O BRASIL DE 2018 E A ARTE DO SÉCULO XX

   A mania por ideologia que o Brasil vive hoje, uma mistura pesada e rancorosa de politicamente correto, esquerdismo mofado e direitismo de fantasia, me fez, afinal, perceber algo que sempre ocorreu durante todo o século XX: o viés ideológico em toda forma de crítica artística.
  Sim, foi ingenuidade minha, mas crescendo em um país sob censura dura, os críticos de arte não podiam dar nome aos bois, e então atacavam Howard Hawks por exemplo, sem dizer o porquê de tal esnobada. No fim do século, nas décadas de 80 e 90, essa patrulha ideológica arrefeceu, mas agora, na segunda década do século XXI, ela tem voltado. Dessa vez travestida de feminismo, ecologia e de "igualitarismo".
  Hoje há um movimento que volta a desvalorizar os filmes de Sam Peckimpah, de John Ford ou de Clint Eastwood. Dentre muitos outros. São os mesmos que eram preteridos em 1970 em favor de Antonioni, Pasolini ou de Welles. Hoje eu sei que se amava tanto esses diretores ( e Godard, e Cassavetes, e Rosselini, e Varda ) , por serem todos eles anticapitalistas, quando não comunistas assumidos. Nesse mundo patrulhado, Frank Capra era taxado de fascista, e apesar desses críticos gostarem de seus filmes, Capra era sempre considerado um "artista menor".
  A lista de diretores e atores desvalorizados por não serem de esquerda é imensa. Vai de Ford e Hawks à Malle, Chabrol, Clouzot, Bresson e Carné. Muito da "genialidade" de Chaplin se deve ao fato dele ser do PC. Buster Keaton, tão genial como ele, era visto apenas como um americano alienado. Brando era maior que qualquer outro por ser visto como um antiamericano. ( Ele era mesmo? ).
  Muitos foram hiper valorizados por esse perfil PC. Picasso, claro que genial em qualquer tom, foi colocado acima de Matisse ( que seria apenas um burguês colorido ), quando na verdade os dois são do mesmo patamar. Não pense que o status de Frida Kahlo se deve apenas à sua pintura.
  Percebo então, com certo aturdimento, um óbvio que demorou muito a me atingir, a de que a crítica e o valor em toda a arte é muitas vezes poluído pela opinião política. Um artista de direita, como Eliot ou Yeats, tem de ter uma genialidade imensa para poder ser aceito por um crítico de esquerda. Para esse crítico, Sartre sempre parecerá maior que Camus e Genet será mais considerado que Saint-Exupéry.
  Tenho amigos que não conseguem mais ver um filme com John Wayne. Para eles, que antes o assistiam com amor, ele é hoje o símbolo do mal. Em sua mente Wayne é um Trump no faroeste.
  Tenho a certeza que se vivo, Nelson Rodrigues e Paulo Francis seriam atacados o tempo todo, sem parar, e seu valor seria diminuído ao burlesco.
  Uma pena.