STONER E OS LIVROS QUE NINGUÉM LÊ.

   Em 1965, um professor do Missouri lançou um livro chamado Stoner. Ninguém leu e nenhum crítico deu atenção. Era uma época de livros "sensacionais". Era tempo de Norman Mailer, Truman Capote, Tom Wolfe e Gay Talese. Crimes, paranoias, mundo ácido e colorido. O livro do tal professor não poderia ser mais "out of time". Era simples, sem cor, nada sensacional. A narrativa, convencional, descreve a vida de um cara banal. Não há violência explosiva e nem sacadas revolucionárias. Estranhamente, com toda sua convencionalidade aparente, ele não é old fashioned. Não lembra Fitzgerald e nem Heminguay. Ele é estranhamente original. Uma ilha em um mar vazio de ilhas.
  Cinquenta anos mais tarde, eis que a New York Review of Books o reedita. E no boca a boca ele vira cult. O autor, morto oito anos antes, não viveu para ver a ressurreição de seu livro. Não pense que esta história é comum. Livros que são descobertos anos após seu aparecimento são raros. Proust e Joyce podem não ter sido sucessos em seu tempo, mas foram resenhados e amados por críticos e autores de sua época. E mesmo Moby Dick, se foi incompreendido em 1855, foi notório em sua incompreensão. Como Stoner, este livro de que falo, me lembro só de Emilly Bronte e seu Whutering Heights. Um livro que passou em branco e que foi descoberto algumas décadas mais tarde. Tem mais casos. Mas não quero que voce pense que é de lei isso acontecer. A lenda de Van Gogh se aplica a poucos no mundo das letras. ( Kafka não foi publicado em vida. Nada tem a ver com o livro que passa em branco ).
  Uma das coisas mais legais em livrarias é tentar achar um livro mal divulgado e descobrir nele uma joia desprezada. Acho que jamais achei uma pérola.
  Stoner é uma obra-prima.