EMILY BRONTE NASCEU HOJE.

   Emily Bronte nasceu hoje. E isso significa muito. Com ela se cristaliza todo o espírito gótico. Sim, existem fantasmas. Acho que foi Huxley quem disse isso. Que hoje os chamamos de intuição, inspiração, pressentimento, é a mesma coisa. Nas sombras noturnas moram sensações. Só aquele com espírito de concreto não percebe.
   Conheço algumas jovens irmãs Bronte. Elas fazem parte da irmandade sem o saber. Não importa que não saibam, elas mantém a coisa viva neste mundo. Sua alma é povoada de pó, de medos, de desejos irrealizáveis, de lembranças, de coisas escuras e úmidas.
  Heathcliff viu a face de Catherine na janela. E lá fora havia lama, chuva, rochas e árvores doentes. Ele berrou por ela na janela quebrada. Ele rasgou suas mãos no vidro. Ele a queria. Tudo nele era desejo e tudo nele ansiava pelo vazio. É um romance perigoso. Você pode morrer ou enlouquecer com ele.
  Eu adoraria ver o túmulo de Emily. E deixar lá uma flor e uma fotografia. A flor vermelha e a foto não sei do que. Eu adoraria saber que Emily é feliz. Do modo dela. Em outro mundo.
  O espírito de Whutering Heights ( O Morro dos Ventos Uivantes ) se mantém de pé em centenas de manifestações artísticas deste século. Nos filmes góticos. Nos discos tristes. Nas roupas pretas e roxas. Nos versos desesperançados. Porque Heathcliff a perdeu duas vezes: Por ser de outra raça, e depois por ser vivo.
  Kate Bush, que ironia, faz aniversário no mesmo dia que ela.
  E as duas são de leão. Esse signo que é vida e sol, e ao mesmo tempo chora por saber que o ideal é fora deste mundo. O amor respira onde nunca se está.
  Emily, como suas irmãs, Charlotte e Anne, foi levada cedo pela tuberculose. Beleza é que ela viva para sempre pelas palavras que deixou. Que ela tenha enfeitiçado um menino que a leu aos 14 anos dentro de um quarto vazio. Ele sonhou com uma Catherine. E assumiu sua condição de Heathcliff. Morte e vida como uma coisa só. Um fio sem ponto, uma corrente de elos sem fim.