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JEaN miChEL BAsquIAt- julian schnabel

O começo. Uma onda do Hawaii atrás dos prédios de NY. É 1980. O último momento em que o mundo brilhou sem vergonha, sem noção, sem medo do ridículo. É o som, soberbo, do PIL tocando Public Image. Um tempo em que o globo ainda poderia perigar e em que os ratos de Wall Street tinham algum medo. O filme começa e é uma bio para ensinar aquilo que toda bio deveria saber : queremos a tentativa de se mostrar o artista criando. Não quero ver quem ele comeu ou o que ele fez, quero a agonia de sua criação, a alegria de seu parto, o nascimento diário de sua vida. Este filme é triste pacas, porque aquele foi um tempo de profunda tristeza. A gente sabia, intuia, que era a última chance, que a revolução anterior fora alegre e ingênua e que esta, 1981, era desesperada e cínica. Tão cínica que seu cinismo sujou o mundo e o deixou cínico para sempre. Mas ..... hoje... Eu quero esquecer...
Esquecer os anos 81/88 e esquecer que um dia eu pintei camisetas, eu e DiPierre. Que eu peguei uma camiseta com a foto de Keith e escrevi em vermelho sangue "hell"... queria esquecer que eu e Frank Chico andávamos de sobretudo, bêbados, e vomitávamos enquanto cantávamos poemas sem rima que não tinham o menor valor. Quero esquecer os péssimos vídeos de arte que fiz, onde Eliana L era amarrada em arame e uma tv era destruída com tinta branca. Quero nunca mais ouvir Tom Waits e John Cale e esquecer que eu vivi num tempo em que Miles Davis e Andy Warhol estavam vivos.
Mas eu lembro do dia em que Miles morreu. Eu estava na garagem da casa em que morava, onde todas as paredes tinham palmeiras e peixes rabiscados e onde tudo cheirava a tinta. Naquela noite, Miles morto, escreví para ele algo sobre tigres e deuses. Eu queria que ele nunca morresse. Como quando Andy se foi e eu queria que ele fosse/é o último a rir : ele adivinhou e criou nosso mundo. Andy sabia que se você ficar algum tempo em exposição numa tela, mesmo que fazendo nada, as pessoas tenderão a te considerar uma estrela. Andy sabia de tudo.
Jeffrey Wright está sublime. Benicio está lá, e tem Bowie como Andy e onde Bowie está Andy sempre estará. Schnabel foi amigo de Basquiat. Será ele um diretor central de hoje ? Julian é.
Mas quero esquecer a voz de John Cale cantando Hallelujah. Esquecer o suicídio lento e sujo de uma geração brilhante. Esquecer a música pop de NY que era irmã incestuosa do mundo das artes plásticas onde bandas e pintores e fotógrafos e cineastas e escultores viviam no mesmo barco e comiam-se uns aos outros. Não vou e não posso lembrar de Julio que se caiu de um andar e se espatifou. Dele na tv, a gente amava tanto a tv e as câmeras de vídeo, tv era chic e vídeo era arte, dele na tv insultando os ratos e falando de Cocteau e Rimbaud. Não.
Este filme é um coquetel deprimente de sujeira e de pintura colorida e de sexo sem companheirismo e de vida ansiosa. A gente errou em tudo, mas pelo menos tentamos acertar. Pior é não tentar e mesmo assim errar.
Tinha de ter aids.
81/88 de porões transformados em galerias e de galerias que eram puteiros. O filme é uma porcaria pretensiosa. O filme é 81/88. Em 1988 voltou essa merda hippie e voltou Seattle e voltou Manchester e essa saudade de 67... shit !!!!!! 81/88 era a saudade do futuro, de Pollock, de Van Gogh, de Dadá, de Duchamp. 81/88 é futuro.
Este filme é uma bosta.
Este escrito é uma merda.
E Basquiat vê imagens de Andy numa tv velha e derrama uma lágrima. E eu vejo Wright que é Basquiat ver Bowie que é Andy e derramo um suspiro. Os filmes de Schnabel são tristes demais.
Consigo esquecer essa época. O mundo tenta esquecer essa época. Você nasceu nessa época. Este apodrecido e limpo universo nasceu nessa época. Uma brilhante geração de olhos arregalados e nariz com sangue. Que ao vestir uma camiseta precisava colocar algo de diferente para realçar. Geração pavão. Cometas de rabos brancos cheios de brilho efêmero. Abismos de glamour amoroso.
Este escrito é para aqueles que tentaram e erraram. Todos vocês, Oh you pretty things...