa. Vemos rostos suando, bocas falando, roupas molhadas, mãos. E ouvimos as vozes : e que vozes... há o tímido, o racista, o narciso, o vendedor, o infantil, o velho. E há Fonda, ator único, ator que é a imagem da correção, da inteligência calma, do espírito nobre. O filme empolga, diverte, faz pensar e conquista nossa total adesão.
Sempre votado um dos 100 mais da América, merece sua imorredoura fama. É obrigatório !!!! Nota DEZ !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
AS NEVES DO KILIMANJARO de Henry King com Gregory Peck, Susan Hayward e Ava Gardner
Um caçador está morrendo na África. Ele relembra seu grande amor. Passamos pela Espanha, por Paris e pela Riviera. Caçadas, touradas, bebedeiras e guerras. Vários trechos de Heminguay são habilmente misturados. O filme é quadrado mas é boa diversão. Nota 6.
AMORES PARISIENSES de Alain Resnais com Sabine Azema e Agnes Jaoui
Até os anos 80 todo diretor era aposentado aos 60. Minelli, Capra, Wilder, Wyler, Stevens, Ford... todos foram chamados de velhos e ultrapassados aos 60. De repente tudo mudou, e Eastwood, Altman, Manoel de Oliveira, Lumet e Woody Allen ( dentre muitos outros ) conseguem filmar até o fim. E bem ! Resnais tem 85 anos. E se mostra aqui de uma jovialidade e leveza maravilhosas ! Ele, que começou nos anos 50 com filmes muito sérios e graves, faz aqui um divetido filme sobre pessoas que nada fazem de especial. Apenas vivem. Mas gostamos de vê-las, de escutar seus diálogos. O filme, feito quase ao mesmo tempo que o "Todos dizem eu te Amo" de Woody, também usa trechos de canções pop para explicar sentimentos. É um efeito que encanta : funciona muito bem. Os atores exalam simpatia ( Sabine mais que isso ) e é obra de inspiração. Resnais está tendo um belo fim de vida !
E pensar que Bergman desistiu aos 60.......

O ÚLTIMO TANGO EM PARIS- BERTOLUCCI E BRANDO

Amar dá medo porque no fundo nós sabemos que sobre ele não há controle possível. Eu falo de AMOR, aquele dos menestréis. Encontrar esse amor depende de sorte, pura sorte, e isso nos deixa putos, porque não existe onde e como o achar. Para alguns ele pode jamais chegar e pior, para outros, correndo atrás dele em noites de bebida, ele se torna ação inconsequente. Nada pode ser feito. Ele surge quando quer, cria seu próprio lugar, sua língua e então se vai, desaparece. Somos objetos dele, bonecos em sua vontade, flexados e enlouquecidos, nada felizes a seu lado, porém, vivos. Submissos a sua ação e estranhamente libertos do mundo.
Porque amar incomoda quem não ama. Os amantes se bastam, excluem o mundo, não necessitam de nada que não seja seu amor. Vivem nesse planeta próprio, livres em sua emoção amorosa, sem passado e sem nenhum futuro. Vencem distancia e tempo, são mágicos.
No filme o amor morre quando transformado em banalidade ( todo amor de verdade é excêntrico ). Brando sai do mundo deles e segue o script do conquistador calejado. Torna-se caricatura. O misterioso- perigoso que ele foi se faz vulgar cortesão. Apenas um quarentão atrás de sexo adolescente. Ela, desiludida, o mata. Ele, quando mais dele necessitava, trai o amor.
A esposa se matou antes. O casamento mata o amor. Nada é menos amoroso que a rotina de se ter alguém ao seu lado para sempre. Tédios, culpas, conversas amenas, amantes ocasionais. O casamento faz do amor outra coisa. Se voce tiver sorte, ele se faz amizade e cumplicidade. Se tiver menos sorte, comodismo. Amor só vive no incerto, no sem nome, no ainda por descobrir, no medo. Sem medo não existe amor. Ele é o abismo.
Ele é um homem dilacerado. Topa em acaso com sua chance de vida. Penetra e é penetrado pelo sentimento que os toma. Deflora e é deflorado. Não são cumplices em nada. São amantes, são sedentos, são eros.
Marlon Brando se desnuda. Nunca um ator amou assim. Tudo o que é dito de Paul é Brando. Ele é Paul. Sua vida é a dele. Compartilha sua alma conosco. O que fala da mãe de Paul fala de sua mãe. A história que conta do pai é a história do pai de Marlon e ao encontrar o amnte da esposa fala de sua barriga e de seu cabelo. Chora choro real. Nos ama. É quase um milagre de interpretação despojada, generosa, suicida, transcendental. Brando morre nesse filme. Sua carreira termina. Nesse 1972 ele nos deu Corleone e Paul, nada mais havia a tentar. Apenas o amor ao Tahiti...
Jeanne se apaixona por ele. De verdade. E Maria Schneider, a menina atriz que esnobou o estrelato, é perfeita imagem de tentação jovem-saudável-imperfeita. O sorriso é um luar e os olhos um sonho. Seu namorado, jovem bom e saudável, feito pelo eterno Antoine Doinel de Truffaut ( Leaud ) é pura convenção. Amor para as câmeras, amor de TV, de exibição, de conformidade. Dos anos 2000... Amor que não tem o que derrotar não é amor. A coragem é a prova e sem um confronto não se faz amor. É preciso um dragão. E Paul com Jeanne é puro confronto : vontade contra liberdade, juventude contra maturidade, fé contra descrença, otimismo contra negação. O amor se faz do acidente em que se chocam dois caminhos opostos.
Sabemos que todo amor verdadeiro morre. Ela o mata. Tanto faz, o tempo os mataria. E ela diz não o conhecer, ao final. Conhecemos amigos. Ninguém conhece quem ama. Se conhecesse não amaria, gostaria. É diferente.
O filme vai corajoso. Tromba com o acaso e flerta com o vazio e o perigo. É sincero ato de amor. Bertolucci percebia que havia agora o amor convenção : jovens bonitos comprando casas a prestação e tendo um filho sadio. E o amor verdadeiro : uma navalha achada num banheiro com sangue. Flerte com a destruição e a aniquilação.
Sem perigo não existe amor. Pecado, tabú, inesperado.
Quem amou sabe : amar é amar o perigo. Acaso que bate na cara e nos leva pelo nariz.
E o resto, triste ilusão ( amar nunca é ilusório, é ver a verdade ) é frase tola :"...e viveram felizes para sempre."
PS: Quando os dois começam a se perder do amor vemos um salva-vidas afundar no Sena. Nele está escrito : L'ATALANTE... Homenagem de Bernardo ao mais belo dos filmes.