QUE QUEREM OS HOMENS DAS MULHERES?...INSPIRADO POR PONDÉ.

   Os homens querem mulheres que os admirem. Simples assim. Fui feliz enquanto sentia ser admirado. E ao mesmo tempo essa era uma admiração que me relaxava. Eu podia ser infantil, frágil e bobo, ela me dava essa colher de chá. Contanto que eu continuasse a ser admirável.
   O que era ser admirável? Ser diferente do comum. A mulher procura um homem que demonstre força. Mulheres perdem o tesão ao se deparar com a fraqueza. Essa força não significa bíceps. Significa poder, decisão, coragem, algo que recorde heroísmo. Simples assim.
   No mundo do trabalho é bacana valorizar a delicadeza, os bons sentimentos, a mansidão. Faz de conta então que as mulheres gostam disso. Até gostam,,, num amigo. E algumas confundem isso com amor. Mas não. O amor quer o herói, seja o herói completo ou o anti-herói. Como diz Pondé, O Fodão.
   Em minha vida fui fodão e fui doce. Äs vezes ao mesmo tempo. Perdi sempre ao insistir na fraqueza. Ao hesitar. Ao ser gracinha. E sempre ganhei quando decidido, forte, solitário, original. A imagem do homem solitário que sabe se virar e ir sempre em frente é irresistível para uma mulher.
   O resto é papo furado.
   Daí o apelo de ricos vencedores. E ao mesmo tempo do mal aluno, do skatista, do cigano, do cowboy ou do marujo. Todos parecem fortes ao seu modo. Claro que são mais e são menos que isso. Mas o tesão feminino nasce nessa imagem. A do fodão.
   Mulheres que não gozam ou que humilham seus maridinhos delicados...A noite na cama em quem elas pensam? Naquele aluno do fundão de 1985, Naquele jogador de futebol do time vencedor. No salva-vidas calado da praia, no guitarrista de blues do bar da esquina ( que o maridinho pensa ser um fodido ). E até no bicheiro que anda de camisa aberta na rua.
   O desejo é do predador. O resto é ilusão.

TO THE WONDER- TERRENCE MALICK

   O amor consagrado no lugar onde ele nasceu. Ao alto da catedral o mais fantástico espetáculo se abre a vida. O mar pleno cinzento. A maravilhosa. Sim, o Milagre é sempre o Amor. E todo amor é como Ver.
   Para sempre. O Amor morre? Como pode morrer a maior das forças?
   Procurando Deus, procurando o Amor. Encontrando o amor e deixando ele partir. Não encontrando Deus e jamais O vendo partir.
    Do mar de onde menestréis cantaram o Amor a terras devastadas pela sujeira. A angustia da América de espaços que não se acabam. O imenso céu vazio. Como preencher?
    A câmera segue os corpos. Roda por entre. Capta. Ocasionalmente Asas do Desejo. Mas este filme de Malick é um pecado, pois é chato, quase insuportável. Asas nunca é chato. Nos eleva. Este nos aborrece.
    Os cortes hipnóticos falham e assim não encontramos.
    O Amor faz de dois Um. Deus sempre Um. Eu me torno ela quando a amo. Eu deixo de importar, vale somente ela. Deus como Tudo e Todo.
    Pena.

AOS VERMES, STERNE, MACHADO E A SINA DO BRASIL

   No Largo de Pinheiros as obras do metrô fizeram nascer uma nova praça em frente a igreja. Recém construída, ela já se degradou. Placas de cimento no chão se descolam. As árvores jovens estão mortas. A nova praça faleceu antes de nascer.
   Todo um estardalhaço de protestos que mudaram o país... nada mudaram. E o julgamento se arrasta e faz teatro absurdo e nada resolve de fato. As coisa mudam para que jamais mudem, como disse Lampedusa.
   Machado de Assis adorava o Tristam Shandy de Sterne. E percebeu que na Forma do livro nonsense do gênio inglês havia a forma Trágica de um lugar chamado Brasil. O livro de Sterne é pura digressão. A narraçõa anda em espirais e a surpresa leva ao riso. O Brás Cubas de Machado leva ao buraco. A vida se perde em coisas não feitas ou feitas pela metade. Brás Cubas se diverte e se adapta ao momento. O que em Sterne é excentricidade em Brás Cubas é jogo.
   Terrível aula na USP. Então o livro de Machado é isso...O retrato perfeito de um país que insiste em ser Fidalgo. Brás Cubas, rico, nada faz. Tem mil planos, todos falham e ele se auto-glorifica por cada um de seus quase sucessos. Tem nojo de trabalhar com as mãos, é amigão dos escravos, ama sem se dar e se dá apenas a sua vaidade. Mente todo o tempo, principalmente para si-mesmo. E é feliz, pois conseguiu ao fim da vida tudo o que realmente queria, não trabalhar, não se comprometer, nada deixar para os outros. Realizado em sua volubilidade. Volubilidade. Machado, gênio, une a forma ao conteúdo. A forma é o conteúdo. O livro é volúvel em seu estilo porque Cubas é volúvel. Quando deve ser romântico ele o é. Quando precisa da ciência se faz técnico. É sério e é alegre conforme a conveniência. É falso. É tolo. Se vira.
   Machado de Assis percebeu Sarney, Collor, percebeu Dirceu, Lula, Serra, percebeu tudo e viu que nada mudaria porque tudo parece mudar sempre. O Brasil faz e faz e inaugura e refaz e reinaugura e muda e funda. E vive sempre o mesmo.
   E Brás Cubas continua com suas mocinhas do povo bonitinhas, suas herdeiras bacanas, seus planos de novas invenções e suas glórias imaginárias. E continua morrendo sem deixar filhos. Aos vermes. E fim.
  

FIM DO ROMANCE?

   A revolução industrial nasce e com ela nasce o romance como o conhecemos. Não a toa ele nasce na Inglaterra. Sim, voce pode dizer que Dom Quixote ou Gargântua já seriam romances, mas não. São prosa romanesca, não tratam de lugares e de gente pretensamente reais. Porque o romance tenta, mesmo quando alegórico, falar do mundo do aqui e do agora. E dá aos personagens uma identidade, os faz ser Moll Flanders ou Tom Jones, e não Pantagruel ou Quixote. Mas porque?
   O fim de uma civilização agrária, de um estilo de vida de mais de 2000 anos fez com que fosse preciso fixar de alguma forma a vida que se fazia volátil. O homem passou a tentar entender aquilo que não mais era reconhecível, a vida e si-mesmo. Antes do romance o tema era religioso ou politico, agora, com o romance, é existencial. Se olha para dentro de cada individuo. Isso era inédito. Shakespeare havia antecipado isso já em 1600, mas era teatro e era um semi-deus.
   Pois bem. A VEJA em sua edição histórica, fala de uma capa que a TIME deu para Johnathan Frazen. Que isso causou estranheza, não por Frazen, que é ótimo, não merecer uma capa, mas sim por ele ser um escritor. Porque escritores, hoje, são irrelevantes. Se em 1982, uma capa da TIME para John Updike era óbvia e bem comemorada, hoje uma capa para Frazen nada diz. Porque?
   A revista dá uma explicação que nada explica. Fala da internet mas e daí??
   O fato é que hoje ninguém mais, ou quase ninguém, está interessado em análise. Vivemos a nova época, tempo de diversão. De certo modo nos acostumamos, a duras penas, ao mundo da velocidade e da efemeridade, e o que tentamos é não pensar, exatamente o oposto do que todo romance propõe.
   Lembro que em 1985, por exemplo, Drummond, Garcia Marquez ou Borges eram semi-deuses. Oráculos da verdade e guias de pensamento. Mais que isso, em outros campos o mesmo ocorria. Kurosawa ou Lennon, Bowie ou Bergman, todos eram capa de Times eternas. Mais ainda, todo mundo ia a gurús ou psicólogos não para ser feliz ou para perder o medo de elevador, mas para se encontrar, para se conhecer. Quantos clientes de terapeutas hoje os procuram para entender quem eles são?
   As pessoas não querem mais entrar dentro de si e ver o que acontece, o movimento hoje é oposto, ir para fora e se conectar a tudo que acontece agora, neste exato instante. Onde o romance se encaixa nisso?
   Que fique claro, quando falo de gente em 1985 que se guiava por Borges, não falo de estudantes de letras ou de filósofos, falo do leitor médio. E quando falo de gente querendo se achar, não falo de gente com grilos na cuca, falo de adultos com poder aquisitivo para isso. Gente dita normal.
   Romances dão trabalho. Nossa cultura é do não-esforço. Da diversão simples, da sensação. Nossa sede de narrativa, de histórias é genética. Ela sempre viverá. Precisamos de contos, de sagas. Era assim em Creta, em Bizâncio ou na China de 3000 a/c. Mas o romance não. O livro ao estilo Flaubert, ou Joyce, ou Heminguay, London, Hammett, De Lillo, esse tem apenas 250 anos mais ou menos. É fruto de uma sociedade em transição, assustada e perdida. Do tempo do trabalho duro. Da busca de sentido. Da ansiedade.
   Nosso tempo varia entre depressão e hiper-atividade. Livros precisam ser úteis e divertidos. Ter um porque, um sentido. Onde o romance?

The Beatles - Mother Nature's Son - Lyrics



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The Beatles - Martha My Dear



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THE BEATLES, O ÁLBUM BRANCO

   Charles Mason ouviu Helter Skelter e leu nela uma mensagem cifrada. Ele tinha de matar alguém do show biz. Ia matar o produtor dos Byrds e errou o endereço. Matou a linda Sharon Tate, esposa de Polanski. Helter Skelter é uma das grandes sinfonias da confusão do confuso 1968. Helter Skelter é de Paul.
   Jung sempre dizia que nossa vida é um processo de individuação. Nascemos como um membro anônimo de várias comunidades. E desde cedo lutamos para ser si-mesmo. Quando um cantor tem desde sempre uma carreira solo esse processo acontece numa briga consigo-mesmo. Dylan é um exemplo radical disso. Quando numa banda esse processo se faz entre seus membros. Nenhum disco na história do rock exibe isso de forma mais cruel que The Beatles. O que ouvimos é uma discussão. Os 4 se descobrem como indivíduos e passam a odiar tudo aquilo que a banda foi. Cada um a seu modo.
   George chama Eric Clapton para o ajudar. Ringo se acabrunha e Lennon sabota todo o trabalho. Paul se faz mais Paul que nunca antes. Eu disse que Lennon sabota o disco? Ele estava ocupado em ser artista. Em se dopar. Em ser Yokoano. Os Beatles eram a infância. A Ono Band seria ser artista-adulto. É o primeiro disco onde Lennon exibe suas qualidades e fraquezas como artista solo. Suas faixas têm a indulgência e a urgência da Ono Band. Ele exibe sua víscera. Fede. E sabota a banda, que para ele era cada vez mais a banda do outro cara.
   Sou fã de Paul. Afinal, eu cantava Hey Jude em 1968. Cantava como Hey Tchu. Tinha cinco anos. Tenho testemunhas disso. Será que Lennon não se sentia mal ao ver o sucesso das faixas de Paul? Será que ele se consolava pensando, :Ora, são lixo pop!
   Há uma faixa em que Paul pede para que a banda volte a estrada. Uma das coisas mais tristes dos anos 60 é que não vimos eles no palco em boas condições. A partir de 67 os shows ficaram muito melhores e nada temos deles. Ob-la-di-ob-la-da é para crianças. Eu a cantava também. Mas Revolution number 9 é imperdoável. Pedante. Avant-garde Godardiana.
   Back in The USSR é mais um hit de Paul. Em 68 os Beatles começavam a ser deixados de lado pelo povo chique. E ao mesmo tempo eles nunca tiveram hits tão fortes e grudentos. Back tenta ser Beatles de volta a 1966. E saibam, naquele tempo um ano era um milênio, 1966 parecia outro planeta.
   Nunca gostei de Dear Prudence. Glass Onion é melhor. Bungallow Bill, Honey Pie...e então While My Guitar. O disco antecipa as carreiras futuras de Paul e John, e de George também. Eis aqui o George futuro.
   Martha My Dear foi feita para a cadela de Paul. Harmonia, beleza orquestral, acabamento refinado. Que culpa Paul pode ter de ser feliz? So Tired é o comentário de John sobre tudo isso.
   Blackbird é uma obra prima. Impossível cantar junto sem chorar. Linda, linda e linda. Gosto de Piggies. Ela me lembra Kinks. E também os Monty Python.
   Alguns bons momentos passam e tudo cresce em Mothers Nature Son, feita para Donovan Leitch.  É uma canção campestre. Maravilhosamente bem arranjada. Sexy Sadie é adorável. Savoy Truffle...
   Se existem tantas grandes músicas porque este não é um grande album?
   Porque ele transmite algo de ruim. Uma faixa nega a seguinte que briga com a próxima. Ele parece esquizo.
   Como foi escutar em 1968?

Bruce Springsteen - Sociedade Alternativa - 09/18/2013 - Live in Sao Pau...



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APENAS UM SIMPLES SHOW DE ROCK ( FINALMENTE DE VERDADE )

   Estou longe de ser um fã de Bruce Springsteen. Sou formado na escola do cinismo frio de Ferry, Bowie, Jagger e Ray Davies, e mesmo quando vou para meu lado mais terra, mais raiz, prefiro o controle reservado de The Band ou de JJ Cale. Coisa de refinamento. Mas...
   Muitas vezes, por vermos poucos shows, não compreendemos o porque de tanto sucesso de um cara. Só o disco não explica ( assim como há aquele que só o disco explica, seus shows são fracos ). Bruce nasceu para o palco, isso eu sabia, mas não imaginava que ele ainda fosse tão bom.
   Catarse sempre foi o maior segredo do rock. Se os Stones são agora uma pálida memória de algo que morreu, Bruce se mantém vivo. Seu show parece original, sem ensaio, direto, cheio de suor e de verdade. Porque?
   Sua escola não é a de Dylan. Dylan é frio e distante, sempre foi. A escola de Bruce é negra, a dos menestréis negros do campo. Nisso ele está muito perto de Van Morrison. E de Bono. Bruce e Bono fazem a mesma coisa, um esforço absoluto para levar o show a catarse. Os dois me recordam pastores batistas. A multidão é conduzida ao êxtase. Eles se matam no palco. São sempre cem por cento esforçados. Trabalhadores. Fogem da aparência de artistas. São do povo.
   Bruce não desiste. Pula, corre e nunca perde a voz. Ri muito e parece se divertir. Mas quando a canção o exige, fica sério e fecha os olhos. Bruce ao contrário de tantos, ainda leva a sério sua própria obra. Jagger canta Street Fighting Man com um bocejo. Rod canta Sailing como obrigação. Bruce canta Born in the USA como sempre, no limite.
   Ele cantou Raul...E nunca Raul me pareceu tão bom. E encerrou só, ao violão. Foram duas horas e meia em que Bruce se atirou ao público, teve o microfone desligado, beijou, levou beijos e cantou todo o tempo.
   Várias músicas de Bruce não são do meu agrado. Mas ao vivo todas parecem boas. Ou mais que isso. Fiquei de olhos molhados com Born to Run. A única comparação é com o Queen, outra banda que era sempre tudo ou nada.
   Quem viu, viu. Quem não viu...

DZI CROQUETTES, A LIBERDADE DA COR E DO BRILHO OU: O CORPO FALA

   A liberdade reside toda no corpo. E sem a liberdade não existe corpo que fala. Aborigenes dançam. Como os ciganos, os gregos clássicos ou os zulus. Tragédia fonte de toda neurose, o ocidente não dança. Ou dança mal. O corpo rebela-se. Fala. Dançar.
   Quando o corpo fala livremente ele pode se expressar como homem, bicho ou mulher. Ou como tudo junto e mais. Minha geração dançou pouco e dançou mal. Vejo as crianças de hoje. Elas dançam muito e os meninos não se envergonham de rebolar. Um ponto muito positivo para eles. Ponto negativo: Os Dzi perto dos nossos pobres stand-up são como Picasso ao lado de algum pintor de senhoras dos Jardins.
   Em 1972 o homem usava terno da Ducal ou da Garbo. Um tipo de armadura machista. Os Dzi quebraram tudo. Abriram portas para Secos e Molhados e Asdrúbal. O escracho. O alívio. A liberdade.
    A história deles é tão incrível que parece mentira. Mas foi real. As lembranças que tenho deles são vagas. Eu entendia os Dzi como um grupo de travestis que fazia sucesso na Europa. E sentia medo deles. Eles eram errados. Não se pareciam com Geisel.
    Nos anos 80 cheguei a ter a honra de dançar no porão do Satã com Paulette. Entenda, dançar com a galera toda, ao som dos Bauhaus. Nos anos 80 a festa acabara. Mas em 1972...ela parecia começar.
    Lennie Dale foi um gênio. E parece que ele tinha medo da Broadway. Quando o grupo poderia ter ido para lá ele se sabotou. E afundou num mar de pó. Vê-lo dançar...Lennie mudou o Brasil.
    Jogue no lixo seu preconceito. Eu sou hétero e adoro os Dzi. Acho que sou hétero. O documentário é maravilhoso. E se voce o ver juro que não vai virar gay por isso. O tema não é apenas sexualidade, o tema é soltar tudo e ver quem voce é de verdade. O tema é a liberdade. Ser vivo na vida. Deixar acontecer.
    Assista.

Dzi Croquettes - Documentário 2009



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BILL MURRAY/ FRANK OZ/ EXODUS/ CHARLIE SHEEN/ STILLER

   OVELHA NEGRA de Christopher Neil com David Duchovny e Vera Farmiga
Um hippie maconheiro que anda com cabras. Um teen down que vai para escola rigorosa. Pais separados. Porque alguém faz um filme como este? Extremamente conservador, aqui a mensagem é clara, voce pode fumar maconha e até ser um roqueirinho, desde que tire dez na escola e pense no futuro. Adolescentes deprimidos e sem sonhos, eis seu filme. Nota 1.
   QUERO FICAR COM POLLY de John Hamburg com Ben Stiller, Jennifer Aniston, Philip Seymour Hoffman, Hank Azaria e Alec Baldwin
Para uma comédia de Stiller até que não é das piores. Ele leva um chifre da esposa na lua de mel. Conhece garota doidinha...Tem algumas boas cenas e Stiller não exagera na ego-trip. Aniston é ótima. Nota 5.
   A ÚLTIMA VEZ QUE VI PARIS de Richard Brooks com Van Johnson e Elizabeth Taylor
Entediante...
   WELCOME TO COLLINWOOD dos irmãos Russo com Sam Rockwell, William H. Macy, Patricia Clarkson e Luiz Guzman
Refilmagem da obra-prima de Monicelli ( Eternos Desconhecidos ). Macy faz o papel de Mastroianni e Rockwell o de Gassman. O roteiro de Monicelli é tão bom que mesmo este filme consegue sobreviver. Produção de George Clooney que faz o papel que foi do grande Totó. Nota 5.
   NOSSO QUERIDO BOB de Frank Oz com Bill Murray e Richard Dreyfuss
Murray é um doente mental com centenas de sintomas. Dreyfuss é uma estrela da psicologia. O que vemos é o choque dos dois. Uma comédia com atuação soberba de Dreyfuss, vemos o enlouquecimento do auto-controlado doutor. Murray faz o Murray habitual, ótimo. Oz foi e é um dos últimos mestres da comédia ( além de ter feito parte da equipe dos Muppets e de Star Wars ). Nota 6.
   AS LOUCURAS DE CHARLIE de Roman Coppolla com Charlie Sheen, Jason Schwatzman, Bill Murray e Patricia Arquette
O que é isto??? Parece um daqueles filmes very doidos de 1969... Sheen é um astro drunk. O que vemos é seu cotidiano louco. Algumas cenas são tão ruins que chegam a constranger...Mas quer saber? Sheen é muito gostável e é um alívio ver uma coisa tão politicamente incorreta. Roman é filho de Coppolla, irmão de Sofia e tem esse nome como homenagem a Polanski. Que karma! Me parece que ele sabe rir de tudo. O filme, uma brincadeira, me divertiu. Capaz de voce odiar. Ou não...
   EXODUS de Otto Preminger com Paul Newman e Eva Marie-Saint
Uma super-produção sobre a construção do estado de Israel. O filme, longo, não cansa, mas jamais chega a altura do tema. A trilha sonora virou hit. Newman parece desconfortável, ele funciona sempre melhor em papéis de anti-heróis. Uma boa aula de história. Nota 6.

ARSENAL X AJAX, FUTEBOL HISTÓRIA

   Como é o Flamengo de 81, o São Paulo de 93 ou o Santos de 62, segundo Nick Hornby, o Arsenal atinge seu auge em 72 e este jogo, que posto inteiro, é seu momento mágico. Não é o melhor Arsenal, é o mais querido. Como o Corinthians de 77, longe de ser o melhor, mas para sempre o mais especial.
   O velho Highbury. Aquelas cabeças com suas expressões de pub à beira do gramado. Um mar de fanáticos, bêbados, apertados, mal vendo o jogo. E cantando. Os grossos do Arsenal dominando os dandys do Ajax.
   A beleza das camisas sem patrocínio. O vermelho puro dos londrinos, a faixa sagrada do Arsenal, a camisa histórica de Crujiff. 14. A grama péssima, lamacenta e irregular, a bola quica. Uma surpresa: o jogo é mais objetivo que hoje. É um anti-Espanha. O que se quer é resolver logo a jogada. Chegar ao gol rápido, poucos passes. Não se domina o tempo, tenta-se encurtá-lo. Pouca cera. O jogo é todo feito de área a área. As chances de gol se acumulam.
   Não se marca tão mal quanto se pensa. Se ataca com muita gente. Quase não ocorrem passes para trás. Gol, gol e gol. Só se mira o gol.
   Ruy Castro diz que só no Brasil se confunde história com saudosismo. Cultura é inevitávelmente olhar a história e compará-la ao presente. Aqui isso é descartado como saudosismo. Modo tonto e burro de se zombar da Cultura.
   Este jogo é uma narrativa histórica. Um momento em que os ingleses eram ainda 100% britãnicos e os holandeses criavam o futebol rebelde ( e dandy ). Mundo perdido, serve para percebermos o que ganhamos e o que perdemos. Essa gravação, por sua antiguidade é hoje arte. Pois tem originalidade, surpresa e história. Postarei outras. O futebol é às vezes uma emoção.

FLASHBACKS OF A FOOL

   O nome do filme é esse...Flashbacks of a Fool. Jhodi May dança ao som de If Threres Something, sim, Roxy!
   Tempos deste tolo passam e cada vez mais eu adoro o Roxy...love 4 ever...
   No video que postei abaixo tem Daniel Craig mexendo em pilha de vinis. Caraca! São exatamente os discos que mais gosto! Ele tira da pilha o Roxy Music Um. E toca...Som de um Tolo...Quando voce é jovem...
   Não vi o filme. Leio que ele passou na BBC. E que virou um tipo de filme cult. Preciso ver!  Alguém baixa pra mim!!!
   O Roxy é pra sempre!

Flashbacks of a Fool - If There Is Something (Roxy Music)



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Edmund de Waal at 5x15



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The Specials - Too Much Too Young (1980) (HD)



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Stiff Little Fingers - Suspect Device



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ROCK IN RIO

   Michael Jackson, Madonna e Prince colocaram o POP numa nova época e com isso transformaram o velho rock em coisa para sempre PROUSTIANA. O rock deixou de ser a ponta da lança e virou madeleine que sempre remete a alguma sensação do passado. Porque mesmo os meus alunos de 12 anos, quando gostam de rock, ficam naquela coisa de "detestar os anos 2013 e amar o que deveria ter sido SEATTLE-BEATLES-WOODSTOCK-VELVET UNDERGROUND. A coisa congelou e é irrelevante. O futuro passa longe do rock. Virou jazz, virou blues. Pode ser até sincero, emocionante, mas é SEMPRE coisa derrotada, passada, mofada e levemente preconceituosa.
   Não há diferença entre um show de Elton Juhn e algum cantor de piano com 20 anos. Só as rugas e a quantidade de boas canções. Todas as cantoras fofas de violão e de cabelinho são idênticas a Joni Mitchell ou a Rickie Lee Jones. A única diferença é que Joni era melhor. Se em 1980 ser velho era copiar alguma coisa com mais de dois anos, hoje ser "jovem" é se parecer com algo que tem mais de 30 anos. Esquisito pacas! O rock é a trilha sonora daqueles que não aceitam a passagem do tempo.
   É claro que alguns shows são bacaninhas! Mas chamar um show de rock de "divertido, bacana ou super-interessante" revela sua falência. Rock tinha de ser revoltante, surpreendente e visceral. Ou não era rock, era pop. Por isso que os caras se detonavam. A exigência dionisíaca era imensa.
   Nunca esqueci de uma matéria de Ezequiel Neves escrita em 1981. Ele tinha ido a Londres e comentava os shows que vira por lá. Falava dos "novos" Duran Duran, Classix Nouveaux, Visage e Ultravox. Reclamava que eram shows ensaiados demais, sem suor, limpos, shows sem erros, sem riscos. Dizia que eles copiavam Bowie só na superficie. Pois bem. Hoje, em 2013 posso dizer, eles eram o futuro.
   Nerds não namoram. E nunca parecem ser sexys. O rock é hoje música do cara que tira 10 em física. Como pedir para essa música voltar a ser sexy, solta, doida e livre? A galera rebelde está ligada em esporte e não mais em som. O cara que foge de casa, que namora todas, que se mete em encrencas, esse dá uma importãncia enorme a esporte, e quando escuta música é algo para o acompanhar no skate, no surf, na moto ou na briga. Nunca será rock. Nos anos 80 além de MJ, Madonna e Prince surgiu um novo fenômeno jovem, o esporte como moda. Basquete, surf, skate, bike, snow, esses passaram a ditar visual e comportamento. O rock os seguiu. E ficou mofado. Porque nunca os alcançou. Música de esporte passou a ser o RAP. Ou eletro. E só.
   A ligação do rock com o corpo se foi nesse momento. A coisa libertária e cheia de gozo que havia em Jagger, Iggy Pop, Jim Morrison e mais uma multidão, foi perdida. O rock passou a ser a música de Morrissey, do cara que no máximo se masturba no quarto. E esse cara é sempre um fraco. O nerd viu nele sua salvação. O rebelde riu e puxou o carro. O tempo anda. Morrissey se lamenta e sonha com Oscar Wilde.
   Diante de Jay Z, Justin ou Beyoncé, o rock "rock", o rock que sonha em ser Beatles, Led Zeppelin ou Bowie, sabe que seu tempo passou. Ele fica parecendo pequeno, nada potente, fútil. Porque no mundo que agora, sem o disco e o CD, é feito de show e de imagem digital, competir com esses shows tipo LAS VEGAS-DISNEY-CABARET é impossível. Três caras com guitarra, baixo e bateria nada podem contra trinta dançarinos e um bom cantor.
   Porque esses caras têm talento. E cantam pacas! E o principal: Eles têm sangue nos olhos. Vieram do gueto. Trabalharam duro. E seguem a tradição pop de Marvin Gaye e de Diana Ross. A essas vozes uniram o puteiro de Madonna. Eis a modernidade. Que pode ser muito bonita. Mas nada tem a ver com rock.
   Pois voce acha que o BOB DYLAN nascido em 1990 tá cantando o que? Ele canta a saudade da route 66, ele canta a solidão de seu quarto de teen, ele canta a redoma de seu amor triste. Mas sabe, se for sincero, que nasceu tarde demais. Se Dylan foi um futuro, esse cara é agora um passado que virou madeleine.
  

GASOLINA- JULIO MENEZES...UM RETRATO DE UMA SENSAÇÃO

   É dificil escrever sobre o livro de um brother. Se voce elogia fica parecendo que é coisa de amigo. E se voce mete o pau a coisa parece deselegante. Ou pior, voce pode estar dando uma de imparcial. But...
   Julinho, li teu livro em uma tacada só. As duzentas páginas desceram como vodka. Eu tava com medo. Temia que fosse mais um desses pseudo-Kerouac. Ou mais um cara apanhando coisas num campo de centeio. Teu livro não é nada disso. Ele tem a ver muito mais com algum filme dos irmãos Coen. Ou com Afterhours do Scorsese. Soube que vão fazer um filme dele. Não deixa nenhum Selton Mello fazer o Vanderley. Seria óbvio. Tem de ser um Michael Douglas brasileiro. Teu texto tem algo de Michael Chabon. Assista Wonder Boys, o filme duca com o filho do Kirk Douglas.
   Pois é, teu livro me lembra um monte de coisas que adoro. E ele nada tem a ver com voce e é ao mesmo tempo a nossa cara. Arte é isso. Fazer uma coisa que nada tem de auto-retrato mas é. Porque Vanderley é anos 80 até o osso da canela. Vodka barata. A gente bebia qualquer merda. Mas a escrita é absolutamente anos 2010. Esfacelada.
   Se teu texto fosse pretensioso diria que sua linha é a de Saul Bellow e aquela do Philip Roth em tempos de Portnoy. Mas não. É Julinho 100%. Trágico. E engraçado. Ridículo.
   Porra cara! Atropelar a Janaína foi uma sacanagem. Porque tua escrita tem o dom do erotismo. Deixa o Figueira comer ela!
   No mais, a gente sabe que é ridiculo ter mais de 40 anos e continuar sendo adolescente. Cara, a gente ainda tá pensando no que vai ser quando crescer. Voce é um escritor. De verdade. E cá entre nós, a gente quer continuar sendo teen porque a gente ainda deseja meninas com corpo de 18 anos. Fazer o que né? Somos grotescos e ridiculos.
   Lendo voce senti uma puta vontade de escrever um livro. Mas voce sabe, sou da turma do Caymmi, uma linha a cada dois meses.
   PS...Escreve mais um!!!! Vanderley made in Japan.
   abç.

A MÁQUINA DO TEMPO- H.G.WELLS

   Inventor vitoriano constrói mecanismo capaz de viajar pelo tempo. No futuro ele encontra um planeta quase irreconhecível. A sociedade pós-apocalipse, dividida em duas classes. Os eloys, que vivem na superficie e os morlocks, moradores da escuridão subterrânea. Vivendo em passividade, alheios a decisões, os claros e tolos eloys nada mais são que gado, carne que alimenta os morlocks.
   Wells foi um grande, grande novelista. Preocupado sempre com a sociedade, seus livros não se ocupam em desenvolver caracteres. Seu dom é puramente narrativo.
   Gosto de observar o fenômeno que ocorre no mundo de hoje. As classes mais ricas, e brancas, se tornam cada vez mais indolentes, passivas, delicadas. Sinto que há um processo natural de enfraquecimento dessas pessoas. Acho isso natural e irreversível, seu conforto as torna inaptas para a vida. São um poço de tédio e de eterno auto-exame. Espero que o modo como escrevo isto não pareça fascista, não prego a volta da força-branca européia, apenas observo o mesmo tipo de destino que foi vivido pelos últimos romanos. Presas naturais dos bárbaros. Mocinhos bonzinhos são trouxas ao lado dos espertos improvisadores da periferia. O dinheiro os salva, mas um dia essa situação mudará.
   Wells leva isso ao extremo. Com pavor das transformações sociais de seu tempo, ele cria essa sociedade de gado e de devoradores.
   Há um filme de George Pal, feito em 1961, que tem soberba magia. O assisti na TV Globo em 1975, sábado a noite com meus pais e adorei. As cenas de viagem no tempo, as ruínas de Londres cobrindo a máquina e depois o mistério do futuro... tudo aquilo me marcou. Revendo o filme em dvd percebo que ele sobreviveu bem. Ao contrário de outras ficções, que empalideceram, essa mantém o mistério e um delicioso clima vitoriano.
   Leia e veja.

A ABADIA DE NORTHANGER- JANE AUSTEN

   Para um homem que como eu, gosta de Jane Austen, a esperança é sempre a de se encontrar em seus livros um personagem tão bom quanto Mr.Darcy. Não é o caso aqui. Este romance, em que pese seu bom humor e a precisão dos sentimentos expressos, falha em seu lado masculino. Todos os homens aqui são superficiais. É um livro desequilibrado. Não conseguimos crer no amor de Catherine.
   Ela ama e a vida faz com que esse amor seja adiado. Ela é uma leitora de livros góticos, e assim, ela vê a vida como romance. As dificuldades aumentam seu afeto. Austen não lançou este romance. Deixou o manuscrito guardado, foi lançado póstumamente. Tenho a certeza de que Austen planejava aumentá-lo.
   O romance nos recorda que em seu nascimento romances eram coisa de mulher. Apesar de menos alfabetizadas, eram elas que tinham tempo livre para ler. Livros eram escritos, em sua maioria, para elas. Para cada Robinson Crusoe, centenas de romances para moças eram lançados. Homens iam ao teatro e, vejam só, liam poesia. Moças liam romances.
   Ler Jane Austen é sempre um prazer. Passeio em jardim acompanhado de gente interessante. Claro que este é um bom livro. Chega a ser ridículo ter de dizer isso. Mas é um passeio onde a quantidade de gente interessante é menor e nenhum deles usa calças. Falta alguém com quem me identificar.
   Irei reler Orgulho e Preconceito.

THE WHO - QUICK ONE - MONTEREY 1967



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The Blues Project - A Flute Thing - 06-18-1967 - Monterey Pop Festival -...



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OS EXTRAS DE MONTEREY

   Assistindo o DVD com as cenas que D.A.Pennebaker deixou de fora na montagem de Monterey Pop. Várias porcarias. Country Joe and The Fish por exemplo. E The Byrds, que fazem uma apresentação sem vida. O grupo nunca funcionou ao vivo e dá vontade de ver Chris Hillman se juntar logo a Gram Parsons e fundar os Flying Burrito Brothers. Acho David Crosby uma das figuras mais antipáticas do rock.
   Jefferson Airplane também é bem nada. E ter de assistir aos Mammas and Pappas...Quem merece? Tudo bem, podemos ver Michelle Phillips aos 16 anos, linda de doer e já na estrada, musa hippie para quem Paul MacCartney dedicou Michelle.
   Pennebaker foi esperto. Focou montes de meninas bonitas. E crianças brincando. O filme é de junho de 67, auge e começo do fim do sonho hippie. Pra voce ter uma ideia nesse mês voce podia comprar nas lojas os novos lançamentos: Sgt. Peppers e os primeiros discos de Hendrix, Doors, Velvet Underground, Love, Traffic, Pink Floyd, além de Cream e Small Faces com grandes discos. Vamos logo ao lado bom dos extras.
   Al Kooper, Electric Flag e Paul Butterfield. Bom pacas! Mas a coisa pega mesmo é com a apresentação do Buffalo Springfield, já sem Neil Young. Excelente e emocionante. Assim como emociona a bela ousadia do Blues Project, uma viagem de ácido.
   O Quicksilver Messenger é um arraso. Rock que me lembrou o the best do rock de Seattle em 89/91. Banda ícone da Califa 1967. E os extras trazem The Who. Bem, ainda tento entender Keith Moon. Com eles explode o luxo mod com o furacão rocker. Estão milhas à frente de tudo aquilo de então.
   Postei alguma coisa. Aproveite baby.

TELMO MARTINO E O LUXO DO HUMOR

   Telmo Martino foi o cara que me ensinou que humor e inteligência andam sempre juntos. Suas colunas no Jornal da Tarde mudaram minha vida ( e pelo visto, a de muita gente ). Ele era o cara que todo mundo se espelhava para ser "top". Informado e fino, no auge da "bicho-grilice" paulistana, da "intelectualice rabugenta", Telmo fustigava com chicote de ouro os chatos, os bobos e os sem jeito. Ler Telmo fazia com que nos sentíssemos cosmopolitas. Eu lia, nas terças, quintas e sábados, e me sentia em London Town.
   Telmo cresceu amigo de Paulo Francis e de Ivan Lessa. Em comum, a inteligência, o humor feroz e a consciência de que New York e Londres eram o centro do mundo. Eles sacudiam a pasmaceira.
   Fagner, Maria Bethânia, Elba Ramalho, Maluf, Antonio Fagundes, Vera Fisher, autores de teatro em geral dentre um imenso etc eram suas vítimas. Dos poucos que mereciam elogios estavam Suplicy e Beatriz Segall. Telmo era elitista? Muito. Mas não era uma elitização apenas financeira, era a elitização do gosto, do costume, dos bons modos. Telmo fazia, sem saber, a sobrevida do mundo antes-da-democracia-geral-de-tudo. Nos anos 80 a vitória foi do hiper-pop e o mundo de Telmo se desfez e se escondeu nas caves secretas do gosto. Telmo sumiu. Ou quase isso. Quem o leria hoje?
   Adoraria ler Telmo falar do funk, de Tiririca, dos BBB, da TV Record...Olha só o que eu disse! Telmo jamais escreveria sobre essas coisas. Iria tirar uma do mensalão, da moda das ruas, dos atores globais e dos sobreviventes da velha MPB. Não escreveu... sua coluna se foi assim como se foi o JT. O que lemos hoje são as colunas banais de Calligaris ( a de ontem sobre a prostituição foi de doer de tão ruim ), as colunas iradinhas de Pondé, e algumas boas tiradas de Da Matta e de Coutinho, mas nada com "finésse", com "chic", com luxo, inteligência e prazer.
   Acho que esses valores estão em baixa. Me parece que conforto, esnobismo chic e luxo esnobe irritam e não inspiram mais.
   O mundo ficou mais pobre. Mais óbvio e muito medroso.
   Telmo se foi.

SEAMUS HEANEY E O NOBEL

   Fico sabendo só hoje que Seamus Heaney morreu no fim de agosto. Irlandês, o terrorismo irlandês dos anos 60/70 marcou toda sua obra. Li Heaney em 1998, e como ainda vou reler não falarei dele agora. Seria tolo. O que recordo é sua escrita surpreendente. Onde voce espera mistério surge o cotidiano, onde o dia-a-dia nasce o inefável. A Irlanda tem os nobéis de Shaw, Yeats, Beckett e Heaney. Não tem Joyce e muito menos Wilde.
   Estou aqui com a lista de todos os ganhadores do Nobel. Se voce desconhece Heaney, saiba que há muita gente não só esquecida como não relevante. Seamus é relevante. Quem lembra de Sully Prudhomme, o primeiro vencedor? Em 1901 o autor mais famoso do mundo era Tolstoi. Ou talvez Mark Twain. Escolheram Sully. Os primeiros dez anos são assustadores. Apenas Selma Lagerlof permanece relevante. Não vou delirar e dizer que poderiam ter premiado Machado de Assis. Ninguém o conhecia fora do Brasil. Como seria um absurdo querer que Lorca ou Pessoa tivessem ganho. Só se tornaram conhecidos pós-morte. Mas em 1910 podiam ter premiado Thomas Hardy. Daria tempo em 1902 de premiar Tchekov. Preferiram escolher Heyse e Kipling.
   Nos anos de 1910-1920 a coisa melhora um pouco. Temos Tagore e Maeterlinck, mas foi o tempo de Proust! Rilke! Kafka! Tudo bem, seria impossível ter conhecimento de Kafka então, mas Proust em lugar de Heidenstan e Rilke tomando o prêmio de Gjellup, que beleza!
   Os anos 20 foram os melhores. Na lista dos vencedores temos Knut Hamsun, Anatole France, Yeats, Shaw, Henri Bergson, Thomas Mann e Sinclair Lewis. Lewis é o primeiro americano a vencer. Deveria ter sido Twain. Fitzgerald nunca venceu. Yeats foi o primeiro irlandês. E Bergson o primeiro e um dos poucos filósofos.
   Nos anos 30 o nível cai de novo e sobe no pós-guerra. É quando premiam Gide, Hesse, Mann, Faulkner e Eliot. Raras vezes o nível do prêmio foi tão alto. Russel é o segundo filósofo a vencer, em 1950 e Heminguay vence após Faulkner, em 54, assim como Sartre vence depois de Camus, Camus ganha em 57 e Sartre em 64.
   Nesse tempo a lista dos injustiçados cresce. Laxness em 55 no lugar de Borges. Ivo Andric em 61 e não Nabokov. John Steinbeck vence em 62, mas não Tennessee Willians. Patrick White e nada de Graham Greene. Harry Martinson e não Philip Roth ou John Updike. A lista é imensa! Premiam Jelinek e esquecem Iris Murdoch. Ignoram Wallace Stevens, Auden, Kaváfis...
   Mas têm grandes acertos. Kawabatta em 68, Bellow em 76, I.B. Singer em 78. As vitórias de Paz, Szymborska, Naipaul...A tardia premiação de Pinter e de Golding.
   Claro que há uma má vontade com os americanos. Basta dizer que nos últimos 40 anos apenas Saul Bellow e Toni Morrison venceram. Talvez possamos considerar Singer um americano, então são três. Justo? Penso que sim. Edward Albee ou Gore Vidal ficariam mal nessa lista? Odysseus Elytis venceu em 1979. Quem é Elytis? E Wole Soyinka? Mesmo Claude Simon, vencedor de 1985, quem o estuda hoje?
   A lista completa voce acha em Nobel Prize. com.
   Nela voce não encontrará Calvino, Lawrence, Waugh, Pound, Dylan Thomas, Vallejo...

A VIDA E O AMOR NA VIDA E PARA A VIDA

   Então voce anda pelas ruas com aquela música de George Gerswin na cabeça. Na verdade voce canta ela baixinho e até arrisca uns passos de dança numa rua mais vazia. Seus sentidos estão afiados e voce repara num jardim que nunca notara antes. As pessoas parecem menos feias e a tarde tem uma cor insuspeita. É estranho notar que seus amigos nunca te pareceram tão "bacanas". São grandes caras! Afinal, sua vida tem um objetivo, e ele está diante, atrás e ao seu lado. Falar sobre esse objetivo seria um pecado. Então voce anda e canta. Voce ama.
   E amando voce não está mais aqui. E todo mundo percebe isso. Voce é outro. E só voce sabe que esse outro é o verdadeiro voce. Porque amar é o que nos liberta, nos define e nos faz viver. Todo o resto é morte em vida. Ou na melhor das hipóteses, distração fútil do ato de esperar.
   Mas existem armadilhas. Pois o mundo nega o amor. De várias formas. As mais sutis: o tempo que se encurta e voce não consegue a ver como gostaria. A dúvida do ciúme: voce não confia no amor e acha que ele é fraco. O egoísmo: voce exige que o amor dela seja sempre maior que o seu. Voce pensa ser digno de mais amor que aquele que voce tem para dar. As pessoas ao redor: alguém diz que voce é ingênuo, outro fala que o amor não existe....Eis a grande batalha!
   O MUNDO grita desde sempre nos ouvidos de todo aquele que ama: O amor é uma ilusão! Uma armadilha! Uma tola invenção!
    E contrariado tudo em voce responde: Mas ele está em mim! E é mais verdadeiro que minha própria existência! Ele é a própria existência!
    E seu amor, que precisa e deve ser defendido, se vê em luta. É esse o Dragão. É isso que os cristãos chamam de a Tentação. Acuado, quase desiludido, vem a hora de lutar a única luta que vale a pena. A luta pela salvação do Amor. Isso define tudo, ou voce desiste ou voce persevera. E vence.
    Porque amar nunca foi TER quem voce ama. Amar é conseguir fazer sobreviver em voce O AMOR. Permanecer amante mesmo na ausência. Jamais desacreditar da força, da verdade e da eternidade do amor. A vida é isso. A alegria é assim. Viver só vale se for desse modo. Sim, é uma lei.
    Mas O MUNDO... antes eram familias que lutavam contra o amor. Guerras que desuniam, costumes que o impediam, tabús ou pecados. Heresias. Agora é a dúvida. Gente irá te dizer que Amor é Sexo, modo bonito de nomear um ato animal. Gente vai te dizer que Amor é interesse. Outros vão falar que ele não existe, é um conto da carochinha como é Deus ou a alma. Todos esses esqueceram o que o amor é, ou pior, nunca o conheceram. Mas eles te enfrentam, te tentam, te confundem.
    Persevere. Se voce perder o amor tudo será perdido. Lute.
    A gostosa que dança nuna diante de voce não é o amor. É um desejo. E o desejo vem e morre. É temporal, é falível e promete muito pouco. Quem amou sabe que o sexo NÂO é amor. É brinquedo, prazer delicioso, jogo de aparências, disputa por posse. Sedução. O amor nunca é jogo e jamais uma sedução. Ele sempre se mostra como verdade e acontece sem plano ou trabalho. Destino. Confirmação.
   Leio um texto de Pondé, não é de hoje, em que ele analisa o filme de Malick. Aquele com Ben Affleck. É disso que ele trata. Os críticos, incrível como os críticos de hoje têm baixa cultura, nada entenderam. O filme fala da descoberta do amor, da luta entre a matéria e o amor, da grande batalha.
   Porque tudo conspira, ao contrário do que dizem os new age, CONTRA o amor. O mundo abomina os amantes. Abomina sua passividade, a negação que eles demonstram da ambição mundana, sua indolência preguiçosa, sua ingenuidade perigosa. E cabe a todo amante SALVAR o amor. Lutar por ele.
   A vida é isso. Tão somente isso. É a verdade de Rumi, de São Francisco, de Buda, de Juan de La Cruz, dos poetas e dos músicos, de Chagall, é a verdade daqueles dois deitados na praia as quatro da manhã na chuva...

GREAT GATSBY~Robert Redford~MIa Farrow~ What'll I Do ~ Frank Sinatra



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O DIÁRIO DE H.L. MENCKEN. EDITADO POR CHARLES A. FECHER

   Para quem não sabe, Mencken foi na América dos anos 20 aquilo que todo jornalista gostaria de ser, o guia cultural de uma nação poderosa em seu apogeu. Paulo Francis gostava de se imaginar Mencken, principalmente na fase final de sua vida. Falando, com humor e malicia, sobre politica, história e artes em geral, Mencken foi o mais amado e odiado americano de seu tempo. A partir dos anos 30, quando a recessão toma o planeta, Mencken perde parte de seu imenso público. Em tempos de dureza seus ataques começaram a parecer excessivos. Ele odiava Roosevelt. Chamava o presidente de mentiroso, e dizia que Roosevelt inaugurava o começo do fim da América. Mencken não queria que os EUA ajudassem a Europa, que jamais se metessem em guerra nenhuma.
   Algumas de suas previsões foram certeiras. Outras não. Ele subestima Faulkner. Ignora Heminguay. Para ele Faulkner é apenas um sulista mal educado e muito bêbado. Fitzgerald é visto como um chato. Um escritor muito bom, mas que desperdiçava seu talento com uma esposa louca, e com bebida em excesso. E quando bêbado Fitzgerald ficava chato, muito chato. Mencken tinha intimidade com Sinclair Lewis, o autor de Babbit, o primeiro americano a ganhar o Nobel. Mencken o aconselhou a não aceitar o prêmio. Lewis aceitou. Dreiser também foi íntimo de Mencken, assim como Willa Cather e uma multidão de escritores hoje esquecidos.
   Mencken frequentava as mais poderosas familias do país. Os juízes do Supremo, ministros, candidatos a presidente. Amigo dos grandes editores, ao contrário do que se diz normalmente, nas brigas entre editor e autor, Mencken ficava sempre ao lado da editora. Ele dizia que os escritores eram mal agradecidos e traidores. Vale lembrar que o próprio Mencken era um autor. Lançou vários livros, 3 dos quais de muito sucesso.
   Um de seus acertos, e que até hoje acho válido, é quando ele aconselha aos editores de jornal como enfrentar a queda das vendas face a emergência do rádio e do cinema. Ele diz que o jornal jamais poderá ser tão imediato, simples e fácil como o rádio. A solução seria elitizar os jornais. Dar me jornal aquilo que o rádio não pode dar, profundidade. Em 2013, face a internet, o jornal continua errando. Está condenado a correr sempre atrás. A cortejar o jeca.
   Vale dizer que o diário começa nos 50 anos de idade de Mencken. Viúvo, ele sente essa necessidade de ter um diário a partir de seu luto. Hipocondríaco, seus melhores amigos eram os grandes cirurgiões de seu tempo. Quanto mais velho mais ele se queixa de dores. São longas páginas sobre doenças e amigos que se vão.
   De qualquer modo é grande prazer poder se sentir íntimo do dia a dia de tal figura. Jantares, viagens e conferências. Ódios e afetos. Nada de sexo ( ele é a imagem da elegância discreta ). Mencken não  gostava do cinema, pouco se importava com o teatro e música quase nada. Seu mundo era o da escrita, das conversas, dos contatos.
   Faz falta alguém como ele escrevendo sobre o agora.

O GRANDE GATSBY/ POWELL/ STEVE CARELL/ MISS POTTER/ CHARLES LAUGHTON

   I KNOW WHERE I'M GOING de Michael Powell com Wendy Hiller, Roger Livesey e Vanessa Brown
Quando em 1980 começou a acontecer a justa revalorização de Powell, todos seus filmes foram revistos e reavaliados. Este foi um dos últimos a ser redescoberto. Pois é um filme bastante discreto. E muito encantador. Uma moça impulsiva fica noiva. O noivo combina de a encontrar numa ilha da Escócia, onde se casarão. Ela, que sempre sabe o que deseja e onde deve ir, viaja só. Mas as péssimas condições do clima fazem com que ela fique muito tempo parada numa vila de porto. E então ela começa a se "perder". A vida do porto a seduz, e um homem começa a tentar seus planos, seu coração. O filme tem dois aspectos muito particulares: a conjunção de clima e estado emocional e a forma como são feitos os cortes. As cenas são cortadas no meio do diálogo, de forma abrupta. E o mar, o céu, belíssimos, espelham aquilo que se passa em terra. No mais, Wendy é sublime e a trilha sonora fantástica. Frases em gaélico, danças sem folclorismos baratos, uma absoluta falta de pretensão. Delicioso. Nota 9.
   O GRANDE GATSBY de Baz Luhrman com Tobey Maguire, Leonardo di Caprio e Carey Mulligan
Escrevi num post que Baz, assim como Anderson, tem o preciosismo estético de Ophuls ou de Powell, mas sem a substância dos dois gênios. Pegaram a superfície e a usam de forma fria, no caso de Wes, ou histérica, no caso de Baz. O esteta que chega mais perto de Ophuls, por ter verdadeiro dom, é Joe Wright, um belo diretor que entendeu a coisa. Vejam este filme. É cinema, mas não é um filme. Nada mais é que um trailer de duas horas. O filme nunca começa. O que vemos é uma promessa de um filme que será feito um dia. Nisso ele recorda Michel Gondry e Spike Jonze, diretores também "estetizados" que fazem trailers que nunca se realizam. Mas Baz é pior. O filme irrita. São tantos cortes, somos tão jogados de cena para cena, situação para situação que nada apreendemos. O que fica? Leo di Caprio imitando Robert Redford e Tobey fazendo um Peter Parker adulto. Carey Mulligan não tem o glamour do personagem, está no filme errado. Um adendo: O texto de Fitzgerald é tão bom, tão sublime, que nas cenas em que Tobey se atém a recitar trechos do livro todo o filme cresce. Isso ocorre nas cenas finais, que são ótimas. Porque finalmente Baz parece se cansar de "fazer trailer" e deixa o texto sobressair. Só então percebemos do que trata o filme: o drama de um homem sem lugar e ao mesmo tempo a saga do Homem Americano, o sekf made man, que vence mas jamais "ganha". Mas aí já é tarde. Nota 2.
   A ILHA DO TOPO DO MUNDO de Robert Stevenson
Filme da Disney dos anos 70, ou seja, em crise de identidade. Expedição acha civilização perdida no Pólo Norte. Interessante é o fato de que o tema de filme B em 1974 seria hoje tema de filme A. Nota 2.
   DE CANIÇO E SAMBURÁ de George Marshall com Jerry Lewis e Anne Francis
Um homem acha que vai morrer e resolve aproveitar a vida. No caso, pescando. Jerry em um de seus muitos fracassos. Não é ruim, apenas sem graça. Nota 5.
   DESFOLHANDO A MARGARIDA de Marc Allégret com Brigitte Bardot
O cinema teve vários mitos femininos. Gloria Swanson, Greta Garbo, Dietrich, Rita Hayworth, Ava, Audrey, Sofia Loren, Marilyn...Nenhuma delas tem tantos filmes péssimos como Bardot. É muito dificil achar um bom filme de BB. Este é um dos piores. Nota ZERO.
   LES MISERÁBLES de Richard Boleslawski com Fredric March e Charles Laughton
A versão dos anos 30 não tem as músicas da boa versão da peça. Aqui temos o romance de Hugo. Laughton dá um show como o policial que obsessivamente persegue a Jean, uma atuação perfeita de March. O filme se sustenta belamente e nós o assistimos admirados por seu extremo profissionalismo. Eis o eficiente cinema da grande Hollywood, a fábrica de mitos. Ótimo filme! Nota 8.
   O CASAMENTO DO ANO de Justin Zackham com Robert de Niro, Diane Keaton, Susan Sarandon,, Katherine Heigl, Robin Willians, Topher Grace
Não faz sentido. Um casal de divorciados tem de se fingir de casados. Isso porque a mãe da noiva do filho é "católica" e católicos não admitem o divórcio!!! Até onde pode chegar a idiotice de um roteirista? Este filme joga no lixo um elenco soberbo em situações grosseiras, tolas, burras, bizarras e abismais. Tudo é tão fake, as falas são tão óbvias que ficamos feito uns patetas olhando aquilo tudo. Nota ZERO!
   MISS POTTER de Chris Noonan com René Zellweger e Ewan McGregor
A vida de Beatrix Potter, filha solteirona de uma familia inglesa que no começo do século XX cria a mais bem sucedida série de livros infantis da história, a série de Peter Rabbit. O filme, dirigido pelo sensível diretor que fez o belíssimo Babe, tem tudo no lugar certo. Ele nos leva ao mesmo mundo de James Barrie no lindo filme com Johnny Depp.  Fim da era vitoriana, berço da grande literatura infantil. René está excelente e Ewan, sem exageros, tem um de seus melhores papéis. O editor novato e tímido é um grande personagem e Ewan o pratica com sucesso. O filme é bonito e triste, divertido e inspirador. Nota 7.
   O VIRGEM DE 40 ANOS de Judd Apatow com Steve Carell, Catherine Keener e Paul Rudd
E não é que este filme não é ruim? Apesar de toda idiotice e do humor óbvio, o personagem de Carell é "real". Há algo de profundo e de muito sério nele, o que nos faz lembrar das grandes e verdadeiras comédias. A mistura de bobice palhaceira e seriedade secreta. Catherine está adorável, as cenas com ela redimem tudo de ruim que pode ter havido antes. No panorama péssimo da comédia atual, esta talvez seja a melhor. Nota 7.
   DOIS É BOM, TRÊS É DEMAIS dos irmãos Russo com Owen Wilson, Matt Dillon, Kate Hudson e Michael Douglas
Vixi! Nada tem sentido e nada tem graça. Owen é um amigo chato pacas que vai morar com seu grande amigo recém casado. Owen destrói a casa. Daí ele vira um cara legal e salva o casamento do amigo. Douglas é o pai e patrão, uma variação do vilão de Wall Street. Um ator de verdade no meio de atores perdidos. Onde a graça? Não passa de mais um "Owen Wilson ego trip". Ele anda de skate, mostra a bunda, chora, pula, se queima, cozinha e canta. Só não faz rir. Nota 1.

THAT'S AMORE, A MÚSICA DOS ADULTOS E A MÚSICA DAS CRIANÇAS

   Eu e um amigo andamos pela rua ouvindo Richard Cheese e os Red Elvises. Muito bom, principalmente Richard Cheese. Então entra Dean Martin cantando That's Amore e o clima muda. Um adulto está a cantar!
   Impressionante como o amor quando cantado por brancos do rock SEMPRE parece adolescente. Por mais belo e criativo que seja, e eu sei as alturas que Ferry, Bowie, Morrison ou Dylan chegaram, o sentimento tem sempre um jeitão de imaturidade, de insegurança. Varia entre o idealismo platônico e o sexo como descoberta.  No máximo o cara canta como se tivesse 18 anos recém completados. Ás vezes um teen inteligente ( Dylan ), ás vezes ingênuo ( Beatles ) ou taradinho ( Stones ).
   A música dos negros nada tem a ver com isso. O cantor pode ser pobre, alienado, do mal ou um fanático batista, a impressão passada é a de que em termos de amor ele sabe tudo. Aos 18 anos ele já foi casado e é pai. Não vê divisão entre sexo e amor, sabe que o sexo é sagrado por ser amor e que o amor é alma, soul, heaven.
   Chegamos então a Dean Martin. Toda essa geração, Sinatra, Mel Tormé, Bennet, Joe Willians, sabem daquilo que falam. São Homens. Conhecem as mulheres, conhecem o amor em suas variadas nuances. São mestres. Adultos.
   Interessante observar como os caras jovens que os imitam parecem garotos usando o terno do papai. Gente como Bublé ou Connick. O que eles fazem é baile de 15 anos.
   Meu amigo lembra de uma exceção branca: Johnny Cash.
   Ora amigo, Cash não é rock. É country e ele, como também Jennings, Daniels, Willie Nelson, Hank Willians, já nasceram velhos.
    That's Amore!