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Beethoven: Symphony No. 6, Toscanini & NBCso (1952) ベートーヴェン 交響曲第6番 トスカニーニ

TOSCANINI REGE A SEXTA DE BEETHOVEN

Para quem não sabe, Arturo Toscanini é considerado o maior maestro da história. Em seu tempo seus rivais eram Furtwangler, Bruno Walter e Stokowski. Nascido no final do século XIX, ele estreia como maestro titular no Rio de Janeiro, regendo Aida de Verdi. Logo está no Scala de Milão, depois na Filarmônica de New York e por fim na Orquestra da NBC. Transmitindo por rádio, e desde 1948 por TV, seus concertos educaram o público americano. A classe média dos EUA, nos anos 40 e 50, consumia a música erudita aos milhares. Muito desse mérito se deve à Toscanini. --------------- Ouço hoje um cd RCA com uma gravação da Sexta de Beethoven, obra que conheço decorada. A orquestra é a da NBC e Toscanini realizou este trabalho em 1951. Ano passado ouvi alguns cds com regência de Toscanini e não gostei muito. O som parecia embolado e o tempo acelerado demais. Mas aqui o que ouço é a perfeição. Até agora é a melhor execução da Sexta que escutei na vida. Nos primeiros acordes eu já sinto a força do som: Poderosa, a orquestra soa poderosa, rica, forte, complexa e feliz, muito feliz. Toscanini italianiza Beethoven e isso não é problema algum, pois Beethoven era fortemente influenciado por música do sul. O CD continua rodando e o segundo movimento é ainda melhor. Colorido, ele baila e cada naipe tem sua hora realçada. Quando entra o terceiro movimento eu estou exultante, é uma execução heroica. A percussão explode em sons sanguineos e as cordas nunca caem na melosidade fácil, toda o grupo trabalha em comunhão exata e mesmo assim podemos ouvir cada nuance. O movimento final coroa toda a obra: é troféu de campeão. O que ouço é o modo como a Sexta deve ser tocada, ela dá o devido tamanho à Beethoven. Bravo!

MOZART, SERENATAS K 239, 388, 525. ( PENSANDO SOBRE VICO E MOZART ).

Serenatas eram aquilo que parecem ser, pequenas peças musicais para uso noturno. O objetivo era o amor. Esquecemos que música tinha e tem uma função e que no tempo de Mozart era a de elevar ou entreter. ( Não pense que me contradigo. Mesmo a música absoluta e livre de Beethoven tem uma função: expressar. A palavra função não rebaixa a música. ) . É música bela que almeja a beleza. Mozart aqui não tenta o absoluto como em seus concertos para piano. E não quebra o limite como nas óperas. Ele faz, de modo sublime, o que dele se espera. Penso que o faz com alegria. Quando falamos de Mozart nunca devemos esquecer que ele amava o amor. E não era o amor que almeja a nobreza hetérea como se dá em Chopin ou Liszt. É o amor totalmente erótico, sexual, picante. Por isso que acho Mozart o mais honesto dos gênios. Ele não pinta de dourado o que é vermelho sangue. Enquanto toca seu teclado ele olha um seio e imagina um traseiro ( tinha tara por traseiros ). Mozart cria por dom. -------------- Aplicar Vico à Mozart é muito interessante. Mozart cria sua obra. Mas saberá tudo sobre ela? Conseguirá recriar tudo que fez? -------------- Para quem não leu, Vico diz que só podemos saber a verdade sobre aquilo que fazemos. Nós fazemos a matemática, as leis, a engenharia, então podemos saber tudo sobre um cálculo, o direito ou uma ponte. Mas não sabemos tudo sobre nosso corpo ou nosso planeta pois não os criamos ou construimos, estamos neles. -------------- Então pergunto: Mozart criou o concerto 20 para piano. Ele sabia tudo sobre ele? Ou um gênio se surpreende com sua própria obra? Penso que sim, ele se surpreende. Se um gênio tivesse o segredo de sua obra em mãos, ele criaria vários Dom Giovanni e vários concertos todo dia. Bastaria querer. O gênio não o faz porque sua obra nasceu em sua mente e sua mente não é criação sua. E quando falo mente eu falo o fundo de sua alma. ------------- Paganini poderia e criou na verdade, várias obras como quis. Ele tinha domínio sobre aquilo que criava. Isso porque sua obra não o surpreendia. Ela era um molde, uma receita, algo que ele inventou e fez, e assim poderia reproduzir quando quisesse. Paganini dominava sua música. Mozart era por ela dominado. Paganini fazia algo que podemos aprender a fazer. Algo que se constroi. Mozart fazia algo que só ele mesmo poderia fazer. Não havia uma fórmula ou uma invenção racional. Ele fazia o que fazia sem saber como ou quando fazer. Sua mente, indomável e inapreensível fazia livremente. ------------ Essa a diferença entre o artesão e o artista. -------------- Vico estava certo. Nunca produziremos outro Mozart. Mas toda forma musical tem seus Paganinis. Domine a técnica e saia produzindo solos. Mas dominar a técnica não te fará compor Dom Giovanni. Pois podemos aprender a solar, é uma invenção humana, mas não podemos aprender a criar, pois a criatividade é componente daquilo que chamamos de alma e isso não foi por nós inventado.

Beethoven - 5th Piano Concerto 'Emperor' (Zimerman, Bernstein, Wiener Ph...

SEIJI OZAWA REGE O CONCERTO NÚMERO 5 PARA PIANO E ORQUESTRA DE BEETHOVEN.

Nos anos 80 yuppies, os tais jovens bem sucedidos, consumiam música clássica. Na verdade eles consumiam tudo. Foi uma pena o Brasil estar nas mãos de povo tão ladrão, foi tempo de fartura mundial. E nesse frenesi consumista, Zubin Mehta e Seiji Ozawa eram considerados os novos maestros superstars. Mehta se destacava por ser indiano, e Ozawa por sua cabeleira rocknroll e suas roupas moderninhas. Nenhum dos dois era nem sombra para maestros geniais, mas no mundo pop eram os tais. Aqui, em 1981, Ozawa rege a Sinfonica de Boston e ao lado do veterano pianista Rudolf Serkin, executa o concerto 5 de Beethoven. A gravação é ao estilo yuppie de então: perfeito e sem brilho. Não há ímpeto, não há fogo, não há uma visão particular. Mas se voce me perguntar onde o erro, também não saberei apontar. Sem erros e sem acertos. Já Serkin tem o brilho de quem tocou a peça mais de cem vezes. É como um caçador em selva palmilhada: ele sabe onde o leão vive. ----------------- O concerto é um novo paradigma, pela primeira vez um concerto era sinfônico. Ou seja, a orquestra tinha partes tão importantes quanto o instrumento solista. Em Mozart ou Haydn a orquestra "acompanha o solista", aqui ela é parte da obra, não acompanha, toca sua parte. Piano e orquestra combinam, não há subordinação. Assim como Beethoven deu a independência do criador em relação ao mecenas, ele dá a liberdade à orquestra. Como arte musical em si, nunca é demais falar que a obra caminha em perfeição. O mestre leva a música para onde deseja. O segundo movimento, sublime, é de beleza heroica. Mora a nobreza nesta música. Nunca mais se fará tal tipo de arte porque o mundo não mais quer algo de nobre. Beethoven nos esmagaria. Sua superioridade nos é intolerável. É aquela do heroi diante do rufião. --------------- Não é a melhor versão do mestre a que mora neste CD. Mas é Beethoven.

Beethoven's Symphony No. 3 "Eroica", 1st movement | conducted by Paavo J...

BEETHOVEN, SINFONIA 3. O MOMENTO EM QUE TUDO MUDOU.

A vida é feita de coincidências e no dia em que ouço a Terceira Sinfonia, pego um livro de H.L.Mencken, e me surpreendo ao ler páginas que ele escreveu sobre a Terceira de Beethoven. Segundo Mencken, foi na noite de setembro de 1808, quando de sua estreia em Viena, que a música moderna nasceu. O público, acostumado ao classicismo de Haydn e Mozart, não entendeu direito o que era aquilo. Complexo demais, vasto demais, exigente demais. Muita informação, muito volume, muita força. Mencken diz que Beethoven, e eis uma bela definição, nunca parece um homem fraco. Ele não chora jamais, não se adocica, nunca cai de seu pedestal. Toda sua obra é isenta de emoções baratas ou simplórias. Seu nível é sempre o mais alto. ------------------ Eis então a Terceira. Três acordes. A melodia já se dá. Nada de doces preparações, a sinfonia se inicia em seu auge: eis tudo aqui. Em apenas 30 segundos, 30 segundos!!!!, Beethoven nos dá toda a obra. Isso nunca era feito. A música era preparada, vinha aos poucos, havia introdução, lenta introdução, mas não aqui. Beethoven começa pelo auge e depois cria, sem cessar, variações sobre esse apogeu. É coragem em seu extremo, ele não guarda o trunfo para mais tarde. É como se ele afirmasse, aqui te entrego tudo, mas creia, tenho muito mais para oferecer! E ele entrega. ------------ Mencken diz que o primeiro movimento mudou toda a história da música. Se voce ouvir o que se fazia antes irá entender. Nada em Bach, Mozart, Haydn, Haendel, Monteverdi, Rossini, é sequer sombra destes 15 minutos de louca euforia. A orquestra ataca sem parar, são picos sobre picos, não há mais a calma harmonia de antes. O mestre cria vulcões emocionais e os emenda com tufões. E cada vez que o tema inicial retorna ele se faz cada vez mais grave, mais cruel, mais beethoviano. É aqui que nasce esse modo de ser, beethoviano, o autor como terrível arauto de um universo mais denso, sério, urgente. Para Mencken foi Beethoven o maior gênio em qualquer arte e em qualquer tempo. Não digo isso, mas também não consigo lembrar de alguém maior que ele ( Michelangelo talvez? ). ---------------------- Pierre Monteux rege a Concertgebouw de Amsterdan em 1962. Existem 3 tipos de maestros, os rimbombantes exagerados: Bernstein, Karajan, Furtwangler; os emocionais: Abbado, Toscanini, Solti; e os delicados, área onde Monteux foi o máximo. A execução é mais que perfeita, é sublime. Há alegria eufórica em cada naipe, mas sem jamais haver um só momento de exagero. Monteux, sempre sereno, segura a orquestra, e assim destaca a ourivesaria da obra. --------------- Ouvir a Terceira é crescer como ser humano e esse era o ideal de Beethoven. Ele compunha para se expressar e sabia que oferecia ao mundo uma mensagem de engrandecimento. Dizem que ele era irascível, mal humorado, violento, duro; mas sua arte, sempre imensa, é a maior herança que podemos oferecer a quem vier depois de nós. O planeta sem Beethoven não vale a pena.

OS ANOS DE APRENDIZAGEM DE WILHELM MEISTER - GOETHE. o enorme egoísta.

A coisa já começa em tom alto: em suas primeira linhas o romance apresenta uma cena emocional. Escrito nos últimos anos do século XVIII, apogeu do romantismo alemão, fez-me lembrar Beethoven: o autor entrega tudo de cara. Exaltação plena. O EGO se afirmando contra seu meio social. Dois gigantes: Goethe e Beethoven. E Kant também. A Alemanha de 1795 é um dos auges máximos da civilização. ------------ Acompanhamos a vida de WIlhelm, filho de pais ricos que se revolta contra o mundo burguês e tem um amor incontido pelo teatro. Ele ama. Ele erra. Ele vive. São 600 páginas de diálogos ricos porém artificiais. Goethe está sempre propagando teses. Por isso está hoje, em 2021, tão fora de moda. Ele não tem vergonha. Goethe tem a certeza de ser um gênio. E nos ensina a o admirar por isso. O que o salva é sua nobreza espiritual. É generoso, reparte conosco o que sabe. Sua sabedoria máxima é sua vontade de saber. Meister é um estudante eterno. -------------------- A edição que li, boa tradução, é da editora Itatiaia, 1994. Uma editora marxista. O livro tem uma crítica de Georges Lukacs sobre o romance de Goethe. E em seu catálogo há até mesmo uma obra, de um húngaro, que defende a necessidade da censura. O que vou falar agora é tão óbvio que passou despercebido por mim mesmo. Minha vida foi a mesma de Meister. ------------------ Poluído por romances e filmes "romanticos", aos 15 anos eu rompi com minhas raízes "burguesas". Meu pai era odiável e eu queria o chocar. Isso era tudo. Meu ego era especial. Eu merecia uma vida original. O burguês queria me oprimir, me fazer incolor. FIM. ----------------- O romance de Goethe é basicamente isso. O que o salva é ser um dos primeiros a advogar tal causa. Depois o próprio Goethe faria críticas àquilo que ele acreditava em 1795. O romantismo foi o primeiro sinal da adolescência do mundo ocidental. Foi como se de repente todos percebessem que ser jovem era condição superior. Fato: isso aconteceu apenas após o industrialismo. A pressa e a feiúra do mundo da fábrica deu aos jovens ansias de fuga. Fugiram para dentro de si mesmos. Criaram a ideia de que eram mais sensíveis que seus pais. ------------- Todo esse momento é perverso. Meister odeia quem o sustenta. Sem o dinheiro de seu pai ele não seria livre para odiar sua família. Enquanto romanticos de toda a Europa se embriagam de vinho, burgueses odiosos fabricam as garrafas e as uvas que eles consomem. Eu adoraria ler este livro sob o ponto de vista do pai de Meister. Ao envelhecer pensamos essas coisas. Goethe sentiu isso ao envelhecer: jovens são egoístas. Odeiam todos que lhes recordam a realidade da vida. Então nós lemos um romance que deveria ter um heroi romantico em seu centro, mas que hoje nos desperta certa aversão sem compaixão. Meister é um idiota mimado. Ele ama as mulheres amando o amor que sente. É incapaz de conhecer qualquer uma delas. Ler Meister em 2021 é ler um fracasso. O romantismo nos deu maravilhas como os poemas de Wordsworth e Keats, ou as obras de Liszt e Chopin, mas é basicamente um movimento infantil. Lambem-se egos feridos. Eis tudo. --------------------- Os nomes que citei, como Goethe, são romanticos que mantiveram um pé ou pé e meio no classicismo. Que não se permitiram corroer pela auto piedade. O Goethe do Werther é insuportável de tão tolo, e o de Meister contém, felizmente, o germe da condenação do romantismo. Vale ler? Sim. Mas não o leve tão a sério.

Beethoven's Symphony No. 8, 4th movement | conducted by Paavo Järvi

UM POST RICO: WELLS, DVORAK, BEETHOVEN, BORGES E O FUTURO

Jorge Luis Borges amava escritores que sabiam contar histórias. Daí seu amor por Stevenson e Conrad. E por Wells. Quando voce lê Julio Verne, por exemplo, a decepção é flagrante. Verne não é bom narrador. Seu sucesso se deve ao tema. Ele criou um tipo de sci fi plausível. Excetuando VIAGEM AO CENTRO DA TERRA, nada que ele escreveu é muito criativo. Como já disseram, Verne é mais um professor que um fabulista. Wells não. O inglês tem fantasia. E escreve claro sem ser didático. O que ele inventa é invenção pura. Mas com alguma possível plausibilidade. Borges queria que suas histórias fossem mais poéticas, mais sonhadoras. Caro Borges....se assim o fossem ele não seria Wells. ---------------- A MÁQUINA DO TEMPO foi relido por mim agora. É uma história, uma narrativa, um conto. Como ocorre em Borges, a psicologia do personagem não importa e aquilo que acontece fora da consciência do heroi também é ignorado. Wells pega seu tema com os dentes e o leva avante. Nada fora desse tema importa. O filme feito em 1960 por George Pal é uma das 3 melhores adaptações literárias já feitas ( OS INOCENTES e O SOL POR TESTEMUNHA são os outros ). Isso porque nada que há no conto ficou de fora do filme. Ver o filme é como ler o livro, e isso é um elogio aos dois. --------------- Citam muito Huxley, Kafka e Orwell como os caras que acertaram várias previsões sobre o futuro. Huxley acertou na ditadura do prazer e na química como lei da vida. Kafka previu a burocracia do mundo moderno e suas leis sem sentido ( quem pensou nas máscaras? ). Já Orwell previu a uniformização da vida, a abolição do individualismo. Pois Wells deveria ser citado como o autor que previu, aqui, o fim da virilidade. Por não haver mais necessidade de força física e de coragem, o homem, como espécie, se torna um ELOI. Um ser bonzinho, fraco e infantil. Gado para ser comido pelos MORLOCKS, os humanos que foram rejeitados do mundo de prazer onde antes os ELOIS mandavam. A mensagem de Wells é que aqueles que abriram mão da virilidade se tornam passivos cordeirinhos, prontos para obedecer negando a realidade da vida; já os Morlocks são o lado feio e perverso da vida, mas por trabalharem duro e não temerem a vida como ela é, fazem dos Elois seu meio de alimentação. Espertamente Wells coloca o livro mais de quinhentos mil anos no futuro, o que dá chance a toda uma evolução biológica. Os Elois não têm mais uma cultura, apenas fazem amor, brincam e comem. Os Warlocks mantêm as máquinas em funcionamento e devoram Elois a noite. É a vida das aranhas e das borboletas. A vida nua. ------------------- Música? Sim, vou unir os dois temas. Beethoven e sua OITAVA SINFONIA. Esqueça a Nona e a Quinta. As melhores são a SÉTIMA e a OITAVA. Ela ataca. São quatro movimentos breves, fortes e impetuosos. Dizem que se nascido em 1950 Beethoven seria um mestre do heavy metal. Concordo plenamente. Ele é feroz e barulhento, ama o kaos para poder o vencer e controlar. É viril, maravilhosamente viril. Cada movimento aqui é escrito com os culhões. Metais que explodem violinos que respondem. Beethoven foi um homem. Um homem anti ELOI. ---------------- Agora Bruno Walter rege a Nona de Dvorak. É talvez minha sinfonia favorita entre todas. Uma profusão feliz de melodias. Todas as trilhas de cinema estão aqui. Os compositores plagiam temas desta obra até hoje. Escrita no ano da invenção do cinema: inconsciente coletivo? Pensaram que o tcheco Dvorak havia sido influenciado pela música negra e indígena dos EUA de 1895. Mas não, Isto é eslavo até o osso. Uma obra prima da força. Mais uma obra de arte anti ELOI. ---------------- John Huston teve pneumonia, e dado como inválido, pulou a janela e foi nadar em rio gelado. Ele pensou: ou me curo ou morro. Curou. E passou toda a vida pulando janelas e se atirando em rios gelados. O que ele pensaria da minha máscara? Tolstoi evitava a tuberculose, mal que atingia 30% das pessoas de então, nadando no inverno, nu, todo dia, cedo. ---------------- É ótimo ler este livro agora, em meio a maior onda de medo da história do Globo. Nunca estivemos tão perto do mundo dos ELOIS.

Claudio Arrau Beethoven "Moonlight Sonata" (Full)

BEETHOVEN, SONATAS 14, 26, 24, 23.

Piano...é meu instrumento favorito. Isso em música clássica. No jazz eu prefiro a bateria e no rock, perdoe a falta de originalidade, a guitarra. Chopin faz o piano voar e chorar, Debussy transforma piano em coisa imaterial e Beethoven faz do piano uma orquestra inteira. Ele bate, soca, esmurra o instrumento sem dó. E em seguida faz com que o piano harmonize timbres que não cessam de brotar do éter. Foi ao piano que a maioria dos compositores criava, e a sua invenção, meio do século XVIII, fez com que todos os outros instrumentos mudassem. Mozart conseguia transformar as teclas em pés de bailarinos, Haydn deu ao piano sua estatura de gigante. Mas Beethoven...ele criou a imagem que temos até hoje: o pianista como um titã. O instrumento onde a alma podia falar. A sonata 14, por exemplo, tão conhecida, é a trilha sonora da alma em tempestade, e como para Beethoven a alma é um furacão, aqui temos o som do espírito em sua nudez. Nunca alguém criou tanta emoção, falo do primeiro movimento, com sequencia tão simples de notas. Depois vem uma pausa, e ao terceiro movimento nasce uma difícil e tortuosa trilha de sons ascendentes. O pianista luta. A música vence. -------------- Dizem ser nas sonatas que vemos o Beethoven mais verdadeiro. Penso que 90% dos compositores se revelam diante das teclas. E também acho que no mundo da música clássica, pianistas são mais fantásticos que maestros. O nome que ouço é Robert Casadesus, um dos grandes, em gravação de 1953, CBS.

Wilhelm Kempff plays Beethoven's Moonlight Sonata mvt. 3

GILELS plays Beethoven - Moonlight Sonata Op 27 No 2 - Mvt 1

BEETHOVEN E O PIANO

Wilhelm Kempff viveu todo o século XX e foi um dos cinco maiores pianistas da época. Alfred Brendel, outro dos gigantes, dizia que Kempff tocava como uma força da natureza. O piano em sua mãos se tornava uma harpa eólica, suas mãos eram como o vento. Em 1962 ele gravou os concertos para piano de Beethoven, todos com a Filarmônica de Berlin, Ferdinand Leitner na batuta. Ouço agora o número 5, concerto que já escutei antes e não me conquistou. ------------------ Escrevi em outro post que na música clássica é necessário conhecer uma obra para poder a amar. Ao contrário do POP, no clássico dificilmente voce se apaixona a primeira vista. Seus ouvidos são cativados e não tomados. Pois agora este concerto me pega. Ele é vasto, nobre, clássico, e incrivelmente rico. Kempff exibe sua técnica: são constelações de notas colocadas no lugar exato, mas essa exatidão jamais mata a naturalidade, Kempff domina o teclado sem o subjugar. Nada há de exibicionista nele, o que há é maestria total. A orquestra é discreta, ele a subjuga ( subjuga a Filarmonica de Berlin! ), seu piano voa na gravação. O movimento final é golpe mortal: ele vence. ---------------------- Ouço também a famosa Sonata ao Luar, com Emil Gilels, outro dos grandes pianistas do século. Russo, morto nos anos 80, Gilels faz um pequeno milagre, toca Beethoven de uma maneira única, seu fraseado deixa brechas de silêncio, exita, quase tropeça, cria um ritmo seu, próprio. A mão esquerda é solene e seguríssima, a mão direita fala um poema que vemos ser escrito enquanto é meditado. Eis a definição: Gilels medita. --------------------- O piano é, não tenho dúvida alguma, o rei dos instrumentos. Ouça estas duas obras e descubra o quanto aquele monstro de madeira e cordas, teclas e pedais pode ser magnífico.

Carlos Kleiber -Beethoven symphony No.7, Op.92 : mov.4

BEETHOVEN....CONCERTOS 5 E 7....ORQUESTRA FILARMÔNICA DE VIENA....REGENTE CARLOS KLEIBER....HISTÓRICO!

Li que Carlos Kleiber realizou em 1975 a melhor gravação da quinta sinfonia já feita. Acho um cd com essa obra e de quebra a sétima, de 1977. ---------------- Foi Beethoven o maior artista da história? Seria ele maior que Michelangelo ou Shakespeare? Seria maior que Bach? O que sei, com certeza, é que ele foi o primeiro a fazer o que queria quando queria como queria. Não adulou bispos, duques, reis ou papas. Não dependeu de mesadas do estado ou de mecenas. E mais incrível: não ouviu o público. Sendo o primeiro gênio a entender ser possível sobreviver a custa do seu público, foi também o primeiro a esnobar os fãs. Eu disse gênio? Sim. Se Beethoven não é um gênio então ninguém o é. ------------------- Gênios criam seu mundo, seu meio e seu ofício. Beethoven, numa época de gigantes, 1790-1820, tempo de Napoleão, Goethe, Kant, Shelley, Schubert, citei seus anos mais produtivos, se destaca como o autor do espírito da época. Não, ele não foi um romântico, está provado que ele foi um clássico, mas o romantismo, os revolucionários de então o usaram como seu símbolo. Na verdade Beethoven é beethoviano, assim como Goethe é goethiano. ------------------- A SÉtIMA SINFONIA.... O primeiro movimento é júbilo. Beethoven era um homem forte e sofrido, poucos escreveram coisas tão alegres. Raro eu pensar na palavra JÚBILO. Mas é isso que abre esta obra. Logo vem o segundo movimento. Deus meu!!!!!! Aqui ele consegue o impossível: é dramático. E ao mesmo tempo é pleno de esperança. Talvez voce conheça o tema central, mas o modo como ele o desenvolve é soberbo. Beethoven nunca é simples, nunca é pequeno, não há humildade nele; mas isto, isto que ele faz aqui...é perfeito! O tema se desenrola como um romance de Stendhal, nunca cai no melodramático, nunca deixa de ser grave, sério, concentrado. Cria a sensação de que algo vai desabar, mas não desaba. Beethoven consegue manter o suspense. Então eis a coisa: volta o tema, como afirmação que logo evapora no sublime. Gênios da música são maiores que gênios da escrita? ----------- Presto!!!! Eis o terceiro movimento!!!!! Aventuroso. Italiano. Celebrante. Vivo. Glorioso. Sentimos o prazer dos músicos. Então vem o quarto movimento...GOD...é a coisa mais divina que ouvi....O CONCERTO PARA PIANO 20 DE MOZART não é mais minha peça favorita. Allegro com Brio! Operístico. Imagine um banquete. Imagine uma corrida de cavalos. Imagine um hotel onde vários amantes discutem e depois caem na cama. Imagine o alvorecer. Imagine sua vida como música. Imagine imagine imagine imagine...Estes oito minutos provam de forma categórica que os homens foram um dia maiores. Somente um gigante comporia tal coisa. Como tudo que Beethoven faz, a música quase se desfaz, ele divaga, brinca, se exibe, e volta, triunfal, ao tema que não se perde nunca. Rola, enrola, desenrola, sobe, desce, cavalga, divaga, se afirma, luta, e ri....ELE RI....RI....RIIIIIIIIIIIIIIIIII!!! Só um palavrão pode expressar isto: Puta que pariu! ------------- E a FILARMÔNICA DE VIENA toca sorrindo. Potente. Carlos Kleiber entende que o frustrado-afetivo Beethoven fazia música potente. Sua execução é brava. Bravíssimo!-------------- Ouça isto no volume máximo de seu aparelho. Ouça de pé. E ao final grite: BRAVO!!!!!!------------------------- Quanto a Quinta Sinfonia....Kleiber acelera o início, tcham tcham tcham tchaaaaammmmm......é uma quinta menos grave e mais aventurosa. É uma quinta perfeita. Que CD maravilhoso....

AQUELA SINFONIA QUE TODO MUNDO JÁ OUVIU ( OUVIU UM MINÚSCULO TRECHO )

Anos atrás encarei a longa NONA de Beethoven. Ela dura uma hora e dezessete minutos, mais ou menos, depende do maestro. Apenas Mahler iria a partir de 1900 fazer sinfonias mais longas. Pois bem, essa minha primeira experiência foi frustrante. Achei a música flácida e o coro final, o quinto movimento, nada empolgante. Claro que culpei minha ignorância musical e abandonei a ideia de reouvir a nona. Mas agora, após ler algumas obras sobre música e entrar nesta minha fase musical, achei um cd da nona por apenas cinco reais. Um dólar veja só. Uma edição especial de EMI. A sinfonia gravada ao vivo, em Bayreuth, 1955. O maestro é o mítico Wilhelm Furtwangler, a orquestra a do festival de Bayreuth. Li que este LP, em 1955, vendeu muito. Era usado pela classe média americana como modo de testar a qualidade de seu novo equipamento de som, a High Fidelity. Eram duas bolachas em edição de luxo. Escutei a obra ontem, por volta da duas da manhã. Ouço então os acordes do primeiro movimento. Os quatro acordes que nos surpreendem, pois a sinfonia se inicia em modo misterioso. E ela é toda assim. Em meio à melodia, acordes quase dissonantes. Seus ouvidos procuram o tema e o perdem. Beethoven exibe motivos em cima de motivos e os abandona com uma orquestração que se mantém no fio da navalha todo o tempo. É como se todos os quatro primeiros movimentos fossem uma pergunta sem fim. Então vem o quinto. Eu, como disse, decepcionado, esperava o tédio de uma obra conhecida demais. Mas assim que a voz de Otto Edelmann entra, o milagre ocorre. É potente! Muito potente! Serão 24 minutos da mais perfeita genialidade. E, pela primeira vez eu percebo o que nunca havia aceito: a voz humana como o mais perfeito dos instrumentos. O coro, do festival de Bayreuth, chega a me assustar. Ele não parece deste mundo. São dezenas de vozes em fogo. Nada há de doce aqui. Os versos de Schiller se tornam heroicos. Hans Hopf, o tenor, torna-se uma montanha, um sol, um ser dos céus. E é nesse momento que toda a sinfonia faz sentido. As indagações, as exitações propositais se tornam luminosas. No último minuto o coro atinge o climax absoluto. Nasce então o futuro. A Nona é um parto. Desabam os aplausos. É a melhor versão da gravadíssima Nona. Esplêndida. A palavra sublime cabe aqui. Foi um longo caminho, dos tambores das tribos pré históricas à orquestra de Bayreuth. A música, de certo modo, é nossa maior criação.

NONA SINFONIA, A OBRA PRIMA DE BEETHOVEN E O MUNDO NA ÉPOCA DE SUA CRIAÇÃO - HARVEY SACHS.

   Este admirável livro começa pela biografia de Beethoven. Por ser conhecida por todos, é a parte menos fascinante. Muito melhor é quando o autor, Harvey Sachs, discorre sobre o ano de 1824, tema central deste pequeno livro de apenas 220 páginas.
  Para o autor, o romantismo é uma reação para a decepção. O fim das guerras napoleônicas podem ter sido um alivio, mas trouxeram como consequência imediata, o começo de uma época de censura e de repressão. A alma artística, ansiando por liberdade, se refugia dentro de si mesma e cria o mundo romântico, mundo que dura até hoje.
  1824 é o ano da estreia da Nona Sinfonia de Beethoven, em Viena, maio. Sachs analisa os grandes artistas em atividade plena durante esse ano: Stendhal, Byron, Delacroix, Schubert, Pushkin, Heinrich Heine. Claro que havia muito mais, Shelley, Balzac, Goethe, Leopardi eram dessa época, mas os artistas destacados são aqueles que em espírito têm mais afinidade com a Nona Sinfonia. Sachs mostra como e porquê.
  Na terceira parte ele descreve em palavras, momento a momento da imensa sinfonia. Sachs sabe música, mas escreve para leigos, e assim, luta para descrever música em palavras e não em notas e harmonias. É fascinante e também insatisfatório.
  Depois ele nos mostra as opiniões de Berlioz, Wagner, Verdi, Schumann e Donizetti sobre a Nona. E então vem a coda, o final do livro. Eu o recomendo como leitura ótima para quem começa a ouvir música séria.
  Beethoven foi o primeiro artista, seja na música ou na literatura, a se ver como um homem que trabalha para o futuro. Nem Bach e nem Mozart escreviam para a posteridade. Bach dialogava com Deus, e pensava fazer música funcional, para a glória dos céus. Mozart sabia de seu valor, mas achava que sua arte seria descartada, esquecida. Nenhum deles sequer sonhava em ser lembrado vinte anos após sua morte, quanto mais dois séculos. Beethoven não. Ele ousou se considerar mais memorável que os reis de seu tempo. Foi o modelo e o inventor do que chamamos de gênio. ( Michelangelo sabia ser genial, mas o modo como ele se via era totalmente diferente do que hoje entendemos ser um gênio. O italiano estaria mais próximo do herói. Beethoven é o artista genial como hoje o entendemos ).
  Vivemos agora, em 2017, um repúdio ao grande homem. A classe midiática luta contra aquele que se destaca. Ela defende a massa, o movimento de grupo, o modesto participante de um todo, o anônimo. Tudo tolice! O mundo sem grandes homens e grandes mulheres e grandes gays é um mundo a mercê do medíocre.

3 MOMENTOS DA MÚSICA E DA MENTE.

   Esta postagem é feita apenas de suposições. Li algumas coisas sobre música, conheço a história da ciência e da filosofia, mas não sei tocar instrumento algum. Pior, não leio música...
   Me parece que podemos brincar e usar os 3 vídeos que postei abaixo para entender as mudanças de mentalidade que aconteceram no mundo ocidental nos últimos 250 anos. Meu professor de psicologia diz que o homem de 1800 nada tem a ver com o homem de 2017. Penso que ele usa esse pensamento para poder dizer que a religião é obsoleta. O que tenho certeza é que a mente racional muda, o costume muda, mas nossas necessidades vitais e nossos medos são os mesmos. Seja em 2020 seja em 200 AC.
  Começo por Haydn, mas antes devo dizer que o século luminoso começa com Bach. Ele escreveu para a igreja luterana, para Deus, e se via como um simples funcionário. Mas Bach cria a afinação que conhecemos, inventa a arte da fuga e a harmonia moderna. Ele vivia como um homem do século XVII, mas sua arte, pura invenção, pura fórmula, é do século XVIII. E Haydn é, com Mozart e Haendel, o gênio do século.
  Se eu tivesse que explicar a mente do século XVIII diria que é a inteligência racional à procura da beleza. E belo era aquilo que iluminava. Ou seja, é um tempo que ama a clareza. Podemos colocar aí o amor pelo espelho, o ouro, as fontes, os lagos, o sol e as cores claras. Mas devemos destacar acima de tudo a ARTE DA CONVERSA. Dizer com clareza aquilo que se pensa e expor com brilho o que se sente. É o tempo do nascimento do romance, é o tempo da luz. A música de Haydn é toda esse mundo. Ela é clara, leve, limpa, correta. Se desenvolve racionalmente, sem exagero na emoção, em busca da beleza. E a beleza se chama perfeição. A união da inspiração com a técnica.
  Em fins do século, com Goethe, Napoleão e Beethoven, se anuncia a mudança. A beleza será sublime e o sublime significa o exagero. A emoção deve ser exagerada, amplificada, esticada e ampliada. A música se torna grande, oceânica, vasta. É tempo que ama a sombra, o inverno, a lua, o oceano e o veludo negro. A beleza se confunde com a expressão do coração. O compositor escreve para si mesmo. Seu desejo é mostrar sua alma ao mundo.
  Coloco Schonberg como o homem do século XX. A beleza ainda existe, mas ela vem dentro da angústia. O belo agoniza no âmago da alma e a alma está dilacerada. A busca não é mais pelo belo, é pela verdade. A Verdade se torna o fetiche. O artista busca expressar a verdade total. E por não poder compreender a vida, expressa a incompreensão. A música se torna a busca de uma verdade final. Tudo é tentado porque essa verdade pode estar inclusive no ruído, ou no silêncio absoluto. É um tempo que pensa ser corajoso, verdadeiro, profundo. Mas talvez seja apenas assustado. Desamparado.