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A BELEZA SALVARÁ O MUNDO - GREGORY WOLFE

   Para ser fiel ao seu autor serei breve.
 Wolfe é professor nos USA e crê em Deus. Se diz conservador. E explica o que é ser conservador. E lendo o livro entendo que eu sou um também.
 Reagan traiu os conservadores. Ele fez o que um conservador jamais faz: ideologia. Fez com que os USA engolissem um yuppismo fútil. E ainda o exportou para o mundo. Ideólogos pensam. E acham que seu pensamento deve ser dado ao mundo. São incapazes de olhar a realidade. Só percebem o que sua ideologia vê.
 Conservadores apenas deixam viver. Olham o povo e sabem que cada um deseja coisa diferente. E tentam dar alguma ordem a esse povo sempre e felizmente heterogêneo. O conservador ama a vida real porque é nela que mora o conforto. O fogo da lareira, uma sala, comida boa. E a natureza.
 Wolfe fala muito do puritanismo que deu aos americanos a vontade de dominar a natureza. Eles dominam a natureza, não vivem com ela. Vivem sobre ela. No puritanismo Deus é o homem. No catolicismo Deus é a criação. E a natureza é a criação.
 Por fim Wolfe defende a criatividade. Criar é um ato religioso e um mundo que faz e trabalha não dá valor a pura e simples criação. Wolfe defende a criação solta, abstrata, pura.
 Mais que tudo ele defende a civilização ocidental. Fundada numa moral popular ( a cristã ). O relativismo destruiu toda chance de civilidade. Se tudo é relativo tudo é ideologia e se tudo é ideologia tudo é solidão do eu que pensa e não vê. Ou pior, segue.
 Bom livro.

CONSERVADORISMO

   Entram dois garotos no meio da aula interrompendo. Fazem propaganda de seu partido. Vai ter mais uma eleição. Falam e a sala boceja. Se vão.
   O professor comenta. Conta que eles são uma bela amostra da morte da palavra. Tudo o que eles disseram é verdade. Tudo é bem dito e bem intencionado. E tudo é vazio. O que eles falaram poderia ser dito por qualquer um em qualquer lugar. Pior, o que eles falaram é exatamente o que ele, o professor, ouvia naquela mesma sala 30 anos atrás.
   Em seguida ele nos dá um texto de Kafka. São apenas vinte linhas. Nenhuma das palavras é elaborada. A sintaxe é banal e o texto pode ser lido por uma criança. Mas as palavras voltam, nesse texto, a fazer sentido. Elas produzem sentido. E o mais incrível, produzem dúvida e inquietação. Para um ideólogo, é um texto politico. Para um religioso, é um texto judaico. Para um poeta, é poesia. Para um filósofo, filosofia.
  A ladainha da TV, do jornal, do cinema, do livro, das artes perdeu o sentido. Falar de mais uma tragédia é falar sobre o nada. As palavras se gastaram, a imagem se escureceu. É preciso uma nova linguagem. Porque hoje tudo parece piada velha ou mais do mesmo de sempre.
  Salto então para o livro do conservador Gregory Wolfe. Um de seus gurus se chama Niemeyer. Professor do Maine. Antes um fato: esses conservadores foram relegados ao esquecimento pela era Reagan. Os conservadores de Reagan são do mesmo naipe que os esquerdistas. Percebem a pessoa como consumidora, como ser ideológico que pode ser moldado à uma ideia. Ambos olham o mundo como lugar para fazer e não lugar dado para se aprender ao observar. O verdadeiro conservador olha. Reagan modificava ao molde sua cabeça. O iluminismo criou a noção, falsa, de que pessoas e natureza devem se moldar a razão. Esquerda e direita, as duas acreditam nisso.
  O segredo é observar e ver o que é.

E O PROFESSOR FALA DO SÍMBOLO.

   E não é que o professor que tanto entende de Freud, de alemão, de holandês, de dinamarquês, também se revela alguém que compreende e consegue fazer o mais materialista dos alunos entender o que seja o "símbolo" ...
   Quando uma obra de arte, seja texto ou imagem, tem um significado oculto, mas que é revelado aos poucos e para alguns escolhidos, temos uma "alegoria". O Paraíso Perdido de Milton é uma alegoria. A Divina Comédia de Dante é uma alegoria.
   Porém, quando uma obra tem uma linguagem, uma imagem, que nem mesmo seu autor consegue a explicar, essa imagem se explica por si-mesma, e acende em cada pessoa um significado particular, aí temos o "símbolo". O símbolo não pode ser explicado. Ele diz uma coisa, simples e secreta, a cada um. Digamos que ele fala aquilo que as palavras não conseguem dizer. Ele se situa além da linguagem e antes da história.
   Baudelaire fala por símbolos. Assim como Rimbaud. Você pode os traduzir, mas a sua interpretação nunca é a definitiva. O símbolo é inesgotável.
   Isso não significa que o símbolo é superior à alegoria. Milton é maior que o simbolista Verlaine. Mas Verlaine rende mais discussão. Whitman nunca é simbolista. Mas o americano é maior que Leopardi, que usa símbolos. ( Aliás, americanos têm uma enorme dificuldade de lidar com símbolos ).
  A religião é toda símbolo. Mas a igreja é alegoria. Ela tenta dar sentido único a coisas inesgotáveis como a cruz, a pomba ou o milagre. Toda a história de Jesus Cristo é um símbolo, portanto atemporal, inesgotável e particular. Não se traduz em discurso, ela é como um suspiro. A igreja a toma para sí e a traduz. Faz do símbolo uma alegoria e mata sua evolução.
  O marxismo fez o mesmo com a história, a psicanálise com o inconsciente, a crítica literária com a prosa. Pegaram o particular e o transformaram em alegoria universal.
  O símbolo é a prova de que o tempo nada é daquilo que achamos saber. Ele flui através do futuro ao passado e reflui ao presente, renasce a cada nova leitura e nega o certo e o errado. Como diz Gregory Wolfe, a arte abstrata, Kandinsky, Klee, são os verdadeiros artistas, porque eles criam aquilo que passa a existir a partir do nada. Quando Klee pinta uma "coisa" ele a cria do absoluto vazio. Ao contrário de Rembrandt ou de Vermeer que nada criavam, na verdade copiavam, genialmente, aquilo que já existia no mundo, artistas com Marc ou Miró inventam símbolos que surgem do nada e com nada anterior se parecem. São criadores de fato, como criadores foram os homens que desenharam mandalas, símbolos celtas ou intrincados labirintos hindus. Nesse sentido, que não julga mérito, julga criação, Cézanne é o primeiro criador a surgir desde o século XV. Entre Giotto e Cézanne todos foram imitadores.
  Entendeu my friend.