Benjamin Britten - War Requiem



leia e escreva já!

BILLE AUGUST/ DIRK BOGARDE/ GUY RITCHIE/ BERTOLUCCI/ COLIN FIRTH/ SOPHIA LOREN

   TREM NOTURNO PARA LISBOA de Bille August com Jeremy Irons, Charlotte Rampling, Tom Courtenay, Melanie Laurent e Christopher Lee.
Em outro filme seria um elenco de tirar leite de pedra. Aqui, neste roteiro flácido, nada pode ser feito. É menos que pedra, é lama. Jeremy Irons foi um grande ator. Nunca me esqueço de sua melancolia em Brideshead Revisited. Nos anos 80 ele era considerado maior que Day-Lewis. Courtenay é mais velho e igualmente grande. Da geração genial de O'Toole, Finney, Hurt e Holm. Este filme é lixo. Parece novela das 9. Os atores, coitados, parecem quase fazer comédia. A gente não consegue crer em nada do que vê. E olhe que o tema é ótimo: a repressão salazarista em Portugal. Deve entrar em cartaz, afinal, um filme que vi a meses com Bill Murray que fala da visita do rei inglês a Roosevelt durante a guerra. Vejam! Eu já escrevi sobre ele e não vou escrever outra vez. Isto aqui, esqueçam. Nota zero.
   DUAS NOITES COM CLEÓPATRA de Mario Matolli com Sophia Loren e Alberto Sordi
Foram filmes como este, chanchada para o povão, que criaram o capital para que Fellini ou Pasolini pudessem filmar. O cinema funcionava assim. Hoje o dinheiro do cinema pop vai para o bolso dos acionistas. Evitem este dvd. A imagem está estragada. Não dá pra ver.
   JOGOS, TRAPAÇAS E DOIS CANOS FUMEGANTES de Guy Ritchie com Jason Statham, Vinnie Jones, Jason Flemyng e Sting
Ainda é o melhor filme de Guy Ritchie. E acho este filme melhor que Transpotting de Boyle, feito quase na mesma época. Puro Tarantino, menos cabeça ( Guy não tem nada de Leone ou de Godard ), muito menos violento. A trama, boa, fala de armas colecionáveis, dívida de jogo, roubo e vingança. O clima é quase de Monty Python. Ótima edição, ótima trilha sonora, os atores estão excelentes. Já dá pra ver o futuro, bom, de Statham. Um Steve McQueen de segunda. Quero mais filmes de Vinnie!!! Nota 8.
   BELEZA ROUBADA de Bernardo Bertolucci com Liv Tyler, Jeremy Irons, Rachel Weisz, Sinead Cusak e Jean Marais
Como é bom ver o grande Jean Marais! Pra quem não sabe, ele foi o muso de Cocteau, ator em seus filmes. E o vemos aqui, gloriosamente forte em 1996! Fora isso não há muito mais o que ver aqui. ( Talvez apenas a discreta nudez de Rachel Weisz ). Liv foi péssima escolha e o filme é arrastado, chato, sem porque. Não o via desde os anos 90. Continua o mesmo. Chato. Nota 2.
   ARTHUR NEWMAN de Dante Ariola com Colin Firth, Emily Blunt e Anne Heche.
Adoro Firth. É meu ator favorito de agora. Então consegui o filme, novo, pra ver. O tema prometia, um cara que abandona sua vida antiga, muda de nome, sai pelo mundo e encontra um mulher doida-down no caminho. Mas...o pretensioso diretor estraga tudo! Não há uma única cena que não grite em nossa cara: "Vejam! Isto é Arte!" O caramba de arte!!! É um lento, bobo, silencioso, vazio, sonolento filme. Blunt está bacana, mas fazer o que com um papel que já foi feito milhares de vezes só neste século? Firth fica sonolento em meio as falas ralas e vazias. Nota? Nada.
   A SOMBRA DO PECADO de Lewis Gilbert com Dirk Bogarde e Margaret Lockwood
Um pequeno filme inglês sobre um odiável malandro que mata sua esposa rica e muito mais velha. Se casa de novo e quer repetir a dose. Suspense e clima. Bogarde foi um ídolo do cinema inglês dos anos 50. Quando assumiu sua homossexualidade passou a filmar coisas como Morte em Veneza de Visconti. Gilbert iria dirgir alguns dos melhores James Bond. Nota 6.
  

AOS 7 E AOS 40- JOÃO ANZANELLO CARRASCOZA

   O menino narra, em primeira pessoa, sua história. O homem tem narrada sua vida. O fato do menino dizer tudo como um "eu", e o homem como um "ele" já dá a pista. A vida do menino é agora. É o fazer sem questionar. Estar e ver tudo sem a distância da análise. O homem vive longe das coisas. E para nós, adultos, o agora é sempre um depois.
   Cada capítulo tem por centro uma voz. Fala o menino. Fala o homem. ( Que é o menino aos 40 anos ). O menino faz amigos, vai à escola, tem contato com a morte. Alguns capítulos beiram a magia. O do vizinho com suas gaiolas de passarinhos é de antologia. Aos 40 o homem se separa da mulher. Sem brigas, apenas um desgaste. A dor da solidão e da distância do filho. O final é um retorno que não se faz. As coisas não voltam. Morreram. Ou não?
   O autor é grande. No Brasil ninguém escreve hoje assim. Ele sabe olhar. Nada de neuroses. O homem sofre, o menino tem medo, a mãe chora, o pai é humilhado, mas tudo é "normal". Não é a tal literatura da falta de sentido. Não existe exagero, hiper-drama e também não há a pequenez de gente morta-viva. São pessoas como eu, como voce, gente comum, simples, da média. E na visão de João, elas são dignas, fracas, grandes, bonitas, banais, únicas.
   Tem de ler.

BENJAMIN BRITTEN

   Assisto meio sem querer um doc na tv Cultura sobre Benjamin Britten. 30 de maio de 1962, para os ingleses, a data mais importante da música do século XX. A estréia do War Requiem de Britten.
    Alegria ver aquilo tudo. Britten foi amigo de Isherwood, de Auden, daquela irriquieta geração de ingleses contestadores. Um pacifista radical, manteve sua militãncia a vida afora. Contra TODA forma de violência: guerras, matadouros, opressão. Uma posição dificil em plena segunda-guerra.
    O melhor é a música. Sempre divina, pois Britten foi o último músico a escrever para os homens e para Deus. Ele acreditava na parcela divina do homem, embora soubesse muito bem que ela estava sob perigo.
    Posto então um trecho dessa obra.
    É forte.

NO RASTRO DOS BICHOS GRANDES

    Havia chovido e o céu estava sem luz. Andando pelos caminhos, entre árvores que pingavam, fazendo força para não escorregar, vi uma familia de quatis entocados no oco do pé de um tronco apodrecido. A mãe me olhava de olhos arregalados, o pelo marrom brilhando e o rabo erguido. Dois filhotes se agarravam a ela, cuidadosos. Minha reação imediata: andar com cuidado, não fazer barulho, sair de fininho para não assustar aqueles que assustados já estavam. Porque era eu que não devia estar lá. Andei, afastei-me, sumi. Aliviados, espero, eles ficaram então. Para nunca mais.
   Essa cena foi no bosque do Butantã. Acho que em 1995. Em 1995 ainda vivia uma familia de quatis naquele oásis. Gente passava voando na avenida, pessoas falavam de coisas importantes, e os bichos, resistentes heróis de um tempo perdido, viviam sua vida em paz, vida que desconhece tempo, pois é a mesma desde antes de antes do começo. Quatis, voce sabe, não são vítimas do tempo e do movimento, como nós. ( Acho que as pessoas detestam bichos porque intuem que eles estão livres dessa escravidão. Acho que outras pessoas amam bichos porque sabem que eles são a experiência que consegue demonstrar a falsidade do tempo ).
   Nasci em 1963. Minha casa, em frente ao Morumbi sem muros e donos, ficava a uma caminhada de 30 minutos do bosque. Junto a minha casa eu encontrei bicho-preguiça e gambá. E milhares de sapos, cobras e escorpiões. Caranguejos nos lagos. E penso na felicidade disso tudo. Falo com genuino orgulho: nasci em 1963. No Morumbi. No mato. No que era "o fim do mundo". Minha casa tinha tartaruga, patos, galinhas, cachorrros e coelhos. Vi pinto sair do ovo. Vi coelha parir. Tripas de galinha ainda quentes de vida. E ia pra rua atrapalhar as caçadas de meus primos. Espantava os passarinhos e meu primo ficava doido. Isso me dá mais orgulho que diploma, carro novo, namorada bonita, bíceps ou texto escrito. Tive tudo isso. O pato nascendo foi melhor.
   Ao mesmo tempo em que eu olhava admirado a vida dos cupinzais e a cobra-cega sumir no chão, um lagarto-gigante morava entre as folhas podres e os tocos de pau do bosque. Ele esticava sua lingua viscosa e sentia o cheiro dos ovos e vermes que ia comer. O quati via seu rastro. O macaco via seu corpo. O tatú o evitava. Eu lá sobrava. Esse lagarto, vida que não acaba, viveu anos e anos na paz de sombras e de chuvaradas. Um tempo foi avistado por uma menina loura que pensou ter exagerado na bebida. Depois uma criança reteve sua imagem para nunca mais esquecer. E sumiu. Seguiu o rastro do quati. Sua vida de doce ignorância do que fosse tempo foi embora submersa pelo vingativo senhor dos homens. Esquecimento impera.
   Mas eu lembro. Alguém mais lembra. Da inocência dos seres que vivem sem contar a vida. Que reagem ao redor tendo a certeza sempre. Seres que viviam no que sempre lhes foi certo, perfeito, suficiente e eterno.
   Nós, homens, somos destruidores de eternidades.
   Saudades deles, pois. Jogamos fora para depois sentir a falta. Perdemos primeiro, depois queremos.
   Não voltarão. 1963 não vai voltar.
   Que a menina loura guarde seu lagarto para a vida afora. Sabendo que ele foi um não-tempo possível.
   E que os quatis tenham desaparecido sem medo. Dormindo naturalmente no reflexo das manhãs que nunca acabavam.
   A felicidade mora nessa união. Bicho-homem, vida-espaço livre, ser e fazer, querer e poder. Estar e não pensar muito.
   Esta escrita é a árida procura dos rastros.
   ps: É claro que o bosque é o do Morumbi. Bosque do Butantã não existe. Sorry.

AQUELA ÁGUA TODA- JOÃO ANZANELLO CARRASCOZA

   Lembrei de Katherine Mansfield lendo este pequeno-grande livro. São contos sobre coisas pequenas. Pequenas coisas que são as grandes horas da vida. Os momentos que ficam.
    Marcelo Coelho chamou minha atenção sobre este autor. Com 50 anos de idade, ele é um mestre. Logo na primeira narrativa ( todos são contos curtos, 3 ou 4 páginas pequenas ), um menino vai á praia. Senti toda a alegre ansiedade do garoto. A espera do sábado, a descida da Serra, a ida ao mar, as ondas. João descreve tudo como eu o senti. Fui um menino que ansiava pela ida a praia. E pegava onda de peito também. A felicidade do menino era a mesma-minha. Mas mesmo que voce não tenha essa memória, o conto vai te fazer entendê-la e mais que isso, senti-la. Os outros contos não são coisas que vivi, mas são tão bons quanto. Especialmente um, onde um menino vê a mãe em desespero após receber uma carta, e aturdido, não sabe o que fazer para ajudar a mãe a voltar a sorrir. Esse conto, inesquecível. é a obra-prima do livro. Aliás, raros autores atuais têm tanta habilidade para descrever a relação mãe e filho. Isso porque João não escreve apenas bonito, escreve delicado, escreve leve e mesmo nos momentos tristes, sua escrita é feliz. Apesar das dores, da morte, os personagens vivem, são gratos e poder existir e estar aqui. Isso porque eles sentem, olham e contam. João crê na linguagem, nisso ele é um clássico.
   Lançado em 2011 pela Cosac e Naify, vale muito a pena. E ainda tem ilustrações lindas.

LER É PRAZER, SEMPRE

   Tem muita gente que se esquece que ler é um prazer. Claro que existe a leitura de estudo, de trabalho, essas muitas vezes não são um prazer, mas ler tem de ser um prazer, sempre. Não pense que amo um autor dito dificil como Proust por esnobismo. Nunca li Proust ou Henry James por dever de currículo. É puro prazer. Lê-los é ouvir música. Tem ritmo, harmonia, dom de fazer sonhar e muito prazer. São belos. Uma beleza que não exclui a dor, a melancolia, mas é arte que dá sentido e beleza à dor e a melancolia. É por isso que não consigo ler autores que sei serem grandes, como Dostoievski ou Kafka, eles não me dão prazer. Os admiro, muito, reconheço sua genialidade, mas me guio pelo prazer. O meu prazer. E se Stendhal e Tolstoi me dão prazer, porque não preferir ler seus livros que ainda não li?
   No cinema me guio pelo prazer a anos. Se um filme, mesmo dito "bom", não me der algum tipo de prazer adeus! Não tenho tempo a perder com "obrigações morais". Foi-se o tempo em que via Resnais ou Rosselini por dever erudito. Blá! Não troco todo o Rivette por um Hawks. E creia, se elogio Bergman ou Ozu é porque sinto muito prazer em ver quase tudo o que eles fizeram ( mas não tudo ). Prazer não forçado, prazer sensorial, poético, prazer estético.
   Escrevo tudo isso para dizer que o verão voltou, e que no calor e nesse sol lindo, essa minha tendência se reafirma ainda mais. Livros e filmes que são festa, luz, alegria, calor. Prazer em ver, ouvir, ler e falar. Dolce far niente, joie de vivre. Nestes meses voces lerão sobre livros prazerosos, filmes que dão vontade de amar, cores, brilhos que nunca excluem a vida real, antes a amplificam.
   Porque o prazer aumenta a vida, a exagera, torna tudo extravagante. E o anti-prazer encolhe, diminui, apequena, deixa tudo mesquinho. A luta entre a força e o fraco.
    "Um Amigo Romano", escrito por um cara chamado Luca Spaguetti é o antipasti deste verão. O livro não é grande coisa. Mas tenho um fraco por tudo que fala de Itália. Ler esse livro é como conhecer um romano meio bobo. Fã da Lazio, de James Taylor e dos EUA. E de comida, claro. O cara tem prazer em quase tudo! Ah sim, ele é personagem de Comer,Rezar e Amar, aquele livro que virou filme. Como ninguém acreditava que ele fosse real, escreveu seu próprio livro. Romano até a medula, é legal saber que moleques romanos jogam peladas em São Pedro ou junto a Michelangelo. E o amor abismal que eles têm, ainda, pela América.
    Livrinho pra abrir o verão, lido entre malas, mudanças e correria. Vale.

O MUNDO DOS FOFOS

   Querido caro Pondé...Voce voltou a ter 14 anos? Teu texto de ontem parece coisa de teen que levou fora da namorada! Nele, pra quem não leu, voce diz que os fodões se dão bem com as mulheres e que os fofos levam chifres. OK. Qual a nova? Isso é verdade, concordo, mas também pode ser mentira. Depende da mulher, depende do grau de fofura e de maldade, depende de tanta coisa! Entenda Pondé, sua teoria pode ser verdadeira, mas o que me decpciona é a forma como voce a formula. Posso desenvolver?
   Digamos assim: O mal desperta paixão, o bem desperta amor. A relação de bondade fica sempre perigosamente próxima a irmandade, e a relação maldosa, incerta, violenta, está mais próxima da nossa irracional vida instintiva. Sim, o tal do "bom marido" pode ser às vezes a imagem anti-masculina por excelência. Já fui namoradão e sei o que é se sentir "traidor" de seu lado mais masculino. Casamento é coisa de mulher, isso é verdade, ele castra o macho. Mas...não existe algo de heróico também na figura do amante fiel? E o grande pai ( tipo O Sol é Para Todos, o personagem de Gregory Peck ), ele não é um super de um herói pai-viúvo-bom cidadão?
   Sim, talvez o segredo seja o fato de ele ser viúvo...ou não?
   Garotas sentem um tesão irrefreável por caras maus. Mas será que depois de se machucarem com eles, elas ainda sentem o mesmo tesão? Ou elas apenas se conformam com o bonzinho disponível? Fêmeas amam predadores, mas somos humanos ou não? Para sermos machos temos de ser solteiros forever? Ou maridos ruins? Será?
   Fui muito mau, é fato, em dois relacionamentos e confesso, elas não me esqueceram. Fui muito legal em um outro, e tomei um pé nos fundilhos. Me contradigo? É isso que sinto falta em Pondé, ele fecha a questão, dá a resposta, que é sempre superficial. Ser um marido fiel, é coragem ou é medo? Ser um bom pai, é conformidade ou é heroísmo? Nunca abrir mão de sua liberdade e de seu estilo de vida, é virilidade ou infantilidade?
   E isso como se resolve? Não se resolve! Segurança mata o desejo, fofura transforma tudo em amizade, na verdade os homens se adaptaram a mulher ( achando que elas queriam isso ) e passaram a ter deprês pós-parto, cultivar rosas brancas e discutir relação. No passo seguinte começaram a "curtir" os babys, ficar em casa e depender do salário da patroa. Sejamos sinceros, qual a mulher que sente tesão por um cara que passa talco na bunda da filha? Me contradigo? Não ia ser contra o veredicto do Pondé? O que tento é não chegar a veredicto nenhum. O cara bacana e feminista, boa gente e sem agressividade é um fofo. Há quem goste. Geralmente por falta de opção. Mas o bom marido também pode ser atraente. Se ele mantiver algo do garoto tosco que um dia ele foi. E não expor certas áreas secretas de sua vida ( que podem nada ter de tão secreto ).  Na verdade nada mudou. Ela ainda quer o rapaz cheio de graxa nas mãos e de sonhos ousados na cabeça. E que pareça querer às vezes se ir. E ele quer ainda ter seu mundo de faroeste, duelos a vencer e amigos a quem ajudar. Mas principalmente com amplas estradas, terras de ninguém.
   Dá pra casar e não abrir mão desse mundo?

SONHEI

   ...minha garganta nâo é mais o que foi. Ao engolir o café e perguntar o preço sinto peso onde antes nada havia. Meu corpo possui sólida memória e isso é distinção..
   E no entanto tudo seria tão breve não fosse a garoa que volta às ruas onde vive a certeza de um gosto e a procura da verdade para sempre suspeita. O táxi preto de motor borbulhante e que nos bancos macios e bamboleantes dialoga o cigarro e o perfume entre o bafo gordo de um chauffeur sem voz. As chaves dançam suas correntes de prata dentro do meu bolso onde um lenço cinza vive úmido e amassado tocando a lembrança de meu nariz vermelho e as mãos que foram quentes enquanto o café esfriava.
   O amanhecer parece cantar fazendo suspiros ou talvez muxoxo, arroxeado, sendo a suspenção da garoa e do vento e a entrada da estática que nada mais pode ser: sem sol e sem chuva. Os cordões dos sapatos, firmes em seu nó patriarcal, recordam as mãos rápidas que se aninham nos bolsos das chaves dançarinas.
   Se Langue de Ventadour fosse mesmo assim ele teria partido a noite e não ferido o dia. A luz do sol não revelaria sua vida que manchava todo o caminho do meio ao final. Langue mereceria uma nova chance e teria então o prazer de rever a baía do Porto onde toda vontade se macula ao final dos tortos dias e as dores dos desejos entram sem entrecortar revanche. Hoje olho o ex-libris de monsieur de Ventadour, aquele, o homem do cabelo escuro saudando o disfarce onde mora a canção que do vento ao léu nasce. Nas dúvidas a voz cativante. Aqui vou te mostrar a face de Langue, esse jovem que é promessa de futuro incerto, movendo a vontade de ir mais longe onde tudo explode: onda, barco e peixe e a promessa. Langue desceu. E sobe.
   Se chumbo tornasse ouro, mais que notas, promessas ao futuro, frases escritas em aluviões sem mais pássaros no céu da tarde sempre maior que toda a breve vida. Formação solta na precisão do raio. Olho sem mar, guardar o movimento. O silêncio assombra todo horizonte que se completa.
   Para muito mais depois.
   Detrás do muro de cimento cinza árvores com cipós. Uma palmeira na tarde fria, se estica. Restos de uma casa e duas outras inteiras ao lado. Janela fechada e fachada observando a rua. A outra aberta exibe embrulhos. Mais ainda mais.
   Diálogo de coisas murmurando imagens. O que elas contam não pode ser contado. Trazem memórias de mais coisas ainda. Prometem mundos vários onde as variáveis respiram.
   Qual sementes.
   E no cesto de roupas sujas vivia um rato.
   Eu nunca vi esse rato mas sabia dele. E portanto o rato para mim existia.
   Abrindo o cesto lá entrei para o encontrar.
   Grande lençol branco, retalhos e aventais.
   Me perdi naqueles panos, nas dobras coloridas e nos odores suarentos.
   E eu lembro de tudo o que vivi naquele cesto.
   Onde morava um rato, onde ele existia, e eu, apesar de nunca ter achado o bicho, sei que lá ele estava.
   Pois.
   As roupas no varal e os braços que as esticam. Canta. O vento a alegra porque seca.
   Sabão voa até o limoeiro, nos espinhos as bolhas se espetam e lavam.
   O sol é claro e desliza pelas coisas, quieto.
   Sorri enquanto as roupas secam.
   Memória materna.
   Depois.
   Eu conheci um cachorro chamado Nicky.
   Entrou em casa como líder. Vontade dele sem verbo. Chorava debaixo da cama.
   Me falava de filosofia. Aquela que não se pensa. Ia direto ao centro, sem mais palavras. Desatava a coisa e sua sombra junto.
   E sabia que o melhor era o sono.
   Sonhei.

PORQUE OS HOLANDESES ERAM TÃO MAGROS?

   Quando em 1974 a seleção da Holanda, o mais revolucionário dos times, surgiu para o Brasil, o que mais me impressionou foi a magreza dos caras. Cruijff era cadavérico e Neeskens parecia um etíope branco. Logo depois, numa entrevista, o gênio do futebol europeu dizia que em sua infância ele aprendera a jogar bola nas ruas, entre as ruínas da guerra. O futebol holandês nada mais era que a lembrança daquela alegria do jogo de rua entre muros destruídos. Lindo não é?
   Leio então no livro de Alex Kershaw sobre Capa, que na Holanda pós-guerra, a ração diária a que cada um tinha direito mal daria para alimentar uma criança de 6 anos. De 1939 até a recuperação, que se dá apenas no meio da década de 50, europeus passavam fome. Manteiga, café, leite, carne ou ovos, eram artigo de luxo. A base era batata e pão preto. A falta de tecido é que originou a onda do vestuário mais simples, e não a inspiração de algum Dior. E a fome é que nos levou a magreza como beleza.
   As bios de, por exemplo, Keith Richards, MacCartney ou Peter O'Toole mostram isso: terrenos baldios, ruas em escombros, liberdade para andar e sumir, espaços de ninguém. Crianças nascidas entre 1935/1950, de poucos recursos, gripadas, sujas, famintas. Fabricando brinquedos, inventando jogos, sem conforto, usando a imaginação. Vendo os EUA como reino da fartura, sonhando com Hollywood e com Elvis.
   Todos eles ao crescer romperam radicalmente com esse passado miserável. Novos ricos, renasceram numa exuberância de sexo livre, drogas, sonhos, utopias e tempo em velocidade. Cresceram em meio ao caos, a carência material, mas por outro lado, conheceram a solidariedade entre vizinhos, a comunhão, sonhos de reconstrução, o ato de se dar valor a um pedaço de pão. Trouxeram para a vida adulta esse conhecimento. Saber o que seja nada ter. Saber o que é só poder contar com sua força e com a little help from my friends. Essa Europa, a Europa de quem hoje tem 80, 70, 65 anos, lhes vem a mente como pesadelo, pobreza "que parece ter sido irreal", ou nostalgia, saudade de "um lugar onde tudo era de todos e todos eram pobres. Juntos." Penso que essa geração, exatamente a que vem antes da minha, a de meus pais, foi a última geração européia a ter força e fé, por ser a última a ter conhecido o desespero e o horror na casa ao lado. A partir dos caras nascidos me 1955, 56 ( sou de 63 ), começa o mimo, a bundice, o não ter o que dizer por não se ter vivido. Tédio. É a geração flácida de Morrissey, a turma chic e esnobe, o povo que luta pela liberdade em um mundo que já liberou tudo.
   Leiam esse livro de Kershaw. É uma aula de história. Imperdível.

SANGUE E CHAMPAGNE-ALEX KERSHAW, A VIDA DE ROBERT CAPA, TRAGÉDIAS UTÓPICAS E CONCLUSÕES PRAGMÁTICAS.

   O livro é de uma beleza imensa. E simples. Cheio de suspense, a vontade é de o ler de uma vez só. Pode ser a melhor bio que já lí. Que me desculpe Richard Ellman.
   Capa nasce na Hungria e adota esse pseudômino ao se profissionalizar. Há uma lenda de que ele queria ser confundido com Frank Capra. Bobagem, Bob é um nome bem americano e ele quis parecer americano, e Capa era seu apelido de adolescência. Capa em húngaro quer dizer Tubarão. E como o tubarão, que nada e caça a vida toda sem parar, Capa viveu muito, sem endereço fixo, sem familia e nunca só. Ele tinha uma capacidade enorme em fazer amigos, estava sempre fazendo piadas e foi, entre seus amigos paqueradores famosos ( Picasso, John Huston, Gary Cooper ) o mais Don Juan de todos. Tinha jeito de criança levada, olhar de desejo, cheiro de aventura, humor, muito humor e bom gosto. Combinação irresistível para as mulheres. Não era bonito, era baixo, e nunca teve dinheiro, gastava tudo, mas era um rei. Fundou a agência Magnum ao fim da segunda-guerra, a primeira agência a defender e ser dona de todos os direitos dos fotógrafos, com Cartier-Bresson ( de origens nobres e sempre um cavalheiro ) e Seymour Chim ( de origem judaica e plebéia como ele ), fez da Magnum um novo capítulo na história das artes visuais. Chim fotografava a Europa, Bresson o oriente e Capa o que desejasse. Foi o mais famoso fotógrafo de guerra e o maior prêmio da fotografia de ação leva seu nome. O melhor do livro é observar as mudanças na vida de Capa, mudanças que contam a tragédia do mais triste dos séculos, o XX.
   O muito jovem Capa se faz promissor ao conseguir fotografar Trotski em comicio. Pouco antes de ser assassinado, o revolucionário russo faz um discurso. Capa sente cheiro de morte no ar e consegue fazer as únicas fotos do evento. Logo depois é mandado para a Espanha.
   A Espanha vivia então o sonho socialista em seu radicalismo total. Tudo era comunitário, a liberdade era absoluta. Uma mistura de solidariedade, sonho, idealismo e fé nos homens posto em prática. Mas logo a coisa azedou. O general Franco une tropas na África e avança sobre a Espanha. Hitler e Mussolini usam essa guerra como campo de provas, treinam tropas na ajuda à Franco e lançam novas armas. Socialistas de todo o mundo se alistam como voluntários para defender a Espanha livre. Orwell, Heminguay, Dos Passos, Steinbeck, todos se unem na luta. Capa fotografa e faz seu maior trabalho. Fotografa com paixão, toma partido, luta e corre riscos terríveis. Lança uma frase famosa: "Se uma foto não estiver boa é porque voce não chegou perto o bastante". Diz ele que as pessoas lutavam sorrindo. Iam alegremente para o sacrificio. Ainda acreditavam na morte por uma ideia. Crianças morrem nos primeiros bombardeios da história contra civis ( obra de Hitler ). Fome, dor, orfãos. Fogem espanhóis para a França. Cruzam os Pirineus na neve, morrem de frio aos montes. Capa junto. Na França são postos em campos de concentração para morrer. A França não quer se comprometer. Capa se aflige e faz piadas, dá humor para quem sofre, fotografa e divulga ao mundo a tragédia. Franco massacra espanhóis aos milhares. Vence. Será ditador por mais de 35 anos. A Espanha voltará a ser medieval. Os voluntários voltam chorando. Há uma cena explêndida no livro: A homenagem que o povo espanhol faz aos voluntários quando eles desfilam se despedindo. Capa chora. Pior que tudo, ele amava Gerda, uma grande fotógrafa que morre numa explosão. Capa nunca mais irá se recuperar. Começa aqui a nascer um novo Capa, mais cínico, mais mulherengo, muito mais ansioso.
   Vai à China. Guerra contra o Japão. Chiang-Kai-Chek e Mao-Tsé-Tung, ainda unidos, lutam contra o imperador Hiroito. Capa sente que a China consegue virar a guerra. A guerrilha de Mao. O povo sempre sorrindo. Bombas e mais bombas.
   Capa não suporta a vida comum. Viciado em adrenalina, viciado na guerra. Contradição: Capa odeia a guerra, mas ama o que ela traz de ação e de amizades. Nesse tempo, na guerra de campo, no chão, homens fazem amizades para toda a vida, compõe sagas biográficas e sentem a "Terrível alegria da ação".
   O que Capa faz? Joga. Joga muito, é uma geração do poker e da roleta, de enormes apostas. Capa perde muito. Não liga. Ele ama a adrenalina. E faz sexo. Traça atrizes ( Ingrid Bergman foi uma paixão real em que ele não investiu muito ), prostitutas, modelos, cantoras, nobres e pobretonas. Faz fotos de esportes. E vem mais uma guerra.
   Spielberg usou as fotos de Capa como base de todo o "Resgate do Soldado Ryan". Alex Kershaw faz do desembarque algo de eletrizante e inesquecível. Dor, sangue, suspense, pavor, crueldade. Capa é dos primeiros a pisar na praia e dispara a câmera. Balas zunem, todos morrem a seu redor. Mar cheio de sangue, de pedaços de corpos. Não tenho a arte para descrever a cena. Kershaw tem. "A deusa banalidade ainda não tomara o poder. O Horror absoluto era uma novidade."
   Capa acompanha as tropas na Itália depois. Anzio tem as cenas mais cruéis que ele viu. Ele vive. Os soldados vivem. "Voce vive de verdade quando sabe que daqui a um segundo pode estar morto. Então voce passa a beber muito, comer tudo, e a amar com volúpia plena. Assim era a Itália em 44." Nos bombardeios em Londres Capa percebe que os casais fazem amor em praças e em cantos escuros. No medo da morte todos se entregam ao sexo. Londres era cheia de gemidos de coito. Mas a Itália foi mais. Mortos demais, fome demais, medo demais. E a amizade. A imensa amizade entre aqueles que sofrem juntos.
   Após a guerra, Capa foi aos campos mas não os fotografou. Dor demais? Por ser judeu? Ninguém sabe. O homem famoso por fotografar a morte não tirou uma só foto de Auschwitz. E faz uma observação inteligente: "Americanos sabem vencer uma guerra. Não matam prisioneiros e não estupram ( muito ). Querem ser aceitos pela população. Russos, assim como os franceses, entram arrasando. Matam tudo que se mova. Nâo fazem prisioneiros. Subjugam o povo "liberto". Não sabem fazer politica."
   Capa após a guerra vai, sem vontade, à Hollywood. Faz amizade com Huston e namora Ingrid Bergman. Se entedia. Tem aversão ao estilo americano. Acha tudo vazio, futil, infantil. Vai a sua cidade favorita, Paris. Cobra desfiles de moda. Vê a controvérsia: o povo odeia a ostentação dos ricos. Dior usa pouco tecido, faz vestidos mais curtos e simples por falta de tecido. Capa, o cara que fotografou gente lutando por pão e liberdade, agora fotografa sedas e veludos.
   Vai a Israel. Mais uma guerra. Solidariedade e socialismo de novo. Hoje, em 2013 pouco se fala disso, mas Israel nasce como kibutz, e o kibutz é a experiência comunista extrema. Tudo é de todos e todos são da comunidade. Judeus chegam de todo o mundo. Judeus pobres, ricos, ignorantes, escuros, louros, famosos, famintos. Um país se faz do nada. E seis nações árabes se unem e atacam. Outra volta à Espanha de 36. Um povo lutando alegremente por terra. Bombas explodindo enquanto crianças brincam se se importar. Velhos e mulheres com fuzis. Israel vence. Derrota o Egito. Vence exércitos oficiais com um bando de civis. Mas Capa percebe e fala: "O que será dos Palestinos? Onde eles irão viver?"
   Esfarrapados de Israel sorriem na vitória. Esfarrapados da Palestina ficam aturdidos. Onde ir?  Logo em seguida o fim do sonho. A ultra-direita de Israel em guerra com seu próprio povo. Capa parte. Chega de guerra.
   Vai ao Japão, onde fotografa o país em reconstrução. Capa diz que o Japão é um país feito para ser fotografado. Ama o povo. A calma. O trabalho persistente.
    Mas Capa está falido. E por isso aceita mais uma guerra. A última. No Vietnã em 1954.
   A França luta contra os vietcongues. E pela primeira vez Capa vai a serviço do lado "errado". Seu coração está com o povo oriental, os muito inteligentes vietnamitas que humilham os franceses com derrotas inesperadas. Mas Capa acompanha as tropas colonialistas. É um trabalho sem coração.
    E é lá que ele morre. Capa pisa numa mina em meio ao arrozal. Será o primeiro fotógrafo morto no Vietnã. Com 40 anos de idade, ele já um mito, comove o mundo. A França será expulsa do Vietnã e os EUA tomarão seu lugar "na luta contra os vietncongues". 
    Robert Capa viveu do idealismo puro da Espanha ao cinismo do Vietnã. Esteve no dia mais glorioso do século ( o fim da guerra em 45 ), e no dia que segundo Eisenhower "Foi o auge dos EUA", o dia D. Capa viu a decadência do mundo, o fim da fé humana, o fim das ilusões. Cansou de lutas, de morte, e de correr. Mas dizia que jamais conseguiria ser pacato, pai de familia, comum. Precisava de adrenalina. Viu demais. Viveu demais. Partiu.
   O livro de Kershaw é maravilhoso.

AMOR BANDIDO/ BANG BANG/ AVA GARDNER/ WOODY/ KIRK DOUGLAS

   BANG BANG de Andrea Tonacci com Paulo César Pereio
Cinema marginal. Feito em 68, mostra de forma muito livre a saga de um homem só. Mas não. Cenas aparentemente desconexas. Godard mais Bellochio. A cena no táxi é antológica! Pereio mata a pau. Cinema novo o escambau, o lance é o cinema marginal! Tem uma cena em que eles fazem um zapp pelo rádio am. Toca Beatles, Stones, Byrds e Simonal. Bons tempos. Nota sem nota talvez não quem sabe?
   O GRANDE PECADOR de Robert Siodmak com Gregory Peck, Ava Gardner, Melvyn Douglas e Walter Huston
Asfixiante e desagradável drama sobre o vicio do jogo. Tudo gira ao redor da roleta. Peck, que está bem, se vicia por causa do amor por Ava, que o ama porque o faz jogar. Huston é o pai de Ava, outro viciado. Douglas, excelente, não é viciado, é dono do cassino. Ava nunca esteve tão bonita! Nota 6.
   SUA ÚLTIMA FAÇANHA de David Miller com Kirk Douglas, Gena Rowlands e Walter Mathau
A capa do dvd o anuncia como o filme favorito da carreira de Kirk. Apesar de passado em 1962, Kirk insiste no filme em ser um cowboy. É um simplório, nada tem de heróico. Vai para a prisão de propósito para salvar um amigo que lá se encontra. Mas o amigo não aceita fugir com ele. Então ele foge sózinho. Todo o resto do filme trata de sua fuga da policia. Helicópteros e rádios atrás de um homem e seu cavalo montanha acima. O fim é dos mais tristes e dolorosos que já vi. O filme é estranho. Enquanto voce o vê parece apenas ok, quando acaba voce está muito tocado... Nota 7.
   AMOR BANDIDO-MUD de Jeff Nichols com Mathew McConaughey, Reese Witherspoon, Sam Shepard e Tye Sheridan
Estreou esta semana e eu pensei que não passaria por aqui. Se passa na zona caipira dos EUA. Dois garotos encontram um vagabundo numa ilha. Ajudam o cara a sobreviver e vão descobrindo que ele é um foragido da lei. Ao mesmo tempo vemos a vida, dura e solitária, do adolescente. Mathew, ótimo, é o foragido. Ele sempre foi ótimo como galã, se torna cada vez mais um bom ator. Reese está sexy. E Tye, o teen, convence muito. O filme não é ótimo, mas está longe de ser vulgar. Uma mistura interessante de Houve Uma Vez Um Verão com O Mensageiro. Bacana. Nota 6.
   UM ASSALTANTE BEM TRAPALHÃO de Woody Allen com Janet Margolin
O primeiro filme de Woody como diretor. Mal feito. Tem erros de edição e um roteiro caótico. Cenas muito sem graça. E duas ou três muito boas. Aquela dos fugitivos amarrados é soberba. Ele é um ladrão. Rouba, casa, é pego, foge... Como ator Woody era bem mais simpático. Nota 5.
   A MÚSICA NUNCA PAROU de Jim Kohlberg
Esse acho que não vai passar por aqui. É uma história real. Um cara tem tumor na cabeça. Opera e perde toda a memória. Ficamos sabendo que ele é um ex-hippie que fugiu de casa a mais de 30 anos. Os pais cuidam dele e uma médica observa que ele volta a ser ele-mesmo ao ouvir o hino francês. Mas não é o hino que o toca, é All You Need is Love... O que acontece? Ao ouvir músicas dos anos 60 ele volta a ser ele-mesmo em 1970. Pensa ser um hippie e a achar que tudo está em 66/70. Isso faz com que feridas vividas com o pai sejam reexaminadas e os dois acabam por ir a um show do Grateful Dead...o livro em que o filme se baseia é de Oliver Sacks. A direção é quadrada, parece ser um telemovie. Mas o tema é fascinante! Nota 5.
   O VERMELHO E O NEGRO de Claude Autant-Lara com Gerard Philipe, Danielle Darrieux e Antonella Lualdi
Um autor morre uma vez em vida e milhares quando assassinam sua obra. Que filme ruim!!! Nada lembra a obra maravilhosa de Stendhal. Os personagens falam e falam e falam...Quando crítico de cinema, Truffaut destruiu este filme a até levou ao pessoal seu ataque a Lara. Com razão. O filme é uma coisa pesada, chata, velha, morta. Mais um erro dessa coleção de dvds da Folha. Nota ZERO!
   MÚSICA DA ALMA de Wayne Blair
Interessante saber que até 1967 os aborígenes eram considerados na Austrália não-gente. Eram fauna. Este sucesso da filmografia aussie fala de uma girl group formada por aborígenes que vai cantar soul music para os soldados americanos no front do Vietnã. Atenção, é uma história real. Mas, sinto dizer, o filme é sem emoção, frio, chato até. Nota 3.