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DRACULA # ALAN BATES # ISABELLE ADJAN I# KEN RUSSELL # PAOLO SORRENTINO # MICHAEL CAINE #

   A JUVENTUDE de Paolo Sorrentino com Michael Caine, Harvey Keitel, Rachel Weisz, Jane Fonda, Paul Dano.
Sorrentino terá de conviver com A Grande Beleza para sempre. A gente não quer, mas compara. Este filme é muito bom, mas não tem nunca o alcance da obra-prima anterior. Talvez por ser em inglês e tratar de gente não italiana. Caine, que está brilhante como sempre e humano como quase nunca, é um velho maestro aposentado. Passa férias num hotel de luxo na Suíça. Lá estão seu amigo, um diretor de cinema, sua filha, recém separada, e um jovem ator em crise. O que se discute é a velhice, o tempo e o legado da vida. As imagens são sempre belíssimas, o tempo vai e volta, a memória nunca para de se mover, e as cenas vão do cômico ao trágico e horror. Há uma homenagem linda à Maradona ( sim, creia ), algumas falas brilhantes ( e outras muito piegas ), e um final que é perfeito. Mas mesmo assim sentimos que falta alguma coisa...Talvez seja a comparação ao outro filme...ou talvez a gente não perdoe as 3 ou 4 falas muito ruins...( será o inglês... ). De qualquer modo é um belo filme e Caine raramente esteve tão perfeito.
   AS IRMÃS BRONTE de André Téchiné com Isabelle Adjani, Marie-France Pisier, Isabelle Huppert.
Que tema poderia ser melhor que as irmãs Bronte!!! Filmado na região em que elas viveram, uma imensa planície cheia de vento, frio e verde; o filme consegue ser completamente vazio e sem emoção. Emily Bronte fala como uma feminista cliché, Anne tem o mal humor típico de Huppert e Charlotte parece uma fazendeira da Vogue. O problema básico é ser um filme francês. As Bronte são olhadas de fora, como excêntricas figuras inglesas. O roteiro se distancia e seca toda emoção. Elas se tornam bonecas de cera. As falas viram teses. O filme, sucesso de bilheteria em 1979, nada tem de Bronte. Quer ser tão real que se torna morto. Defeito típico do cinema da França: quando quer ser documental se transforma em tese de laboratório. Quando quer ser fantasia consegue ser real. Os piores filmes do cinema são de lá. Alguns, muitos, dos melhores também. O cinema da França é grande quando quer ser criação livre, é péssimo quando deseja retratar a vida "como ela é".
   GOTHIC de Ken Russell com Gabriel Byrne, Natasha Richardson e Julian Sands.
Ken Russell, o diretor do mal gosto e do gosto ruim, se debruça sobre a noite em que Mary Shelley criou Frankenstein. Então o que temos são: Lord Byron, Shelley, Mary Shelley, Polidori e a amante ocasional de Byron, Claire. Russell junta todos num palácio suíço e sem qualquer medida de gosto ou de equilíbrio, povoa o filme com ópio, sexo, sangue, blasfêmia, péssima música e atuações exageradas. Eu não entendi nada do roteiro, mas penso que não é para se entender nada. É só pra se sentir. E eu senti nojo. O filme é assustador. Começa como uma bobagem tola dos anos 80, com uma trilha sonora mediocre de sintetizador que invade toda credibilidade do filme. Mas depois ele insiste tanto no exagero e na histeria que começamos a nos sentir incomodados. E Russell consegue mais uma vez fazer um filme feio, desagradável, aquilo que ele quis fazer. Esqueça Shelley. Ele não era esse viciado em ópio efeminado e alucinado pelo horror. Ele era bem mais frio. E Byron não era esse diabete dos anos 80, sádico e cheio de frases bobas. O filme me fez pensar uma coisa: em 1820 os românticos eram únicos. Hoje muitos são como eles. Mas sem a novidade. Apenas cópias de seres de dois séculos atrás.
   ESSE MUNDO É DOS LOUCOS ( LE ROI DE COEUR ) de Philippe de Broca com Alan Bates, Genevieve Bujold, Michel Serrault, Jean-Claude Brialy, Micheline Presle.
Uma das melhores trilhas sonoras de todos os tempos, de Georges Delerue. Vi o filme em 1979. Na TV, Adorei. O achei livre. Revi em 2010 e detestei. Achei bobo. Vi mais uma vez agora. É bobo e livre. Mágico. Muito mágico. E ingênuo. Ele tem a ingenuidade de quando foi feito, 1966. E a magia de quando foi feito, 1966. A história: na primeira guerra mundial, uma cidadezinha da França é abandonada pelos alemães. Um soldado escocês é mandado para lá a fim de desativar uma bomba que foi deixada. Enquanto isso os loucos da cidade saem do hospício e elegem o soldado o Rei de Copas. Vemos os loucos assumirem a cidade, cada um tomando para si um papel. O padre, o cabelereiro, a prostituta, o prefeito. O soldado, um ótimo Alan Bates, resiste a essa farsa, mas se apaixona e entra no jogo. Até chegarem os dois exércitos...O filme atinge o alvo. No começo achamos os loucos apenas uma irritante troupe de atores mambembes, depois somos seduzidos por sua fantasia. Quando ele voltam os hospício nos sentimos traídos. Broca teve dez anos de grandes filmes. Este é um deles. Diferente, leve e muito profundo.
   O VAMPIRO DA NOITE de Terence Fisher com Peter Cushing e Christopher Lee.
O primeiro filme da Hammer sobre Drácula. Cheio de clima, a história é centrada em Van Helsing. Ele é o personagem principal. Lee foi o melhor Dracula do cinema. O filme não assusta mais, mas diverte.
 

  

SE PUDER DIRIJA/ PAOLO SORRENTINO/ RUBEN ALVES/ JOSÉ WILKER/ FRED ASTAIRE/ KISS ME KATE!

   NAS ÁGUAS DA ESQUADRA de Mark Sandrich com Fred Astaire, Ginger Rogers e Randolph Scott.
Não é dos meus Astaire/Rogers favoritos. Ele é um marujo que em férias se envolve, na verdade reencontra, sua ex-partner de show. O filme foi feito para provar que Astaire era macho. Desse modo o vemos mascando chicletes, praguejando, apostando, sendo do povo. Prefiro seus filmes ultra-refinados. Claro, ele dança. E Ginger é maravilhosa! A trilha, fantástica é de Irving Berlin. Nota 7.
   TOP HAT de Mark Sandrich com Fred Astaire, Ginger Rogers, Edward Everett Horton
Para a maioria é o filme número um da dupla. Eu adoro este filme, mas prefiro Shall We Dance e Gay Divorcée. Uma trilha sonora fabulosa de Irving Berlin. Fred é um dançarino em hotel que perturba com seu sapateado a vizinha Ginger. Acabam por se apaixonar. E brigam, e voltam...Se o enredo é convencional os diálogos não são. Eles brilham em humor e esperteza. Cenários brancos e brilhantes, figurinos inesquecíveis e as danças enevoantes da dupla. Ruy Castro diz que a Veneza de papelão deste filme é como Veneza deveria ser. Um sonho em P/B. Nota Dez.
   KISS ME KATE! de George Sidney com Howard Keel, Kathryn Grayson, Ann Miller, Bob Fosse
Escrevi sobre esse filme abaixo. É um dos meus dez musicais favoritos. A trilha de Cole Porter é perfeita. Tem humor, romance, chic e criação. Keel nunca esteve melhor, um Petruchio perfeito. É um filme que dá uma forte sensação de sonho. Equivale a dormir acordado. Muita cor, muita beleza, muita diversão. Um testemunho da decadência de nossa civilização é o fato de não mais se fazerem filmes como este, tão urbanos, elegantes e educados. Um arraso! Nota DEZ!
   A GRANDE BELEZA de Paolo Sorrentino com Toni Servillo
Escrevi sobre ele abaixo. Um grande filme. Tem o melhor do velho cinema italiano, invenção e aquela mistura de humor e melancolia que só os italianos sabem fazer. O estilo é Felliniano. Tipos e rostos INTERESSANTES, mistura de tempos, sonho que se confunde com o dia a dia...Ainda haverá gente nos cinemas que entende um filme tão sofisticado? Cenas de imensa beleza. Inesquecível. Nota DEZ.
   A GAIOLA DOURADA de Ruben Alves com Rita Blanco, Joaquim de Almeida
Uma co-produção luso-francesa que foi um grande sucesso nos dois países. Ainda não passou por aqui. Fala de imigrantes portugueses que vivem em Paris. Um deles recebe uma herança e resolve voltar a sua terra. Mas os patrões, franceses, fazem de tudo para que ele fique. O tema fala direto a minha vida. 90% de meu sangue está em Paris, nas veias de imigrantes que lá vivem a mais de 40 anos. E mesmo assim eu achei o filme chato. Falta fogo, algum tipo de animação, de trama, Ele é solto demais, colorido demais, óbvio demais. Porque tanto sucesso? ( Foi o maior hit de 2013 na França ). Nota 3.
   CASA DA MÃE JOANA 2 de Hugo Carvana com José Wilker, Paulo Betti, Antonio Pedro
Quer saber como era o Brasil em 1973? Veja este filme. Apesar de ser de 2013 e se passar em 2013, seu humor é aquele de 1973. Não sou moralista, mas esse tipo de malandro carioca de 1973 hoje parece muuuuito imoral. Seus golpes, antes inocentes e hilários, agora nos irritam por recordar Brasília. A gente não aguenta mais malandros simpáticos dando golpes bem-humorados! O filme então desaba. ZERO!
   SE PUDER DIRIJA de Paulo Fontenelle com Luiz Fernando Guimarães, Leandro Hassun e Gianechinni.
É útil ver este filme. Ele nos ensina como NÃO se deve dirigir uma comédia. Chega a ser um mistério saber o que o diretor Fontenelle queria. Destruir o roteiro? Humilhar o elenco? A trama é aquela que os americanos fazem de olhos fechados, um pai e sua relação dificil com ex-mulher e filho. Uma trapalhada no trabalho e no fim a reconciliação com o filho. Chevy Chase e Billy Crystal fizeram toneladas de filmes assim. E todos são pelo menos simpáticos. Porque sabem ter ritmo, algo que Fontenelle desconhece. Suas cenas são longas, paradas, silenciosas, frias, esticadas, sem time nenhum. Será que ele queria dar uma de Jacques Tati e fazer humor delicado?? Putz, como ele se acha! E como errou feio!!! O filme é amador. ZERão!!!!

A GRANDE BELEZA, UM FILME DE PAOLO SORRENTINO

   Jeanne, era esse seu nome, juro que era, saía da escola e andava poucos passos. Entrava no carro e ia embora. Eu, dentro do Caravan de meu pai, olhava. Ela passava olhando para o chão. O vidro do carro embaçava, frio. Beleza. A vida, cedo, me exibiu a beleza. Se desnudou para mim. Eu vi, antes de saber dominar palavras, teorias, formulações, ou seja, antes de aprender a morrer, que a vida era beleza. Quando muda.
   Nua quando vi os pombos, nua quando percebi a teia da aranha, nua na manhã em que me perdia entre eucaliptos. Eu olhava, olhava, olhava e via, via, via. A menina loura espetando o pé numa tachinha no chão. Arrancando a tacha da sola do pé e continuando a passar o rodo no cimento. Fazia sol e ela vestia um leve vestido branco. Eu olhava e sem palavras a via. A nudez da vida e a nua beleza.
   Então, ao aprender a escutar as conversas, os discursos e ao ler as máscaras, notei que a vida não era aquilo que a gente vive. A vida era além. Que falamos para matar o tempo, trabalhamos para matar o tempo, amamos um amor de discurso e amor não se fala. E veio o meu outro eu, longe e sempre aqui. Incomunicado, em comunhão. Daí o para que...
   A verdade está fora do Homem. Nos bichos, na luz, no mar e na Serra. No silêncio dos sentimentos. Essa a verdade e a beleza. Um pássaro, o escuto agora, é um Bem-Te-Vi, fala direto ao dizer nada. Livre das amarras dos nomes ele fala. O Homem é livre quando se cala e percebe. A beleza.
   Roma é uma velha freira-santa. Explorada por gente que fala demais. Roma é vaidade. Paolo dialoga com Fellini. A Doce Vida fala do momento em que um jovem percebe o vazio absoluto. Paolo continua e conta de um velho cansado do vazio.A Roma de Fellini é uma puta explorada. Paolo mostra a velha matrona vivendo a base de drogas. Toda civilização desaba ao viver apenas em função do prazer. Quantas vezes Roma caiu?
   Ninguém nunca filma rostos como Fellini filmou. E milhões tentaram. Paolo não consegue. Ninguém cria beleza como Fellini. E finais fortes. Paolo pelo menos tenta, ambicioso. O personagem central, sempre dandy, vaidoso, exibido, viu a beleza cedo demais. Passou a vida sabendo que nunca mais iria a reencontrar. Ceticismo, disfarce dos desencantados. Italiano, tem humor, ama as mulheres, mas sabe, a fala esconde a vida.
  O filme, cenas belas sobre cenas belas, Roma, a mais bela das cidades, chafarizes insuspeitos, cor do sol sem outra igual. As pessoas fazem coisas, pulam, viajam, correm, flertam, e falam, falam, falam. Doce Vida que azedou faz tempo. Mastroianni tinha desespero, aqui tudo aborrece.
   Paolo conseguiu. Estou comparando o filme a Fellini, Truffaut ( linda cena com Ardant ), Antonioni. Ele perde, mas fica muito acima de tudo que se tenta hoje. Beleza triste, saudade vazia de motivo.
   Disseram ( quem? Eco? Paz? ), que a beleza, a estetica poderia salvar o mundo. Filmes como este podem salvar o cinema.