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OS DRÁCULA DA HAMMER - ARTHUR PENN - WARREN BEATTY

   BOX DE FILMES DA HAMMER
Quem tem entre 40-60 anos sabe bem o que é a Hammer. Uma produtora média de filmes ingleses, liderada por Michael Carreras, que entre 1956-1980 produziu filmes de terror às toneladas. Na TV dos anos 70, principalmente na Tupi, eles passavam quase toda noite, sempre com cortes. Não gosto muito desses filmes, nunca gostei. Mesmo assim assisto este box com 9 filmes feitos entre 1958-1974. Percebo logo porque eles não me agradam: a fotografia. A Hammer fazia terror sem sombras, a luz muito forte, cores claras, tudo nítido demais. Sem clima portanto, o oposto do horror da Universal americana. Os diretores neste box são Terence Fisher, bom artesão, Peter Sasdy, completamente doido e Roy Ward Baker, um preguiçoso. Ah! Tem ainda o péssimo Alan Gibson. Christopher Lee é o vampiro em quase todos eles, e sua atuação física é tão correta que Dracula passou a ter, em nossa imaginação, a cara de Lee. Peter Cushing, um grande ator, é Van Helsing em 4 filmes. Essa a dupla clássica. Dracula no Mundo da Minissaia é o mais interessante, não o melhor. Vemos aí a Londres de 1972, o satanismo dos jovens de então, e as bobeiras da moda "rebelde" da época. O filme é doentio. Críticos respeitam muito os filmes feitos por Fisher, que são os mais antigos. Os roteiros são bons, mas usam a droga de luz forte. Não espere medo. Nem clima. Muito menos erotismo.
  MICKEY ONE de Arthur Penn com Warren Beatty.
Feito em 1965, foi um fiasco na carreira de Warren e de Penn. Eles se recuperariam depois com Bonnie e Clyde. Vi este filme em 1978, na TV Cultura, na sessão da 10 da noite. Era muito legal essa sessão! O filme passava nas noites de segunda, quarta e quinta, e na sexta, quatro críticos ficavam uma hora debatendo o filme, e depois ele passava mais uma vez. Eu amava essa mesa redonda! Tinha o Rubem Biáfora, Rubens Ewald Filho...e uns caras do JT que esqueci o nome...pena...O filme, num preto e branco fantástico, e edição de video-clip, conta a paranoia de Mickey, um stand up man que foge da máfia. Stan Getz toca na trilha e é um dos filmes mais jazz que assisti na vida. Tem jeito de filme francês, é datado, mas ainda é jovem. Gostei.
  ARLO'S RESTAURANT de Arthur Penn
Feito após Bonnie e Clyde, em 1969, este é o mais hippie dos filmes. Arlo é o filho de Woody Guthrie, o ídolo dos anos 40 de Bob Dylan. No filme, Arlo é ele mesmo. Visita o pai no hospital, vive amores livres e faz parte de uma comuna jovem. Tudo é muito estranho!!!! Eles são, vistos hoje, antigos como dinossauros, mas ao mesmo tempo uma quantidade imensa de teens de 2018 ainda os imita sem saber disso. Vemos roupas, modos de andar e de pensar que remetem imediatamente aos dias de hoje. Os hippies são crianças de 12 anos. Hoje, com falsidade e nostalgia, tentam resgatar esse momento. O filme foi um fiasco em seu tempo. Odiado. Visto agora parece um filme para crianças. Fofo.
 

FORD/ BOND/ HAWKS/ FRITZ LANG/ PAUL NEWMAN/ WOLVERINE

RASTROS DE ÓDIO de John Ford com John Wayne, Jeffrey Hunter, Vera Miles e Ward Bond
Após assistir e me apaixonar por tantos filmes ( filmes esses que vão desde Buster Keaton e Carl Dreyer até Clint Eastwood e Joe Wright ) se torna impossível imaginar qual meu filme favorito. A última vez que arrisquei essa opinião votei em O Atalante de Jean Vigo, para logo em seguida me arrepender ao lembrar de mais 100 filmes que poderiam ocupar esse lugar. Dito isso, afirmo que Rastros de Ódio, se não é meu filme favorito, é aquele que mais me emociona, mais me ensina e mais importancia tem no desenvolvimento de meu gosto estético. Se voce quer ler sobre ele, há uma critica por aí.... Nota INFINITAMENTE ALTA.
O SATÂNICO DR NO de Terence Young com Sean Connery e Ursula Andress
O primeiro filme de Bond já possui algumas das marcas que o acompanhariam até Daniel Craig. Matar sem pensar e transar com todas as mulheres possíveis sendo as principais. Atualmente a violencia é maior e o sexo é ínfimo. Mas este 007 ainda é feito num estilo que tenta ser Hitchcock. A ênfase é para o suspense e não para a ação pura. Sean Connery nasceu para ser James Bond. Ele é seco e elegante. Como um dry martini. Longe de ser o melhor da série, tem belas imagens de uma Jamaica que não mais existe. Ursula surge aqui como o molde de todas as futuras Bond-girls. Nota 6.
RIO VERMELHO de Howard Hawks com John Wayne e Montgomery Clift
Faroeste lendário de Hawks, que é bom, mas não me toca tanto quanto outros filmes desse diretor imenso. O que se percebe é a esquizo do elenco: John Wayne com seu estilo "antigo" de interpretar e Clift criando o estilo Actors Studio, que é predominante até hoje ( o filme é de 1948 ). Sabe-se que Wayne transformou a vida de Clift num inferno durante as filmagens. Ele não perdia uma chance de zombar de seu jeito efeminado. O que vemos é o estilo antigo de Wayne, estilo em que o ator interpreta o personagem como um ideal, uma visão simbólica do personagem; e o novo estilo de Clift ( que é o precursor de Brando e Dean ) onde o ator procura ser "real", onde se espirra no meio de uma fala, se coça o nariz antes de se montar no cavalo ou se tropeça ao caminhar. Todos até hoje devem a popularização desse estilo a Monty Clift. O filme é o embate entre esses dois mundos e sobre a rivalidade entre cowboy veterano e garoto novato. Hawks conduz com sua leveza habitual. Há quem o considere ( Tarantino e Inácio Araújo entre eles ) um dos três melhores filmes já feitos. Eu não. Nota 7.
O ÚLTIMO PISTOLEIRO de Don Siegel com John Wayne e Lauren Bacall
Em 1976 John Wayne, já tendo apenas um pulmão, lutava contra seu câncer. Este acabou sendo seu último filme, e há quem o considere a mais bela despedida do cinema já vivida por qualquer ator. Quem dirige é o homem que criou Dirty Harry e no elenco vemos Ron Howard, o futuro diretor de Appolo 13, Cocoon e Ed Tv. O roteiro fala de um velho cowboy que se hospeda em hotel para morrer em paz ( tem câncer ). Seu médico é feito por James Stewart. Mas seu passado de vingador não o larga e ele terá de lutar mais uma vez. O filme corria um risco imenso de ser piegas, apelativo, desagradável. Não é fácil, mas acaba superando seus imensos obstáculos. John Wayne não nos dá pena, dá saudade. Nota 6.
SCARFACE de Howard Hawks com Paul Muni e George Raft
O filme original, de 1932. E que filme!!!!! A violência é absurda para a época. Tanta gente é metralhada e o som dos tiros é tão alto que o efeito é de histerismo total. Muni faz o persoangem como uma espécie de simio deslumbrado pela violência ( ele ama o que faz ) e que guarda um amor incestuoso pela irmã. E o que vemos é a escalada desse gangster ao topo, matando, rindo, traindo, ousando. Sua queda é rápida e sem drama nenhum. Hawks dirige em seu modo simples, rápido, sem frescura. Dá uma aula de estilo. Este filme criou Scorsese, Coppola, Tarantino, De Palma, Melville e Walsh. É pouco ? Nota DEZ.
FORTY GUNS de Samuel Fuller
Os criticos de tendencia francesa adoram Fuller. Chegam a chamá-lo de gênio. Eu me irrito muito com ele. Veja este filme: é um western. Mas há uma cena em que seis cowboys tomam banho em tinas e cantam. E não é para ser uma comédia!!!! Em outra cena um cara aponta a arma para outro, e a câmera mostra o outro focando por dentro do cano da pistola!!! Todo o filme é assim, Fuller sempre mostrando o quanto é genial. Me irrita.... Nota 1.
O RETORNO DE FRANK JAMES de Fritz Lang com Henry Fonda
Excelente. O melhor diretor da Alemanha, após fugir do nazismo, triunfa maravilhosamente em Hollywood. Lang tem carreira longa e exemplar. Poucos de seus muitos filmes são menos que ótimos. Aqui vemos o irmão de Jesse James, que tenta ter vida pacata, partindo para matar os assassinos de seu irmão ( eles foram absolvidos pela justiça ). Henry Fonda foi talvez o melhor ator americano. Agora que a América começa a terminar, sentimos a forma como ele encarna o grande americano. Seu olhar e sua voz são tudo aquilo que todo cidadão queria ter sido e ter possuido. A imagem ideal do americano como herói pacifico. Só ele conseguiu fazer isso. O filme é, como são os melhores filmes de Lang na América, sem erros. Se lhe falta o brilho de seus primeiros filmes de denuncia social ( também feitos com Fonda e absolutamente geniais ), ele tem o bastante para despertar um desejo de quero mais. Nota 8.
UM DE NÓS MORRERÁ de Arthur Penn com Paul Newman
Paul Newman entre 1958/1975 dominou completamente o cinema americano. Não teve pra ninguém. Seus concorrentes eram Warren Beatty, Steve McQueen e Robert Redford, mas ele batia todos com facilidade. Depois, a partir de 1970, também bateu em Dustin Hoffman, Jack Nicholson e Gene Hackman. Neste western, do futuro diretor de Bonnie e Clyde, ele tem uma atuação estupenda. Faz o jovem Billy The Kid como um adolescente burro, hiper-ativo, meio desastrado e cheio de tiques. Vemos um bandidinho real em nossa frente, reles, pé de chinelo. Precisaríamos esperar 15 anos para ver outro bandido vagabundo tão bem interpretado ( por De Niro em Mean Streets ). Acompanhamos com emoção a vida tola e vazia desse moleque perdido. O filme, de 1958, foi um fracasso na época. Estava anos adiante de seu tempo. Billy é visto como Clyde em Bonnie e Clyde, um bronco charmoso sem noção do que faz. Nota 8.
WOLVERINE de Gavin Hood com Hugh Jackman
Na falta de atores machos hoje ( Clint Eastwood aos 35 anos seria um Wolverine perfeito ), Jackman se vira como pode. Mas seu Wolverine é pouco duro e nada sujo. Ás vezes se parece com um garoto brincando de ser Charles Bronson ( e Lee Marvin ou James Coburn também nasceram para ser Wolverine ). O filme, que começa bacaninha, depois cai bastante e chega a enjoar. Mas é melhor que o X Men 3, porque ele não tem aquela pretensão anti-racista do X Men. Nunca tenta ser o que não é. Nota 5.
BABYLON AD de Mathieu Kassovitz com Vin Diesel, Gerard Depardieu e Charlotte Rampling
Diesel em papel sob medida para Jason Statham. Não funciona. O filme, que ainda tem Michelle Yeou, é daqueles que mostra o futuro "russificado". Gangues dominam tudo. Kassovitz é o tipo de francês que pensa que ser moderno é ser chocante ( uma das primeiras cenas mostra o herói cortando e comendo um gato frito ) e que fazer arte é ser o mais complicado possível ( que é uma visão jeca. Aquela crença em que tudo que é arte é dificil ). O filme é uma mixórdia que mistura ação com filosofices, misticismos e que tais. Não tem nenhum sentido. Nota 3. ( pelo visual ).
OS REIS DE DOGTOWN de Catherine Hardwicke com Emile Hirsch, Heath Ledger, James Robinson, Nikki Reed, Johnny Knoxville e Victor Rasuk
Maravilhoso. De total simplicidade, retrata a adolescencia como ela é. Um filme para se guardar ao lado de Quase Famosos como retratos perfeitos de uma época de imperfeição. Lindo, lindo, lindo...assista e creia. Voce vai se apaixonar. Nota DEZ, com suavidade....

O MILAGRE DE ANNIE SULLIVAN/ OPERAÇÃO FRANÇA/ EDUCAÇÃO/ O CORCEL NEGRO

O MILAGRE DE ANNIE SULLIVAN de Arthur Penn com Anne Bancroft e Patty Duke
Eu resistí muito a assistir este filme. Sabia sobre a peça na qual foi baseado. A história real de Helen Keller, menina surda-muda e cega, que com a ajuda de Annie Sullivan se torna não só "um ser-humano" como uma intelectual. Eu imaginava uma chatice melosa e edificante. Nunca é.
Já nos letreiros de abertura vemos que o clima é outro : seco. Mas não é só isso. O filme, com brilhante fotografia de Ernest Caparras e trilha perfeita de Laurence Rosenthal, é dirigido com soberba garra pelo então jovem Arthur Penn, que faria cinco anos depois BONNIE E CLYDE.
Helen nasce em rica família do sul, século XIX. É mimada por pai e mãe e é esse o maior empecilho que Annie deverá vencer, disciplinar a criança. A própria Annie é uma ex-cega, interna de orfanato, extremamente sofrida. O encontro de Annie e Helen, uma desafiando a outra, brigando e vencendo, é das coisas mais poderosas já vistas em palco ou tela.
Veja a cena em que Annie ensina Helen a usar o garfo. São oito minutos, em edição de gênio, em que Bancroft e Duke se engalfinham em feroz luta física. As atrizes chegam ao limite. Nós chegamos ao limite de nossa empolgação. O filme, ele próprio um milagre, jamais chantageia, jamais lacrimeja, chega até a fazer rir, é obra de inspiração.
Perfeição : Cenas da memória de Sullivan, pesadelos granulados, desfocados, de arte suprema. O confronto com o pai de Helen, embate entre duas atuações perfeitas, e acima de tudo o trabalho de Bancroft e de Duke. Se alguém disser se tratar de as duas maiores atuações da história do cinema não estará longe da verdade.
Anne Bancroft levou o Oscar por este filme. Bateu Kate Hepburn, Bette Davis e Geraldine Page nesse ano muito forte. No futuro seria a miss Robinson de A PRIMEIRA NOITE DE UM HOMEM. Atriz de teatro ( considerada na Broadway a top ) casada com Mel Brooks ( que belo casal !!!! ) nunca quiz ser a star que poderia ter sido. Seu desempenho é coisa de pura genialidade. Uma mulher fortíssima e cheia de dor, de uma teimosia de rocha e na maravilhosa cena final ( um "I LOVE " jamais foi dito com tal emoção ! ) digna de uma feiticeira. Voce jamais deixará de amar Anne Bancroft após esta atuação.
Patty Duke também ganhou seu Oscar nesse filme. O que pode ser dito é que ela enfrenta Bancroft e não é vencida. Papel difícil ( sem voz e sem olhar ) nos comovemos mas não sentimos pena. E isso é nobre : nunca sentimos pena de Keller. Torcemos, mas não sentimos pena. Patty tornou-se a queridinha da América com esse papel. Mas na sequencia veio a era Hippie e Patty se perdeu na loucura da época. O que está aqui gravado para a eternidade prova sua gigantesca magnitude. O encontro das duas, a briga sem trégua, faz com que a tela exploda.
O tema do filme é vital. Professores e psicólogos ( e pais ) se identificarão de forma visceral. Trata de educação. Mas vai fundo. Toca no que significa ser um humano. E mostra que ser humano é nomear as coisas. A batalha : como fazer alguém que nunca enxergou ou escutou entender uma palavra ? Despertar o cérebro, como ? Sullivan primeiro a domestica, treina suas respostas à sinais. Keller aprende, como um cão, que tal sinal significa um bolo e tal sinal significa mãe. Mas isso é treino, reação automática. Na mente de Keller ainda não há o conceito abstrato, a descoberta de que TUDO tem seu nome. Essa iluminação se dá no final do filme, numa das cenas mais lindas e críveis do cinema. Helen Keller entende que nomear não é reagir a um sinal, que tudo é um nome PARA ELA, que as coisas existem e que ela existe !
Não descreverei essa cena. É de uma simplicidade e de uma beleza exemplar. Marca sua vida e sua consciência do que seja viver. Engrandece a arte do cinema.
Este filme, titanico, incrivelmente baseado em fato real, é milagre de precisão, de honestidade e de humanismo.
Porque não se fazem mais filmes como este ? A resposta é simples : porque não existe mais gente como Penn, Bancroft e Duke.
Ah sim, o filme perdeu os prêmios de filme e direção para LAWRENCE DA ARÁBIA. Preciso rever o filme de David Lean. Nota.... como dar um número a tal jóia de humanidade pura ? I LOVE HELEN.

A MARSELHESA de Jean Renoir
De todos os grandes nomes amados por cinéfilos ( Dreyer, Ozu, Bresson, Murnau ) nenhum é mais decepcionante que Renoir. Ele tem bons filmes, mas está longe da profundidade de Dreyer ou da beleza de Murnau. Nota 2.

O CORCEL NEGRO de Carroll Ballard com Mickey Rooney, Kelly Reno e Teri Garr
Plásticamente é uma obra-prima. Beleza e ritmo, poesia simples e nada pretensiosa. Um imenso prazer assistir este filme muito infantil e muito vital. O comentei abaixo. Leia. Nota Dez.

EDUCAÇÃO de Lone Scherig com Carey Mulligan, Peter Sarsgard e Alfred Molina
A elegancia abunda. 1960 é época de suprema beleza. Roupas e modos nos trazem testemunho do que perdemos com o vale tudo de maio de 68. Colocar um cara de bermudas e tênis ou uma menina de havaianas e short naquelas cenas seria o equivalente a tocar pagode na capela Sistina.
O filme mostra menina boa aluna se apaixonar por espertalhão mais velho. Há um problema de roteiro. Tudo o que acontece é óbvio demais. E, sinal dos nossos tempos, não podemos ver sequer um beijo entre os dois ! Sexo hoje só em filmes "chocantes".
A atuação de Carey é ok e de Peter é menos que isso. Molina dá um show como o pai. A cena em que ele tenta consolar a filha é gigantesca. Único momento em que o filme toca o sublime. No mais é um bonito passatempo que até termina bem com sua defesa ( conservadora mas verdadeira ) da educação.
Tem gente que pergunta o porque de naquela época a França ter uma força cultural tão grande e hoje ser tão pequena. Simples resposta : a educação era melhor. Não era técnica, era humanista. Não se formava um bom profissional, se formava um homem culto. Um país que sempre amou a arte, a narrativa e a discussão era centro de atração.
O filme é nota 6.

ESTA MULHER É PROIBIDA de Sidney Pollack com Natalie Wood, Robert Redford e Mary Badham
Texto menor de Tennessee Willians. Natalie é bonita, mas está péssima no filme. Ela faz uma vulgar sedutora de homens ( transa com toda a cidade ) aliciada pela mãe cafetina. Redford, correto como sempre, faz o "despedidor de funcionários " que se encanta por ela. Como o texto é de Willians esperamos o trágico. Pollack o suaviza. O filme é todo errado. Tenta escapar da tragédia, fica num edulcorado novelão. De bom a fotografia do gênio James Wong Howe e a atuação da estranha Mary Badham como a irmã mais nova que se aliena. Nota 6.

OPERAÇÃO FRANÇA de William Friedkin com Gene Hackman, Roy Scheider e Fernando Rey
Eis o grande ganhador do Oscar de 1971. Friedkin, antes de Coppolla e Scorsese foi o cara da turma jovem que venceu. E também foi o primeiro a pirar. Este filme policial é soberbo. Em cada fotograma percebemos a vaidade e arrogância jovem de seu diretor. Tudo é cheio de toques ousados, de invenções, de violência e de confiança.
A história trata de dois policiais em busca de drogas. Gene Hackman que ganhou seu primeiro Oscar aqui, faz Popeye Doyle de forma suja, feia, maníaca. É um herói muito desagradável. Funciona. Se tornou um personagem mítico. O filme, com trilha sonora dura e estridente, tem sangue, perseguições pela cidade imunda, cãmera na mão e inquieta, cenas que parecem de documentário. Inaugura o moderno cinema policial americano. Bebe em Jean-Pierre Melville.
Há uma longa perseguição pelo metrô que é ápice de técnica. Ironia do filme : ele inaugura também o domínio da técnica pura sobre a inspiração. O filme é frio. Mecanismo que funciona excelentemente, mas é um mecanismo. Não pensa.
Mas é forte, viril, e tem o frescor de ser o primeiro, o descobridor. Vemos nele o futuro do cinema. Futuro que é o nosso agora. New York nunca foi tão feia. Nota DEZ.

FINZI-CONTINI/ TATI/ SALLY FIELD/ JORDAN/ WOODSTOCK/ EASTWOOD

NORMA RAE de Martin Ritt com Sally Fields
Sally ganhou seu primeiro Oscar com este filme sobre sindicalismo americano. Ela faz uma caipira, meia saidinha, que vai se conscientizando politicamente, ao conhecer um radical sindicalista "de esquerda". Além da muito carismática atuação de Sally, há um belo roteiro de Ratchett, que não romantiza nada ( não há romance entre os dois ) e nem cria nada de violento ou policial na história. O que vemos é uma tecelagem desumana, e a rotina deplorável de seus empregados. Ritt sempre gostou de fazer filmes com mensagem e este é de seus melhores. Não há panfletagem crua, o que há é bom cinema. Nota 7.
O PEQUENO GRANDE HOMEM de Arthur Penn com Dustin Hoffamn e Faye Dunaway
Dustin, no auge da fama, fez esta sátira ao western. Ele é um velho de 120 anos de idade, que em 1970, recorda sua vida a um jornalista. Este é um "Dança com Lobos" da era hippie. O herói é criado com os índios e se perde entre duas culturas : a branca é vista como hiper violenta e materialista; mas os índios também são bastante tolos. Há uma cena em que o velho chefe se deita para morrer que é hilária ! O filme começa meio sem sal, mas após 30 minutos ele se torna uma divertida comédia ( com algumas cenas cruéis ). Dustin era grande amigo de Penn, recusou convite de Bergman para fazer este filme.... Nota 6.
CAFÉ DA MANHÃ EM PLUTÃO de Neil Jordan com Cillian Murphy, Stephen Rea e Bryan Ferry !!!!!!!!!!
Desconcertante ! Acompanhamos a vida de um adotado menino, menino que se torna menina, que de Patrick se faz Kitten. Tudo para ele/ela é fantasia : ele tenta fazer do mundo uma festa. O acompanhamos na escola, já assumido e depois em sua adolescência/ juventude. Ele se envolve com cantor glitter ( feito por Gavin Friday. O filme vale por sua redescoberta. Procure no youtube clips de sua banda dos 80 : Virgin Prunes. São do cacete ! Glitter/ Punk genial. ) Continuando : vem uma tentativa de assassinato por um velho tarado ( Ferry, breve cena e muito bem ) e envolvimento com a guerra na Irlanda. Com tamanho assunto, o filme é bom ? Não. Irrita a voz do ruim Cillian. Não nos interessamos pelo personagem, não nos convence, e como o filme é com e sobre ele... A trilha sonora é um primor ! Nota 3.
ACONTECEU EM WOODSTOCK de Ang Lee
Fuja !!!!! Fuja correndo ! Um imenso fiasco ! Um anti-Woodstock, um caretésimo filme sobre um jovem tentando sair do armário. Quem se importa ? Com um dos momentos chave do século XX acontecendo ao lado, quem se interessa pela história daquele mala ? O filme chega a ser ofensivo de tão errado. Nota 1.
BLOOD WORK de Clint Eastwood com Clint Eastwood e Jeff Daniels
A história do ex-policial que volta a ativa para tentar descobrir quem matou sua doadora de coração transplantado. Clint sempre fez dois tipos de filme : ambiciosos filmes para novos fãs, e entretenimentos descompromissados para velhos fãs. Sou velho fã, adoro seus filmes mais pop, mais simples. Que belo policial é este !!!! Meio triste, lento, bastante envolvente, delicioso. Clint Eastwood é nosso Hawks e nosso Ford. Viva !!!! Nota 8
TRAFIC de Jacques Tati
Último filme de um muito grande diretor. Tati era cinema puro. Não há closes em seus filmes. Todas as cenas são vistas de longe, ângulo aberto ( em todos seus filmes ). Mal vemos os rostos dos atores, pois o que interessa a Tati são os corpos, as paisagens e principalmente as coisas em movimento. Seus filmes são fenômenos do olhar, suas tomadas lembram fotos de Doisneau ou Bresson. Vemos que cada movimento de cada figurante é milimetricamente ensaiado. Não há um só passo de um só figurante que seja casual. Todo movimento é parte de um mecanismo, e sempre existem vários movimentos coordenados acontecendo. Este filme, inferior ao perfeito "As férias de Mr. Hulot ", é fascinante em suas imagens e tem duas cenas de humor irresistível : a do guarda-chuva e a genial dos limpadores de para-brisa. O filme é crítico em relação ao amor dos homens por seus carros, mas nada tem de amargo. Tati adora as coisas. O que mais me agrada nele é sua falta de respeito pelas palavras. Seus filmes são dialogados, mas o que é dito não tem nenhuma importância. Gestos e atos, eis a vida para ele. Na parte final do filme, passada na Holanda, repare num dos mais belos cenários que já ví. Preservar um lugar como aquele é imperativo ! Já disse Roger Ebbert, assistir Tati não é como ver um "filme"; é como visitar um lugar muito querido. Trafic é lugar de férias agradáveis. Nota 8.
O JARDIM DOS FINZI-CONTINI de Vittorio de Sica com Lino Capolichio, Dominique Sanda, Fabio Testi e Helmut Berger
A profanação do que é nobre... Foi com a primeira guerra mundial que toda a nobreza viveu seu golpe final. E com a segunda ruiu toda a ilusão que o homem ainda podia ter sobre bondade ou dignidade. Este filme mostra acima de tudo a profanação da beleza. A destruição da nobre linhagem dos judeus de Ferrara. ( Uma das idéias mais tolas sobre a guerra é a de que os italianos eram um tipo de fascista-cômico. Há quem pense que judeus italianos não foram executados. Tanto foram que toda uma comunidade de judeus foi exterminada. ) O filme, auto-biográfico, centra-se na família Finzi-Contini, uma família tão rica que se dá ao luxo de jamais sair de casa. Eles nunca se misturam. Seu palácio e seus jardins recebem amigos e dentre eles Giorgio, que se enamorará por Micol, amiga de infância. Ela o repele, mas além dessa dolorida história de amor frustrado, há a história de um cerco que se fecha sobre todos, e mais cenas proustianas sobre tempo e memória e a tolice de judeus otimistas, pensando serem italianos e portanto salvos. Mas a beleza ( o filme é esteticamente primoroso ) do filme está nessa terrível sensação de "extinção" que nos assalta. Vemos o final de algo que nossa geração jamais conheceu : nobreza. Pois o fascismo ( de direita ou esquerda, tanto faz ) traz ao mundo algo novo : a cultura do feio, do estridente, do mínimo denominador comum, do vulgar, do grito e da delação. Nosso mundo afinal... E beleza fria, radiantemente fria nasce em cena após cena, seja pelo belo roteiro baseado em Giorgio Bassani, seja na foto de Ennio Guarnieri ou na bela trilha de Manuel de Sica. Vittorio foi um gentleman. Seus filmes têm o toque leve, porém contundente, de um verdadeiro poeta. Este filme, monumento discreto e simples às coisas belas, é um poema a tudo que termina, coisas que são abandonadas, à profanação. O jardim é pisado por não-convidados, o estrago é para sempre....
Eu tinha 14 anos quando assisti a este filme numa Sessão de Gala de um sábado muito frio. Foi um de meus primeiros contatos com aquilo que o cinema poderia ser. Lembro que chorei. Tanto tempo depois, hoje, tantos filmes mais tarde, o reencontro. Mal recordava sua história, mas percebo, como madalenas proustianas, que certas imagens não foram esquecidas : o sol entre as árvores do jardim, o rosto de Micol e principalmente uma frase, a única, da qual nunca me esquecí : "Eu nunca mais verei este jardim..." Síntese de tragédia sem remédio e símbolo de toda beleza, beleza que é sempre um fim e nunca um começo.
Naquele tempo, Finzi-Contini, assim como HOUVE UMA VEZ UM VERÃO, O MENSAGEIRO, A NOITE AMERICANA e OITO E MEIO, foram os filmes que me fizeram perceber que havia alguma coisa maior na vida, mais brilhante, sem tempo e sem mácula. Um jardim.
Ele continua vivo.