Jane Eyre - Charlotte Bronte.

Charlotte, irmã mais velha da grande Emilly, criadora do monumento literário que é o Morro dos Ventos Uivantes, cria aqui um livro que mistura horror gótico e amor frustrado em doses iguais. Charlotte Bronte escreve melhor as cenas de medo, de mistério e de escuridão. Já quando nos mostra o modo como o amor se afirma ela é menos eficiente. Jane passa fome, trabalha, luta, foge e quase morre. As pericias são muitas, o livro é rico. Vitoriano em todo seu caráter, ele joga com valores morais, com dinheiro, familia e sociedade. E, claro, tem o lar como céu desejado por todos. No romance vitoriano a casa ocupa o centro. Veja que até o seculo dezoito a casa mal se descreve, é um nada sem muito valor. A trama ocorre em sociedade ou na natureza. No seculo dezenove, temos a casa como personagem central, ou sua ausência como dor maior. Jane Eyre tem toda sua dor e toda sua motivação nessa instituição, o paraíso da casa, o reino da privacidade.

Herança Vitoriana

Uma poltrona junto à janela. A lareira. Abajures. Mesa com um Porto. Aparelho de chá. Um cão fiel. Flores. Cartas. O ursinho Teddy Bear. Beatrix Potter. Peter Pan. Charutos e brandy. Holmes e Drácula. Bigode. Chess. Manta e cachecol. Atkinsons. Tecido xadrez. Trens. Planos e táticas. Diplomacia. Espiritismo. Pragmatismo e fotografia. China. Fabergé. Cavalos. 

Linguagem. Adestrados e Engasgados.

A coisa tem nome: adestramento. Somos adestrados com uma linguagem, violentamente somos treinados a falar, mais e acima de tudo, passamos a aceitar a ideia de que o real só é possível se for um discurso. Adquirimos,  compulsivamente a lingua e o pensamento vira discurso e o sentimento vira palavra e a intuição vira verbo. Fora da lingua nada mais existe. Se não fala é bicho, é morto, é pedra. Fora da palavra o vazio. E nessa linguagem vem a linha, a vida se torna compreensível apenas na linha, na forma da linha discursiva, começo, meio, fim. Linha. Mas hoje se começa a se perceber que não. Embora ainda seja cedo para ver, começamos a suspeitar que a lingua é apenas um modo, arbitrário de se poder conviver, pensar, fazer parte, mas que o universo fora da lingua Existe e é um outro. Fora da linha infinitas possibilidades. Converso com dois físicos e eles me dizem que a Física não aceita há muito o positivismo, ou seja, o conceito LINEAR de progresso, de tempo ou de certeza. O Universo é incerto e em nossa Pobre lingua. Inexiste uma forma linguística. Que Dele dê conta. Somos coisas que são porque falam e que pensam Como falam. Mas a coisa desanda. A lingua é uma ideologia que nos faz Ser aquilo para que a palavra é.  Com a lingua eu posso falar Contra a própria lingua, mas continuo dentro dela e seguindo suas leis. Não seria a historia da modernidade uma luta contra a lei da lingua? Mas o modernismo perdeu, não havia como sair da linha sem se tornar incomunicável. Não conseguimos pensar duas coisas ao mesmo tempo porque a lingua não o permite. E nunca abarcaremos o infinito porque a lingua é impotente. Do nome vem um adjetivo e tudo se faz no verbo. É assim que podemos pensar, falar e ver: De um começo um fim e de uma ação a devida consequência. É pouco. O universo é mais que nossa. Pobre

Peter Gay, Os Vitorianos.

O século dezenove começa com a derrota de Napoleão, 1815, e termina em 1914, com a guerra mundial. Peter Gay fala direto, é preciso fazer justiça, o século da burguesia, o século vitoriano foi um século feliz. Peter desmistifica a imagem comum do que seria esse tal de vitoriano. Primeiro deixemos claro, um meio que nos deu Darwin, Pasteur, Burckhardt e Baudelaire não e de todo mal. No centro da burguesia nasceu o voto feminino, o fim da escravidão e o conceito de vida privada. O autor é brilhante no modo como demonstra que até. O século XVIII dormia-se em publico, fazia-se amor detrás de cortinas. A ideia de privacidade era inimaginável. Nem desejável. Toda a vida era vivida em grupo, à vista de todos. O vitoriano, inimigo em tudo do aristocrata, abomina e teme a falta de privacidade. Ele precisa de segredo, de um lugar só seu. E mais que tudo, ele precisa da família. O vitoriano é o homem com uma pasta e um guarda-chuva, ele precisa de uma casa com recantos só seus, mas ele é também o homem que abre estradas na África, compra quadros de Cézanne e escreve artigos contra a guerra. Peter Gay mostra cartas que revelam vida sexual por detrás dos roseirais, sensualidade após o jantar e curiosidade em mulheres que não eram assim tão frígidas. Peter Gay, biógrafo famoso de Freud, diz que assim como Freud pensou que o particular fosse o geral, e cometeu o mal entendido de crer que o extraordinário fosse uma regra, os anti-burgueses, Flaubert, Zola, popularizaram a ideia de que todo burguês era um chato. Transformaram seus conhecidos em fato do mundo. Gay fala ainda dos diários, uma mania tipica da época, do surgimento do conceito de adolescência, dos colecionadores e das feministas. A leitura é deliciosa. Ao final, ele compara os séculos, e favorece o dezenove, tempo de otimismo. O seculo vinte passa como o mais cruel dos tempos e o menos vitoriano dos mundos. Deles, desse mundo ponderado, controlado e amigo do diálogo, mantivermos apenas a privacidade, que agora é solidão. Familia, cavalheirismo de camaradagem entre iguais é conceito morto. Eis o porque desse fascínio que a época exerce, ela é o ultimo tempo seguro, ela promete coisas como calma, lar e familia. Apesar de ser esse o tempo da ansiedade, foi nos anos pós Napoleão que se começa a falar de tédio e de nervosismo, ao contrario do século vinte, os vitorianos acreditavam no futuro. Eram humanistas. Amavam a inteligência. Hoje amamos o quê?

Ao Vivo No Village Vanguard- Max Gordon

Max Gordon veio ainda criança da URSS. Família pobre, trabalhou quando teen em pequenos empregos. Nos anos trinta abriu o Vanguard. A principio casa de poesia. Poetas, tipos esquisitos iam lá para declamar e principalmente para provocar…. Causa uma certa tristeza. Saber que esse tipo de casa não mais existe. Um lugar barato, onde gente idealista se sinta em liberdade. Max começou a causar frisson com Leadbelly o grande cantor de blues folk. Acompanhado por Josh White, o Vanguard vira referência. Quando em 1939, a muito jovem Judy Holliday se apresenta com seu grupo de sketches, o su sucesso se torna nacional.  No grupo,além de Judy, que em 1950 ganharia um Oscar, estavam Betty Comden e Adolph Green, no futuro roteiristas de Cantando na Chuva… Humoristas como Lenny Bruce e Woody Allen começaram por lá. O pessoal do folk, Pete Seeger, Burl Ives, Woody Guthrie. E, claro, o jazz. E é fantástico ler o texto de alguém que viu, conviveu com os caras. Miles Davis, orgulhoso, chic, frio, com sua voz gélida. O violento Charles Mingus, que socava músicos ruins, andava armado e não se sentia valorizado. Sonny Rollins, o cara que tocava sozinho em cavernas da Índia. E uma conversa incrível com Nica, a nobre inglesa que ajudava Thelonious Monk. De mais divertido há a hilária historia de Timothy Leary e a noite psicodélica. Um livro da Cosac, obrigatório para amantes de jazz e de u a boemia que morreu, segundo Max, com a TV, que passou a capturar o talento antes de seu aperfeiçoamento nas boates… melhor,Max escreve muito!

CORONEL JACK- DANIEL DEFOE

   Daniel Defoe escrevia para garçons. E para mulheres entediadas. E é essa sua maior importância. Antes de Defoe, livros eram escritos para eruditos. A literatura era específica. Homens, professores, religiosos, filósofos. Livros eram para gente do meio, gente de poder. E portanto, os textos eram como coisas fechadas. Com Defoe, que antes de romancista foi jornalista, livros passam a ser produtos. E como produtos devem ser vendáveis. O apelo precisa ser geral. O interessa variado. Daniel Defoe é portanto um escritor moderno.
   Este livro trata de um garoto que vive nas ruas de Londres. Ele rouba. Depois de várias peripécias ele vai aos EUA. Como escravo. E fica rico. Interessante o modo como Defoe vê a escravidâo. Brancos eram escravizados. Condenados ingleses eram enviados a colônia como forçados. E lá o personagem de Defoe descobre que negros têm alma! Essa parte pode chocar leitores de hoje. Mas é mérito do autor ser razoavelmente liberal. 
   O romance tem um esquema bem definido. Tudo começa nas ruas. Depois vem a fuga da lei ( e essa é a parte que mais gostei, uma viagem a pé até a Escócia ). A vida como colono na América. E só então, as mulheres. Casamentos que fracassam. Como em Robinson Crusoe, as mulheres pouca importância têm. Fala-se muito de dinheiro. O que importa é sobreviver. Comer. Ter onde dormir.
  Escrito no começo do século XVIII, época crucial em que o romance surge como manual do mundo burguês, Defoe exibe todas as qualidades e defeitos da sociedade que seria a dominante pelos próximos dois séculos.

A MAIS ODIADA DAS MATÉRIAS

   Inesperado este fato. Na faculdade de educação, que reúne gente de todas as áreas, é com o povo de exatas que me dou melhor. Deixarei de arriscar qualquer motivo porque pode ser mera coincidência. Mas é fato: eles riem mais!
   Faz dois anos que tenho me interessado cada vez mais pelas ciências exatas. Matemática. Há nela a beleza da abstração pura. E a criatividade da mais alta arte. Ela é vítima de preconceito. Pensam que ela nega a poesia, estraga o misticismo, deixa o mistério sem graça. Bobagem! Ela é poética, é irmã do mistério e em cada descoberta nasce um segredo cada vez mais obscuro. Seduz e mais que a filosofia ou a psicologia, torna a vida clara, nítida. 
   Darei uma rápida geral em Whitehead, um dos maiores gênios da lógica matemática para vocês entenderem o que me fascina.
   Inglês, trabalhou com Bertrand Russell e depois lecionou em Harvard. Viveu mais de 90 anos. Como Russell, ele parte da ideia de que tudo em matemática parte de premissas lógicas. Mas ele vai mais longe que Russell. Whitehead vai adiante.
    O Universo é uma experiência e como tal está em constante transformação. Duração, interpenetração, valor, organismo e objetos eternos, disso se compõe o Universo. Tudo isso propicia a eterna mudança, mas por baixo desse processo algo permanece sempre o mesmo. 
   Se uma montanha desmorona e desaparece ela jamais voltará a existir, pois nunca mais será a mesma montanha, e a matéria de que era constituída continua a formar outras realidades. 
   O Mundo portanto não é um conjunto de coisas, mas sim uma trama de acontecimentos sem um fim. Um corte transversal nesses acontecimentos é um momento único que nunca mais voltará a acontecer. Esse o acaso que acontece na arte, trabalho que a ciência faz, a captura de uma fatia da trama, congelamento de um momento da teia de eventos. Podemos, com sorte e sensibilidade, capturar uma fatia, mas jamais veremos o todo em sua mutabilidade. 
  Parece que não, mas isso é matemática, a tentativa de captar uma fração do todo, um momento da eternidade, o entendimento de um mínimo possível.
  Poesia? Não, pois aqui tudo é lógico. Mas há intuição, há sensibilidade e há ousadia.
  É bacana pacas!

Mystery of the Lost Fawcett Expedition : Documentary on Percy Fawcett Lo...



leia e escreva já!

CORONEL FAWCETT, A VERDADEIRA HISTÓRIA DO INDIANA JONES QUE SUMIU NO BRASIL- HERMES LEAL

   Vale muito a pena caçar este livro em sebos, na Estante Virtual, onde for. Ele é de 1997 e está totalmente esgotado. Não é bem escrito, a escrita é tipo jornal diário, apressada, mas o tema é tão fascinante, o personagem tão louco, raro, corajoso, complexo, que o livro se torna um prazer, uma fonte de aventura e um tema intrigante. Vamos lá...
   Percy Fawcett nasceu na Inglaterra em 1867. Cresceu portanto durante o reinado da rainha Vitória, o auge do mais poderoso império da história do planeta. Estudou, cresceu, se tornou coronel. Foi servir no Ceilão, e lá descobriu duas coisas: Seu amor pelas aventuras e sua queda pelo misticismo. Se tornou budista, um adepto da boa saúde e um explorador. Saindo do Ceilão, foi trabalhar na Bolivia, enviado para fazer a marcação definitiva entre as fronteiras. A coisa foi infernal!!! Impressionante o relato do que era aquela região no começo do século XX. Lama, fome, índios hostis, mata fechada, chuva, insetos. A expedição toda feita a pé e em canoas, meses sem comunicação, perdidos, reencontrados, perdidos de novo. É nessa selva que ele ouve falar de uma civilização perdida. A Atlântida, terra que existiria no Mato Grosso, Brasil. 
  Esse tema se torna uma febre mundial. Conan Doyle e R. Haggard, amigos de Fawcett, escrevem best sellers sobre o tema. Fawcett vai ao Brasil  e em 1920 parte rumo ao Mato Grosso. Ele tem a absoluta certeza de que vai encontrar um reino perdido. Devo contar mais? O que acontece? 
  Muita coisa acontece. Fawcett se perde no noroeste do estado. Essa expedição é um desastre. Entram em cena personagens como Rondon, os irmãos Villas-Boas, Chatô, Getúlio Vargas, e uma centena de caciques, tribos xavantes, kaiapós, todas perigosas, manhosas e quase desconhecidas. Para um brasileiro é tudo familiar. Na segunda expedição, cinco anos depois, ele penetra o Xingú, caminha rumo a Serra do Roncador. E desaparece. Para sempre. 
  O mundo cobria essa aventura. E com seu desaparecimento, provavelmente morto pelos índios, vem a parte mais doida do livro. Americanos, alemães, ingleses, todos vêm à procura de Fawcett. Encontrar o explorador se torna tema de jornais, o Times oferece um prêmio. E assim, pencas de lunáticos desaparecem no Mato Grosso, na Amazônia, em Goiás. São relatos fascinantes de um tempo em que o mundo ( 1930 ) ainda tinha lugares completamente secretos, nunca vistos, vastos pontos em branco nos mapas. 
  Mas o Brasil não era assim e esse foi o grande erro de Fawcett. Ao contrário do Peru e da Bolivia, que tinham imensos territórios realmente virgens, Rondon e o exército brasileiro já tinham mapeado todo o Mato Grosso, Goiás...Apenas a Amazônia era intocada, mesmo assim, apenas nas beiradas, o ciclo da borracha a havia desvirginado. 
  Isso é o que dá um ar de patética tragédia a tudo. Fawcett procurava as ruínas secretas pensando sempre estar pisando onde nunca homem algum pisou, e lá no fim do mundo, após meses de caminhada, fome, dor e medo, o que ele achava? Uma linha de telégrafo, uma fazenda, sinais de civilização. Na ansiedade por achar a cidade perdida, ele entra onde nunca poderia ter entrado, no Xingú, e desaparece. Não vamos esquecer que Machu Pichu foi encontrado somente nos anos vinte. Mas no Peru, no meio dos Andes, em um lugar realmente inexplorado. Em Mato Grosso, e Rondon o avisou, nada apontava a existência de ruínas. Mas Fawcett acreditava em todos os boatos, nas histórias dos peões, nos mitos dos índios.
  Já ao final, em 1995, há uma super expedição para se tentar encontrar rastros de Fawcett. O que acham? Nada. São roubados pelos índios do Xingú, que lhes tomam barcos, carros e equipamento de video. Se voce quer perder todo o romantismo pelos nossos índios, leia este livro. Ele não é contra o índio, apenas não o idealiza.
  Fawcett sumiu com um filho de 26 anos e um amigo do filho, de 24. Nunca mais se soube nada. E este livro, com fotos, é um belo testemunho.
  PS: Ah sim, Spielberg conheceu a história de Fawcett, ainda moleque. Indy é um tipo de irmão mais novo do inglês.

NOLAN/ GUY RITCHIE/ LILI/ DRÁCULA/ MAMOULIAN/ HG WELLS/ JODIE FOSTER/ JEAN HARLOW

RECKLESS de Victor Fleming com Jean Harlow, William Powell, Franchot Tone, Rosalind Russell e Mickey Rooney.
Quase uma obra-prima. Fleming, alguns anos antes de Oz e de E O Vento Levou, nos conta uma história que mistura drama, humor e surpresas. Powell é um malandro que vive de jogo, Tone é um rico excêntrico, Harlow uma dançarina de boate amiga de Powell. O drama surge após o casamento. Finalmente eu percebo o porque da fama de Jean Harlow, o maior sex-symbol da Metro dos anos 30. Ela realmente dá um show aqui! Vai da alegria à tristeza, do humor ao drama com naturalidade. Para quem não sabe, ela morreria cedo, em 1937, numa infecção urinária. Powell está excelente, também tem uma grande atuação. Ele transita da frieza de um malandro egoísta ao amor frustrado pela dançarina que se casa com outro. Um grande filme que tem ainda pequenos papéis para Russell, uma mulher chique de NY, e Rooney, ainda criança, como um garoto das ruas. Nota 9.
GUERRA DOS MUNDOS de Byron Haskin com Gene Barry e Ann Robinson
Humilha o filme de Spielberg. O livro de H G Wells transposto para os EUA dos anos 50 com efeitos especiais brilhantes de George Pal. Observe como a história é contada com calma, os personagens desenvolvidos, e a ação vem após sua preparação. Marcianos invadem a Terra e botam pra capar. São maus. O final do filme, quando vi a primeira vez, aos 12 anos, me deixou maravilhado! O filme é uma delicia do começo ao fim e o design dos discos voadores e dos invasores é brilhante! Grande filme! Nota 9.
THEM! de Gordon Douglas com James Whitmore e Edmund Gwenn.
O famoso filme sobre formigas gigantes. O clima de suspense é excelente durante seus primeiros trinta minutos. Mas ele cai quando surgem as formigas. Elas não assustam. Era melhor ficarem sempre em suspense. De qualquer modo a ação é bem conduzida, os efeitos sonoros hipnóticos, um bom filme. Nota 7.
BUGSY MALONE de Alan Parker com Jodie Foster e Scott Baio.
Um dos filmes mais estranhos já feitos. Por que fazer um filme de gangsters em que todos os papéis são feitos por crianças entre dez e doze anos? E onde as armas disparam chantilly? E os carros são movidos a pedal? E com músicas de Paul Willians? Pra que? Foi o primeiro filme de Parker, ele vinha da publicidade inglesa. Hoje, esse filme teria de ser mudado, as meninas as vezes parecem um convite à pedofilia, principalmente Jodie, que aos 12 anos está estranhamente adulta. Quer saber? Do meio em diante voce relaxa e até se diverte, os meninos são todos muito bons atores e há um mafioso italiano que é hilário! 5.
MUSEU DE CERA de Andre de Toth com Vincent Price
A história do artista que expõe figuras de cera que na verdade são pessoas mortas. Feito em 3D, o filme não provoca medo algum, mas tem uma grande atuação de Price, a voz cavernosa e pomposa e o rosto sempre em ironia. Um certo clima noturno ajuda também. Nota 5.
MISTÉRIO NO MUSEU de Michael Curtiz com Fay Wray e Lionel Atwill
A versão do Museu de Cera dos anos 30 é constrangedora. Tentam misturar filme de jornalista esperto, que era moda na época, com filme de horror. O resultado é de uma chatice constrangedora. ZERO.
O MÉDICO E O MONSTRO de Rouben Mamoulian com Fredric March, Miriam Hopkins e Rose Hobart.
Um dos mais eróticos filmes já feitos. E sem nenhuma nudez! March, numa atuação que mistura horror e fragilidade, é o cientista que cria um soro. Ele vira Hyde, sua sombra, um tipo de troglodita que é puro desejo. Hopkins é a prostituta que ele abusa. O filme é brilhante e assustador. Mamoulian, que foi um diretor cheio de ideias, farto de senso de imagem e de clima, faz um trabalho de câmera imaginativo e ao mesmo tempo tenebroso. Vivemos o pesadelo do cientista, sua angústia e sua destruição. O filme tem um clima de sadismo forte, sabemos tudo o que Hyde faz com a moça. Feito em 1932, ou seja, antes da criação da censura na América, este filme seria inimaginável se feito em 1936, ou 40. Ou até 1959. March levou o Oscar de melhor ator. Mais que merecido! É um dos grandes filmes de seu tempo. Nota DEZ.
DRÁCULA de Tod Browning com Bela Lugosi, David Manners e Helen Chandler
Ninguém queria fazer este filme, achavam que seria um fracasso de bilheteria. Acabou por salvar a Universal da falência em 1931. É o filme que criou todos os clichés sobre Dracula. Algumas cenas ainda são nojentas, Bela Lugosi, todo pose e sotaque, inventa um ícone do século, e os sets são magníficos! Não é um grande filme porque Tod Browning era um diretor sem capricho, e que odiava o cinema falado. Mas é um filme ainda divertido e de importância histórica imensa. Nota 6.
LILI de Charles Walters com Leslie Caron, Mel Ferrer, Jean Pierre Aumont e Zsa Zsa Gabor
Passava muito na Sessão da Tarde dos anos oitenta. Vi em 1988, adorei e só o revi hoje. É um dos mais originais filmes que já vi. Uma jóia que me lembrou até mesmo o cinema de Powell. Lili é uma menina de 16 anos orfã. A procura de emprego, ela acaba seduzida por um mágico casado. No circo onde ele trabalha, ela consegue emprego com um ventríloco que é na verdade um neurótico agressivo. E no meio disso tudo, algumas músicas lindas, poucas, e uma simplicidade absoluta. O filme é vendido como um tipo de fábula para crianças, mas ele é surpreendentemente trágico. Fala de sexo, morte, solidão e da ilusão que consola. Leslie Caron tem o papel de sua vida. Ela consegue ser ingênua e infantil sem cair na bobice, o que é fabuloso! O filme comove, encanta e volta a comover. E é lindo. Nota 9.
ROCK`N`ROLLA de Guy Ritchie com Gerard Butler e Thandie Newton
É o filme mais sério de Ritchie. Tem seu estilo mirabolante, se passa em meio aos bandidos londrinos, é ágil e tem cenas engraçadas, mas é ao mesmo tempo mais escuro, duro, e toca num tema muito sério, o vicio em drogas sintéticas. Ele é mais feio, sujo e pesado que seus outros filmes. E de certo modo mais adulto. Gostei, mas me diverti menos. De qualquer modo não se engane, Guy Ritchie é um bom diretor. Nota 7.
INTERSTELLAR de Christopher Nolan com Mathew MacCornaghy, Anne Hathaway e Michael Caine.
Uma gororoba pseudo profunda e chata pacas sobre o fim do mundo. Nada faz sentido mas confesso que gostei do final. As linhas, cordas que regem a vida e que Mathew as toca por detrás dos livros de sua casa, essa é uma cena bonita. Totalmente new age e adepta de um tipo de física quântica de manual, mas é bonita. Talvez seja a pior atuação da vida de Mathew. Nota 1.

UM HERÓI DA FILOSOFIA

   A familia de Wittgeinstein era a mais rica da Áustria. Pai industrial. Em casa, eles recebiam Klimt, Mahler, Loos, Rilke. Eram mecenas. Pois bem, o pai temia que sua fortuna se perdesse após sua morte, e apesar de seu amor pela arte, forçava prussianamente os filhos a serem bons homens de negócio. Nunca saberemos o motivo, mas 3 irmãos de Wittgeinstein se mataram. E uma das irmãs foi paciente de Freud. Paul foi pianista, um grande pianista, mas perdeu a mão direita na primeira guerra mundial. Ravel escreveu um concerto, A Mão Esquerda, para esse irmão. E houve Ludwig, o nosso Wittgeinstein. Um herói do pensamento.
   Ele se formou em engenharia para agradar o pai. Depois fez matemática, por prazer. Fez cursos em Manchester, Berlim, Viena. Em Berlim seu ídolo, Frege, indicou Manchester para ele. Lá ele foi aluno de Bertrand Russell. Aprofundou-se na lógica. E passou a usar a lógica para a linguística.
   Ele procurou criar a linguagem lógica, um modo de entender o mundo onde a linguagem fosse sempre válida, clara, objetiva. Isso o levou ao Tractatus. 
   De um lado há a lingua. De outro o mundo. O mundo é o que ocorre. A língua é o espelho do mundo. Logicamente ele foi decompondo o mundo e a lingua. Chegou a menor partícula do mundo e da lingua. E lançou seu aforismo número 7 : Deve-se calar sobre aquilo que a língua não pode falar.
  Para ele, a lingua é científica, empírica, e assim, ela só serve para coisas da ciência.  A linguagem pode explicar o mundo do modo como fazem os cientistas. É como se nossa língua tivesse se desenvolvido para isso e somente para isso. Descrever fatos sólidos, as coisas que podem ser verdadeiras ou falsas, nunca a dualidade. Desse modo, ética, estética, religião, arte e filosofia estão fora da linguagem lógica. Não há na língua um modo lógico de se falar sobre esses assuntos. Isso porque eles não podem ser verificáveis. Dependem sempre da opinião de cada um, de sua história pessoal. Não existe certo ou errado, verdade ou falsidade nesses campos não científicos.
  O que fez Wittgeinstein? Ora, se nossa forma de linguagem não permite a clara escrita ou o claro pensamento sobre ética, arte etc, e se esses eram os campos que ele mais amava, Wittgeinstein resolveu nunca mais escrever. Por honestidade ele se calou. Talvez apenas Pascal e Montaigne foram tão honestos. Wittgeinstein abriu mão de sua herança e foi dar aulas em cidades pobres do interior da Áustria. Para crianças de 7 anos. Ficou seis anos nessa profissão. 
  Nesse tempo seu livro se tornou um sucesso entre intelectuais. O círculo de Viena o colocou como herói da causa. Foram ao encontro desse novo gurú. Afinal, ele dizia que a língua é da ciência!!!! Wittgeinstein logo disse que eles leram tudo errado! Nada entenderam! 
  O contato com as crianças modificou o modo como o filósofo pensava. Ele, após mais de dez anos, voltou a escrever. Refinou suas teses. 
  Wittgeinstein vivia o que filosofava. Tinha uma cabana na Noruega onde ficava isolado para escrever. Andava a pé pela Irlanda. Deu aulas em Cambridge por 3 anos. Foi enfermeiro. Porteiro. Queria a simplicidade absoluta. Uma vida lógica, ética. Cristalina.
  Morreu aos 62 anos, de câncer, em 1951. Sem medo, dizem que suas últimas palavras foram: "Tive a vida que eu quis". 

JAMMIN WITH THE BLUES- LESTER YOUNG, DEZ MINUTOS DE COOL

   O fotógrafo é Robert Burks. O ano é 1944. O som é blues. Jazz. Lester Young e mais...
   A modernidade do clip impressiona muito. Mais que moderno, atemporalidade. Todo chique aspira, desde 1944, a ser assim. As sombras, as roupas cool, a fumaça, o p/b brilhante, os cortes. Aqui temos o máximo do cool, mas por ser cool negro, nunca é fake, gelado, sem emoção. Aqui é aquilo que Bogey chamou de pressão sob controle. Esses caras são netos de escravos! O salto que eles dão é inimaginável. Da pré-história de uma cultura iletrada eles saltam e atingem o top do seu tempo e do nosso tempo. Isso é um milagre!
  Burks foi descoberto depois adivinhe por quem? Hitchcock! Foi Robert Burks o fotógrafo de Vertigo, de Intriga Internacional, de Janela Indiscreta....o favorito de Hitch é o cara que aqui faz essa mágica com luz. Clima. Ele entendeu a coisa.
  A cantora tem a voz quente e o trompete eleva a alma. A bateria de jazz é isso, ritmo, ritmo sem esforço aparente. Em jazz não tem essa do rock. No rock a maioria faz cara de quem está dando tudo, morrendo, suando, é a procura pelo êxtase todo o tempo. No jazz não. Tudo tem de parecer relax, sem esforço, natural, simples, sempre cool. O truque é brincar, to play, sem teatrinho.
  Esses dez minutos são o máximo do máximo. E tem Lester. O sopro mais natural do sax, o suave, o soft, o sexy, o let it loose....assista....

VIAGENS NO ESPAÇO, INTERESTELAR, O FILME DE NOLAN

   Quando lançado este filme, a VEJA, não sei se foi a Boscov, publicou uma matéria em que ele era chamado de o melhor filme de sci-fi desde 2001. E ainda se dizia que em termos de profundidade era Interestelar tão profundo quanto. 
   OK my dear. Tá dificil diferenciar crítica de press release. 
   Contado a grosso modo, o filme de 2015 é a história do fim do mundo redimido pelo amor. Amor sem sexo, o mais puro, amor de pai por filha. Como em Ghost, o fantasminha dá uma luz para resolver os problemas do mundo real. Mas, claro, como Nolan se vê como um homem sofisticado, o fantasma é aquele da física quântica, um cara de outro plano de espaço-tempo. Aff...
   Nolan é o pior tipo de artista que existe. Aquele que leu dois livros de filosofia e acha que sabe tudo da matéria. E exibe esse conhecimento ( entre aspas ) o tempo todo. O melhor artista é sempre, em todos os campos, aquele que sabe muito mais do que escancara. Paulo Francis chamaria Nolan de Jeca. Jeca é o novo rico da cultura.
   Todas as cenas aspiram a ser Kubrick. A trilha sonora entrega isso. Ela tenta dar a tal profundidade às mais tolas das cenas. Porque tudo aqui é óbvio. O filme é totalmente isento de suspense. Mas Nolan é um cineasta de 2015, dos mais populares, então ele apenas finge correr riscos. Se em Kubrick nada era fácil, o herói inexistia e nada havia de romântico ou de bons sentimentos, aqui há uma mocinha bonita na missão, um robot legal e até mesmo um cowboy. Filosofia? Onde? No final do filme de Kubrick tudo ficava aberto. O astronauta, incapaz com seu cérebro humano de compreender a relatividade na prática, era enterrado em um mundo compreensível, a tal sala de estar do século XVIII, o século que cristalizou a razão. No final surgia um bebê, e esse final inquieta por ser enigmático. Porém, jamais gratuito. Renascimento? O espelho dentro de um espelho? Ilusão? Não sei.  No filme de Nolan também há um bebê no final, a filha do cowboy. E além dela, a mocinha na nova comunidade. E não é por acaso que a última cena parece a de uma nova cidade no western do espaço.
   Furos existem às dúzias. O mundo tem poeira e pragas mataram lavouras. Bichos não existem. Mas aparentemente ninguém sente falta de água. Um mundo assim seria um mundo como o de Mad Max, louco, sem lei, desesperado. E com várias igrejas absurdas. A pele seria cheia de chagas, todos estariam sempre doentes e insetos iriam invadir tudo. Mas há mais. Se há tecnologia para se fazer um robot como aquele, para quê enviar seres humanos? Ainda mais um bolha como aquele? 
   O maior acerto de Kubrick foi o de enlouquecer todos na missão. Incluindo o robot. Uma mente humana não tem como suportar a dobra do tempo sem se aniquilar. E um cérebro feito por humanos vai pelo mesmo caminho. Aqui o cowboy volta como se tivesse ido até a esquina e tido uma briga no boteco. Nada muda. É um personagem muito mais ralo que Wolverine. E cito o cara da Marvel porque o adoro.
   Mas porque falar tudo isso? Como disse um amigo meu sobre outro filme de Nolan, relaxe e encare como uma boa aventura!
   Não posso por dois motivos. Primeiro porque não é uma boa aventura. Ele é chato, longo, e só fica bom quando Nolan apela para o amor....tipo Ghost.
   Segundo. O público que adora Nolan o chama de artista. Então eu não posso encarar seus filmes como se encara um filme dos X Men, que são muito melhores e bem mais relevantes. 
   Como artista Nolan apela para coisas que um artista não costuma fazer. Heróis mascarados, refilmagens e emoções simplificadas ao máximo. E como cineasta pop ele é sempre pesado, solene, um chato desprovido de qualquer traço de leveza e muito menos de humor.
   O fato de 2001 ser o filme de sci-fi mais falado de 1968, e este ser o de 2015 mostra o quanto o cinema se vulgarizou. 
  2001 é uma chatice que no fim vale a pena.
  Este é uma chatice que no fim parece bobo.
  E fim.

SEREIAS

Tim Bucley ouviu as sereias
e respondeu a altura.
Ele foi um espírito nobre.
Um amor possível.
Doze versões da mesma canção e todas são lindas...
Ainda tem George Michael, David Gray....

This Mortal Coil - Song To The Siren (1983) HD



leia e escreva já!

BRYAN FERRY - Song To The Siren (live on Jools Holland 12.11.10).vob



leia e escreva já!

Cocteau Twins - Song to the Siren (TV Live)



leia e escreva já!

Robert Plant_Song To The Siren



leia e escreva já!

Tim Buckley - Song to the Siren



leia e escreva já!