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BILLE AUGUST/ DIRK BOGARDE/ GUY RITCHIE/ BERTOLUCCI/ COLIN FIRTH/ SOPHIA LOREN

   TREM NOTURNO PARA LISBOA de Bille August com Jeremy Irons, Charlotte Rampling, Tom Courtenay, Melanie Laurent e Christopher Lee.
Em outro filme seria um elenco de tirar leite de pedra. Aqui, neste roteiro flácido, nada pode ser feito. É menos que pedra, é lama. Jeremy Irons foi um grande ator. Nunca me esqueço de sua melancolia em Brideshead Revisited. Nos anos 80 ele era considerado maior que Day-Lewis. Courtenay é mais velho e igualmente grande. Da geração genial de O'Toole, Finney, Hurt e Holm. Este filme é lixo. Parece novela das 9. Os atores, coitados, parecem quase fazer comédia. A gente não consegue crer em nada do que vê. E olhe que o tema é ótimo: a repressão salazarista em Portugal. Deve entrar em cartaz, afinal, um filme que vi a meses com Bill Murray que fala da visita do rei inglês a Roosevelt durante a guerra. Vejam! Eu já escrevi sobre ele e não vou escrever outra vez. Isto aqui, esqueçam. Nota zero.
   DUAS NOITES COM CLEÓPATRA de Mario Matolli com Sophia Loren e Alberto Sordi
Foram filmes como este, chanchada para o povão, que criaram o capital para que Fellini ou Pasolini pudessem filmar. O cinema funcionava assim. Hoje o dinheiro do cinema pop vai para o bolso dos acionistas. Evitem este dvd. A imagem está estragada. Não dá pra ver.
   JOGOS, TRAPAÇAS E DOIS CANOS FUMEGANTES de Guy Ritchie com Jason Statham, Vinnie Jones, Jason Flemyng e Sting
Ainda é o melhor filme de Guy Ritchie. E acho este filme melhor que Transpotting de Boyle, feito quase na mesma época. Puro Tarantino, menos cabeça ( Guy não tem nada de Leone ou de Godard ), muito menos violento. A trama, boa, fala de armas colecionáveis, dívida de jogo, roubo e vingança. O clima é quase de Monty Python. Ótima edição, ótima trilha sonora, os atores estão excelentes. Já dá pra ver o futuro, bom, de Statham. Um Steve McQueen de segunda. Quero mais filmes de Vinnie!!! Nota 8.
   BELEZA ROUBADA de Bernardo Bertolucci com Liv Tyler, Jeremy Irons, Rachel Weisz, Sinead Cusak e Jean Marais
Como é bom ver o grande Jean Marais! Pra quem não sabe, ele foi o muso de Cocteau, ator em seus filmes. E o vemos aqui, gloriosamente forte em 1996! Fora isso não há muito mais o que ver aqui. ( Talvez apenas a discreta nudez de Rachel Weisz ). Liv foi péssima escolha e o filme é arrastado, chato, sem porque. Não o via desde os anos 90. Continua o mesmo. Chato. Nota 2.
   ARTHUR NEWMAN de Dante Ariola com Colin Firth, Emily Blunt e Anne Heche.
Adoro Firth. É meu ator favorito de agora. Então consegui o filme, novo, pra ver. O tema prometia, um cara que abandona sua vida antiga, muda de nome, sai pelo mundo e encontra um mulher doida-down no caminho. Mas...o pretensioso diretor estraga tudo! Não há uma única cena que não grite em nossa cara: "Vejam! Isto é Arte!" O caramba de arte!!! É um lento, bobo, silencioso, vazio, sonolento filme. Blunt está bacana, mas fazer o que com um papel que já foi feito milhares de vezes só neste século? Firth fica sonolento em meio as falas ralas e vazias. Nota? Nada.
   A SOMBRA DO PECADO de Lewis Gilbert com Dirk Bogarde e Margaret Lockwood
Um pequeno filme inglês sobre um odiável malandro que mata sua esposa rica e muito mais velha. Se casa de novo e quer repetir a dose. Suspense e clima. Bogarde foi um ídolo do cinema inglês dos anos 50. Quando assumiu sua homossexualidade passou a filmar coisas como Morte em Veneza de Visconti. Gilbert iria dirgir alguns dos melhores James Bond. Nota 6.
  

RESNAIS/ BERTOLUCCI/ HATHAWAY/ TOTÓ/ MARIO MONICELLI

   SIMBAD E O OLHO DO TIGRE de Sam Wanamaker com Patrick Wayne e Taryn Power
Ray Harryhausen produziu e escreveu. E, claro, fez os efeitos especiais. Que não encantam. Ray foi perdendo o jeito conforme o tempo avançava. Seu apogeu se deu entre 1960/1964...aqui estamos em 1977... Nota 2.
   ADRENALINA de Neveldine e Taylor com Jason Statham e Amy Smart
Voces sabem: injetam uma droga num matador profissional. Sua adrenalina não pode parar ou ele morre. Então ele corre, briga, bebe cafeína, faz sexo e briga. O filme é hilário! Tem um milhão de efeitos e todos os vicios do cinema atual: é vazio, sem pensamento, anti-estético e grosseiro. Mas tudo é perdoado por sua falta de pose. Ele se sabe idiota e admite sua popicidade teen. Isso o redime. Como condenar algo que me deu hora e meia de prazer? Nota 6.
   MR.MAGOO  de Stanley Tong com Leslie Nielsen e Kelly Lynch
 Se não é a pior comédia da história...chega perto disso. Leslie era ótimo, mas este filme é uma roubada! Em tempo: Inácio Araújo falou esta semana da boa fase que a comédia viveu nos anos 80. Ele citou Steve Martin, John Candy, Crystal, Murray...Comédias que ainda eram humanas, ainda tinham personagens com alguma profundidade. Ele se esqueceu de Leslie Nielsen. Este filme? Esqueça! Nota ZERO
   POLICIA E LADRÃO de Mario Monicelli e Steno com Totó e Aldo Fabrizi
Seria Totó o maior humorista da história do século XX? Nascido como um nobre italiano, tornado ator, o rosto de Totó, sua voz, os movimentos de seu corpo, são das coisas mais elaboradas, mais encantadoras da arte do riso. Aqui ele é um malandro que vive de golpes. Aldo Fabrizi é o policial que o persegue. Estamos na Roma de 1951. Uma cidade inacreditávelmente pobre. O filme é todo entre lama e favelas. E seu povo. Um pensamento: o povo mais anti-americano do mundo nunca foi o russo. É o italiano. Vemos o porque neste filme. Há um orgulho em se burlar a lei, em não se fazer nada, um prazer no improviso, no diálogo cheio de duplos sentidos, na vagabundagem, na negação a produção e ao tempo como dinheiro. E ao final, o ápice do humanismo, o policial e o ladrão se reconhecem como atores de um mesmo drama, como faces da mesma verdade. Monicelli amava gente. Seu cinema é sempre um olhar amoroso a gente comum. A gente que luta para poder continuar a lutar. Este filme, em que pese o começo hesitante, é maravilhoso! Nota 9.
   VOCÊS AINDA NÃO VIRAM NADA! de Alain Resnais com Pierre Arditi, Lambert Wilson, Sabine Azéma e Michel Picoli
Por quinze minutos o filme parece ser fascinante. Sentimos na tela a inteligência de Alain Resnais. Ele que é um dos mais intelectualizados dos diretores da história. Aos quase cem anos de idade, vemos nesses minutos a promessa de invenção. Como aconteceu com Altman, que morreu mais jovem que 99% dos diretores, Resnais nos provoca e promete. Mas então tudo se arruina. O filme morre em diálogos frios e em truques que se repetem. O tédio chega avassalador. Impossível suportar. Chato, chato e chato. Darei um 4 para Resnais? Ou sairei pela tangente da covardia do sem nota? Não, darei a nota: 3.
   TRAMA MACABRA de Alfred Hitchcock com Bruce Dern, Barbara Harris e Karen Black
É o último filme do mestre e eu lembro das críticas da época: péssimas. Os críticos tinham prazer em falar da pobreza do roteiro e da indigência das imagens. Well...visto hoje, neste tempo de roteiros pobres e imagens banais, este filme parece menos ruim. Mas continua a ser comum. Na verdade ele é como um bom episódio de alguma série de tv. Toda a primeira parte é bem chata, a parte final se encontra em ação interessante e bom suspense. O mestre havia morrido para o cinema em 1964 com Marnie. Deu um suspiro em 1972 com o ótimo Frenesi. Este deve ser evitado. Nota 4.
   EU E VOCÊ de Bernardo Bertolucci
Ainda não estreou aqui. Bernardo achou um jovem ator que tem a cara do Malcolm McDowell da Laranja Mecânica de Kubrick. E o filme é esse rosto. Confesso ser suspeito para falar deste filme. Eu fui aos 15 anos como aquele jovem. Ele usa cabelo longo e tem espinhas. Nas férias finge ir a excursão da escola. Na verdade ele se isola no porão de sua própria casa. Lá, com comida estocada, roupas e bebida, ele pensa poder ser feliz. Mas uma meia-irmã, junkie, surge e muda tudo. O filme termina ( ele é curto ), com David Bowie -Space Oddity. Bertolucci continua adolescente. Isso é emocionante. Ele olha para o garoto como cúmplice. Em 1968 ele filmou Partner, retrato do adolescente de então. Um filme esquizóide e hiper-radical. E desde então ele tem nos dado esses retratos de adolescentes e de seus tempos. Não sei se este jovem é um cara de 2013. Como falei, eu fui como ele e não fui/sou um adolescente de 2013. É um filme modesto, sem compromisso, franciscano, pobre. E que apesar de ter tanta coisa para me agradar me deixou entediado. Fácil saber porque. Se o garoto tem um rosto que funciona, a irmã é uma mala-sem-alça, feita por atriz limitada e pouco marcante. Quando ela surge o filme desaba. Já que o jovem me lembrou McDowell, bem que Bernardo podia ter conseguido uma "Maria Schneider". Nota 6.
   A LEGIÃO SUICIDA de Henry Hathaway com Gary Cooper e David Niven
Hathaway foi um dos grandes diretores de aventura do cinema. Nos anos 30, ele, Wellman e Curtiz criaram toda a forma, todo o molde que seria usado naquilo que até hoje é o filme de aventuras. Um herói solitário e nobre, a ação que irrompe súbita, as façanhas, o humor do amigo do herói, a "mocinha" que o ajuda, o vilão frio e trapaceiro. Esqueça a modernidade, este filme prega o colonialismo desavergonhadamente. Filipinas. Americanos ensinam os "nativos" a se defender. Cooper, sempre elegante e sempre com sua voz firme e o olhar alegre, é um médico que serve o exército. O filme tem assassinatos, doenças, rivalidades, brigas e emboscadas. A ação é muito boa. Uma bela diversão à antiga. Nota 7.

BRAD PITT/ MICHAEL POWELL/ JERRY LEWIS/ SOFIA COPPOLA/ MURNAU

   O HOMEM QUE MUDOU O JOGO ( MONEYBALL ) de Bennett Miller com Brad Pitt
Não se trata de cinema. E nem mesmo de TV. Isto é rádio. Se a arte cinematográfica consiste em contar uma história com imagens, aqui o que temos são imagens que falam o absoluto vazio. O filme tem uma pobreza visual absoluta. São closes sobre closes e mais closes. Desafio alguém a se recordar de uma só imagem do filme... Hitchcock dizia que um grande filme é aquele que pode contar a mesma história com o som desligado. Se tirarmos o som deste filme ele morre. É rádio, voce pode acompanhar a história de olhos fechados. A cena mais "emocionante" é aquela da negociação de jogadores, dois babacas fazendo transações em telefones...wow! Nossa, que demais!!!! Serão esses os heróis do século XXI ? A moral do filme é infantil: em tempos de crise dá pra ser um campeão com pouco dinheiro e muita organização...caramba! Que novidade!!! É a velha moral made in the USA: não seja um loser. O filme seria rebelde se o cara largasse tudo e fosse tentar outra vida. Ah sim, tem uma cena emocionante, aquela em que o cara rebate a bola do recorde... triste filme, essa cena emocionante é da Fox Sports... É um dos filmes mais deprimentes já feitos ( para quem como eu adora cinema ). Nota ZERO. PS: Brad Pitt, que é um bom ator, faz o que pode. O filme fica o tempo todo focado em seu rosto. Entediante...
   THE RED SHOES de Michael Powell com Moira Shearer e Anton Wallbrook
Um dos maiores e melhores filmes da história. Ele dá uma estranha sensação de alucinação, de febre. "Tem atuações que beiram o sublime", ( palavras de Scorsese ), "algo de muito mágico acontece aqui". O filme possui um visual louco, exagerado, barroco, LSD, hiper-colorido e exultante de tanta vida. O filme após encerrado te acompanha, passa a fazer parte de voce, as cenas se fixam na sua memória. É cinema, cinema de verdade, imagens em movimento contando uma história. E essas imagens são complexas, ricas, detalhistas. É uma obra-prima inesgotável. E é o último suspiro do romantismo. Brilhante! Preciso dizer a nota? ( Mais comentários em outra postagem abaixo )
   A ÚLTIMA CAÇADA de Richard Brooks com Stewart Granger e Robert Taylor
Western com mensagem ecológica. Talvez seja o primeiro a defender os animais. Taylor é um caçador. Ele adora matar. E mata, mata e mata mais...Os búfalos são mortos às dezenas e o filme exibe mortes reais, cada animal que cai morto está morrendo de verdade. Granger é um ex-caçador, que por necessidade volta a matar. Mas ele odeia aquilo tudo, embora nada tente para parar a matança. Dá para ver o prazer sexual nos olhos de Taylor ao matar. Ele exibe um gozo absoluto. Uma índia entra na história, e após Taylor matar seus companheiros, ela se torna uma escrava sexual dele. O filme é de 1954 e foi um imenso fracasso de bilheteria. O público não suportava ver seu passado exposto. Brooks, amigo de Huston, sempre seguiu o mesmo caminho, filmes de macho. A diferença é que Brooks sempre exibiu consciência social. A cópia em DVD tem imagem muito ruim. Mas é um filme fantástico por sua coragem e originalidade. PS: os bichos são mortos com autorização do governo dos EUA. Todo ano uma porcentagem é sacrificada para controle de população... Nota 7.
   OS SONHADORES de Bernardo Bertolucci
Saudades de 68...apenas isso. O filme é muito bem dirigido ( compare-o com Moneyball, comentado acima ), Bernardo cria imagens, movimentos, mesmo sobre um roteiro pobre. Os extras do DVD são melhores que o filme. Comento este filme com mais detalhes numa postagem abaixo. Nota 5.
   DEMORA-SE A CEGONHA de Henry Koster com Betty Grable e Dan Dailey
Casal que trabalha em TV tenta adotar criança. É apenas isso, um casal estéril tentando conhecer as alegrias da paternidade. Tudo em tom de comédia musical. O filme é alegre, colorido e tem a curiosidade de vermos as Tvs de então, enormes móveis de madeira que eram vistos como decoração da sala e não como tecnologia. O filme é desfrutável, mas bastante banal... Nota 4.
   O MENSAGEIRO TRAPALHÃO de Jerry Lewis com Jerry Lewis
Em OS SONHADORES, há um momento em que o americano diz que Lewis é ruim e o francês o chama de gênio. Os americanos erraram, Jerry nunca é ruim, mas os franceses erraram também, Jerry era irriquieto e criativo, mas nunca genial. Pobre Jerry Lewis, enquanto comediantes como Keaton e Tati são reavaliados e hoje têm enorme popularidade, Jerry Lewis, que já foi o mais famoso humorista do planeta, é hoje um desconhecido para quem tem menos de 40 anos. Nas Sessões da Tarde dos anos 70, seus filmes eram reprisados toda semana. E revendo-o hoje descubro o porque de sua queda. Ele perdeu a graça. Hoje admiramos o arrojo e a habilidade de Keaton. Se não rimos não importa, são grandes diversões. Com Tati amamos sua poesia e seu visual. Mas os fimes de Jerry Lewis precisam fazer rir, se não dermos gargalhadas nada há para se admirar. Pior, ele passa todo o tempo fazendo caretas, fazendo caras e bocas, exigindo nosso riso. Cenas que poderiam ser de belo cinema, são estragadas pelas caretas de Jerry Lewis. Ele deveria ter aprendido com Keaton, com Tati, com Stan Laurel, a simplesmente fazer a cena e NUNCA tentar ser engraçado. Nisso os americanos acertaram na mosca: Jerry era histérico. Nota 4.
   MARUJOS DO AMOR de George Sidney com Gene Kelly e Frank Sinatra
Tenho um amigo que adora os filmes de Gene Kelly e não os de Fred Astaire. Entendo o porque. Astaire dança sapateado e ballet pop. Gene Kelly dança sapateado e é um grande atleta. Astaire é "apenas" elegante e cool. Gene Kelly é muito mais quente, simpatico e humano. Astaire é um ideal. Kelly é quase real. Neste filme, a famosa história de dois marujos que conhecem garota e se envolvem com ela, há a cena de Gene Kelly dançando com o rato Jerry. É muito bem feita e fez a fama de Hanna e Barbera. Sinatra, muito jovem, faz um marujo virgem, tímido, que quer aprender com Kelly a ser malandro. O musical é chato. Pedimos por mais Gene Kelly e menos enrolação. Nota 4.
   MARIA ANTONIETA de Sofia Coppola com Kirsten Dunst e Marianne Faithfull
Será que um dia Sofia chega lá? Pelo menos ela tenta fazer cinema. Foge das imagens de TV. Mas lhe falta a habilidade básica: contar uma história. Todos os seus filmes dão a sensação de serem uma coleção de cenas, de clips, e jamais uma história interligada. Aqui acontece mais um problema: ela critica a tolice da adolescencia via Maria Antonieta, rainha futil por excelência; mas faz um filme que é fútil também. Tem a profundidade da rainha que critica. É um bobinho, engraçadinho e fofissimo filminho. Nota 3.
   AURORA de FW Murnau com George O'Brien, Janet Gaynor e Margaret Livingston
Há um movimento atual que pede para que este filme, e não CIDADÃO KANE, seja considerado o maior filme da história do cinema. Eu não sei qual o maior filme da história. Dificil decidir entre ATALANTE, VIVER, MORANGOS SILVESTRES, 2001, RASTROS DE ÓDIO, VERTIGO  e tantos outros... Mas este pode ser ele. Porque ele é imenso. E essa é a sensação que uma obra de gênio dá. Ela é como um mar, vasto, de horizontes que não têm fim. E todas essas obras dão vontade de ver e rever e rever e rever... Há tanta riquesa visual neste filme, as imagens são tão cheias de detalhes, de sombras e luz que nós ficamos impressionados com a imaginação e o dominio técnico de Murnau. É o ponto mais alto da arte da imagem em movimento. É uma obra que dá orgulho a quem ama o cinema. Nota acima de sublime....

OS SONHADORES- BERNARDO BERTOLUCCI ( TAVA DEVENDO ESSA OPINIÃO PRA UM AMIGO )

   1968 foi o ano de 2001, Kubrick. Não precisava mais nada, mas ainda houve IF de Lindsay Anderson, KES de Loach e mais BEIJOS PROIBIDOS de Truffaut, VIA LÁCTEA de Bunuel, O ANJO EXTERMINADOR de Pasolini, e os primeiros filmes de Scorsese e De Palma. Peckimpah fez sua obra-prima e Steve McQueen era o ator mais famoso do mundo. E nesse mesmo ano, Bertolucci lançava PARTNER, um dos mais perturbadores filmes que já vi. E a chave é esta: maio de 1968 foi um momento perturbador. O bem e o mal se agigantaram e as consequencias de seus urros se fazem sentir até hoje. ( o que vi na USP é uma medíocre rememoração deste filme. Uma triste farsa. ) Mas para falar de 68 é muito melhor ter visto os excelentes extras do DVD. Eles são mais comoventes que o filme, filme que é bonito, mas filho dos anos 2000...frio.
   Os Sonhadores é muito bem dirigido. Bertolucci tira tudo o que pode de seus atores "mais ou menos". E faz maravilhas com seus floreios de câmera dentro dos corredores e das salas. Mas o roteiro é muito fraco. A impressão que se tem é que o filme poderia ser mudo. Se O CÉU QUE NOS PROTEGE era um filme de soberbo roteiro e de direção perdida, aqui temos o oposto.
   Nada no filme lembra 68. E as cenas que envolvem multidões se parecem demais com propagandas moderninhas. Os atores são frios demais, limpos demais, certinhos demais. Faltou Dionisio, deus que Bertolucci conhece bem, como mostrou no ÚLTIMO TANGO. PARTNER é 1968, OS SONHADORES é a lembrança de um senhor em 2004.
   De qualquer modo é emocionante, e digna de seu talento, o momento em que Bertolucci mistura as imagens de Jean-Pierre Leaud. Nós o vemos em 68 e em 2004, no mesmo discurso e com a mesma roupa. E isso me leva à história.
   Um cinéfilo americano conhece um casal de irmãos e passa a morar com eles. Rola sexo, pouca droga e algum rock. Vivem dos cheques dos pais que eles odeiam e no final saem à rua para participar da revolução. Só isso. Não pense que há algum simbolismo no filme, ele é o que é.
   Isso me leva à emoção que há nos extras do DVD. O abraço que Leaud dá em Bertolucci após gravar sua cena já valem todo o DVD. O menino de Truffaut, o Antoine eterno, velho, triste, abraçando Bernardo...Lindo. Os extras explicam o que foi 68 e tem cenas de arquivo maravilhosas. As barricadas foram bem maiores que as do filme e Paris se tornou uma cidade-kaos. Tudo parou de funcionar. Bertolucci diz que a grande diferença que ele sente no mundo de hoje é a solidão dos jovens. Em 68 tudo era feito em grupo, inclusive o sexo. Se drogar ou escutar música a sós seria impensável. Um sonho só era válido se fosse o sonho de uma multidão. Isso terminou.
   Ele diz ainda que a grande vitória do movimento foi o feminismo. Disso eu discordo. O feminismo já vinha ganhando corpo desde os anos 10. Seu roteirista diz algo melhor: que os jovens de 68 queriam levar o mundo à Pequim, e terminaram na California. A revolução terminou na politica da "revolução do Eu". Hedonismo, consumismo e depois o politicamente correto. Eu diria que além disso, 68 fez nascer o terrorismo europeu ( Brigadas Vermelhas, Baader Meinhoff ) e popularizou as drogas. Exterminou o terno e chapéu e liberou o corpo de toda amarra.
   Bertolucci diz que em 68 ele já era velho para a revolução ( tinha 27 anos ). Que seu maio fora feito cinco anos antes. E que ele se distanciou de amigos como Godard e Belochio, que ainda tinham fé em Mao. E realmente logo em 1970, vemos que os filmes de Bertolucci ( como os de Truffaut ), já são exemplos da tal revolução interior, revolução típica dos anos 70. Nesse ponto, deve-se dizer que Mathew, o personagem americano é a voz do futuro, de 1978, da América.
   Hoje, 2012, existe uma revolução permitida. Voce pode transgredir em certos pontos e ser radicalmente contra coisas "feias". Fazer sexo com sua irmã é uma coisa feia. E essas coisas feias são chamadas hoje de "doenças", e nada em 2012 é mais feio que uma "doença". Fumar, beber, transar com alguém de 17 anos, caçar, envelhecer, tudo isso são "doenças" que devem ser tratadas. Aliás, para os ateus a religião é uma doença, e para os frequentadores de cultos, ser ateu é uma doença também. Weeelll....
   A trilha sonora é fraca. Bertolucci nunca gostou de rock. Janis e Doors é coisa de quem vê a coisa de fora. O som de 68 passa por Stones, sempre. Godard os filmava enquanto a coisa pegava fogo. ( Não sabia ainda que eles eram o máximo do "vire-se sózinho" ).
   Dois detalhes finais.
   Buster Keaton é sim menos nobre que Chaplin, Mas ele não é uma engrenagem, uma máquina. Keaton é o homem estóico. Ele não chora, não se lamenta, não pede nossa pena. Chaplin é choroso. Ele implora para que o amemos.
   No fim do filme, na verdade um pouco antes, quando a menina vai se matar, a cena é intercalada com uma outra menina, em p/b, rolando na relva e finalmente caindo na água. Essa cena é da obra-prima de Robert Bresson, MOUCHETTE.  Junto com as cenas de Anna Karina correndo no Louvre e Fred Astaire dançando, são o coração de qualquer cinéfilo.
  

CHÁ NAS MONTANHAS- PAUL BOWLES

Na introdução deste livro, Gore Vidal, que sabe tudo, tece elogios a Bowles. E diz que "os americanos, tanto leitores como críticos, tendem a só dar valor aos escritores que escrevem apenas sobre a América. Autores que vivem e pensam apenas o sonho ou o pesadelo americano". Desse modo, os melhores escritores dos Estados Unidos: Henry James, Edith Wharton e Vladimir Nabokov são sub-valorizados. Henry James por ter vivido sempre na Europa, Wharton por só se interessar pela alta-classe de New York e Nabokov por ser um emigrado russo. Para Gore Vidal, Bowles sofre dessa maldição, pois é um americano que vive e escreve sobre o Marrocos e o México. Waaaallll....
Penso que Henry James é com certeza o maior e melhor escritor que a América gerou. Mas não acho que ele é sub-valorizado. Basta ver a constante reedição de sua obra e a quantidade de filmes baseados em suas histórias. Edith Wharton é sua maior seguidora e não está esquecida. Quanto ao gênio Nabokov, ele só não tem maior reconhecimento pop pelo fato de vivermos em tempos moralistas e também por sua escrita ser muuuuuito refinada. Voltando a Paul Bowles....
Nos anos 80 era coisa de bom gosto fashion-chic ler Bowles. ( Como era ler Gore Vidal ). Paul Bowles tinha uma coisa de maldito, de inconformado e de decadente que muito atraía a geração Chet Baker- Basquiat. Mas isso passou. Os anos 90 enterraram os 80 e o que era chic em 1985 se tornou brega em 1995. Bertolucci ainda teve tempo de fazer um filme sobre Paul Bowles: O CÉU QUE NOS PROTEGE. Ninguém melhor que Malkovich para ser Bowles. O filme é lindo, aterrorizante e desagradável. Assim como a escrita de Bowles: simples, banal e estranhamente assustadora.
Há algo de latente em todos estes contos: a loucura. A gente lê esperando por muita violência, pela explosão de sangue, por decepações. O sexo também paira em cada linha. Sexo sempre não natural. Os contos se passam sempre no deserto, seja México seja Marrocos. E todos exibem americanos perdidos em meio a cultura incompreensível. Tudo pode acontecer nesses lugares, a lógica é abolida. E quase nada acaba por acontecer. Mas acontece... O tempo escorre e os personagens vagam aturdidos.
Não é agradável ler Paul Bowles. Há uma foto dele na contracapa. Rosto de gente ruim. Morreu nos anos 90, vida longa. Tudo o que ele fez ficou em segredo para ele mesmo. Correu mundo, casou com Jane, a genial Jane Bowles ( Debra Winger no filme, brilhante ) e escreveu muito. Mas Gore Vidal diz que o que Bowles queria ser era músico.... aquele tipo de músico erudito dos anos 30 na América, do tipo que botava uma turbina de avião no palco para "tocar" com a orquestra. Ou que escrevia concertos para serrote e piano ou furadeira e cello. Acabou na África, escritor. Bem... seus contos não deixam de ser uma furadeira em papel.

MARIA SCHNEIDER

Existem milhares de Marias hoje. Mas como bem disse Keith, uma coisa é ser doido agora, com mapa e bússola já feitas pelos doidos anteriores; outra bem diferente é ser o navegante sem mapa, vivendo e criando ao mesmo tempo uma rebeldia e uma loucura sem testes feitos por outros. Voce entra na piração e não tem nenhum exemplo pra te guiar. Maria foi dessas.
Ela estava pouco se lixando para o cinema. A menina começou pelo muito alto, pelo perigosamente alto: Brando e Bertolucci em Último Tango.
O mais intenso e enlouquecedor dos atores, no melhor desempenho "bruto" que um homem ousou exibir. Assitir o filme é ver um cara totalmente nú. Brando se exibe inteiro, sem medo e com imenso sofrimento. E Maria peitou o cara. Enfrentou o queridinho da esquerda cinéfila ( Bertolucci ) e o bicho doido gênio ( Brando ). E na sequencia mergulhou em Antonioni ( o niilista ) com Jack Nicholson ( o cínico ) na obra-prima O PASSAGEIRO.
Ela era apenas uma mocinha bem-lôca. Numa época em que ser assim não era moda e portanto nunca era fake. Correu riscos, partiu para excessos e se arrebentou toda. Viveu enfim.
Ter chegado aos 50 e poucos anos foi um milagre.
2011, a mais policiada das épocas não era pra ela. Se houver um além, a gente se vê por lá.

ULYSSES/ BRANDO/ LUMET/HENRY FONDA/RESNAIS

ULYSSES de Joseph Strickland com Milo O'Shea e Barabara Jefford
Um filme difícil. Se você não conhece o livro de Joyce nem tente assistir este filme. Strickland levou vinte anos procurando quem o financiasse. O filme, muito bem interpretado, é quase incompreensível. Mas tem alguns momentos que recordam a força demoníaca de Joyce. O monólogo de Molly, ao final, é maravilhoso. Prosa poética erótica extraordinária. Não posso dar nota a este filme. É único.
O ÚLTIMO TANGO EM PARIS de Bernardo Bertolucci com Marlon Brando, Maria Schneider e Jean-Pierre Leaud.
O filme é um poema sobre a coragem. A coragem de Bernardo por fazer um filme tão burguês numa época em que todo cinema italiano era político e furiosamente de esquerda. Coragem de Brando por fazer de Paul sí-mesmo, dando a nós, generosamente, sua alma e suas fraquesas. Coragem de Maria, por se desnudar sem glamour e por jogar no lixo, sem afetação, seu possível estrelato. Coragem do público, por transformar em sucesso um filme tão triste. Ele analisa a loucura do amor e sua destruição. Ele mostra o vazio existencial e a irremediável solidão. E ainda antecipa a falência da política e do próprio amor verdadeiro. Que mais voce pode querer ? E ainda nos dá um milagre : Marlon Brando. Nota DEZ !
INFERNO NA TORRE de John Guillermin com Paul Newman, Steve McQueen, William Holden, Faye Dunaway, Fred Astaire e Jennifer Jones
Que elenco!!!! E que filme ruim!!!! Mas é divertido. Vemos chamas, vemos gente correndo, música de espetáculo, atores que amamos. É o tipo de super-produção da época : a grana era gasta em caras famosas e não nos efeitos. Nota 5.
OS PICARETAS de Frank Oz com Steve Martin, Eddie Murphy, Heather Graham
Adoro este filme. Vivêssemos em tempos de comédia teria sido um grande sucesso. É a história do diretor ruim e fracassado ( Martin, excelente !) que usa ator doido e paranóico ( Eddie, maravilhoso ! ) em filme de ficção à Ed Wood. Engraçado e nunca apelativo, o roteiro, de Martin é criativo e afetivo. Oz é um diretor subestimado, ele não tem um só filme ruim. Nota 7.
A ÉPOCA DA INOCÊNCIA de Martin Scorsese com Daniel Day-Lewis, Michelle Pfeiffer, Winona Ryder
O livro de Edith Wharton é um dos que mais me deu prazer ao ser lido em dois dias em 2005. É obra-prima de estilo e de elegância. O filme não. É frio, distante, vazio. Scorsese não acredita no que mostra e se perde. Parece desistir. Nota 5.
RETORNO A HOWARDS END de James Ivory com Emma Thompson, Anthony Hopkins e Helena-Bonham Carter
Este sim. Ivory nasceu para fazer este filme. A primeira parte é uma obra-prima. Tudo funciona a perfeição. Você se vê completamente envolvido pelo lugar e pelas personagens. Depois ele perde um pouco de força, mas no geral é um muito grande exemplo do mais alto requinte em visual e escrita. Os atores estão soberbos ! Nota 8.
12 HOMENS E UMA SENTENÇA de Sidney Lumet com Henry Fonda e Lee J. Cobb.
Um juiz chama os jurados a sua sala. Eles irão decidir o destino do réu. O filme, todo passado numa sala, mostra os 12 discutindo a sentença. Nós nada sabemos do réu. E terminamos o filme sem saber se ele é inocente ou não. O que se discute não é isso. Se discute a certeza - como condenar alguém sem ter absoluta certeza de sua culpa ? E como ter certeza de alguma coisa ? O roteiro de Reginald Rose, habilmente nos mostra isso, nada é o que é, tudo pode ser discutido.
Este é o primeiro filme de Lumet e é considerado sua obra-prima. Não sei se é seu melhor, mas é coisa de imenso talento. 90 minutos numa sala com 12 homens desagradáveis. E queremos mais !!! A habilidade de Lumet ( e do câmera, Boris Kaufman, o cara que fez L'Atalante ) é espantosa. Vemos rostos suando, bocas falando, roupas molhadas, mãos. E ouvimos as vozes : e que vozes... há o tímido, o racista, o narciso, o vendedor, o infantil, o velho. E há Fonda, ator único, ator que é a imagem da correção, da inteligência calma, do espírito nobre. O filme empolga, diverte, faz pensar e conquista nossa total adesão.
Sempre votado um dos 100 mais da América, merece sua imorredoura fama. É obrigatório !!!! Nota DEZ !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
AS NEVES DO KILIMANJARO de Henry King com Gregory Peck, Susan Hayward e Ava Gardner
Um caçador está morrendo na África. Ele relembra seu grande amor. Passamos pela Espanha, por Paris e pela Riviera. Caçadas, touradas, bebedeiras e guerras. Vários trechos de Heminguay são habilmente misturados. O filme é quadrado mas é boa diversão. Nota 6.
AMORES PARISIENSES de Alain Resnais com Sabine Azema e Agnes Jaoui
Até os anos 80 todo diretor era aposentado aos 60. Minelli, Capra, Wilder, Wyler, Stevens, Ford... todos foram chamados de velhos e ultrapassados aos 60. De repente tudo mudou, e Eastwood, Altman, Manoel de Oliveira, Lumet e Woody Allen ( dentre muitos outros ) conseguem filmar até o fim. E bem ! Resnais tem 85 anos. E se mostra aqui de uma jovialidade e leveza maravilhosas ! Ele, que começou nos anos 50 com filmes muito sérios e graves, faz aqui um divetido filme sobre pessoas que nada fazem de especial. Apenas vivem. Mas gostamos de vê-las, de escutar seus diálogos. O filme, feito quase ao mesmo tempo que o "Todos dizem eu te Amo" de Woody, também usa trechos de canções pop para explicar sentimentos. É um efeito que encanta : funciona muito bem. Os atores exalam simpatia ( Sabine mais que isso ) e é obra de inspiração. Resnais está tendo um belo fim de vida !
E pensar que Bergman desistiu aos 60.......

O ÚLTIMO TANGO EM PARIS- BERTOLUCCI E BRANDO

Amar dá medo porque no fundo nós sabemos que sobre ele não há controle possível. Eu falo de AMOR, aquele dos menestréis. Encontrar esse amor depende de sorte, pura sorte, e isso nos deixa putos, porque não existe onde e como o achar. Para alguns ele pode jamais chegar e pior, para outros, correndo atrás dele em noites de bebida, ele se torna ação inconsequente. Nada pode ser feito. Ele surge quando quer, cria seu próprio lugar, sua língua e então se vai, desaparece. Somos objetos dele, bonecos em sua vontade, flexados e enlouquecidos, nada felizes a seu lado, porém, vivos. Submissos a sua ação e estranhamente libertos do mundo.
Porque amar incomoda quem não ama. Os amantes se bastam, excluem o mundo, não necessitam de nada que não seja seu amor. Vivem nesse planeta próprio, livres em sua emoção amorosa, sem passado e sem nenhum futuro. Vencem distancia e tempo, são mágicos.
No filme o amor morre quando transformado em banalidade ( todo amor de verdade é excêntrico ). Brando sai do mundo deles e segue o script do conquistador calejado. Torna-se caricatura. O misterioso- perigoso que ele foi se faz vulgar cortesão. Apenas um quarentão atrás de sexo adolescente. Ela, desiludida, o mata. Ele, quando mais dele necessitava, trai o amor.
A esposa se matou antes. O casamento mata o amor. Nada é menos amoroso que a rotina de se ter alguém ao seu lado para sempre. Tédios, culpas, conversas amenas, amantes ocasionais. O casamento faz do amor outra coisa. Se voce tiver sorte, ele se faz amizade e cumplicidade. Se tiver menos sorte, comodismo. Amor só vive no incerto, no sem nome, no ainda por descobrir, no medo. Sem medo não existe amor. Ele é o abismo.
Ele é um homem dilacerado. Topa em acaso com sua chance de vida. Penetra e é penetrado pelo sentimento que os toma. Deflora e é deflorado. Não são cumplices em nada. São amantes, são sedentos, são eros.
Marlon Brando se desnuda. Nunca um ator amou assim. Tudo o que é dito de Paul é Brando. Ele é Paul. Sua vida é a dele. Compartilha sua alma conosco. O que fala da mãe de Paul fala de sua mãe. A história que conta do pai é a história do pai de Marlon e ao encontrar o amnte da esposa fala de sua barriga e de seu cabelo. Chora choro real. Nos ama. É quase um milagre de interpretação despojada, generosa, suicida, transcendental. Brando morre nesse filme. Sua carreira termina. Nesse 1972 ele nos deu Corleone e Paul, nada mais havia a tentar. Apenas o amor ao Tahiti...
Jeanne se apaixona por ele. De verdade. E Maria Schneider, a menina atriz que esnobou o estrelato, é perfeita imagem de tentação jovem-saudável-imperfeita. O sorriso é um luar e os olhos um sonho. Seu namorado, jovem bom e saudável, feito pelo eterno Antoine Doinel de Truffaut ( Leaud ) é pura convenção. Amor para as câmeras, amor de TV, de exibição, de conformidade. Dos anos 2000... Amor que não tem o que derrotar não é amor. A coragem é a prova e sem um confronto não se faz amor. É preciso um dragão. E Paul com Jeanne é puro confronto : vontade contra liberdade, juventude contra maturidade, fé contra descrença, otimismo contra negação. O amor se faz do acidente em que se chocam dois caminhos opostos.
Sabemos que todo amor verdadeiro morre. Ela o mata. Tanto faz, o tempo os mataria. E ela diz não o conhecer, ao final. Conhecemos amigos. Ninguém conhece quem ama. Se conhecesse não amaria, gostaria. É diferente.
O filme vai corajoso. Tromba com o acaso e flerta com o vazio e o perigo. É sincero ato de amor. Bertolucci percebia que havia agora o amor convenção : jovens bonitos comprando casas a prestação e tendo um filho sadio. E o amor verdadeiro : uma navalha achada num banheiro com sangue. Flerte com a destruição e a aniquilação.
Sem perigo não existe amor. Pecado, tabú, inesperado.
Quem amou sabe : amar é amar o perigo. Acaso que bate na cara e nos leva pelo nariz.
E o resto, triste ilusão ( amar nunca é ilusório, é ver a verdade ) é frase tola :"...e viveram felizes para sempre."
PS: Quando os dois começam a se perder do amor vemos um salva-vidas afundar no Sena. Nele está escrito : L'ATALANTE... Homenagem de Bernardo ao mais belo dos filmes.

SPIELBERG/FATAL/MEL BROOKS/BETTY HUTTON/2001-KUBRICK

ENCURRALADO de Steven Spielberg
Steven estréia neste tv-movie para a NBC. Fez tanto sucesso que acabou passando nas telas de cinema também. Ele faz aqui aquilo que sabe : entreter. Um caminhão persegue um carro. Obsessivamente. E é só isso. Alguns bons momentos num tipo de "Os Pássaros" sem o gênio de Hitchcock. nota 5.
FATAL de Isabel Coixet com Ben Kingsley, Penelope Cruz, Dennis Hopper.
O interesse único é o belo trabalho dos atores. São humanos. Nem bons, nem ruins: imperfeitos. O final, melodrama óbvio, estraga o tom. Baseado em Philip Roth, mostra o que acontece com uma história contada sem a escrita refinada de Roth : pobreza. O cinema não se adapta à Roth. nota 5.
UM CONTO DE CANTERBURY de Michael Powell
Um dos milagres de nosso mercado de DVDs é a bela quantidade de filmes de Powell lançados no Brasil. Alguém os compra ? Eu compro todos. Powell é um tesouro, um troféu que dignifica o cinema. Todos os seus filmes guardam discretas surpresas. Nunca são aquilo que prometem, sempre são mais. Este parece ser sobre a segunda-guerra. Depois parece uma comédia e então se torna um conto policial. Mas ao final mostra o que é : um poema sobre Canterbury, berço espiritual da Inglaterra. As cenas que mostram o cotidiano da cidade, os sotaques, a geografia do lugar, são magistrais. Uma pedra preciosa. Uma sonata de piano. Raro. --- uma curiosidade: há uma cena com o seguinte diálogo entre dois soldados americanos : - como voce conseguiu se acostumar com esse chá preto? é horrível!!!! - ora, questão de hábito. É COMO MARIJUANA. UM SIMPLES HÁBITO!!!!----- o filme foi feito antes da criminalização da erva. nota 9.
O CONFORMISTA de Bernardo Bertolucci com Jean-Louis Trintignant, Stefania Sandrelli, Dominique Sanda e Gastone Mosquin.
De uma irritante tolice. O pior dos anos 60 está todo aqui : um esquematismo revolucionário em que tudo cheira a panfletagem. Nada tem sentido psicológico, nada tem clareza, tudo é pesado, veemente, exarcebado. Chato, cansativo, infantil. nota ZERO.
O JOVEM FRANKENSTEIN de Mel Brooks com Gene Wilder, Marty Feldman, Teri Garr, Madeline Kahn, Cloris Leachman, Kenneth Mars, Peter Boyle e Gene Hackman.
Brooks, com sua grossura e falta de finesse, criou a comédia atual. Tudo pode ser feito, desde que faça rir. Seu trunfo são seus atores. A troupe que ele tinha em mãos era realmente talentosa. Todos brilham, todos fazem rir. Os americanos consideram esta uma das cinco maiores comédias da história. Não sei se é tanto. Mas é uma soberba diversão. nota 8.
ANNIE GET YOUR GUN de George Sidney com Betty Hutton e Howard Keel.
Um musical sobre shows de western que aconteciam no início do século XX. Um musical sobre a maior atiradora da história : Annie Oakley, uma caipira dos cafundós. Um musical com uma estrela que eu nunca assistira : Betty Hutton. Um musical que fez com que eu me apaixonasse por Hutton. Ela é um fenômeno!!!! Muito engraçada, cheia de caretas de moleque sujo, bonita, rouba o filme e nos encanta. Uma festa! Ah... músicas ( excelentes ) de Irving Berlin. nota 8.
PRIMAVERA PARA HITLER de Mel Brooks com Zero Mostel e Gene Wilder.
A estréia de Brooks no cinema lhe deu o Oscar de melhor roteiro. Uma comédia maravilhosa sobre a Broadway que teve uma refilmagem infame com Nathan Lane/ Mathew Broderick/ Uma Thurman. O autor nazista, o diretor gay, o cantor glitter-hippie, são personagens hilários!!!! Um enorme prazer. nota 8.
MORE de Barbet Schroeder
Um alemão vai de carona à Paris. Conhece junkie. A segue à Ibiza. Se droga. Sexo à três. Só isso. Trilha sonora do Pink Floyd. É a estréia de Barbet como diretor. Séculos depois ele faria " O reverso da Fortuna" e "Mulher solteira procura". Foi produtor de Rhomer e Rivette antes deste filme. Que poderia não ser tão ruim se tivesse algum ator que soubesse interpretar. É tudo de um amadorismo absurdo. Para piorar, todas as falas são improvisadas. De bom, uma Ibiza ainda espanhola, parecida com uma Ilhabela-junk. A trilha é ok, mas a música daquele momento era feita pelo Soft Machine! nota 1.
ORFEU de Jean Cocteau com Jean Marais, Maria Casarés, François Périer e Marie Déa.
Primeiro fato: Cocteau não tem vergonha. Ele pensa ser um gênio e expõe isso sem pudor algum. Ele foi um gênio ? Bem... quase. Poeta, pintor, desenhista, cenógrafo, cineasta, músico... ele foi tudo isso. Como não se concentrou em nada, acabou não sendo gênio em nada. Mas foi grande. Orfeu adapta o mito grego para nosso tempo. ( Será que o muito elegante tempo do filme- Paris 1950- ainda é nosso tempo ? ). O filme é sobre a morte, a poesia, o amor, os espíritos. Mas no fundo é sobre Cocteau. Seu ego está em cada segundo filmado. Este filme é também, possívelmente, o que melhor soube mostrar a falta aparente de lógica dos sonhos. Mas atenção : é um filme fácil de entender. Não é hermético. É aberto. Como todo Cocteau, belo de se ver. nota 8.
2001-UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO de Stanley Kubrick
Isto não é um filme. É um conceito. Com isso em mente, assita-o.
Primeiro fato: como é possível ter sido um sucesso em 68 um filme tão dificil ?
Segundo: muita gente tomava LSD no saguão e viajava todo o filme. Dizem que ele dá uma bela viagem.
Terceiro: Kubrick nunca foi tão ambicioso. Ele tenta explicar a vida. Para nosso tempo, em que tudo que um bom diretor deseja é mostrar um pouquinho de seu coraçãozinho, isso é irritante.
Quarto: os primeiros vinte minutos são soberbos. Kubrick filma, talvez, os mais emocionantes momentos do cinema. A aurora do Homem. O medo, a agressividade, o nascimento de nós mesmos. Há algo de profundamente comovente naqueles seres. Em seu primitivismo. Nós os olhamos não como nossos avôs. Parecem nossos desamparados filhos. A breve cena que mostra seu terror noturno sempre me comove. Como me comove também a cena em que Kubrick se exibe gênio que é, aquela com os ossos.
Quinto: tédio. O filme se torna lento. Toda a missão espacial é glacial. Mas impressiona um fato : o acerto no modelo do computador com câmera. Os efeitos ( pré-digitais, feitos mecanicamente ) são perfeitos.
Sexto: o computador enlouquece. Muito trágico o fato de que a sabedoria humana se concentra numa máquina.
Sétimo: a morte e a entrada em outra dimensão. A melhor sequencia ( longa ) sobre o que seria o xamanismo. O astronauta morre. O que ocorre ? Uma viagem de LSD numa cena ultra psicodélica. Sons de sintetizador. ( num tempo de sintetizadores do tamanho de armários- sem teclados! )
Oitavo: o final. Não vou contar. ( Alguém ainda não viu 2001 ? ). Mas é intrigante, surpreendente, e faz, estranhamente, sentido.
Nono: a última imagem. Faz chorar. É linda. Talvez a mais linda possível.
O QUE É ESTE FILME?
Para Kubrick, o homem só viveu dois momentos chave : a descoberta de sua singularidade, que se deu através da descoberta da arma; e a viagem espacial, a saída deste planeta. O terceiro passo evolutivo, ainda não dado, seria o encontro com uma inteligência fora deste mundo. O monolito é o que? Pode ser Deus. Pode ser a razão ( observe que na natureza não existe a linha reta, ele é chocante para os trogloditas por ser retilineo, polido, perfeito ), pode também ser um ET. O monolito simboliza a novidade, o ponto de morte/renascimento. Mas daí vem outro enigma : porque a sala Luis XV ?
Pauline Kael, que não gostava do filme, o chamava de aula de filosofia alemã dada por um chato professor calvinista. Nem tanto. Como disse, voce não pode julgá-lo como cinema, é arte conceitual, uma instalação. Dificil, árido, árduo, mas acredite, inesquecível. nota DEZ.

MENSAGEIRO DO DIABO/EMBRIAGUEZ DO SUCESSO/PARTNER/PERFORMANCE

AS BRUXAS DE SALEM de nicholas hytner
se mantém a força do texto alegórico de arthur miller. daniel day lewis e paul scofield seguram o filme. 5.
POR AMOR OU POR DINHEIRO de bertrand blier
blier sempre faz filmes que procuram fugir do padrão. não se tratam de comédias, nem dramas, sequer aventuras ou alegorias. este é uma quase comédia. sem graça. 1.
O MENSAGEIRO DO DIABO de charles laughton
para quem não sabe, laughton foi um dos maiores e mais conhecidos atores ingleses de cinema. gordo, com cara de sapo, gay assumido, brilhou como rembrandt, como henrique viii e em filmes de hitchcock e wilder. este filme, de 1955, foi o único dirigido por ele. é considerado uma obra-prima e foi fracasso de crítica e público na época. fácil entender o porque : trata-se de uma comédia gótica afiadíssima! um filme que tim burton ou david lynch adorariam ter feito. a história trata de um pastor que se casa com viúva. comete o assassinato para ficar com o dinheiro. os dois filhos da viúva conseguem fugir e ele os persegue. isso tudo contado em clima de sonho/pesadelo, sombras expressionistas, cortes precisos e um robert mitchum perto do milagroso ( seu papel se tornou referencia ). na parte final, quando as crianças encontram a velhinha boazinha ( lilian gish ), voce quase tem um orgasmo de tanto prazer em estar vendo tal obra-prima. DEZ!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
A EMBRIAGUEZ DO SUCESSO de alexander mackendridk
filme de 1958, dirigido por um grande diretor ingles de comédias e que dirige aqui, nos eua, seu único drama. fracasso na época ( de público ), traz burt lancaster em mais um grande desempenho, com seu rosto de pedra pleno de autoridade e força viril. mas é tony curtis, o subestimado curtis quem rouba o filme, fazendo um vilão patético e mesquinho. o filme ( cheio de jazz e clima cool ) trata de um jornalista que domina carreiras com suas fofocas. curtis é o auxiliar puxa-saco desse poderoso homem de midia. o filme, cheio de fel e com falas exuberantes, mostra a derrocada dessa carreira e a inexorabilidade de seus destinos. cínico, amargo, brilhante! 9.
RICARDO III, UM ENSAIO
única doreção de al pacino. obrigatório para quem trabalha com teatro ou ama a cultura. 7.
O DESTINO BATE A SUA PORTA de bob rafelson
rafelson, diretor de head e cada um vive como quer, dirigiu este new-noir em 1982, usando jack nicholson e uma jessica lange cheia de sexualidade vulgar. se trata de um bonito filme que não tem aquilo que os noir clássicos tinham de melhor- nervos! mesmo assim é fácil de assistir, lange está maravilhosa e o choro final de jack é coisa que justifica uma carreira inteira. 6.
BEIJOS E TIROS de shane black
primeira direção do roteirista dos filmes lethal weapon. robert downey é um ladrãozinho de quinta que vira ator em ´hollywood ( é uma comédia ). val kilmer ( bem ) é um detetive gay e a lindíssoma michelle monaghan está no elenco. o filme é ágil, alegre, os capítulos têm nomes de títulos dos livros de chandler..mas falta loucura. os coen fariam dele uma festa! como está, é apenas um divertido produto meio termo. 6.
RESGATE ABAIXO DE ZERO de frank marshall
marshall, roteirista e produtor de vários filmes de spielberg, nos apresenta uma aventura antártica. para quem gosta de cães ( eu os idolatro ), é obrigatório. como cinema, é sessão da tarde das boas. 7.
FILMES PSICODÉLICOS FEITOS EM PLENA VIAGEM PSICO

PARTNER de bernardo bertolucci.
em 1968 bertolucci resolveu filmar partner, baseado numa novela de dostoievski. mas, em meio as filmagens explodiu o maio/68 e bernardo jogou o roteiro fora e passou a improvisar. o filme, fascinante, mistura lacan com nietzsche e tem uma trilha sonora de ennio morricone que é absolutamente genial e radical. pierre clementi, ator francês que era viciado em heroína, tem uma das atuações mais maníacas, inesquecíveis, originais, revolucionárias que já ví. ele apresenta completo domínio do corpo, total entrega e uma quase loucura digna de klaus kinski, bruno s ou falconetti. o filme fala de máscaras, de duplos, do quanto nós todos somos fingidos e de alienação. uma quase obra-prima e o mais difícl filme de um cineasta que jamais se acomodou. 8.
PERFORMANCE de donald cammel.
filme maldito feito em 1970. cammel, que se suicidaria em 78, filma em londres, a história de um gangster ( james fox ) que se esconde na casa de um astro do rock ( mick jagger ). nessa casa, o gangster prova sexo, drogas e muito rock e se torna um jagger também ( ou não ? ). o filme, que ainda tem anita pallemberg ( ex- brian, na época esposa de keith ) num papel de junk-bissexual, é absolutamente fascinante e muito inspirador. aqui é criado o conceito de glam-rock e se voce quer saber o que velvet goldmine tentou mostrar veja este filme radical. mick era incrivelmente magro, efeminado, drogado e o filme é hipnótico, macio, colorido e nem um pouco paz e amor. único, ele é aquilo que bergman faria se fosse mais jovem e ingles. 9.
PSYCH OUT de richard rush
jack nicholson tem muita história pra contar. ele está neste filme de 68, feito em san francisco, no auge do movimento hippie. uma moça foge de casa e vai parar em sanfran. conhece os hippies e passa a viver com eles. o filme é fraco, amador, constrangedor, e jack usa um péssimo cabelo. mas tem um clip fantástico dos inacreditáveis the seeds e mostra o que eram os tais hippies. o que eles eram ? drogados classe-média deslumbrados com sexo. comparando este filme com performance vemos que londres nos 60 era mais lsd, mais reichiana, mais individualista, mais psicótica. sua trilha era pink floyd, soft machine e gong. sanfran é mais alegre, comunitária, machista, mais anfetaminas e marijuana, mais byrds, grateful dead e love. hippies americanos se interessavam em sexo, festas e protestos de rua. hippies ingleses queriam saber até onde se cérebro conseguiria enlouquecer. o filme vale como puro fun. 5.
BARBARELLA de roger vadim
e vadim, inventor de brigitte bardot, tenta lançar jane fonda como nova bb. jane está absolutamente linda e anita pallemberg é a vi´lã. psicodelismo para os não psicodélicos, o filme mostra que em dois anos o movimento já se tornara um produto bonitinho e anódino. 4.