Mostrando postagens com marcador anthony asquith. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador anthony asquith. Mostrar todas as postagens

JEAN BECKER/ASQUITH/BERGMAN/BOGART/SOLARIS

CONVERSAS COM MEU JARDINEIRO de Jean Becker com Daniel Auteill
Becker, filho do grande Jacques Becker, é um dos bons diretores franceses atuais ( apesar de já veterano ). Aqui ele mostra uma linda história sobre amizade. Um pintor bem sucedido, pensa em reformar sua horta. Chama um jardineiro, que é, para sua surpresa, um antigo colega de escola. Amor, família, vida. Tudo é falado e vivido pelos dois. O filme jamais se torna chato. Ele flui, leve, colorido, saudável, bonito. Muito bom. nota 7.
O AMOR EM CINCO TEMPOS de François Ozon com Valeria Bruni-Tedeschi
Cansei de Ozon. Seu cinema frio, analítico, me entedia. Um saco este chatíssimo drama. Que me interessa a vida de dois malas que nada têm a dizer ? nota zero.
NUNCA TE AMEI de Anthony Asquith com Michael Redgrave e Jean Kent
Foram 400 anos de teatro inglês para se atingir a excelência da atuação de Mr. Redgrave. Ele é um anti-"sociedade dos poetas mortos". Um professor chato, duro, amorfo. A cena em que sua fortaleza desmorona é de uma comovente verdade. Redgrave se reclina, lendo uma dedicatória, e chora de costas para a câmera. O choro não é teatral, é contido, doído, magistral. Um filme absolutamente perfeito, levado com nobresa pelo elegante Sir. Asquith. E com um ator que é um Mozart do palco e da tela. Inesquecível e obrigatório. nota Dez!!!!!
O TÚMULO VAZIO de Robert Wise com Boris Karloff e Bela Lugosi
Muito bom esse Wise. Em mais de trinta anos de carreira dirigiu musicais como West Side Story ou A Noviça Rebelde; e mais faroestes, policiais e um clássico como O Dia em que a Terra Parou. Este é seu segundo filme, um terror da RKO. Karloff está muito bem, compondo um fascinante vilão. nota 5.
HORAS DE TORMENTA de William Wyler com Humphrey Bogart e Frederic March
Na velha Hollywood, quatro diretores eram todo-poderosos : George Stevens, Frank Capra, John Ford e principalmente William Wyler. Um diretor considerado até hoje o mais " capaz" da história. O que significa esse "capaz" ? Que Wyler nunca errava. Jamais alguém poderia chamá-lo de gênio, ou de ousado; mas ele era a certeza de fluidez, competencia e muita inteligência. Ele sabia fazer, sabia dirigir atores, sabia narrar. Conquistou três prêmios de direção e mais seis indicações não premiadas. Dirigiu de tudo : musical, western, filme noir, romance de fadas, filme de arte, de tribunal, comédia maluca, filme de guerra. De Ben-Hur à Princesa e o Plebeu. Sempre acertando. Este é de seus últimos filmes. Bogart é um muito desagradável bandido. Invade uma casa e mantém a família como refém. O filme é um duelo entre Bogey e o chefe da casa-March. Um filme tenso, rico em desdobramentos e que flui com rapidez. Um tipo de filme de Scorsese antes do tempo. Muito, muito imitado. Nota 8.
JUVENTUDE de Ingmar Bergman com Maj-Britt Nilsson
É impressionantemente o décimo filme de Bergman. Aos 30 anos!!!!! Bom tempo em que um diretor de trinta anos já dirigira dez filmes... Ele considerava este seu primeiro trabalho "de verdade". É sua primeira obra-prima. E talvez, seu filme mais simples. Uma bailarina, aos 28 anos, sente-se pela primeira vez na vida, "velha". Ela viaja à uma ilha, onde recorda um amor que viveu aos 15 anos. O filme é sómente isso. Uma sessão de terapia onde vemos a bailarina tomar consciência de quem ela foi, é, e será para sempre. Mas é também, como Bergman sempre faz, muito mais. Trata-se de uma exposição. Mostra a vida dos adultos em contraste com os jovens. Uns, cínicos, cruéis, desesperançosos; e os jovens, leves, risonhos, apaixonados, crentes. As cenas de namoro entre o jovem casal são reais, graciosas, e maravilhosamente atuais ( o filme é de 1951, mas, que estranho, parece ser de 2009 ). Maj-Britt, mais uma das maravilhosas atrizes de Bergmann, linda-moderna-enfeitiçante, tem uma atuação natural, uma menina cheia de sexo, de encanto e de alegria. Mas seu rude amadurecimento nos corta a respiração, porque é exatamente como se dá com todos nós : um amadurecimento amargo, cruel e surpreendente. Tudo que Bergman faria depois já se encontra aqui : a beleza da fotografia ( há filme mais belo que este ? ), as falas solenes, os atores geniais, a preocupação com sexo/morte/alma. Um encantador trabalho, um leve e delicioso filme, onde roteiro, música e atores se esmeram em criar duas horas de absoluto prazer e de intenso drama. Gênial. nota Dez!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
SOLARIS de Andrei Tarkovski
É tido por obra-prima. Que nota darei ? A fotografia é linda ( há uma cena com um cavalo de estarrecer de tão bonita ), o roteiro é poesia filosófica, a câmera é precisa. Mas o que dizer ? O filme tem o único defeito que não poderia ter : é grotescamente chato. O divino Oscar Wilde já dizia : perdoamos tudo em alguém. Ele pode roubar, pode mentir, pode ser falso e enganar, mas ser chato é imperdoável. nota zero!!!!!!

o melhor ator em lingua inglesa- Nunca te Amei

Lendo Paulo Francis, com sua coluna diária na Folha, é que formei muitas das opiniões que mantenho até hoje. Uma das colunas que mais me tocou foi a descrição do grande teatro inglês dos anos pós-guerra, teatro que Francis teve a alegria de assistir. Aprendi então a idealizar atores como John Gielgud, Laurence Olivier, Ralph Richardson e Michael Redgrave. E também os atores de peso um pouco mais leve : Rex Harrison, Peter O'Toole, Richard Burton, Alec Guiness, Peter Sellers, Paul Scofield. Tive, como Francis teve, a esperança de que Gary Oldman, Jeremy Irons, Day-Lewis, Kenneth Branagh refizessem essa glória. Mas, eu e Francis, assistimos a destruição dessa genialidade pela sedução hollywoodiana. Day-Lewis, fugindo de LA ainda manteve certa integridade, mas os outros... que trágico !
E nesses anos procurei então, via cinema, meio que nunca os seduziu, encontrar uma gota dessa mítica. Tentar ver a genialidade desses gigantes nos filmes ( poucos ) que eles fizeram ( já que as peças se foram para sempre... ). Dos menores, Rex Harrison nos deu 3 ou 4 atuações que lhe fazem justiça, o mesmo com O'Toole, Burton, Guiness e Sellers. Scofield registrou apenas uma. Mas os gigantes...
Não há um só filme que faça justiça ao talento corporal/animalesco de Olivier. The Entertainer seria o mais refinado e Hamlet o que o satisfez melhor. De John Gielgud nem é bom falar. Apesar de ter filmado com alguns excelentes mestres, sua vida no cinema se reduz a papéis pequenos, papéis que ele fazia ocasionalmente para pagar alguma peça que dera prejuízo. Belo tempo em que a excelência seduzia mais que a celebridade !
Ralph Richardson se limitou no cinema a fazer o inglês meio-maluco. Mas dá para se ver uma centelha em "Longa jornada noite adentro", a terrível peça de O'Neill que Lumet dirigiu.
É preciso se dizer que os quatro gigantes eram amigos, aprenderam a ler com Shakespeare e delimitavam sua maestria em "feudos" bem desenhados. Olivier era rei na atuação corporal e no olhar, Gielgud tinha a melhor voz e Ralph era o rei da versatilidade. Michael Redgrave tinha um pouco dos 3 outros. THE BROWNING VERSION, conhecido no Brasil como Nunca te Amei, faz total justiça à Redgrave e prova que Francis e críticos como Tynan nunca exageraram em seus elogios.
O filme, dirigido por Anthony Asquith, mostra os últimos momentos de um velho professor numa tradicional escola inglesa. Ele é o tipo de mestre que todo aluno odeia e que todo colega despreza : antipático, snob, frio, muito exigente. Esse professor tem uma esposa que o detesta e o trai, com um colega mais jovem e mais querido. Esse mestre será transferido para uma outra escola, onde irá receber menos. Pois bem, eis a descrição do filme. Mas o que realmente, é tal filme ?
No incio nós sentimos asco pelo papel de Redgrave. Ele o interpreta como um tipo de homem de aço, esticando as sílabas, olhando os jovens com nojo, não confiando em ninguém. Redgrave era jovem quando o filme foi feito. No mesmo ano, com o mesmo diretor, ele fizera um excelente Oscar Wilde, papel em que ele esbanja alegria, leveza e graça. ( Além de beleza- Michael foi um galã ). Aqui, em absurda versatilidade, vemos um homem à beira da cova. O modo como ele fala, a maneira como ele anda, respira, veste o sobretudo, enterra o chapéu na cabeça. Tudo é de verdade, tudo é técnica, tudo é o MAIS ALTO GRAU DE EXCELÊNCIA que um ator pode querer. Mas então, com o correr do filme, os milagres começam a ocorrer... mais e mais...
Cena após cena, movimento após movimento, vemos um homem desmoronar. Tudo o que ele tem, lhe é tirado. Tudo o que ele é, revela-se um nada. E nosso coração, completamente dominado por esse ator de gênio, se derrete, seduzido por um personagem muito desagradável. Um milagre que somente um mestre pode ousar fazer.
Derramei lágrimas de admiração e de dor. O filme é, com Umberto D, o mais triste que já assití. Triste, nunca deprimente. Nosso cérebro ferve de admiração, e pensamos durante todo o filme : eis um gênio ! Agora entendo o que Francis dizia !!! Michael Redgrave não veste o personagem. Não se perde, possesso, como o fazem Pacino ou Brando. Ele doma o papel. Adestra nossa atenção. Onde De Niro e Penn revelam vontade e entrega, Redgrave revela inteligência e elegância. Humilha os colegas atores.
Há uma cena em que sua máscara cai. O professor recebe um presente do único aluno que o admira. O professor chora. É o mais melancólico, verdadeiro, sublime, comovedor, magistral choro que tive a honra de ver em qualquer tela. É o mais honesto momento que o cinema me proporcionou. Um homem desaba. Completamente. Um ator se revela. E nos dá um presente inesquecível : um mês após ver essa cena ainda a ouço, a sinto, a venero. É eterna.
Michael Redgrave dá nesse filme, a maior atuação da história do cinema. Takashi Shimura em Viver, Michel Simon em Atalante, Mastoianni, Sydow, Mifune, Pacino... todos são batidos. Ele se agiganta, se faz imenso, cresce, domina. Quem não assistir esta atuação, não terá um padrão para julgar qualquer outra atuação de gênio. É obrigatório.
Anthony Asquith foi descendente de uma das mais nobres famílias inglesas. Um nobre que dirige com nobreza. Seu filme não se rebaixa jamais.
Michael Redgrave fundou uma nobre linha de atores. Vanessa, sua filha, é a mais famosa. Um nobre ator. Devo-lhe o diamante desta atuação. Para sempre.