Um Tributo à Dener



leia e escreva já!

DENER - DENER PAMPLONA ABREU. O CHIC DE UM TEMPO REAL.

   Eu vi meus caros, eu estava lá. Quando voce olha uma foto, hoje, de 1970, talvez voce veja apenas costeletas longas, calças justas demais ou camisas com estampas exageradas. Mas por detrás de tudo isso, perceba, havia um genuíno desejo por elegância. Crianças, mesmo as de escola pública, não podiam estudar sem o uniforme. E uniforme era uma roupa que se ocupava de camisa, calça, meia e sapato; não era apenas uma camiseta com símbolo da escola. ( As meninas mais ainda, a saia tinha de ser com pregas ).
  Recordo que os empregados de meu pai, simples balconistas de bar, recém chegados do Paraná e da Paraíba, ficavam horas no vestiário antes de ir embora do trabalho. Banho, calça passada, camisa de manga comprida e uma montanha de perfume. Só então eles iam pra rua. A vaidade se exibia em roupa, hoje ela se exibe em carne e pelo. ( Nossa vaidade atual é a vaidade do corpo malhado e do cabelo em corte diferente. Uma vaidade pelada. Sem arte, a vaidade do guerreiro ou do prostituto. )
  A costureira ia em casa quatro vezes por mês. As roupas da minha mãe, mesmo as compradas feitas ( pret a porter ), era ajustadas por uma profissional. E tudo tinha forro. Engraçado, a arte do forro é uma arte perdida. O forro era o luxo que ninguém via, apenas sentia na pele. Neste mundo todo pra fora, exposto, morreu o forro. Mas vamos ao Dener...
  Antes de Dener gente muito rica comprava tudo na Europa. Com Dener eles passaram a comprar Dener. Nascido rico, no Pará, Dener vendeu sua moda vendendo sua frescura. Ele mesmo fala isso. Seu jeito fresco de ser vendeu a ideia de moda ultra chique no Brasil. E como ele era fresco!!! Coisa que ele não fala, o livro foi escrito em 1972, minha edição é a da Cosac de 2005, é que ele foi o primeiro gay brasileiro querido por donas de casa e crianças. Graças a Flavio Cavalcanti, que tinha um programa de TV, na Tupi, domingo a noite, audiência gigante, Dener era jurado, e lá ele se tornou mega estrela. Fãs esperando na rua, no aeroporto. Eu era criança e lembro. Muito antes de Ney Matogrosso, Dener foi o primeiro gay a entrar nos lares tupis. Eu o via e não sabia o que achar. Aquele moço tão frágil, magro demais, tão romanticamente vestido, sedas e lenços, babados, tão vaidoso, tão ferino, e bonito, sim bonito. Mas eu sabia que havia algo de secreto nele, Criança sabe. E fica encafifada.
  O ateliê de Dener era na Paulista. Uma esquina onde depois foi um McDonalds. Quem tem menos de 50 anos não sabe o que foi o chique paulista. No Mackenzie ainda peguei o fim desse tempo. Gente que nunca havia pego um ônibus. Que não sabia entrar em um banco. Que jamais havia pago uma conta. Sim porque a principal característica do chique é viver no mundo da Lua. São distraídos, pouco práticos, o tipo que não percebe um incêndio no vizinho. O tipo que não sabe apertar botão de elevador. Os outros fazem tudo por ele. Meu amigo Leandro Cunha Bastos, minha amiga Claudia Lindolfo Daher, amigos do Mackenzie, nunca pensaram nem em aprender a dirigir. O chauffeur os conduzia. E como todo chique, não tinham nome, tinham nomes e um apelido gracinha: Lelê e Clau.
   Dener diz que a utilidade do chique é ensinar as classes pobres o que significa ser civilizado. Exemplo. Acredito que sim. Essa é a única utilidade da realeza inglesa desde 1688. Hoje nossos modelos são algum cantor sertanejo e alguma cantora da Bahia. Em 1970 os modelos não eram os Mayrinck ou os Campos, mas Pelé e Roberto Carlos, os modelos de então, pegavam como moldes esses chiques de verdade e os passavam para nós, simples aspirantes. Veja uma foto de Pelé em 1967 ou de RC em 1968. Há informação naquele visual. À partir de 1978 a coisa se degringola.
  Último toque: não leia este livro se voce tem menos de 40 anos. Dener elogia o regime militar. Se voce não tem alguma lembrança da época não vai aceitar isso. De jeito nenhum.

A VIDA DOS ELFOS - MURIEL BARBERY

   Lançado em 2015, este é o terceiro livro de Barbery que leio. Hm...confesso que não consegui chegar ao final...e é duro para mim não terminar um livro! Parei na página 110, marquei bem essa página e espero um dia o retomar. Enfim...
   ( O fato é que tenho tantos livros para ler e me dá nervoso perder tempo com algo que não seja um belo prazer ).
   A intenção de Muriel é louvável, ela tenta escrever um livro mágico. Para isso, ela usa a linguagem romântica. É o mesmo tipo de texto de Alain Fournier ou de algum poeta esquecido de 1840. Mas não funciona. Infelizmente. As imagens parecem forçadas e a linguagem acaba soando falsa. A sensação que temos ao ler é de ironia. E ao mesmo tempo sabemos que essa ironia é involuntária. Ela vem de nossa leitura e não da escrita dela.
   São duas meninas, uma na Itália e outra na França, que conseguem sentir a linguagem da natureza. E assim, o texto é repleto de árvores emanando luz ou de insetos e sua lingua secreta. Barbery usa imagens "lindas", o livro é tão "belo" que perde o tom. As frases são musicais, isso ela consegue, mas é melodia de Franz Léar, não de Schumann.
   Uma pena.
   ( Ou talvez seja apenas um livro romântico para meninas de 13 anos...sei lá ).

The Police - Voices Inside My Head



leia e escreva já!

Roxy Music - Avalon



leia e escreva já!

Poet



leia e escreva já!

Giorgio Moroder-First Hand Experience In Second Hand Love



leia e escreva já!

Association - Never My Love (1967)



leia e escreva já!

ENO DISSE: AMBIENTE-SE!

   Ambientação é timbre e timbre é o que diferencia música pop-elétrica  de música antiga, acústica. Melodia e harmonia independem de novas sonoridades. Música pós 1950 tem como diferencial-original o timbre. O ato de gravar e de mixar passa a ser parte da criação. E isso será levado aos extremos nos anos 80 via eletrônicos e RAP ( que são os estilos que salvam a década e a glorificam ).
  Posto e aqui e em posts mais adiante as músicas que me fizeram despertar para essa riqueza de tons, ecos, efeitos, detalhes. Tempere seus ouvidos.
  First Hand in Experience - Giorgio Moroder.
Era agosto de 1977, e o fato de lembrarmos datas e lugares onde estávamos prova a importância do evento. Na rádio Bandeirantes FM, novidade na época, som estéreo, eu escutei numa tarde fria, cinzenta, este som. E senti pela primeira vez na vida a frieza ambiental da música feita só por synths. O engraçado é que eu não sabia como aquele som era feito. Achei que havia algo acústico ali. Lembro de estranhar o timbre da "bateria", não entender como ela podia soar tão contida, plástica, exata. O futuro nascia neste quatro minutos de charme sexy gelado. A melhor biografia de música que li, a dos Kraftwerk, fala da importância central deste LP. Giorgio era o italiano louco que misturava Kraftwerk com disco. Depois os próprios alemães copiariam o italiano. Se voce quer saber o que se criou de revolucionário em gravações após a era de Phil Spector, esta é a faixa.
   A Poet - Sly and The Family Stone
E depois, em 1985, eu descobri que o pop negro sempre foi a ponta de lança do negócio. Sempre foram eles que inventaram troços novos. Basta observar que esse povo que NÃO ESCUTA música negra nunca sai da mesma lenga lenga, não mudam. Foi a black music que fez Bowie, Mick e tantos outros evoluírem. E em 1985 descobri que em 1970 havia um LP que fazia TUDO o que havia sido gravado em 1970 parecer muito, muito velho. Esta faixa em especial é uma porrada na cara de sonados e emparedados. Sly levou uma ano em estúdio para conseguir esses efeitos sonoros. Teclados que zumbem como abelhas, guitarras que ricocheteiam e o baixo de Larry Graham que é uma arma. Mata tudo. Os vocais ecoam como trovões nos céus. Tem eco e tem peso, tem swing e tem presença. Isto é o máximo de ambição que um produtor pode ter. E ele se chama Sylvester Stewart: um gênio.
  Avalon - Roxy Music
No último disco do Roxy, de 1982, encontrei a sonoridade de cristal que me seduziria forever. Tudo aqui decola e voa, numa leveza que te leva junto. Ferry desenvolveria pelo resto da vida este tipo de som: Um pop imaterial, diáfano, o máximo de romantismo com o mínimo de peso. Avalon é o pop mais perfeito possível, tão sublime que a gente sente que a música pode se desmanchar em um sopro mais forte. Há milhares de toques de percussão, uma guitarra quase silenciosa, um sax que hipnotiza e a voz de Mr Ferry no grau máximo de cetim e veludo. De Madonna à George Michael, de D'Angelo à Timberlake, todos tentariam essa sonoridade ultra mega chique.
   Never My Love - The Association
É este o disco. Em 1967 nasce o pop chique. Never My Love é tão bonita que dá pra ouvir pra sempre. O Wrecking Crew acompanha. As vozes antecipam I'm Not in Love e o instrumental anuncia Avalon. O teclado é tocado com a ponta das unhas. A canção parece vir das nuvens de um paraíso grego. É Platão inventando pop music. Achei a chave: esta música é platônica! É o molde-ideal de todas as canções com timbres e ambientação sublime. Nunca mais se faria nada tão etéreo.
   Voices Inside My Head - The Police.
Ninguém fala, mas Stewart Copeland é o maior baterista da história do rock. A gente esquece disso porque sua carreira durou apenas 5 anos. Depois sei lá...sumiu. Esta faixa, obra do estúdio de Chris Blackwell, é uma sinfonia de ecos, sons do deserto, miragens de harmonias e muito beat. Potencialmente o Police foi uma das dez maiores bandas da história. Eles tinham tudo. Mas se odiavam. Andy Summers tocava as partes da bateria e Copeland fazia na bateria os riffs da guitarra: esse o segredo do som. Sting tinha mãos de negro= swing de jazz. Esta faixa, de 1980, é uma duna.
   E Mais:
Eu poderia falar do som pelado de Big Pink, de The Band; do timbre de guitarra único de J J Cale. Poderia comentar a sonoridade "ruim", de asilo, do Satanic dos Stones. Ou o som limpo, clean, de quarto de dormir de Chris Isaak. O timbre do synth em The Law, dos Human League ( nunca ouvi timbre tão bonito, tão perfeito ). E compor, eu poderia, uma enciclopédia exaltando os timbres nunca repetidos dos solos de Jimmy Page e de Jeff Beck, os guitarristas mais irrequietos do rock. Ou fazer odes ao timbre sempre igual, e sempre perfeito, da guitarra de Robbie Robertson, de Peter Green, de Steve Cropper. Ah e tem o timbre fácil de reconhecer, por ser uma assinatura, dos couros de Ginger Baker. Mas paro por aqui. Caso voce não saiba, menos é mais, e deu né.

The Rolling Stones ~ 08. Stray Cat Blues



leia e escreva já!

Abba - SOS



leia e escreva já!

Baby I love you • Original • Andy Kim • 1969



leia e escreva já!

David Bowie - Breaking Glass (Extended Version)



leia e escreva já!

TIMBRES E AMBIENTES SONOROS

   Como Brian Eno diz, o que há de melhor no Pop, no Rock ou nas vertentes black, é o timbre, o tom original que se pode tirar de cada instrumento. A riqueza possível em cada gravação, no trabalho de produtor, engenheiro de som e músicos. Aponto mais quatro exemplos que marcaram muito meu gosto musical.
   Baby, I Love You - Andy Kim.
Produção de Phil Spector com todas as marcas do louco produtor: A união de montes de instrumentos tocando juntos como se fossem um só. Aqui estão guitarras, flautas, trombones, órgãos, pianos, baterias, xilofones, chocalhos, e mais um coro de vinte vozes. A canção começa com uma batida na caixa que logo abre espaço para a massa sonora que desaba como um trem em andamento. O som avança, grosso, forte, impetuoso, e a grande surpresa é: ela consegue ser intimista mesmo com tanto som. É um trabalho de time: Spector, Jeff Barry e Jack Nitzsche. Histórico.
   SOS - Abba.
As lições de Spector e de Brian Wilson renascem nos anos 70 neste grupo sueco de imenso sucesso. O estilo é o mesmo: massa sonora unida em acordes grudentos que se espalham como toques de tinta em tela pequena. Curto, grosso e absolutamente perfeito. Tenha calma e repare: as linhas de piano e de synth são sinuosas, simples, claras e irresistíveis. E as guitarras e bateria surgem como percussão, marcam ritmo e marcam evolução musical. Por cima de tudo, os vocais. A menina triste em solo, o coro dando apoio à dor e erguendo a canção. Agnetha é uma voz como nenhum outra, sua tristeza é sempre a nossa. 3 minutos que mudam uma vida.
   Breaking the glass - David Bowie
Tudo já foi dito sobre as gravações de Low. Desde o som da caixa, gravada à parte por Conny Plank, até os sons alienados dos teclados de Eno ( tive a honra de ver a maleta-teclado, o synth usado nas gravações de Low em exposição no BR em 2015 ). O baixo de George Murray parece feito de chicotes de aço. E há o timbre da voz de David: uivos de um coiote perdido em Berlin.
   Stray Cat Blues - Rolling Stones.
Durante décadas foi meu timbre fetiche. Como se conseguiu um som tão metálico neste disco absurdo? Ouça os primeiros acordes: A guitarra de Keith é de lata, uma lata amassada e enferrujada que corta nossos ouvidos. A voz de Mick é afogada em ruído ácido e a bateria tem o timbre de latões de lixo. E no refrão: um kaos de magnífico ruído, a guitarra como vidro caindo sobre rochas. No final, swing, sexo, sangue. Jimmy Miller produziu.

Lou Reed - Vicious



leia e escreva já!

10cc - I'm not in love (complete version) (video/audio edited & restored...



leia e escreva já!

Steely Dan - Hey Nineteen (1981) HQ



leia e escreva já!

Spencer Davis Group - 'Gimme Some Lovin' Stereo Music Video



leia e escreva já!

TIMBRES, AMBIENTAÇÕES, CLIMAS.

   Conversava eu com um amigo quando foi citada a célebre frase de Brian Eno: "A música POP não deve ser valorizada por melodia ou harmonia, nisso a música erudita é muito melhor; mas sim pela originalidade de seus timbres."
   Como prometido, faço aqui uma breve explanação de algumas canções que me marcaram e me marcam por seus timbres.
   ( Antes um adendo: A música pop do século XXI tem tido uma uniformidade de timbres irritante. Parece que todos os estúdios e todos os produtores usam os mesmos equipamentos e as mesmas técnicas...Aliás, não parece, é fato ).
   The Spencer Davies Group - gimme some lovin.
Não tem como não falar dessa faixa de 1966. Mais que tudo, o grande gênio deste som é Jimmy Miller. Ele quem produziu esta canção que esbanja ambientação. Podemos ver o local onde os músicos estão. Há uma abundância de vozes, de sons de percussão e um órgão que soa como faca. É um marco da gravação elétrica. Feche os olhos e enxergue os caras tocando.
   Steely Dan - hey nineteen.
O Steely Dan usa em cada faixa de seus LPs formações diferentes de músicos. Como num menu, Fagen e Brecker escolhem o som que cada músico pode dar. O som de hey 19, faixa de 1980, gravada em LA, 38 canais, usa os músicos de estúdio mais foda que o dólar podia comprar. Mas acima de tudo ela é elegante. Começa com aqueles acordes de guitarra e se espalha em um dos melhores sons de bateria já gravados. A música é quase nua, usa o silêncio e os backing vocals são dos céus. Todos os timbres são fortes em presença e ao mesmo tempo discretos, por isso elegantes. Uma aula de bom gosto.
   10CC - i'm not in love.
É uma das canções mais importantes do pop de todos os tempos. Levou cinco meses para ser gravada. O quarteto, gente que produziu Yardbirds entre outros, perfeccionista ao extremo, faz uma canção maravilhosa usando apenas vozes como melodia. Essas vozes, apenas duas, são multiplicadas ao infinito. De fundo, um piano elétrico delicado e um baixo que parece tocado por um anjo. Eno fala de ambientação, estamos no Eden aqui. O momento em que a melodia cessa e depois retorna é assombroso. O final sempre me faz pensar que a música pop foi criada para um dia dar luz a esta canção perfeita.
   Lou Reed - Vicious.
Mick Ronson e Ken Scott são os responsáveis por este rock de um timbre nunca mais igualado ( ok, David Essex tem um disco com som parecido ). A guitarra de Mick é aquosa, plástica, suave; enquanto a bateria rebombeia ao redor do som. É preciso criar novas palavras para falar de som tão novo. Repare como a voz de Lou, "machona", noturna, detonada e sábia, faz contraste com o som da instrumentação de Ronson. O solo é tão maravilhoso que seria digno do melhor de Jeff Beck. Voce pode ouvir isto 300 vezes. Nunca vai enjoar.
    ( amanhã tem mais )

O DOCE FIDALGO, ESSE SER TÃO ESQUECIDO...

   Em tempos de Neymar, nada melhor que lembrar da figura do fidalgo. Tipo de homem que na Itália recebeu o nome de "cortesano" e na Inglaterra de "noble man". Esse termo começou a se popularizar por volta de 1520, e popularizar é modo de falar: a literatura cortesã é a mais aristocrática de todas. Se voce quer ler aquilo que um verdadeiro aristocrata leria, o século XVI é seu século.
  Antes, em plena idade média, a literatura e as artes variavam entre o popular ( aquilo que nasce das tradições das ruas, das festas ) e a igreja. O povo era religioso, mas a igreja, dentro de suas catedrais e seus mosteiros, não. Daí viria o nascimento das universidades, todas religiosas, e depois das nações, todas começando em um centro universitário. ( ´Portugal não. Nasce antes de todas as outras nações. Portugal, a mais antiga nação europeia, começa no século XII. A consciência de ser francês ou ser inglês só nasce cem anos mais tarde ). Voltemos então ao fidalgo...
  Quando a imprensa é inventada, a Europa é inundada por Bíblias. E por livros de cavalaria. No centro de tudo isso, dessa revolução mental e espiritual, nasce a figura do fidalgo, do cortesão. Uma literatura voltada para o aristocrata. Uma literatura contrária ao comerciante, ao padre e ao artesão.
  Já naquela época, principalmente na Itália, pessoas mais atentas percebiam que o mundo era do dinheiro, e que o dinheiro era do banqueiro, do comerciante e do navegador. A igreja precisava se aliar ao dinheiro e os reis eram financiados pelo capital. A nobreza, antes símbolo do poder e donos do destino, foram jogados de lado. Se transformaram em testa de ferro da burguesia ou em adereços de desfiles cívicos. Nasce então a literatura que sonha em manter a aristocracia viva. Que já percebe o começo do fim de uma época.
  Pense bem. Se o mundo de Deus é dos padres e o mundo da matéria é dos burgueses, o que resta ao aristocrata? A história. O passado. O mundo dos sentimentos puros. O mundo platônico. Mas, como viver e agir dentro desse mundo imaterial? Sendo um homem imaterial. Viver dentro do universo dos símbolos.
  Garcilaso de La Vega é um aristocrata exemplar na mais aristocrática das nações, a Espanha de 1550. Nobre, rico, mas sabendo que a fartura minguava, De La Vega é poeta, é soldado, é amante, é viajante, e morre jovem, aos 32, no campo de batalha. Como ele, muitos nobres de Portugal, França, Itália, têm esse mesmo ideal de vida. Viver pelo e para o Amor.
  Em Garcilaso só se fala do amor. Em todo lugar, em todo canto, em toda mulher, é o Amor quem surge. O universo existe pelo Amor e por ele se morre. A obra e a vida de um fidalgo é refinada, filtrada, pelo Amor. Um fidalgo existe como ser que ama, todo o tempo. Ele acorda e se prepara para o Amor. Ele se exercita para a luta em defesa do Amor. Suspira por Amor e morre em nome dele. Todas as regras de vestuário, de etiqueta à mesa, de conversação, são criadas para ser um amante vinte e quatro horas por dia. O fidalgo se comporta entre homens, seja numa caçada, seja numa guerra, como se na presença da Amada, sempre. Esse o nascimento do homem nobre, tão ridicularizado a partir do iluminismo. E tão grotescamente exagerado na França de Luis XV e XVI. Como tudo que é humano, portanto imperfeito, o fidalgo com o passar das eras foi sendo facilitado. Tudo o que era mais difícil foi esquecido e o menos penoso, ressaltado. O nobre se torna apenas uma máscara. O espírito da coisa desaparece.
  Mas em 1550 está vivo. E ainda se deve não só ser elegante, mas também lutar, defender, arriscar, se sacrificar. E saber conversar, fazer rir e escrever sobre o Amor.
  De certo modo a fidalguia destruiu Espanha e Portugal. A casta dirigente se encantou e se platonizou. Nada de mundo real, apenas cartas de amor e batalhas perdidas.
  PS: Todo adolescente é aristocrata em algum momento da vida. Nem que seja só por seis meses. Os mais infelizes carregam isso para toda a vida. Mas é uma aristocracia sem elegância, claro, e sem batalhas para vencer ou perder. Uma aristocracia hiper platonizada.
  PS2: Nobres davam regras sobre etiqueta e gosto para a burguesia que os invejava. No mundo virtual, todos nos comportamos como nobres. Não admitimos que nos ensinem, queremos ditar. Sabemos tudo e ansiamos por uma corte de seguidores. Cada post é um ato de sedução. Mas NUNCA EM NOME DO AMOR. EM NOME APENAS DO ORGULHO.
  Pense nisso.

Noel Coward's This Happy Breed - great preview



leia e escreva já!

THIS HAPPY BREED - DAVID LEAN ( CONSTELAÇÃO FAMILIAR ).

   Infeliz o povo que não consegue mais fazer filmes como este. Pior ainda, infeliz o povo que não vê mais sentido em histórias como esta. Do que trata, e por que "constelações familiares" ?
   Primeira cena do filme: Um jovem casal está de mudança para uma casa simples. É uma daquelas casas inglesas de tijolo marrom, uma fila sem fim de casas iguais: uma sala e uma cozinha; em cima, dois quartos, mais um jardinzinho nos fundos. A mudança é feita eles arrumam e limpam tudo, a casa é bem suja. Um filho e duas filhas, são os Gibbons e a história começa nos anos 20. A Inglaterra se encontra tomada por greves e desemprego.
  Um vizinho faz amizade com eles. Começam os namoros. Casamentos, vinte anos serão exibidos em duas horas de filme. Eles passam pela Segunda Guerra, passam pela morte de um membro da família, e depois de mais um. Uma filha foge de casa, e depois, muito depois retorna. E tudo é regado a chá, muito chá, dor contida, piadas, whisky, mais chá e o jardim do pai. E é aí que desejo chegar:
  Um namorado da filha é um jovem socialista anarquista, do tipo que havia aos montes nas ilhas dos anos 30. Numa discussão com o pai dos Gibbons, ele diz que "o mundo precisa mudar já!" O pai, cuidando das rosas, diz que "a Inglaterra ama jardinagem...e por isso somos do jeito que somos...temos paciência porque sabemos que as coisas têm um tempo para crescer, florir e morrer...quero que o mundo seja melhor...mas sei que a vida não é diferente deste jardim..." Robert Newton é o ator que diz esta frase simples, e muito do seu encanto se deve ao charme desse ator inglês. Talvez voce então já tenha notado o que desejo dizer... O filme, de uma forma discreta, leve e grave, sem apelos, mostra despudoradamente o VALOR SUPREMO DE UMA FAMÍLIA. O que vemos diante de nossos olhos, cheios de maravilhamento, é a mais simples, a mais banal das histórias: vinte anos na vida de uma família absolutamente comum. Nem ricos nem pobres, nem felizes, nem infelizes, sem bandidos ou santos. Banais, banais como todo pai é, banais como toda mãe é.
  Steven Spielberg gosta de dizer que David Lean nunca fez um filme menos que bom. Discordo. Ele tem um filme chato ( A Filha de Ryan ) e cinco obras primas. Este é talvez seu maior e melhor filme. E é o mais simples e modesto. This Happy Breed se tornou nos anos 2000 um clássico tão cult como Coronel Blimp, de Powell. São amados com carinho e com respeito.
  Voce tem de ver este filme. Para entender a IMPORTÂNCIA DE SUA VIDA. A dignidade da vida comum. A beleza do chá banal de toda hora. O pai modela toda a moralidade daquela família. E a mãe dá à todos a força física de uma presença real. O filme, feito em 1949, é retrato perfeito e doloroso de um mundo que morria após a guerra. Um mundo do qual sentimos falta. Não criamos ainda um melhor para colocar no vazio deixado.
  Não veja este filme esperando moral ou beleza fácil. A vida dos Gibbons é árida. Espere dele uma lição. Uma aula. Uma chamada à ação.
  Um dos mais belos filmes já feitos. E o mais comum entre os grandes.

Haru & Natsu, As Cartas Que Não Chegaram 01



leia e escreva já!

HARU E NATSU, CARTAS QUE NÃO CHEGARAM.- SUGAKO HASHIDA.

Em 2005 a NHK do Japão fez uma série em cinco partes tendo por base este livro. A série passou aqui e assisti apenas o último capítulo ( não sabia do que se tratava ). Gostei do que vi, tinha aquele emocionalismo travado, bem nipônico. Agora acho o livro, por acaso, em um sebo. Ele é de 2002, escrito por uma japonesa e foi traduzido por 3 pessoas. O texto, o estilo é árido e não sei se é um problema da tradução ou se ele foi composto desse modo hiper direto em sua origem. Vamos ao tema:
Nos anos 30, o Japão em fome absoluta, uma família resolve vir ao Brasil. Mas uma das meninas fica no porto, pois ela tem uma doença transmissível. São trocadas correspondências, mas os endereços estão errados, e assim, se passam 70 anos. A história das duas irmãs, uma no Japão e outra no interior de SP é o que se conta.
Os japoneses eram enganados. Vinham para cá com a promessa de enriquecer em 3 anos. Ao contrário de portugueses e italianos, que se mudavam para o Brasil sem a ideia de retorno à pátria, todo japonês vinha com a intenção de retornar o mais rápido possível. E acabavam ficando presos aqui. Se endividavam, eram explorados, nunca conseguiam juntar dinheiro. Tentavam manter a identidade japonesa, tentavam fugir das fazendas, quando fugiam, passavam a plantar aquilo que aqui não se plantava então: flores, caqui, pimenta, peras. O drama corre solto, e quando começa a guerra tudo piora ainda mais.
A irmã do Japão enriquece, e amarga, pensa ter sido esquecida.
Para quem se importa ainda com história e com relações familiares, é um livro bacana. Pena ser uma edição tão mal cuidada.

Ian Dury - Reasons to be cheerful, part 3 (lyrics on clip)



leia e escreva já!

31 CANÇÕES - NICK HORNBY

   Voce sabe que livro é este né? Lançado em 2005, fala de 31 canções pop. Não são as favoritas de Hornby ( sua number one é Lets get it on, do Marvin Gaye, e ela nem está no livro ), são canções aleatórias, claro, todas amadas, mas não as top. Tem Rod, tem Richard Thompson, Nelly Furtado, Bruce...e ele fala ainda de Jackson Browne, Ian Dury ... Não, não vou comentar uma por uma. Aleatoriamente digo que seu texto sobre o Led é legal ( com 14 anos temos preconceito contra canções sem guitarras altas, e aos 30 temos preconceito contra hard rock ). Ele escreve também um belo mea culpa sobre o punk. Diz que black music dura muito mais que o melhor do punk.
   No ótimo texto sobre Ian Dury ele fala o que é ser inglês, e esse é o melhor texto do livrinho. Lembra do que era a Inglaterra de 1974, um país que "sonhava em ser a Polônia"...apenas 3 canais de TV, comida ruim, tédio absoluto e comodismo medíocre. Sua descoberta da América,( foi morar lá aos 16 anos ), a terra da fartura, da diversão, do excesso, da mania de beleza. Uma sacada ótima: Nick Hornby não tem mais saco para música que é "como um tiro na cabeça", "como ser asfixiado", música de sofrimento, de perigo. O insight dele é perceber que as pessoas que consomem música perigosa, música de drogados, criminosos, suicidas, são as pessoas que vivem protegidas, longe do perigo, longe da fome, longe de tiroteios. Quem vem da guerra não quer ouvir uma coisa que é como um tiro na cabeça.
   É um livrinho que li em uma hora, de uma sentada.

O LIVRO DAS EVIDÊNCIAS - JOHN BANVILLE

   Ora, voce pode pensar, mais um romance de John Banville!!! Não, este livro é de 1989 e foi lançado só agora aqui nos trópicos. E, como tudo de Banville, não se parece com nenhum outro livro dele.
   O narrador é um cara desprezível. Na verdade ele nem desprezível é, ele é odiável. Um aproveitador, ladrão, playboy preguiçoso, vaidoso, egoísta, cruel, assassino. É sempre difícil acompanhar um narrador tão pouco gostável. Mas a prosa do autor é tão bem urdida, tão cheia de sabor, que a gente se deixa levar pelo estilo. Comemos o texto. Mas há um erro fatal na parte final do livro. Após a horrenda descrição de um assassinato, passamos a nos sentir incomodados pelo livro. Até então o romance era movimentado, com algum humor, agilidade. Mas após o ato repugnante, ele passa a ser reflexivo, íntimo, pesado. O prazer de ler diminui, mingua, desaparece. Sentimos pena então. O romance, ebulição de prazer escuro, se torna um triste e modorrento, dostoievskiano pecado.
  É o menos bom dos livros do autor irlandês.
  Mas está longe de ser vulgar.

Lady's June Linguistic Leprosy



leia e escreva já!

TOMAS TRANSTOMER NO BRASIL ( ENFIM )

   Ao contrário da maioria dos estudantes de línguas, eu não creio que um dia a linguagem foi mais viva do que é hoje. Palavras, o verbo, foi criado para tratar de trabalho e da vida em comunidade. Sonhos, sentimentos, intuições jamais couberam em linhas, sentenças, sujeitos e adjetivos. Desse modo, posso dizer que a poesia sempre foi um ato em que tentamos dizer o indizível. Todo poeta faz uma atividade fadada ao fracasso, palavras nunca dirão exatamente aquilo que ele sente dever dizer. Mas na tentativa, falha, ele cria uma terceira possibilidade. Ele dá vida à algo que não é inefável, mas que também não é apenas verbo e objeto.
  Transtomer finalmente chega em tradução. Eu o espero desde 2011, ano em que venceu o Nobel. A editora promete lançar mais obras. Eu aguardo. Me identifico com ele. Suas intuições são irmãs das minhas. Ele nunca é emotivo. É como se ele virasse a esquina antes da emoção fluir. Escreve a sensação que nasce antes da emoção plena. Ele olha e recolhe. Ele vê e escreve. Está aberto aos estímulos, atento às pequenas coisas, mas mantém um certo distanciamento, calma dentro da sensação.
  Sua sintaxe é apurada e seu vocabulário simples. É direto. Não se perde em requintes exibicionistas. Tem o rigor do norte.
  Um poeta maravilhoso.

FLORESTA ESCURA - NICOLE KRAUSS

   Ele começa com uma citação de Kafka. Aquela que diz que nunca saímos do Eden. Que na verdade somos incapazes de perceber isso por não termos comido da árvore do conhecimento. Começo então a leitura.
   São duas histórias que se movem de forma paralela. Uma, em terceira pessoa, conta a história do milionário Friedmann, um advogado que aos 65 anos doa todos os seus bens e despojado, ruma à Tel Aviv. Lá ele se envolve com um rabino meio fajuto, uma produção de cinema caótica e planta uma floresta em homenagem aos pais mortos. A outra história, em primeira pessoa, fala de uma escritora chamada Nicole, que foge do casamento e dos dois filhos, indo à Israel se hospedar no Hilton, onde ficava em sua infância, à procura de seu duplo, seu outro eu que vive no mundo "à parte". Ela é contatada por um ex professor velho que lhe envolve na caça aos papéis perdidos de Kafka. Isolada no deserto, ela renasce. Ou não.
  Nicole Krauss é ainda jovem e é considerada uma das maiores promessas das letras americanas. Judia, o romance tem por tema as obsessões judaicas: o duplo, o renascimento, a culpa, o deserto, o desterro, Davi, a escrita. Não só por colocar duas fotos em meio ao texto, fotos que servem para "provar" a verdade de uma coisa ou de um lugar; seu estilo me lembra Sebald, o genial autor alemão. Como Sebald, Nicole mistura personagens de ficção com outros históricos, narrativas inventadas com fatos comprovados, e faz com que não saibamos, às vezes, se aquilo que lemos é romance ou história, invenção ou jornalismo, mentira ou verdade. Sebald é mais radical. Ele realmente nos faz ficar em dúvida todo o tempo. Krauss pega mais leve. Ela é menos histórica e mais íntima. Nicole é Nicole Krauss?
  Essa literatura do diáfano, do confuso, esse mix de invenção e pesquisa, de fato e ficção, é a coisa mais fascinante que se escreve hoje. É retrato de um mundo que sabe muito e por isso sente não ter certeza de nada. Onde o que é pode ser mais, e o que não é pode vir a ser. Onde tudo é uma possibilidade. Inclusive a não possibilidade de tudo.

CAMISA QUE PESA

Camisa que pesa: Nada mais bobo para se dizer sobre o futebol. Camisas pesavam na época da falta de informação. O cara ouvia falar de Pelé e dos feitos do Brasil e quando via um bando de desconhecidos usando a blusa amarela tinha a sensação de jogar contra lendas. Zé Maria, Valdomiro ou Dadá viravam jogadores temidos por usarem a blusa pesada. Ninguém de fora do Brasil sabia o quanto eles eram ruins.
Não há mais camisa pesada porque hoje não se joga contra uma camisa lenda, se joga contra um time de jogadores muito conhecidos. O jogo é entre pessoas que se conhecem, que jogaram contra em seus times, ou pessoas que jogam juntas o ano inteiro. A camisa se tornou apenas uma cor, uma lembrança do passado, não mais o único sinal conhecido.
A gente não sabia nada sobre Overath. Apenas que ele usava a camisa da Alemanha. Então ele deveria ser dono da mística da camisa branca. Hoje saberíamos que Overath era um grande meia armador. E provavelmente companheiros de dois ou três adversários. Cruyff jamais seria uma surpresa hoje. O fato da camisa laranja em 1974 não ter peso nenhum ( era mais leve que a de Portugal ou do Perú ), nada significaria. Do outro lado Zagallo e Rivellino veriam jogadores pesados. E não anônimas camisas laranjas.
Como na Euro, a tendência da Copa é ter cada vez mais campeões inéditos. França e Espanha são a tendência. Foram dois inéditos em 20 anos. E teremos neste ano uma final nunca vista. O futebol se globalizou, E o que vale é o aqui e agora. O passado tem de ser conhecido. Mas é  isso. História.

MATADOURO CINCO

Voce ama ou odeia. MATADOURO CINCO é um filme que impressiona de cara: uma máquina de escrever datilografa a história de um homem que está preso numa viagem pelo tempo. E voce estará preso em um filme que viaja pelo dentro de fora, pelo real e pelo imaginário, pelo futuro e pelo passado.
Pilgrim é um bobo. Calado, não muito esperto, ele é preso do acaso. É um soldado na segunda guerra. É preso pelos alemães. Vê uma nave no céu. Cresce na América dos anos 40-50-60. Casa com uma mulher que não ama. É raptado e enviado para o futuro. Descobre o sexo já na maturidade. Vê a destruição de Dresden pelos aliados.
George Roy Hill dirigiu este filme em 1972. Após seu sucesso em Butch Cassidy, ele faz um filme de "arte". Usa o livro de Kurt Vonnegut Jr. Usa a fotografia belíssima de Miroslav Ondrieck ( tcheco dos filmes de Milos Forman ). Usa a música de Bach tocada por Glenn Gould. E tudo isso junto faz deste filme uma coisa deliciosa, engraçada e trágica, muito trágica e muito engraçada.
As cenas se sucedem em cortes. Cenas muito curtas, algumas muito longas. Aquelas no planeta alienígena são as mais difíceis, o que é aquilo afinal? Seria esta Terra vista sob outro foco? O limite como prazer? Ou Vonnegut brinca com a física quântica? E há a beleza inenarrável de Dresden. Vemos o paraíso possível, humano, ser destruído inutilmente pelo homem, que se cria o céu cria o inferno também. Dresden foi tão destruída quanto Nagasaki. A cidade inteira foi arrasada em uma noite. Toneladas de bombas incendiárias jogadas sobre uma cidade que não tinha tropas e nem fábricas. Uma simples vingança. O filme não faz draminha: tudo é mostrado de forma seca. É de uma aterradora beleza. É o centro da vida de Pilgrim, um Forrest Gump sem doce simpatia spielberguiana.
Este filme foi um grande fracasso. Hoje parece obra de gênio. Ele prova o quão miserável é nosso cinema atual.
Em sequência George Roy Hill ganharia o Oscar com Golpe de Mestre.