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ALAIN DE BOTTON E A RELIGIÃO ( UM ATEU QUE PENSA )

  Eu não gosto de Alain de Botton. Mas gostei um dia. Hoje seus livros me parecem escritos para aquelas pessoas que gostariam de ler mas não conseguem. Ele escreve exatamente para o povo de que ele reclama, os desatentos, os filhos da internet, zumbis incapazes de atenção e concentração.
  Ontem saiu um artigo no Estadão com ele. Mais um livro. Aos 41 anos ele já escreveu dúzias. Botton é ateu convicto, e nesse novo livro ele fala de religião. Apesar de ateu, ele discorda da ferocidade anti-religiosa de certos intelectuais ingleses. Mais que isso, ele constata ( coisa que já percebi várias vezes ) que hoje é muito fácil ser ateu, a coragem é necessária para se ter uma verdadeira religião ( e falo de religião, não de igreja ). Botton diz que as pessoas NÃO QUEREM NEM PENSAR EM RELIGIÃO. Para elas é um assunto resolvido e acabado. O que mostra a covardia e a cegueira dessas pessoas.
   Sou obrigado a admitir que concordo com Alain. Mesmo os ateus vivem em um mundo criado pela religião. Seus valores internos, seus sentimentos foram criados por culturas religiosas e mesmo seu ateísmo é uma reação religiosa. Fugir disso, se recusar a pensar sobre isso é negar uma porção imensa de vida interior e de história social. O modo como a sociedade inglesa nega qualquer pensamento religioso hoje é sinal de algum tipo de problema muito mais grave do que uma mera "luz iluminista". Botton passa então a escrever sobre o porque da necessidade da religião, não como negação, mas sim na procura de que necessidade é essa.
   Eu faria diferente. Eu pesquisaria do porque da religião ter entrado em colapso no capitalismo. Não pode ser coincidencia o fato de a revolução industrial ter matado o mundo espiritual do homem. Mais que isso, eu faria a análise do porque hoje somos obrigados a ser ateus, pois se não o formos seremos considerados burros ou no mínimo ingênuos. De onde nasceu essa lei? A questão aqui não é saber se Deus existe, a questão é do porque ter-se jogado ao lixo o que de melhor havia no homem ( e o que nos diferencia do animal ) a religião, mãe da arte e da filosofia. O porque de crermos em qualquer bobagem que venha com a cancela de ciência.
   Alain diz ter impedido seus filhos de acessar o facebook. E de que agora compreende o porque das celas dos mosteiros. O homem necessita de períodos de silêncio, de isolamento, de comunhão consigo mesmo. O novo mundo que se avizinha, de hiper-atividade e nenhuma privacidade lhe parece o fim da cultura individual.
   Faço então uma ponte com a coluna de ontem de Pondé. Ele fala de sua irritação com a vulgarização do turismo, da profanação de lugares sagrados, da transformação de Jerusalém em Disneylandia. O principal é ele intuir que no futuro os homens sofisticados e cultos não viajarão, viverão isolados. Acorde Pondé, as coisas já são assim! Conheço gente que é incapaz de ler ou assistir qualquer coisa que não faça parte de um certo hype "chic". Esse tipo de "consumidor de cultura moderna e relevante" é o que há de mais conformista. Lêem livros úteis, assistem filmes novos e sérios e se dizem ateus, realistas e alternativos. No futuro serão considerados tão impessoais quanto os positivistas do século XIX são hoje.
   Escrevi que ser diferente seria ser velho ( pois tudo TEM de ser novo ), alegre ( pois tudo pede por melancolia ) e isolado ( pois devemos ser ligados ). Cada vez mais creio nisso. Precisamos de monges, como a idade média deles precisou. Disciplina, solidão e fé numa missão.
   Voltando a Botton, ele diz que os saques em Londres foram das coisas mais tristes que ele já viu. Os jovens desconectados de tudo, sem pertencimento, sem interioridade. Intuo que a religião tem muito a ensinar a esses jovens. Mas a chance de eles admitirem isso é a mesma de que eu um dia creia em um Deus pessoal.