TOMAS TRANSTOMER NO BRASIL ( ENFIM )

   Ao contrário da maioria dos estudantes de línguas, eu não creio que um dia a linguagem foi mais viva do que é hoje. Palavras, o verbo, foi criado para tratar de trabalho e da vida em comunidade. Sonhos, sentimentos, intuições jamais couberam em linhas, sentenças, sujeitos e adjetivos. Desse modo, posso dizer que a poesia sempre foi um ato em que tentamos dizer o indizível. Todo poeta faz uma atividade fadada ao fracasso, palavras nunca dirão exatamente aquilo que ele sente dever dizer. Mas na tentativa, falha, ele cria uma terceira possibilidade. Ele dá vida à algo que não é inefável, mas que também não é apenas verbo e objeto.
  Transtomer finalmente chega em tradução. Eu o espero desde 2011, ano em que venceu o Nobel. A editora promete lançar mais obras. Eu aguardo. Me identifico com ele. Suas intuições são irmãs das minhas. Ele nunca é emotivo. É como se ele virasse a esquina antes da emoção fluir. Escreve a sensação que nasce antes da emoção plena. Ele olha e recolhe. Ele vê e escreve. Está aberto aos estímulos, atento às pequenas coisas, mas mantém um certo distanciamento, calma dentro da sensação.
  Sua sintaxe é apurada e seu vocabulário simples. É direto. Não se perde em requintes exibicionistas. Tem o rigor do norte.
  Um poeta maravilhoso.