STONER, JOHN WILLIAMS, A MAIS TRISTE DAS OBRAS PRIMAS.

   Um dos pensamentos mais bobos que existem, e que era moda nos anos 80, era pensar que "antes" de escrever um livro é preciso "viver". Em seu posfácio a este livro, Peter Cameron diz que existem vários livros ruins sobre vidas incríveis, e vários bons livros sobre vidas medíocres. Stoner é um homem medroso, pobre, embaçado, ausente, e tem uma vida tão desinteressante quanto ele mesmo é. Mas John Williams, que viveu uma vida tão boba quanto a de Stoner, consegue fazer desse ser tão vulgar, um herói. O romance, cristalino, é comovente sem jamais tentar ser poético.
   Stoner nasce pobre e vai á universidade. Lá se apaixona por literatura, e vira professor. Se casa e o casamento vira um inferno. Tem uma filha que ele ama, mas que se afasta dele. E faz um inimigo na universidade onde leciona. Morre aos sessenta e poucos de cancer. E é só isso. Williams tem uma habilidade imensa em descrever o clima de uma universidade, em nos falar de uma aula real e em retratar a frustração de um casamento ruim. Mas o livro é mais que isso, e eis um mistério que Peter Cameron levanta: De onde vem esse mistério? O livro é maravilhoso, mas por que é maravilhoso?
   Nunca li uma descrição tão transcendente da morte. No final ele morre e vemos de dentro o que seria morrer. Isso é genial. Mas essas são apenas as 3 páginas finais. E o resto? Ficamos envolvidos por gente comum, gente ruim, gente medrosa, vidas sem significado. E mesmo sabendo que o que lemos é banal, lemos maravilhados. Como John Williams consegue isso?
   Não consigo entender o que este livro tem de tão bom. Mas ele é tão bom quanto um livro pode ser. Ele respira. Ele vive. Ele é real. Stoner é um livro tão bom que a gente tem vontade de o levar no bolso e viver com ele por perto.