Bryan Ferry 'London To Paris'



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The Roxy Music Album Covers



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OS JARDINS EXIBEM A CARA DE SEU POVO

   Jardins franceses. Árvores plantadas em distãncias bem calculadas uma da outra. Alturas idênticas. Geométricamente podadas. Cubos, bolas, quadrados. A mão do homem deve ser percebida em cada folha e em toda flor. Natureza domesticada crescendo em ordem. Tudo é razão.
   Jardim inglês. Pequenos bosques que devem se desenvolver a moda de seu impulso. A mão do homem  não deve ser percebida, mas ela lá está. Ao jardineiro compete fazer com que a árvore atinja seu potencial máximo. Olhar e sentir conforto. Paz.
   Jardim japonês. Olhar uma pedra e ver nela todas as pedras do mundo. Jardim pobre que deve concentrar a mente. Detalhes diminutos que fazem com que a mente divague. Água que flui.
   Jardim italiano com estátuas e fontes e bancos. Tudo nele deve lembrar o lazer. A mão do homem se faz presente mas não como ordem ou como razão, sim como o belo. Jardim enfeitado com falsas ruínas de gosto duvidoso.
   Jardim dos EUA, com quadras esportivas, bancos de areia e escorregadores. Jardim que sempre convida ação. País da ação onde sempre se faz alguma coisa. Jardins que chamam à corrida, ao beisebol, ao basquete.
   Jardim do Brasil. Asfaltado para que as marginais corram. Destruído para que se estacionem mais carros.

FRANCESES, LUTHER KING E MENKEN

   No meu post abaixo esqueci de dizer que esta pobre taba é também sala de testes de teorias de franceses intelectualóides. Estar na USP serviu dentre outras coisas, a me dar a certeza de que teóricos franceses são normalmente chatos e perigosos. Vaidosos sem nenhum contato com a ação prática. O clima francês da USP me faz amar cada vez mais a cultura inglesa. Claro que continuo adorando Voltaire, Proust e Stendhal, Pascal e Balzac, mas é só. Voltaire estava certo.
   Desconfie sempre dos radicais. A revolução francesa, como a bolchevique, foram farsas. A revolução inglesa, discreta e pragmática, foi a verdadeira direção da modernidade. Digo isso porque Malcolm X era uma besta. Um idiota que não passava de um black bloc mais articulado. Luther King salvou a América. Sem ele teríamos visto o endurecimento do apartheid ou a guerra racial. O preconceito da elite intelectual impede que se diga a verdade, Luther King era acima de tudo um pastor cristão. Se ele seguia Gandhi e Thoreau era porque Gandhi e Thoreau coincidiam com Cristo. Tolstoi, que Gandhi seguia, dizia que seguir a simplicidade do evangelho era o caminho para a paz justa. Luther King mudou o planeta usando a mais antiga de nossas mensagens.
   Saiu agora uma biografia de Tolstoi. O livro inicia descrevendo a vitalidade do autor russo aos 75 anos. Tolstoi foi um superstar e uma das pessoas mais vaidosas do mundo. Em 1910 era um mito em vida. Foi da juventude hedonista para a maturidade religiosa. Sua filosofia era o pacifismo radical, o mesmo de Gandhi. Sua fortuna foi dada aos pobres. Morreu como um homem do campo. E feliz.
   Ando lendo o dia'rio de Menken. Imenso. Muito prazer. Nos anos 20 ele foi o ditador da cultura americana. Nos anos 30 era um famoso autor incoveniente. Um mundo de politicos, cientistas e escritores. O modelo do intelectual americano. Paulo Francis e Gore Vidal.
   Vivemos tempos de perigo. Qualquer idiota pode hoje ser escutado por milhares de milhares. Se eu fosse louco o bastante para escrever idiotias agressivas seria lido por montes de bestas deslumbradas. Se eu divulgasse crendices singelas seria amado por bandos de tontos tossideiros. Perigo.
  

BRASIL E AMÉRICA LATRINA...MARRECOS E PATEIROS

   Médicos cubanos chegam ao Brasil e são vaiados. Chegam sem a família e sem o direito de poder pedir asilo. E com uma oferta de salário maior que aquela oferecida ao brasileiro. Na verdade o que se oferece é uma esmola para o feitor de escravos do partido escravocrata cubano. Porém...
   O espírito de grupo nacional, anti-liberal, pois prega a não livre concorrência, em atitude que revela falta de tato e extrema asnice, vaia os recém chegados. Porque nossos médicos não foram trabalhar em Deus me Livre do Norte? Agora aguentem!
   Porém... Alguém pode ser obrigado a ir trabalhar onde não quer ir? Só um escravo cubano...com seu salário de 100 paus e o resto pro paizão Fidelito. Arre égua!
   Dá pra ser pior.
   O traficante chamado Evo não deixa o perseguido politico sair e o Brasil, como sempre em posição de quatro, finge que não é com ele e faz uma trapalhada. O Brasil não é país de macho? Nos acostumamos a ficar quietos.
   Enquanto isso financiamos desfiles de modas para peruas francesas e negamos dinheiro para sinfônicas ou grupos de folclore. Why? O ministério da Perua Matarazzo joga dinheiro para filminhos juvenis e para eventos bregas e nega grana para ópera porque ópera é elitista. Então tá. Financia logo um baile funk!
   Dá pra ser pior? Dá.
   Analfabetos passam de ano porque se forem reprovados irão desanimar e largar a escola. Surreal ! Então ninguém repete que é pra ninguém desistir. Ficam todos felizes na escola. Alunos que fingem aprender e professores que não podem dar notas baixas. Eita América Latrina!!
   Os Black Blocs vão pra rua com sua agenda que prega o anti-capitalismo. Ok, e qual a proposta? Bom, aí já é querer demais! Eles querem a estatização dos bancos e o fim da opressão. Tá. E depois? Os Black Blocs nada mais são que a velha turma do fascismo usando outra vez a ingenuidade infantil em prol de meia dúzia de espertalhões. Pueris pueris e infanto imbecis...
   Na internet intelectuais de galinheiro cacarejam seu pseudo-anarquismo de marrecos e grasnam quacs em prol do seu inconformismo de pata choca. Ovos nascem podres. Mas elas sentem orgulho de suas ideias de gente velha velhinha e galinácea. Có có có.... E viva Che!! Có có có....
   América Latrina, privada entupida de ideias pobres. Medo de ser livre, culpa por ser ambicioso e euforia na miséria. Latrina plena de nachos e tacos mal engolidos. Kirchners embonecadas com modess usado e Chavez rotos no túmulo de sua vaidade de macho comedor. Hay que endurecer...Faz me rir!
   Vamos falar a real, isto é uma piada sem graça, ou seja, desgraça.
   E tú, barbudinho de esquerda que vende carros na loja do tio e aplica uma grana em imóveis, e tú ecológico que só fuma erva natural e come vitela ao molho sangrento, e tú mocinha consciente que vota no novo, e fala um oi democrático pro garçon chamado Manuel, tú vai de novo pra Barra tomar uma cervejinha as duas da tarde que ninguém é de ferro? Tú é tão legal, né não?
   Reza na macumba quando tá doente e vira ateu quando tem saúde. Tudo se resume a comer as menininhas...
   América Privada com saudades dos chefes machos...Perón, Getúlio, os comedores, os caçadores, os que mandam!!! Lula cabra macho! Chavez cabra macho! Fidel cabra macho! Pinochet cabra macho!...
   América Diarréia de indiozitos tocando flautas e saturando meu saco. Perdeu playboy! Talento americano pro tráfico e pra mentira. Talento latino americano pro tráfico e pra mentira, too.
   A vida aqui é outra, é perdida em dor de barriga e dente infeccionado.
   Enquanto isso o deputado rouba numa ponte, o gov rouba numa estrada e a presidente pensa em sua biografia... Que luxo! Lula assombra o galinheiro como um gambá...Os dentes prestes a morder.
   América Latrina onde sociólogos se aliam a banqueiros e líderes operários criam amizades do peito com empreiteiros. O que vale é ser fidalgo!!! Có có có...
   José Sarney, patética figura do século XVIII...rico de sangue azul, rei eterno, produtor de herdeiros, literato galante, bigodudo do vudu.  Amigão de todos os que mandam no pedaço, os Black Bloc não ousam falar dele...És Rei !
   América Latrina...Teu pinico já transbordou...Rio Pinheiros. Continente lixo, reino maranhãozado. Cisca no lixão, bica bundas de mulatas inzoneiras, arre égua, marrecos barbudos, hay que endurecer, fudeu, quanto levo nessa?
   Desce uma gelada enquanto a gente arma a revolução!...a Laura vai?
   Có có có...

The Rolling Stones in the park



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FUTEBOL, PAUL MACCARTNEY E ROLLING STONES NO HYDE PARK

   Tão tentando, e conseguindo, transformar estádio de futebol em arena de entretenimento. Tá um pé no saco. Nada mais de samba, nada mais de charanga, sem o urubú e sem a turma pobre da geral. Padronizaram tudo, a torcida do Arsenal é hoje idêntica aos bundões do Chelsea. Jogo na Itália ou na Alemanha parece o mesmo, Juve ou Borussia, só muda a cor. O futebol vira picolé de xuxú, coisa que a fórmula um se tornou faz tempo. Sem cor local, sem perigo, sem originalidade.
   Falei em perigo? E os shows de rock? Viraram o que? Festinha de quinze anos? Show em Vegas?
   A sujeira abunda no Hyde Park neste show de 69. O palco é tosco e o povo tem uma multidão de tipos em overdose de ácido. Na última música Jagger flerta com Dionisius. E tem um grupo folk da Jamaica que não é samba! ó ingleses... Paul MacCartney aparece em meio ao povo no gramado...sempre são...não é funny? Tempo em que o cara da banda mais popular via um show em meio aos simples mortais...
   Os Stones chegam dentro de um carro forte! Ou é uma carrocinha de cachorros? O camarim fica com as janelas cheias de fãs e o luxo dado às estrelas são duas dúzias de laranjas!!!
   Keith está quase morto e ainda não criou sua persona de palco. Portanto, Mick brilha sózinho. Lê Shelley como homenagem a Brian, que morreu dois dias antes. Soltam borboletas brancas no palco, centenas que saem de caixas de papelão...sim, é patético.
   Moças feias sobem ao palco e são expulsas. Tudo é mal feito e mal executado. Hells Angels fazem a segurança. Mick Taylor faz sua estréia aos 19 anos. O filho de Jagger e Marianne, Nicholas, parece adorar o tio Charlie Watts. ( Uma pesquisa diz que em 1967 Bill Wyman dormiu com 236 mulheres diferentes. Brian com 170 e Mick com 86. Keith com apenas 3 e Charlie apenas com sua esposa ).
  Sexo é perigo. O show é uma merda mas é fascinante por ser perigoso. Os Stones sempre foram sexys como uma banda black. Não é apenas diversão, é uma experiência. Se deu certo ou errado não importa. Há alí uma história para ser narrada.
  Hippies místicos se reúnem em Chelsea. Velhos very british pescam alheios a tudo. Atores pregam contra o capitalismo. E uma criança, da minha idade?, olha para a câmera com seu lenço vermelho amarrado no pescoço e a barriga gorda de fora.
  Shows hoje são limpos demais!
  O mundo está ficando tão clean, tudo tão bem feito, tão correto, que ver esse show, feito na Londres hiper-educada de 69, é como ver gente de outra raça e de outro planeta em ação. Mundo irreconhecível.
  Tem de ser visto e revisto.
  Como dizia o grande Ezequiel Neves, é descaralhante!

A VOLTA AO MUNDO EM 80 DIAS- JULIO VERNE

    Bela edição ilustrada! Digna desse livro tão divertido. Fogg vai de Londres a Suez, para a India, para Hong Kong e Japão e cruza os EUA. Parada breve em Singapura, que é o lugar que parece mais interessante. O racismo abunda no livro. Raças não européias são tratadas por nomes como energúmenos ou bestas. É um racismo racional, o melhor humano é aquele que domina a técnica e a indústria. O primitivo é na melhor das hipóteses um idiota, na pior uma fera. Maldito século XIX.
   Frustra um brasileiro perceber que Verne foi um grande best-seller. Assim como dói saber que Walter Scott foi, em 1820-1840, o maior vendedor de livros de toda a história. Ou seja, estamos quase dois séculos atrasados, pois só agora, de poucos anos para cá, um autor consegue ficar rico com livros. Well...
   Verne conseguiu seu sucesso usando a ciência de então. A Europa estava no frenesi de descobertas, descobertas da ciência e descobertas geográficas. Verne une as duas coisas. E não se esquece da ação, que nunca cessa. É quase cinema.
   Não acho que um garoto de 12 anos irá gostar de Verne hoje como eu gostei. Talvez Twain e Stevenson tenham envelhecido melhor. Mas os livros de Verne ainda são base para livros de aventuras de agora. E filmes também. O herói frio, o ajudante atrapalhado, a mocinha salva, o cenário misterioso e exótico. A corrida contra o tempo que se encurta.
   É o modelo ainda usado em 2013. E não mostra sinais de abandono iminente. Verne deve estar rindo de onde estiver.

ELMORE LEONARD E A LITERATURA INFANTIL

   O estilo de Elmore Leonard nasceu com Dashiell Hammett e não com Heminguay. Heminguay tem umas quedas à filosofia e fatalismo romântico que inexistem em Elmore. Os diálogos dele, que para os jovens leitores vão recordar Tarantino, são 100% Hammett. Lendo Dashiel sempre imagino um filme de Quentin, lendo Heminguay penso em John Huston.
   Li um monte de livros de Elmore Leonard nos anos 90. Eles são todos bons e gostosos de ler. Fáceis de achar, em sebos voce acha muitos. Os melhores são os de western. Filmes vi todos. Nunca vi um filme ruim baseado em Leonard. Joe Kidd, de 1971, com Clint Eastwood é o menos bom. Hombre de Martin Ritt com Paul Newman talvez seja o melhor. Jackie Brown é muito bom. O filme de Soderbergh com Clooney e Lopez é maravilhosamente esperto.
   Se eu fosse escritor eu adoraria escrever como Elmore Leonard. É o melhor estilo para 2013. Curto e direto. Objetivo e muito visual. Sem bobagens, sem gordura e sem pretensão. Muita gente segue essa trilha, mas a maioria cai na pior das armadilhas que esse estilo apresenta: o tédio ou a superficialidade total. Confundem simplicidade com vazio, objetividade com superficialidade.
   Dá uma lida e me conta.
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   Comecei um curso de literatura infanto-juvenil. Maravilhoso.
   Tem certos chavões que são tão verdadeiros que ninguém percebe. Como é a professora? Maravilhosamente distraída, sorridente, cheia de ideias, viva. Curiosa, deslumbrada, parece que tem asas nos pés. Ou seja, é uma professora de literatura infantil que traz no corpo e na alma as marcas de Emilia, Peter Pan ou do Gato de Botas.
    Adoro.

UM SHOW RUIM E UM SHOW EXCELENTE...BLIND FAITH E THE FACES

   Assisti a 3 show em dvd recentemente. Sobre os Stones no Hyde Park falo depois. Antes, o Blind Faith, também no Hyde Park.
   Blind Faith foi considerado o primeiro super-grupo da história e com eles já se percebe, super-grupo não significa grupo bom. O Blind Faith nunca funcionou.
   O único disco deles saiu em 1969 e eu o comprei, em lançamento exclusivo do Museu do Disco, em 1981. Viajei no disco, viajei porque fui sempre fã de Winwood, Clapton e Ginger Baker, mas é um disco decepcionante. E no show a gente vê porque. A banda não se aquece, não solta faísca, parece com sono, sem vontade. Os caras se dão bem, não é inimizade, eles apenas não acontecem.
   Steve Winwood, recém saído do Traffic, com apenas 20 anos, parece ficar todo o tempo admirado com a presença de Eric Clapton. Eric, com apenas 25 anos, já era a tempos o deus da guitarra. Toca maravilhosamente bem, mas está sonado. E há Ginger Baker na bateria e ver Ginger tocar é sempre emocionante.
   O toque de Ginger é completamente original e até hoje não surgiu alguém que toque como ele. É uma mistura de beat apache, ritmo tribal africano e muito jazz. Uma figuraça! O que faltou? Alguém com fogo, com paixão.
   Paixão sobra nos Faces. Show de 1973, ele começa com troupe de garotas dançando can can. O video do tube cortou as moças, no dvd elas ficaram. A banda entra e bota pra capar. É a melhor banda de bar do mundo, um tipo de irmãos Marx do rock inglês.
  Rod Stewart começa com uma vaidade quase irritante, mas se esquenta e toma o show no colo. E que voz é essa? Lembro que em 1976 eu e meus bros da escola conversávamos sobre qual a best voz do mundo. Robert Plant vencia, mas Rod era melhor. Ao vivo ele arrasa!
  Ron Wood dá uma aula de slide e Ronnie Lane foi um puta contra-baixo. Em The Borstal Boys a banda atinge um pico de fogo. Ian MacLaglen se exibe no teclado e Kenny Jones vira punk estraçalhando a bateria. Ao final, uma canção a capella, a banda em êxtase e os fãs em orgasmos múltiplos.
  Tudo o que Blind Faith não conseguiu sobra nos Faces.
   Ou melhor, o que falta a 99% das bandas sobra nos Faces.
   Enjoy it!

The Faces - Live At Edmonton Sundown, London, UK (1973-06-04)



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A DOIS AMIGOS DOS ANOS 80

   Meu amigo
   Eu não tenho a coragem de ler aqueles cadernos que eu escrevia naquele tempo. Não sei porque, mas não rola. Então espero que um dia voce passe por aqui e os leia. Acontece que lembrei de um monte de coisas que eu não lembrava e minha memória foi acordada pelo Lloyd Cole tocando A Brand New Friend. Sei que nem é ou foi, dos seus favoritos. Mas sempre foi o meu.
   Os anos 80 foram uma bosta e não mudei de opinião. Mas, caramba, a gente tava lá e acho que não devíamos zombar tanto disso. Foram meus 20 anos...Foi real? Eu realmente fui tão apaixonado assim pela Patti Wonderful e pela Andreia?
   Amigo, fui, fui mesmo! E sei agora que ser feliz é conseguir amar. Para um cara mais ou menos normal de 20 anos amar é fácil. Para um quarentão amar é um exercício diário. É preciso matar o cinismo e mater o amor vivo. Crer no amor verdadeiro, falar nele, se jogar. Amigo, ele existe. E só ele vale.
   Lembrei de voce conversando com o Wilson José até de manhã, o dono do Madame Satã. E de uma menina chamada June que voce gostou.
   Lembro de seu sobretudo preto, estiloso pacas! De umas meninas de cabelos enormes pintados de roxo e de um negão dançando no porão. Na rua era muito legal. Deitei no capô, bêbado. Um doido de smoking ( dinner jacket ) me deu whisky. Era real? Aquilo era um clube de gente muito esquisita e decadente.
   Ouvindo Lloyd Cole lembrei de meu vômito jorrando escada abaixo. Devo ter molhado um monte de gente que subia. Ninguém ligou, só um cara riu. Devo ter amolado voce falando de Patty Blue Jean. Porra! Eu me apaixonava só por ter falado um "Oi". Eu era Charlie Brown?
   Bom....meus cadernos estão aqui, embrulhados numa sacola e não vou os ler. Misturei as lembranças de Dio com Percy e foi de propósito. Voces são os camaradas da década de 80. Mudamos todos, muito, mas os cadernos estão aqui.
   Ser feliz passa por poder incluir e aceitar tudo o que se fez.
   Até que não foi tão ruim.
   Um abraço. Que são dois.

MAIS UMA DESCOBERTA DA CIÊNCIA QUE TODO MUNDO JÁ SABIA DESDE SEMPRE

   Então a ciência descobriu que a cidade nos deixa nervosos? Que puuuuuxa!
   Através de experimentos descobriram que quando olhamos para coisas feitas pelo homem, que tenham a marca da mão humana, nosso cérebro fica excitado. Isso porque tudo que é humano é entendido como desafio e como coisa que deve ser "lida e entendida". A parte mais "para fora" de nosso cérero fica ativada e circuitos se acendem.
   Quando olhamos coisa da natureza, sem o toque humano, nosso cérebro repousa e se volta sobre si-mesmo. Ele entra em camadas mais profundas e passa a funcionar como por instinto e intuição.
   Algo de novo? A única novidade, como sempre, é que agora temos embasamento de algum doutor sobre alguma coisa que todo caipira como eu sempre soube.
   Abomino prédios, avenidas, carros, porque me obrigam a sair de mim, não no sentido egoísta do termo, mas a largar meu lado mais introspectivo, sensível, livre. Passo a ser assediado por apelos ásperos que me levam a ter de ficar alerta, ligado, rápido e superficial, Acordado. Vigilante.
    Para alguém que foi criado cercado por sons naturais ( cantos de pássaros, vento nas folhas, latidos, piados de galinhas, trote de cavalos, cigarras cantando ), sair desse mundo redondo é quase como morrer. Ou deixar morrer um tipo de mundo.
    Óbvio.

JOÃO PEREIRA COUTINHO E O MAL ( HITCHCOCK )

    João Pereira Coutinho escreve na Folha sobre o fascínio da obra-prima Os Pássaros de Hitchcock. Conta que por mais que críticos e psicólogos, filósofos e cinéfilos tenham discutido o filme, nunca ninguém conseguiu dar uma razão para a agressão das aves. Porque elas se tornam más? Coutinho aproveita para escrever sobre o mal. Hitchcock não dá pista alguma, ou melhor, afirma que o mal não tem motivos.
   Seja o "anjo negro", a sombra mal aceita, a pulsão de morte ou o equilíbrio Divino, todas essas pseudo-explicações para o mal nada explicam. São apenas nomes, e como todo nome, é arbitrário. São modos de se tentar pacificar aquilo que nos angustia, a inexplicável ocorrência da maldade. O mal acontece, nasce, domina e se vai. Porque? Matar como vingança não é O Mal, o Mal é matar sem motivo. Atacar sem provocação, e é isso que acontece no filme.
   Coutinho não resiste a dar a explicação mais usada, a de que os pássaros simbolizam a maldade feminina. Hitch, que temia as mulheres, faz deles arautos da mulher ( Tippi Hedren ) que chega a ilha do filme. Mas Coutinho mostra o quanto essa tese é arbitrária, depende de se desejar aceitá-la, ou não.
   Esse o segredo da modernidade eterna de Hitch, do fato dele ser o mais visto dos diretores clássicos. Ele nada explica, não dá motivos. Todos os personagens são neuróticos, todos agem de forma doida, mas nada tem explicação. Ele evita a ciência, evita toda cena explícita. Nada de gente lavando as mãos até sangrar, nada de drogas ou alcóol, o mal surge em meio a normalidade, a rotina é aparentemente normal, mas o mal, O Mal inexplicável sempre está lá, dando sua cor sombria a cada ato.
   Os Pássaros é considerado um Hitch de segundo nível. Não acho. Ele é tão grande quanto Vertigo ou Janela Indiscreta, tão divertido quanto Intriga Internacional ou Os 39 Degraus. Hitchcock é o maior dos mestres por conseguir unir, em doses iguais, a diversão Pop e a alta arte. Agrada ao povão e aos metidos.
   Mais um bom texto de Coutinho.

ROMANCES DE AMOR

   Como fiz vários posts sobre o Amor em música, falo agora de livros, poucos, que trazem memórias de amor.
   O primeiro de minha vida foi Tom Sawyer. Sim, isso mesmo, o amor de Tom e Becky, o primeiro beijo. Incrível mas eu lembro do exato momento em que li sobre esse beijo: aos 9 anos, debaixo de bananeiras no quintal de casa. Muito calor. Antevi aí meu futuro primeiro beijo. Só não pensei que fosse demorar tanto.
   Depois o namoro de Peter Parker e de Gwen Stacy e então os grandes romances.
   David Copperfield com Dora, quando ela morre, a primeira página que me fez chorar ( no quarto, lendo de madrugada ). Em seguida o mais perfeito dos romances sobre o amor, O Morro dos Ventos Uivantes, Heathcliff e Catherine, o amor como maldição, como sina, o amor que é dor para sempre. O máximo do romantismo fatalista, um cataclisma na minha mente e alma. O cenário perfeito ( vento frio em campos pantanosos ) a mulher perfeita e o homem "mal" que esconde sua ferida.
   Tudo que veio depois foi menos forte. Jake e Lady Brett no Heminguay de O Sol Também se Levanta, o amor impotente, amor irrealizável em meio a fiesta da Espanha. Os amores nas obras-primas de Stendhal, O Vermelho e o Negro e A Cartuxa de Parma, amores irônicos, amores que são como atuações que convencem o próprio ator. E escritos com a maestria do maior estilista.
   O amor simples de Kitty e Lievin em Anna Karenina, pois o amor de Anna e Vronsky nunca foi para mim o centro da obra, mas sim o amor de Lievin, que descobre a perfeição na simplicidade de sua mulher. A felicidade nasce após a morte em vida do aturdido Lievin.
   Ofélia e Hamlet...Esse amor continua um enigma, pois é impossível saber quem foi Hamlet e porque Ofélia o amava. O desagradável Hamlet.
   Os amores dos livros de Jane Austen, tímidos, convencionais, trêmulos e hesitantes. A doce alegria de seus finais práticos, finais que na verdade são elogios ao pragmatismo. Ler Austen é amar suas heroínas e admirar os falsos tolos que são na verdade seus heróis.
   Gatsby e sua tragédia. O desajustado que não percebe seu desajuste. O amor como miragem de beleza. Impossível.
   Não posso negar a importãncia de A Insustentável Leveza do Ser. Hoje percebo suas falhas, mas na época, anos 80, Tereza foi musa para mim. Aliás, era esse seu nome? Well...Kundera foi por algum tempo um herói.
   Estranho....poucos livros me marcaram como 'livros de amor". Falar de Henry James como autor amoroso é absurdo. A questão amorosa é centro de suas obras-primas, mas aquilo é mesmo amor? São personagens tão auto-centrados que fica dificil levar aquele sentimento a sério. Amor? Será? Solidão seria mais correto dizer.
   Na verdade meus livros de 'amor" são os poetas. E deles ( Keats, Shelley. Blake, Lorca, Yeats, Rilke ) não vou falar. Estou discorrendo sobre a prosa.
   Então nada de Dante e Beatriz.
   Volto a Tom Sawyer. O beijo e amor por Becky é parte de um todo. Tom faz estrepulias, foge de casa, recupera dinheiro roubado, briga, se perde em mina abandonada. E ama à Becky cada vez mais. Esse é o roteiro ideal de uma boa história de amor. O arcabouço foi criado a mais de 3000 anos, na Grécia. E não se fez até aqui uma base melhor. O herói que ama e parte, prova sua grandesa e retorna ao amor.
   É isso.

POEMAS TRADUZIDOS POR PAULO VIZIOLI, WILLIAM BUTLER YEATS

   " Da briga do homem com outros surge a retórica, da briga dele consigo mesmo surge a poesia".
   A briga entre o sonho e a realidade. A briga entre a aristocracia e a democracia. A briga entre a eternidade e o tempo. Os temas de Yeats são esses. Ele parte da fantasia pura e chega ao realismo do banal. E então consegue a síntese.
   " O talento percebe as diferenças. O gênio vê a unidade."
   Yeats une a democracia a aristocracia e a fantasia a realidade. Consegue nos exibir a verdade da imaginação e a magia da banalidade. Aristocratas se fazem os homens do povo e democratas os nobres e os mitos. O poeta chegou onde sempre quis. "A síntese feita a marteladas".
    Tradução maravilhosa de Paulo Vizioli.

OS PUNS DE ANITTA

   Amigos no Facebook comentam indignados a matéria do Faustão sobre Anitta em que ela se revela a rainha do "Pun na Van".
   Eu já falei tanto sobre isso....vamos lá again!
   Em 1977 a Globo exibia na faixa nobre das 21 horas óperas de Wagner e peças de Gogol. Porque?
   O Brasil era então um país tão pobre, tão injusto, que a TV só mirava a elite. Simples assim.
   ( Otimistas gostam de dizer que a TV de qualidade se encontra em canais a cabo. Eu pergunto: Quais? O que vejo são séries banais, draminhas óbvios e muita violência. Downtown Abbey, que é legal, se comparada a Brideshead Revisited perde de lavada. Os canis HBO ou Fox não são absurdos como a Rede TV, mas estão longe de O Capote ou O Navio Fantasma ).
   Hoje TUDO é voltado a classe C e D. E mesmo o cinema americano se voltou para chicanos e o povo da China e India. Ah, mas há o cinema "de classe", aquele de Woody Allen, Scorsese, PT Anderson e fora dos EUA aquele de Von Trier ou de Almodóvar. Weeeellll....
   Woody Allen se vulgarizou. Seu último filme "adulto" foi Desconstruindo Harry. Depois ele só fez filmes Pop para teens. Alguns bons, como Todos Dizem Eu Te Amo ou Barcelona, mas nada com os riscos e a ousadia de Manhattan ou Hannah. Idem para Scorsese e nem preciso falar de Almodovar. Von Trier faz filmes "de arte" para jovens impressionáveis do cursinho pré-USP. Os títulos são peças de marketing planejado e tudo é cópia de alguma cópia copiada de outra cópia. Vazio de ideias, vazio de sutileza: Jeca.
   Anderson tenta bravamente, mas quem o vê?
   O público C e D quer filmes tipo Marvel, comédias com puns e mais 007.  Nem para comédias românticas eles possuem sensibilidade. Quanto ao outro público, no qual me incluo, temos filmes saudosistas ou filmes de "arte" sem arte nenhuma. Arte sem novidade, sem ousadia formal ou relevânca histórica. Veja a encruzilhada: como surgir uma nova geração original, se o público nada quer saber de história, de arte ou daquilo a que não está acostumado?
   Teremos cada vez mais puns e Anittas. O sensacionalismo de corpos dilacerados, frases sobre o vazio e cenas cheias de "dor e sofrimento". TV e Cinema que nos educam, nos educam para a vida como ela é: cruel e chata. ( Ela não é cruel e chata, mas fizeram dela essa chatice sangrenta ).
   Estou sendo amargo? Não, pois ainda me divirto, e muito, com um monte desse lixo. A sanidade está em não se deixar enganar. Distanciamento irônico. Adoro O Rei dos Patos, Downtown Abbey, Ronnie Von ou Kitchens Nightmare. Mas sei o que são: passatempos irrelevantes. O perigo está em formadores de opinião encantados com o lixo e o chamando de "arte". Pura babaquice.
   A democracia tem um preço. É bom ver toda a população com seus programas. Mas é esquisito pacas ver gente sem referência de comparação chamando Friends de clássico da nossa cultura ou Dr, House de obra-prima. São ok. Às vezes adoráveis. Mas devemos sempre ter em mente, são pobres e ralos.
   Resistir até onde der. Manter a cabeça fora da bosta. Ironizar. Não aceitar os puns, as cabeças decepadas e as neuroses esfregadas em sua cara. Manter o pudor.
    É isso.

VIOLÊNCIA

   A vida é violenta. Toda vida. Violência que tem sentido, a sobrevivência. O mundo do homem sempre foi violento, mas essa violência, pública ou privada, sempre foi sinal de um sentido. Voce pode discordar da feiticeira queimada em praça pública, pode abominar os cristãos comidos por leões em arenas romanas, mas toda essa dor, todo esse sangue tinha um sentido. Preservar um status quo. Violência que tinha seu ritual, suas regras. Isso se traduzia na guerra. Existia uma coisa chamada Campo de Guerra. Quando Hunos ou Godos ignoravam essas regras de guerra eram imediatamente considerados bárbaros. A guerra tinha um limite, como a violência tinha seu lugar.
   Quando o exército alemão aniquilou a cavalaria polonesa uma regra de ouro foi quebrada. Foram tanques e metralhadoras esmagando cavalos e sabres, uniformes de gala e estandartes. A violência deixa de ter ritual, ética e limite. Não se deseja mais a captura da posição inimiga. Não se deseja mais a captura do inimigo. Deseja-se a aniquilação absoluta.
   Hoje fomos completamente educados para a violência. Ela não nos deixa mais chocados. E pior, ela existe como um fim em si-mesma. Não a utilizamos a contragosto, ela faz parte da coisa. Observe este exemplo...Em filmes antigos a cena violenta só aparece em extrema necessidade. O sangue não precisa ser mostrado, o tiro é quase escondido. A violência está lá, mas nunca é o centro do evento. Hoje o centro é o sangue, a tripa que salta, a dor.
   Tudo então se torna violencia pura. O video-game não pede estratégia, ele apenas quer tiros e reflexo, adrenalina. As ruas têm cenas de violência que já nada produzem de indignação.
   Mudo o texto.
   Na sala ao lado acabo de ouvir que uma certa cantora novata fazia com que seus músicos na van escutassem seus puns. Isso é dito num programa em rede nacional. Isso é a tal violência não percebida. Não o ato da cantora, mas o fato de termos de ouvir tal história. Dessensibilização.
   Volto.
   É isso.

Day After Day (Original Video clip)



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The Jesus And Mary Chain - Just Like Honey (Official VIdeo)



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ALISON, EVEN FALLEN IN LOVE, JUMP!

Elvis Costello-alison/ Buzzcocks-even fallen in love/ Aztec Camera- jump!/ Caetano Veloso-trilhos urbanos/ Caravan-golf girl/ Box Tops- the letter/ 10CC- i'm not in love/ Boston- more than a feeling/ Tim Buckley- song for a siren/ Badfinger- day after day/ David Bowie- life on mars/ Beach Boys- california girls/ Beatles- something/ Fred Astaire- never gonna dance/ Charles Trénet- la mer/ Joe Cocker- delta lady/ Kate Bush- whutering heights/ Cocteau Twins- ivo/ Jeff Beck Group- morning dew/ Tower of Power- so very hard to go/ Eric Clapton- bell botton blues/ Lloyd Cole- charlotte street/ Crash Test Dummies- the psy/ Creedence Clearwater- long as i can see the light/ Tom Jobim-wave/ Donovan- mellow yellow/ Bob Dylan- lay lady lay/Dave Edmunds- girls talk/ The Faces- debris/ Fairport Convention- man michael/ FourTops- i'll be there/ Fun Boy Three- our lips are sealed/ Dorival Caymmi- marina/ Stevie Wonder- you're the sunshine of my life/ Al Green- belle/ Human League- fascination/ Incredible String Band- queen juanita and her fisherman lover/ Chris Isaak- san francisco days/ Jesus and Mary Chain- just like honey/ Gladys Knight and The Pips- for once in my life/ The Flying \Burrito Brothers- sin city/ Tom Petty- the waiting/ Pretenders- message of love/ Otis Redding- that's how strong my love is/ The Modern Lovers- pablo picasso/ Simons And Garfunkel- bookends/ Smashing Pumpkins- 1979/ Kevin Ayers- may i ? / The Righteous Brothers- unchained melody/ Frank Sinatra- someone to watch over me/ Harry Connick- it had to be you/ Dusty Springfield- the son of a preacher man/ Rod Stewart- mandolin wind/ Stephen Stills- love the one you're with/ Style Council- the paris match/ Temptations- i wish it would rain/

WILLIAM BUTLER YEATS- THE SHADOWY WATERS

   Marinheiros no mar. Querem matar o capitão que está fora de sua razão. O capitão vê pássaros que anunciam amor. Pássaros com cabeça de gente. Um barco para ser pilhado. Atacam.
   O capitão está em outro mundo. Ele procura uma mulher SEM SOMBRA. Do navio trazem uma rainha que prefere morrer a ser tocada. O capitão pensa ser ela a mulher que ele espera. Mas logo vê que ela tem sombra.
   Os espíritos e os pássaros ajudam e ela é enfeitiçada. Ela o deseja. Mas ele sabe que não é ela.
   Essa a peça.
   O capitão fala...Porque sonhamos com o amor perfeito? Se ele não existisse não sentiríamos sua falta. Temos o direito de o procurar. De sonhar com ele.
   Mas o capitão se decepciona, mais uma vez.
   O barco singra mar afora. Os homens querem seu ouro e a rainha, vencida, quer o capitão.
   E ele vê os pássaros que falam com ele. E quer a mulher sem sombra.
   Yeats amou uma mulher que era toda sombra. E depois se casou com uma que era pássaro que sonha. Ele sabia do que falava. Seus versos procuram a luz. Vivem nas sombras. E singram.
   Bela tradução de Paulo Mendes Campos. Livro que é um dos meus tesouros. Seis peças de Yeats. Guardo o livro no peito. Faz parte de mim. Reler.

DREAM WEAVER, OCEAN RAIN, LUCKY MAN...

Gary Wright- dream weaver/ Echo and The Bunnymen- ocean rain/ The Verve- lucky man/ Foo Fighters- walking after you/ REM- talk about the passion/ Queen- somebody to love/ Steve Mac Lean- you and me/ Jorge Ben- amante amado/ Cat Stevens-oh very young/ Cliff Richards-delilah/ Tom Jones-whats new pussycat?/ Nancy Sinatra- you only live twice/ Double-captain of her heart/ Marc Almond- you only live twice/ Ringo Starr-photograph/ Ronettes-be my baby/ Otis Redding-pain in my heart/ Velvet Underground- pale blue eyes/ T.Rex- slider/ Pretenders- brass in pocket/ Joy Division- love will tear us apart/ Blind Faith- can`t find my way home/ Stevie Wonder-i dont know why/ Marvin Gaye- let`s get it on/ Sly Stone- time/ Smokey Robinson-the tracks of my tears/ Elvis Presley- suspicious mind/ Everly Brothers- bye bye love/ Bruce Springsteen- tunnel of love/ Roy Orbinson- only the lonely/ JOHNNY CASH- I WALK THE LINE/ Led Zeppelin- i`m gonna crawl/ Pink Floyd- us and them/ Beatles- and i love her/ Roberto Carlos- detalhes/ RAY CHARLES- I CAN`T STOP LOVING YOU/ Minnie Ripperton- lovin you/ Elton John- Roy Rogers/ Wings-bluebird/ Roxy Music-just another high/ David Bowie- kooks/ Bob Dylan- sarah/ The Flamingos- i only have eyes for you/ Harold Melvin- the love i lost/ Bee Gees- how deep is your love/ Barry White- the first, the last, my everything/ Stylistics- you make me feel brand new/ The Floaters-  float on/ Renaissance- can you understand?/ Eric Clapton- have you ever loved a woman/ Robert Johnson- love in vain/ THE ROLLING STONES- NO EXPECTATIONS/ Traffic- no face, no name, no number/ The Cars- you can`t hold on too long/ The Knack- my sharonna/ Madness- yesterday`s man/ Demis Roussos- rain and tears/ Annie Lennox- a whiter shade of pale/ Tanita Tikaran- twisting my sobriety/ QUESTION MARK AND THE ?- 96 TEARS/ Cowboy Junkies- sweet jane/ Prince- take me with you/ Chris Isaak- somebody`s cryin`/ Kevin Ayers- lady rachel/ Gram Parsons- christine`s tune/ Fleetwood Mac- never goin back again/ Donovan- jennifer juniper/Abba- dancing queen/ Sam Cooke- another saturday night/ Visage- night train/ Culture Club- make mistake number three...

O MUNDO DEVERIA OUVIR MAIS CREEDENCE CLEARWATER REVIVAL

   O mundo deveria ouvir mais Creedence Clearwater Revival. E se voce quer que eu explique o porque disso, bom, então voce nunca vai entender.

Creedence Clearwater Revival-Royal Albert Hall - 1970.mpg



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Echo and The Bunnymen - Ocean Rain.flv



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BLACK BLOC

   Demétrio Magnoli escreveu um texto no Estadão sobre os Black Bloc. Ele fala que os BB lembram em tudo os grupos terroristas surgidos na Europa por volta de 68/70. Grupos que pregavam a destruição de propriedades bancárias, de tudo que fosse símbolo do capital. Grupos que logo passaram a matar, "por acidente",e pior, tiveram intelectuais a justificar seus atos.
   Pois causa repulsa, e também hilariedade, ler que certos velhos intelectuais, saudosistas de um tempo em que o mundo os escutava, escrevem textos que justificam atos de vandalismo como "estéticamente e politicamente BELOS". Isso mesmo, belos. Percebo aí um romantismo senil muito mal disfarçado. Um ato de vandalismo pode ser válido, eu adoro imaginar o congresso nacional em chamas, mas nada há de belo ou de filsófico nisso. São atos ralos, sem discurso, e eu digo: who cares?
   Vivemos um tempo sem discurso. Escritores pouco têm a dizer, diretores de cinema nada falam e filósofos atuais repetem falas faladas nos anos de 1930. O Black Bloc pixa bancos e carros e nisso existe apenas um sentido: o de incomodar aqueles que amam a ordem ou os que temem o sujo. Só isso.
   Os boçais dos anos 70 ( Baader Meinhoff, Brigadas Vermelhas ) tinham todo um discurso muito bem ensaiado. Um monte de justificativas, de slogans, de sonhos que na verdade eram pesadelos. Foi um tempo de excesso de discurso. Todos se metiam a falar. Escritores, cineastas, pop stars, todos achavam que tinham algo a dizer. E como falavam!!!
   Hoje, os velhos saudosistas, incapazes de tirar o time de campo, tentam dar tintas sociológicas à "anos 60", a algo que é puro impulso. Se jogarem muito confete e começarem a teorizar sobre o vazio, tecer sentidos sobre o sem senso, os Black Bloc irão secar.
   Acho que ficou claro o que penso sobre eles.

Chris Isaak - blue spanish sky.mp4



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Lloyd Cole, 'Perfect Blue', 1985



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CANÇÕES DE AMOR SÃO COMO AMAR O AMOR

   Para ninguém achar que eu escuto apenas Roxy e Ferry quando penso no amor ( isso está longe da verdade ), comento aqui, ou melhor, deliro aqui, sobre as músicas que me levam a esse mundo onde tudo voa ( como mostra o mais belo dos quadros, aquele de Chagall em que ele visita Bella Chagall ).
   O nascimento da minha percepção de que canções são hinos ao amor exibo na postagem abaixo. Gostaria que voces lessem o texto e que vissem os dois vídeos. E em meu sonho amoroso gosto de pensar que o garoto no video de Rod Stewart sou eu aos 9 anos. Aquelas imagens sintetizam toda a minha infância.
   Infância...O amor é um rememorar da infância e sei que o sexo é o brinquedo de adulto. A gente troca o autorama pelas comédias fantasias da cama. Casais em amor são crianças. Graças aos céus! São sinceros e verdadeiros, a minha babaquice infantil e adorável eu só mostro para quem eu amo. Têm elas feito o mesmo para mim. Nosso maior presente é nossa ingenuidade.
   Discos desse universo...Lloyd Cole and The Commotions. É tão belo que chega a doer. Violões e violinos, as músicas realmente voam. Rattlesnakes é um disco perfeito. E tudo soa a amor. Lembro também de Prefab Sprout com o disco que se chama Steve McQueen. É pop chic típico dos anos 80, mas é lindo demais. Marcou época. E se é pra falar dos anos 80 falo do Human League que nos deu Dare! um disco que voa entre suspiros e o Yazzo que trouxe Nobody's Diary.
   Mudo de clima e de mundo. The Crystal Ship dos Doors é uma das mais belas canções assim como Catch the Wind de Donovan. Nesse mundo hippie abundam canções sobre amor. O Traffic tem várias, assim como Hendrix. The Wind Cries Mary é uma das mais perfeitas. A gente levita quando a escuta.
   Várias vezes em que estive em êxtase amoroso escutei Happy dos Stones a todo volume. E já cantei Ruby Tuesday na rua bêbado. Happy dá tanta alegria por se saber dentro da loucura do amor!
    Bob Dylan é um caso a parte. Simple Twistof Fate é sobre ser adulto. Aliás, no mundo do amor, Dylan é a figura adulta. Ele sempre luta para não ser infantil. Sorria mais Bob! Outro geminiano é Brian Wilson e God Only Knows é algodão doce. Feito por um gênio da doçura.
    Não posso esquecer de Van Morrison. Astral Weeks é soberbo. Não se parece com nada. É alma falando com alma. Etéreo. Se anjos cantassem soariam terríveis e belos como Morrison. Ou como Annie Haslam em Ashes are Burning.  Ou Sandy Denny.
    Sei que nem todas essas canções falam de amor, mas o sentimento quando te toma faz com que toda bela música seja sobre o amor. Aquele concerto de piano de Mozart, o 20, é sobre amor. E talvez seja a mais bela obra já pensada e realizada sobre o tema. Ou sobre todo tema possível.
    Kevin Ayers tem montes de músicas amorosas. Gemini Child é das maiores. Kevin foi amoroso todo o tempo. Vivia em estado de apreciação. Alcoólica, carnal e amorosa. Ele continuou a tradição hedonista de poetas britãnicos que saíam da ilha fria atrás do sol do Mediterrâneo. E amavam até morrer. Kevin foi um gigante.
    Forever Changes talvez seja o melhor disco de rock sobre o amor. Arthur Lee ultrapassa tudo e chega ao auge da inspiração. A obra-prima é tão vasta, tão complexa que se torna inesgotável. Caleidoscópica. Não por acaso sua banda se chamava Love.
   Chris Isaak teve um auge de dez anos. Entre 1988 e 1998 ele foi o cantor do amor. E como canta bem! Nesse perídodo eu o escutei como um vicio. Amor dos anos 90, cheio de bossa, de referências ao passado. Estradeiro e ingênuo. Suave, sexy, lindo.
   E foi nessa década que descobri o amor adulto. E com ele veio aquele repertório que nada tem a ver com o rock. Sinatra, Chet Baker, Astaire, Crosby, Ella, Billie, Doris Day... o tesouro da canção popular americana: Cole Porter, os Gershwin, Rodgers e Hart, Irving Berlin... Bewitched, Night and Day, Never Gonna Dance, Funny Face, September Song... tantas jóias que me mudaram. Quando as descobri muita coisa do rock deixou de ter gosto para mim.
   Tento evitar falar do mundo da black music. Os gênios negros falam do amor como ninguém. Demonstram soberbo conhecimento. Marvin Gaye, Otis Redding, Smokey Robinson, Temptations, Aretha, Teddy Pendergrass, Al Green...a sensação é a de que eles são professores de amor.
    E há David Bowie. Ladystardust, Life on Mars, Wild is The Wind, Rock'n'Roll With Me, Sorrow, tanta coisa sobre amor, dor, ilusão, reconciliação, tempo, desejo, sexo, sonho...Não existisse Ferry seria Bowie o crooner do amor, mas ao contrário de Bryan, que parece viver pela musa, Bowie sempre parece viver pelo palco. Seu gênio para a canção de amor é imenso, mas não é exclusivo, ele sempre é dúbio.
   De quantos mais discos posso falar! J.J.Cale tem Grasshopper, um disco todo sobre um flerte e um amor. É dos meus mais queridos diários amorosos. Assim como Stephen Stills e seu primeiro disco solo. Neil Young e Harvest ou The Band com várias faixas de seus discos. Mas The Band não trata muito do amor-paixão, sua praia é a amizade. A bela amizade entre camaradas.
   Gram Parsons tinha o dom. Sincero ao extremo a gente ouve o amor nascer em sua voz. Comove sua fé amorosa. Ele foi um puro de coração. Não podia viver muito. Partiu.
    É engraçado como várias bandas que adoro não me trazem lembranças sobre canções de amor. The Kinks por exemplo. Existem belas faixas amorosas, mas seu espírito é outro. São satiristas, cronistas sociais. Como The Who, banda que consegue me levar as lágrimas. Mas do que eles falam? De solidão, de fé e de luta. Como o Led Zeppelin. Adoro o Led, mas a praia deles é outra. Tesão, amor de minutos, amor como conquista e posse.
    Nick Hornby tem razão. Décadas ao som de canções que falam de amor, que sonham com o ideal, deve ter modificado toda a minha visão de vida. Ninguém sai impune de I Started a Joke aos 6 anos!
    Tem muito mais, claro. Mas este desleixado texto conta apenas isso. Vou sentir pena dos esquecidos ( lembro agora de Quicksilver Girl de Steve Miller, do Steely Dan com Peg... ), mas é isso. Amar é amar o amor e se essas canções e esses caras me trazem o amor à vida eu os amo a todos. São lembretes, amplificadores, testemunhas, ecos. Escutar tudo isso é exercitar o coração, fazer falar a alma e viver melhor e mais.

Elton John ~ Your Song



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Handbags & the Gladrags - Rod Stewart



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DE ROBERTO CARLOS A YEATS; DE BEATLES A PROUST

   Aquelas canções que são como velhos amigos, conhecem sua história e reencontrá-las é como olhar para sua casa ( a casa de verdade, não esse acampamento de trabalho a que hoje chamamos de casa ). Sons que vão direto pra alma e que por mais que as escutemos, e escutamos muito, parecem sempre com uma nova descoberta. Essas músicas se renovam, como o amor é uma renovação diária.
   São as canções que meus amigos deveriam cantar no dia em que eles jogarem minhas cinzas na Serra do Mar ( e isso nada tem de triste pois farei poesia mesmo após ir embora daqui ).
   No nascimento desta jornada recordo de minha mãe ouvindo rádio pela casa cheia de sol e de meu pai escutando discos nas manhãs de domingo. O que eles ouviam? If, da banda melosa Bread é possívelmente a coisa sobre o amor mais antiga em minha alma. Mas não é uma boa canção. Só uma criança de 5 anos poderia gostar de tal coisa. Mas também posso recordar de Roberto Carlos e essa lembrança é muito mais agradável. "Quando/ voce se separou/ de mim/ Quase/ que a minha vida teve/ um fim"; ou então: "As folhas caem/ Nascem outras no lugar"; nessas faixas nascia em mim um tipo de sentimento que iria desaguar em Yeats e em Proust.
   Beatles....Ah os Beatles...Cantei Help aos 6 anos, mas o que me deixava tonto era In My Life. Belo tempo em que In My Life tocava na Tupi AM. Bem mais tarde, aos 17 anos, eu descobriria que For No One era ainda melhor, e mais que isso, que For No One pode ser a melhor das melhores ( Neste texto, incorreto como o amor, muita coisa será the best of the best ). Mas em 1970, a voz de Paul já marcava presença em mim, mas era via Another Day, uma canção que me recorda a cama de meu quarto.
   O amor em canções. Daydream Believer na voz de David Jones, dos Monkees, e também Look Out, um amor muito feliz. Eu adorava ainda Rocknroll Lullaby com B.J.Thomas e Killing me Softly com Roberta Flack. E súbito tudo mudou quando um piano me fez comprar meu primeiro disco.
   Elton John cantando Your Song mudou minha vida. E ainda hoje vejo Elton como um dos reis da canção de amor. Se voce está in love e deseja ouvir alguém cantar só pra voce, Elton é o cara. Ele tem tantas grandes canções de amor que é impossível citar as melhores. São melodias simples, que grudam, mas ao mesmo tempo vão ao fundo da coisa e são cristalinas. Elton foi hiper-pop, mas jamais deixou de parecer sincero. E uma frase como : " A vida é maravilhosa porque voce faz parte do mundo", será sempre a tradução exata do que seja a alegria do amor. Ele é um longo capítulo em meu coração.
   Muito perto de Elton vem uma voz que em sua juventude foi mágica. Capaz de emocionar com apenas um "Oh!", Rod Stewart cantou Still Love You em 1976 e acabou com meu coração. Se Elton parecia sempre sincero, Rod Stewart conseguia personalizar nossa epopéia interna. Esqueça o Rod playboy que surgiu após 1977, ele foi antes disso o jovem faminto, o cara da estrada suja, o celebrador do amor eterno,e esse cara é do cacete! Sua regravação de The First Cut is The Deepest de Cat Stevens, fez com que eu me apaixonasse várias vezes. Já adulto descobri seus primeiros discos. Os 3 primeiros discos solo de sua carreira são crônicas sobre o amor simples, o amor de gente comum, o amor de jovens ingênuos e cheios de fé. São dos poucos discos do rock que nos fazem ter esperança. Isso não é pouca coisa. Rod é o menestrel do amor.
    Voltando a minha casa de criança ia esquecendo de dizer que hoje, aos 50 anos, quando leio poesia romântica, ou quando vejo imagens de jovens dandys morrendo de amor e de tuberculose, logo recordo de 3 canções de amor que entraram em meu DNA. Eu as ouvia naquele rádio antigo, em mono e AM, aos 5 anos...ou antes. Eram os hits de então: As Tears Go By, Lady Jane e She's a Rainbow. As 3 nada têm a ver, na verdade, com aquilo que os Stones eram. Ou talvez simbolizem o lado sombrio da banda, aquilo que eles escondem ou perderam. Mas a voz infantil de Mick em Tears, o arranjo de cravo de Lady Jane e o refrão de Rainbow são das mais poderosas sombras amorosas da minha mente.
   Pena que a banda tenha jogado fora esse tipo de romantismo flamboyant.
   Aqui então estão expostos os nomes e as canções de meu começo.  Acho que foi um bom inicio. E como em todo amor antigo, elas mexem comigo de uma forma muito visceral. Não admito que falem mal delas. As amo forever. Porque, meus amigos, amor quando é de verdade, é sempre para sempre.
   E a vida é maravilhosa porque essas canções estão nela.

MEDO E AMOR, LONGE E DE PERTO, ROXY MUSIC- COUNTRY LIFE, O QUARTO DISCO, 1974

   Havia uma menina que eu conhecia...
   Havia uma banda que eu sempre ouvia, e existiam lugares onde eu ia...
   Ouvir certas bandas ás vezes é impossível. Isso acontece quando me sinto longe, distante, exilado do universo em que aquela banda habita. Tão longe que aquela lingua, que antes me seduzia, agora me irrita. Ou pior, me assusta.
   Roxy só é possível quando amo. E o amor se revela já revelado.
   Percebi... As pessoas sentem amor por aquele que ama. O que não deixa de ser uma ironia, para ser amado é preciso estar amando. Bobos vêm com essa conversa de que alianças atraem, de que mulheres gostam de quem está comprometido. Besteira! O amor é atraído pelo próprio amor.
   Então voce ama e passa a chamar olhares amorosos. ( E um dia poderá vir a tragédia, o amor se vai e sua dor passa a repelir ). Mas se voce alimentar, cultivar, embelezar...
   Porque tudo no mundo quer aquilo que o alimenta.
   O Roxy foi minha filosofia amorosa. Bem antes de Shelley ou de Keats, foi o Roxy que me ensinou que amar independe. Amar é ato de coragem e de disciplina.
   Tudo no mundo quer aquilo que o alimenta. Mas esse alimento tem um preço.
   Coisas fáceis não possuem valor. O amor pede muito. Exige.
   Houve uma menina em minha vida, por ela eu morri, por ela matei, por ela deixei de ser.
   E agora inteiro, pleno, cheio, eu posso voltar.
   O Roxy aqui, comigo, e indo, rondando, voando, conduzindo, guiando
   O amor ama apenas o amor.
   there`s a girl i used to know...

Roxy Music - A Really Good Time



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PRESTON STURGES/ VICTOR FLEMING/ JOHN TRAVOLTA/ JERRY LEWIS/ GENE TIERNEY/ HENRY JAMES

   MARUJO INTRÉPIDO de Victor Fleming com Freddie Bartholomew, Spencer Tracy, Lionel Barrymore, Melvyn Douglas e Mickey Rooney
Se voce não conhece o cinema americano dos anos 30 e deseja saber porque ele é tão valorizado, comece por este filme. Baseado em obra de Kipling, conta a saga de um menino mimado, egoísta, milionário, que ao ser resgatado no mar por pescador de bacalhau, aprende a viver e a ser parte de uma equipe. O filme tem cenas documentais da pesca em mares frios que são fantásticas. A procução tem o luxo da Metro e a direção é de Fleming, o diretor que fez E O Vento Levou e OMágico de Oz, só isso. O elenco chega a ser covardia. Tracy, como o pescador Manuel, levou  o Oscar, mas todos os atores são o máximo dos máximos. O segredo desse tipo de cinema é aqui explicitado: cinema sem vergonha de ser Pop, mas esse Pop é feito com gosto, baseado em roteiro e estrelas. O modo econômico e direto com que se narra o roteiro é uma aula de direção e de produção. È um filme perfeito. Nota DEZ!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
   PELOS OLHOS DE MAISIE de McGehe e Slegel com Julianne Moore, Steve Coogan, Alexander Skarsgard e Onata Aprile
Livremente baseado em Henry James ( é seu livro mais seco e cruel ), o filme fala de uma menina jogada ao sabor das emoções de sua familia. A mãe é uma rockeira cheia de dinheiro que vive em meio a histeria e carência. O pai é um hedonista egoísta. O filme se põe no ponto de vista da menina. Vemos sua solidão e meio a casa imensa mas desleixada, os pais ocupados em serem felizes e o desarranjo geral. É um bom filme? Não. Tudo isso é temperado com musicas fofinhas, cenas infantilóides e uma sensibilidade gracinha que é irritante. Retrato de nosso tempo, é sintoma daquilo que denuncia, um mundo onde todos estão largados e perdidos em meio a prazeres sem valor. Nota 2.
   NATAL EM JULHO de Preston Sturges com Dick Powell e Ellen Drew
Segundo filme de Sturges, dura apenas 62 minutos. Mas que bons minutos! Um cara concorre num concurso de slogans. Colegas lhe pregam uma peça, mandam aviso dizendo que ele venceu. O trouxa passa a gastar o dinheiro que não tem. O roteiro de Sturges não poupa ninguém, todos são idiotas, e humanos. Na época, 1940, não se deixava um roteirista dirigir, Preston Sturges quebrou essa regra, abriu o caminho para Wilder e Huston. Finalmente recebendo hoje o valor que lhe é devido, ele foi um mestre da comédia. O filme tem um final tão bem preparado que é impossível não rir. Nota DEZ.
   BORN FREE de James Hill com Virginia McKenna e Bill Travers
A trilha do gênio John Barry levou Oscar. Não há quem não a conheça. O filme mostra um casal na África criando um filhote de leão, uma leoa. Nada de gracinhas, em 1966 animais ainda eram filmados como bichos e não como bebês. O filme, cheio de falhas, tem ainda encanto. Nota 6.
   TEMPORADA DE CAÇA de Mark Steven Johnson com Robert de Niro e John Travolta
Os primeiros vinte minutos prometem um bom filme. De Niro vive isolado no campo, vemos seu cotidiano. Um tipo de Jheremiah Johnson. Mas como o filme é de 2013, logo surge o super-mal, na figura de Travolta, um sérvio que deseja se vingar do ex-soldado De Niro. Travolta vai ao campo e começa a ação. O filme passa a exibir cena sobre cena de torturas, sangue, sadismo e exageros. Porque? Porque esta é a cultura do sensacional, e também porque estamos sendo educados a tolerar a violência. De Niro está ok, Travolta está ridiculo. Usa um sotaque hilário, maquiagem pesada, tudo errado. Adoro Travolta quando ele é apenas Travolta, um tipo, como Willis ou Gibson. Quando tenta atuar vem o desastre. O filme é pior que lixo, é mal intencionado. Nota ZERO.
   ALLOSANFAN de Paolo e Vittório Taviani com Marcello Mastroianni e Lea Massari
Um homem no tempo imediatamente pós revolução francesa. Ele é um tipo de ex-terrorista. Tenta voltar a ser um homem tranquilo de familia, mas o passado o persegue e lhe cobra ação. Começa muito bem e Marcello é sempre ótimo, mas os Taviani se perdem do meio para o final. Bela fotografia. Nota 5.
   VELOZES E FURIOSOS 6 de Justin Lin com Vin Diesel, Michelle Rodriguez e Paul Walker
Gostei do primeiro e do terceiro. O quinto foi um lixo, este é ainda pior. Tentam fazer drama, tentam dar alguma profundidade ao que era apenas diversão sem peso. Erram. O roteiro é cheio de furos, voce tem de aceitar decisões sempre erradas. Posso dizer que é uma porcaria de filme. Diesel começa a envelhecer e ao contrário de Willis, envelhece mal. Nota ZERO.
   A FARRA DOS MALANDROS de Norman Taurog com Jerry Lewis, Dean Martin e Janet Leigh
Ruy Castro diz que em 1956, para sua geração, a separação da dupla Martin e Lewis foi tão doída quanto seria a separação Lennon e MacCartney em 1969. Eles foram os ídolos top dos teens de então. Essa popularidade é atestada, hoje se fazem filmes na TV sobre a dupla. E quando fui um teen, nos anos 70, Jerry Lewis ainda era uma hiper-estrela, um Will Smith exagerado. Seu estilo é puro Jim Carrey, mas um Carrey ainda mais infantil. Martin era o rei do cool, sempre calmo e paquerador. Envelheceu melhor. Este filme não é bom. Jerry finge estar contaminado por radiação e é mimado pela imprensa. Nota 3.
   THE GEISHA BOY de Frank Tashlin com Jerry Lewis
Porque Jerry não ousou crescer? Ele era tão bom, inventivo, mas sempre insistiu em não sair dos 12 anos. E essa mania de agradar, de imitar o pior de Chaplin, a melança... Este tem seus momentos, mas quando ele começa a tentar nos comover...socorro! Nota 4.
   ELA QUERIA RIQUEZAS de Rouben Mamoulian com Gene Tierney e Henry Fonda
Às vezes me perguntam: Qual a atriz mais bonita do cinema? Respondo, Grace Kelly. Mas falo isso porque esqueço de Gene Tierney. Ela foi a mais linda e aqui está divina, mais simples e menos fria. Não é um grande filme apesar dos nomes envolvidos. Na verdade ninguém queria fazer esta obra farsesca. Gene dá golpes em namorados ricos, Fonda não é rico, o resto é facil de prever. Mamoulian fez filmes deliciosos, não é este o caso. Fonda está distante, este filme fez com que ele começasse a desistir do cinema. Sobra Gene, que parece se divertir. Nota 4.
   O CAPANGA DE HITLER de Douglas Sirk
Muito pobre, é um dos primeiros filmes americanos de Sirk. Sem Nota.

AMOR

  O amor existe e não é porque casais não dão certo que ele não existe.
  De volta ao Reino do Amor, estou em casa e como Ulysses volto a minha Ítaca e a minha Penélope.
  Argos...
  Pouco me importa se ela está aqui ou lá
  Pouco me importa se irei ficar
  O Amor volta a viver em mim
  E isso é o que vale!
  Deixo cair do céu a loucura sobre mim
  Deixo que o mar venha me levar
  Deixo que tudo vá me deixar
  Mas o Amor está aqui.
  Acordo agora da vida que não é vida
  Ergo meus olhos e posso ver a nova vida
  Eu continuo onde sempre estive ( e não sabia )
  Reino do Amor.
  PS. Sim, eu sei que o texto é ruim. Sim, mel com sentimentalismo. Eu sei. Acontece que eu sou sentimental e tenho vivido em mel. E conheço, sorry, O Reino do Amor.
  Se voce assistir os dois videos que postei abaixo. Roxy cantando Roxy e Bryan cantando Dylan...quem sabe voce entenda.
  Porque Amor existe. E tem seu mundo, sua lingua e seu ritual.
  O mundo numa flor.

Bryan Ferry - Make You Feel My Love



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Roxy Music - For Your Pleasure [Live at the Apollo, London 2000]



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O AMOR E A RAZÃO

   1
 + 1 = 2. Isso é verdade. Se eu somar um grama de ouro com um grama de ouro serão dois gramas. Mas no universo não existe um grama de ouro. O que existe é ouro, incontável em sua quantidade. Para contá-lo e estudá-lo precisamos separá-lo do todo. Nossa mente não consegue trabalhar sobre o absoluto. Por ser limitada, ela, para entender algo, deve reduzir e particularizar.
   Podemos somar a Terra a Marte e teremos dois planetas. É uma verdade, fato científico. Mas no cosmo não existe um planeta, o que existem são infinitos números de planetas. Assim como nada na realidade é um. Ou dois. Ou mil. O número, invenção que nos permite trabalhar sobre a matéria é arbitrário. Sempre. Voce nunca irá encontrar uma árvore. O que existem são árvores. Sua mente para poder compreender minimamente o que seja árvore irá particularizar e contar cada uma. Mas fora de sua mente não existe a árvore um e a dois...ou a bilhão.
   Se um dia contarmos todos os planetas, todas as estrelas e todas as pessoas do mundo, mesmo assim serão incontáveis. O resultado será arbitrário. Porque Mundos terão surgido no processo, outros desaparecido, pessoas nascido e morrido, e, mais perturbador, teremos de lidar com o Tempo futuro e o tempo passado. E o Tempo, esse dividimos em segundos ou em milênios. Mas fora de nós, como ele se divide?
   Não se divide. É uma continuidade infinita.
   Então, sim, é certo, para nossa razão 1 + 1 é 2. Isso se chama ciência. Reduzir o todo e dividir tudo em partes cada vez menores.
   Saber que o 1 e que o 2 são criações arbitrárias inventadas por nós e desconhecidas no universo fora de nós...isso se chama filosofia.
   Pensar na não existência do 2. Pensar que tudo é um incontado Um. Isso se chama religião.
   Intuir que no 1 existe um universo de possibilidades e que o 2 pode ser o inverso do todo...Isso é poesia.
   E  no extremo oposto da ciência, usar a Alquimia que transmuta o 2 em 1.
   Isso se chama Amor.

O CEPTICISMO ( ASSIM, COM P )

   Cresci como cético. E essa descrença foi tâo forte que marcou meu rosto. Minha face é cética, minha expressão transparece ironia. Tenho enormes dificuldades em convencer mulheres de meu amor.
    Jamais acreditei em Papai Noel. E com oito anos já desconfiava da alma ou da existência do céu. Cresci, e na adolescência eu não acreditava na vida. Tudo acabava em morte e então nada tinha valor. Pra que isso se tudo termina em nada? Passei vinte anos nessa absoluta certeza.
    Mas eu sobrevivi, porque para viver precisamos de ajuda. Usei a arte. Sentia orgulho de meu niilismo. Acreditava em heróis. Homens que viveram em calmo desespero, esses eram meus heróis. Gauguin, Picasso, Heminguay, Tolstoi...músicos de jazz...
    Ao ficar mais adulto comecei a procurar teorias que me fizessem entender a vida. Budismo ( a corrente de reencarnações explica tudo! ), Freud ( o instinto sexual explica a vida ! ), Darwin ( somos bichos e a biologia é nossa sina! ), Jung ( tudo é tão complicado que nada podemos saber )... Mas, cético ao extremo, logo percebia que todos eles dependiam de fé, fé que nunca tive. Voce precisava jogar fora a dúvida e acreditar num sistema arbitrário. Como? Crer em reencarnação é como fazer uma aposta. Nada pode provar seu resultado. Crer no Édipo de Freud é ignorar que nosso instinto básico é a fome. O bebê ama a mãe porque ela tem seios cheios de leite. O pai não. Isso é tão óbvio! Darwin nos obriga a acreditar num poder de transformação que chega ao ponto da magia. E Jung não consegue consolar ninguém porque ele próprio se perde em dúvidas. ( Na verdade Jung é o anti-Freud. Um era tão neurótico que via em tudo o horror do sexo, o outro era tão doido que via  na vida alucinações ).
   No meu extremo ceticismo eu duvidava. Só podia aceitar aquilo que eu-mesmo vivenciara, ou seja, quase nada. Então, quando me deparei com a morte, momento que tudo define e desnuda sua cara, algo aconteceu. Passei a desacreditar de minha própria descrença. Cheguei ao paradoxo: Cético em relação aos céticos.
   Se nada há para se crer, e mesmo assim tudo continua a ser inexplicável, então tudo pode ser válido, tudo pode ser verdade. Acho que foi Bergson que formulou isso: Ou voce descrê de tudo ( e nesse tudo entra até a ciência e a razão ), ou voce crê em tudo ( e nesse tudo entra a ciência e a magia ). O meio termo é sempre tolice, abrir um olho e fechar o outro, tatear.
   Hoje não posso dizer que creio em tudo. Mas a princípio nada condeno. Minha vivência e minha inteligência são limitadas, o que posso pretender saber?
    A única certeza que tenho é a de que ninguém sabe coisa alguma sobre as questões mais importantes. O que conhecemos é aquilo que cabe em nossa pequena e assustada mente. Vemos, sentimos, e pouco compreendemos. Respeito então os darwinistas, freudianos, junguianos, budistas ou ateus radicais. Todos precisam de algum sistema, de algum tipo de explicação PARA AQUILO QUE OS ATERRORIZA. Todos precisam negar o que os assusta e crer naquilo que os consola. Como eu.
   Na pequenez redutora diante da imensa verdade da morte, eu me vi como sou e entendi o porque da necessidade da humildade. Saber que nada se sabe e se deixar nas mãos da vida.
   PS: Claro que continuo aqui divagando sobre meus conhecimentos de cinema, livros, quadros, filosofias, poesia e coisas assim. Sei um pouco dessas coisas. Mas tenho a consciência de que tudo isso é apenas brincadeira, coisas de criança, sonhos ou ilusões bacanas. A vida, a verdade, o estar-aqui e o estar-sempre são coisas bem além de tudo isso.

Animus-Anima in Jungian psychology



leia e escreva já!

MISSA DE SÉTIMO DIA ( TEXTO ESCRITO EM 2008 E READAPTADO EM 2013 )

   Na primeira fila, lá adiante, vejo três pessoas. Apesar de cercadas por uma pequena multidão de amigos, e de estarem recebendo toda a companhia que carne e alma podem oferecer, essas três pessoas estão sós. E sabendo de sua condição solitária elas se agarram uma a outra. E eu. descobrindo aquilo que me nego saber, posso apenas observar. É na morte que a vida mostra sua verdade. Nesse momento os que aqui ficam exibem para si-mesmos a sua verdadeira alma. O que é importante prevalece.
   Nada em nosso mundo medíocre existe para essa hora. Químicos, físicos, mercadores ou arquitetos nada sabem falar sobre a morte. A ignoram ou tecem comentários frívolos que nada dizem e nada ajudam. Sobre uma caixa de cebolas chamada vaidade, bradam com sua inteligência masturbatória que a morte é isso ou seja aquilo. Pensam ser coragem o que nada mais é que exibicionismo e narcisismo. Falam como crianças e nunca encaram a dor. Não vivem a simpatia e a compaixão. Para aqueles três lá adiante, unidos em sua dor, voces nada têm a dizer. Na verdade nem sabem sobre o que estou a falar.
   A religião é um consolo e esse consolar é uma verdade. A fé é a única coisa que pode diminuir a solidão daqueles três diante de mim e de todos presentes. A presença minha e dos outros nada significa se não for o testemunho de uma outra presença. Ele, que se foi cedo, aqui permanece. Essa certeza nos une. O mundo lá fora nos separa.
   Há aqui e agora uma leveza que nasce dessa dor que tudo coloca na verdade. Porque nesta sala tudo o que é transitório se exclui. Vaidades ou medos, distrações ou sonhos tolos, tudo é descolorido nesta hora. A vida se mostra, e ela é aqueles três que se unem. Quando a filha lê sua mensagem toda sua vida se desenrola. Ela é, mais que nunca, aquela que lá está. Sua dor nos une. Mas ela está sózinha.
   Eu sou um homem antigo. A velocidade da vida para mim é desconhecida. Não sou ambicioso, sou preguiçoso. E como tudo o que é antigo, desconheço o tempo. Revendo os que revejo percebo que nem um só minuto passou. Sou um homem medieval. As pessoas são sagradas e os sentimentos atemporais.
   Posso ver as almas de quem lá esteve. Posso as ver porque quero vê-las. E esse poder confirma sua veracidade. Fora de lá o mundo parece infantil. Crianças presunçosas brincando de desvendar enigmas que já foram desvendados desde sempre.
    Ele morreu. E sua morte abre portas para aqueles que com ele tiveram comunidade. E fecha possibilidades também. Como homem medieval eu desconheço a morte como fim. Leio em sua dor a continuação de uma narrativa. Leio na morte dele a abertura de outro livro. É preciso sofrer para poder ser feliz e é preciso morrer para se descobrir a vida.
    Saio para a noite e estou inteiro. As asas, minhas, se abrem e posso voar outra vez. Na comunidade da misericórdia, na união pelo amor, na certeza do que é certo, todos podem abri-las.
    Torço por todos voces.
    Meu barco singra por aqui...

LISTAS ( FILMES FAVORITOS DE DEL TORO, ANDERSON E ... )

   Wes Anderson é um cineasta de bom gosto. Um amigo me manda um post onde ele declara que MADAME DE..., obra-prima de Max Ophuls é seu filme favorito. Descobri esse filme em dvd a cerca de 3 anos. Escrevi sobre ele em alguma parte neste blog. O filme tira nosso fôlego. Ele é tão refinado, tão chic, tem imagens tão belas que nos sentimos extasiados. O mais impressionante é o uso que Ophuls faz da câmera. Muito crítico diz que ele usava o cinema como uma caneta. Ele conseguia escrever com cortes e movimentos de câmera. Travellings que nos dão um prazer imenso. O interessante é que eu havia escrito que os filmes de Wes, assim como os de Baz Lurhman, são devedores dessa corrente estética, corrente que vai de Ophuls à Powell. Mas atentem, os filmes de Wes e de Baz estão anos luz abaixo dos filmes desses gênios da beleza.
   No mesmo post leio que o filme favorito de Steve Buscemi é Billy Liar de John Schlesinger. Esse vi na TV Cultura em 1978 e nunca mais. Comprei o DVD a um mês. Ainda não o revi. Tem Julie Christie e Tom Courtney. Courtney é o ator sublime do filme operísitico de Dustin Hoffman. Filme que é um prazer celestial.
   Guillermo del Toro tem como número um três filmes de Kurosawa: Ran, Trono Manchado de Sangue e Céu e Inferno. Nada vou dizer sobre esses filmes. Kurosawa foi o maior diretor da história. Os 3 são gigantescas obras sobre o mal.
   Jane Campion escolhe como melhor filme da história Os 7 Samurais. Do mestre Kurosawa. Coitada de Jane. Se ela sonhava em fazer algo dessa grandeza.... Aliás, na mesma lista, Adam Yauch, dos Beastie Boys escolhe também Os 7 Samurais.
   Nicolas Refn também vai de Japão, Tokyo Drifters de Suzuki, um filme sessentista e que lembra muito seus filmes. Alec Baldwin vai de Z de Costa-Gavras e Diablo Cody escolhe Faça a Coisa Certa de Spike Lee.
   Well... só pra recordar, tenho aqui outra enquete:
    Clint Eastwood escolhe Yojimbo de Kurosawa; Gore Verbinski escolhe Chinatown de Polanski e Tarantino elege The Bad, The Good and The Ugly de Sergio Leone.
    Sidney Lumet vai de Os Melhores Anos de Nossas Vidas, filme sobre ex-soldados da segunda guerra, direção de William Wyler; Mike Newell escolhe The Apartment de Billy Wilder, mesmo filme escolhido por Cameron Crowe e digo que o cinema de Newell e de Crowe lembra muito esse filme doce e amargo de Wilder.
   Michael Mann elege Apocalypse Now de Coppolla e Richard Linklater vai de Robert Bresson, Au Hazard du Balthazar. Sam Mendes fala de Kane de Welles e James Mangold ama Oito e Meio de Fellini.
   Talvez eu escolhesse L'Atalante de Jean Vigo, esse é o favorito de Jim Jarmusch. Scott Hicks elege Ivan de Tarkovski enquanto Milos Forman prefere Amarcord de Fellini.
   Dou um picolé pra quem descobrir onde se vê algo de Fellini em Mangold ou algo de Tarkovski em Hicks.
   Mas amar um filme não significa imitar esse filme. Se eu fosse cineasta dificilmente eu faria algo na linha de Vigo, ou de Powell e muito menos de Kurosawa. Meu temperamento me levaria mais ao estilo Hawks, ou Wilder ou Huston. O segredo não é a admiração, é a história pessoal do cineasta e seu temperamento.
   Afinal, Scorsese admira a idolatria The Red Shoes de Powell mas seus filmes nada lembram a obra prima do inglês. É isso.

KARL PILKINGTON E JIM HOLT, A INQUISIÇÃO LAICA.

   Leio em alguma revista que Jim Holt lança um novo livro que discute a única questão filosófica que me importa: Por que o mundo existe?
   Essa é a questão levantada por Leibnz em 1710. Uma questão base de toda a filosofia, matemática, física modernas. Holt evita cuidadosamente toda religião. Ateu, tenta abordar a metafísica sem invocar nada de sagrado. Óbvio que não consegue. Toda questão que se coloca além da nossa escala temporal/material se torna religiosa. O preconceito de Holt faz com que ele se limite. Mas o livro serve para deixar ateus mais nervosos e religiosos em dúvida sobre seus dogmas.
   Vamos a questão. Por que o Nada originaria algo? Se houve um Nada, uma situação em que não existia matéria, tempo e espaço, como desse Nada poderia advir algo? Por outro lado, se sempre existiu alguma coisa, de onde ela surgiu? Mais além, se esse Algo existe desde sempre, então o tempo não pode ser real pois esse Algo desconhece tempo e tamanho.
   Se houve uma explosão primordial por que ela aconteceu? E o que havia antes desse momento Um?
   Voltamos a questão: Se havia um Nada, o que o fez Ser?
   Religiões muito antigas falam de chuva de fogo que originou a vida. De guerra entre deuses terminadas em kaos e explosões. Cobras que comem a própria cauda. Vida como continuação do Nada, sendo o Nada a realidade e o Aqui a ilusão. Essa a falha de Holt. Mesmo ateus devem estudar as religiões porque elas se colocam essa questão desde sempre. Incapazes de raciocinar em termos simbólicos, eles e prendem às imagens de deuses e heróis e não conseguem perceber que são imagens, versos num narrativa, modos de se contar uma percepção.
   Se tudo é movimento por que há a ideia de repouso?
   Se tudo foi repouso, o que causou o movimento?
   Afinal, o que sabemos sobre aquilo que realmente importa
   Mudando de assunto.
   João Pereira Coutinho é hoje o melhor da Folha. Ele escreveu sobre Karl Pilkington, ator-personagem de uma série inglesa. Nessa série, Karl, que abomina viajar, é levado a lugares como China ou Egito. E, que beleza!, ele detesta tudo. A série é um hit, o que leva Coutinho a perguntar o porque de uma figura tão rabugenta fazer sucesso. ( Não esquecemos de WC Fields ).
   Sua coclusão é a de que Karl Pilkington nos alivia da atual "FOGUEIRA DAS INQUISIÇÕES LAICAS". Ele fala que comer baratas é coisa de gente suja e louca, que o calor e a miséria nada têm de "charmoso" e que hotel ruim e costumes ridículos são RUINS e RIDÍCULOS. Ele é um ocidental, mais que isso, um inglês, que tem a coragem de ser o que é. Orgulhoso de seu conforto, seu desenvolvimento e de sua civilização. Adoraria ter uma caixa dessa série.
    Porque tenho sofrido na pele as chamas dessa inquisição.
   

EU SOU UM PÁSSARO DODÔ

   No século XVIII marinheiros acabaram com todos os pássaros Dodos. Como jamais haviam sido caçados, eles ficavam parados, não se defendiam, e assim eram mortos a pauladas. Nunca mais veremos um Dodo. Eles eram grandes. O comérico marítimo foi a novidade que extinguiu esses pássaros. Comércio global e pássaros Dodos não podiam viver num mesmo planeta.
    Gente também entra em extinção. E não falo apenas de tribos que viam espíritos ou de nações que não percebiam perigos. Pessoas ocidentais, de grandes cidades, desaparecem a toda hora. Eu por exemplo.
     Algumas pessoas de minha geração são dos últimos espécimes que ainda insistem em ver sentido nas coisas. Nosso modo de pensar é todo construído de forma linear. Começo, meio e fim. Somos da Era do romance e a vida para nós é escrita, tem um enredo. Mesmo que essa história seja absurda, seja irônica ou simbólica, ela tem sentido e cabe a nós o desvendar. Uma vida é uma narração. Cômica, trágica ou poética.
    Minha espécie cobra sentido de tudo. E mesmo quando não cremos na razão, cobramos um sentido exotérico. Não haver sentido é pensar em sentido sem-sentido. Sentido aleatório ainda é sentido. Eu falo. Eu conto. E vejo a vida como fato cheio de personagens. Mas sei que me unirei aos Dodos, aos Tylacinos, aos Tigres.
    Meu trabalho me obriga a conviver com jovens de 11 a 22 anos. E como os vejo como seres cheios de sentido, procuro os conhecer. Falo com todos. Me comunico e percebo que eles são de outro mundo. Seus atos são flashs que não fazem parte de algo linear. Eles pensam em termos de agora. Não existe uma certeza em relação ao futuro e muito menos uma consciência de passado. O que se faz aqui e agora é ato isolado. Muito mais livres que eu e meus iguais, os atos deles não apresentam consequência. A ação existe como ação e não como narração.
   Ninguém está preocupado com os personagens da vida, com a busca pelo enredo. Pelo significado. É um mundo que desconhece filosofia e religião ( mas ama o imediatismo de igrejas e soluções mágicas ). O eterno aqui e já. Como num PC, voce acessa conteúdos simultãneos, não lê linearmente.
   Amizade existe como momento. Assim como o amor deixa de ser uma história a ser recontada e passa a ser uma sensação a ser usufruída. Filmes passam a ser pura sensação, busca não de enredo mas sim uma desenfreada busca pela emoção mais forte. Esses novos humanos não toleram ter de ver ou ouvir uma história, eles querem e só compreendem o imediatismo da sensação objetiva e pronta.
   Sensação objetiva e pronta? Ora, acabo de descrever o mundo da droga. A droga está em casa aqui. Não a droga alucinógena, a droga que é uma narrativa enviesada, mas sim a droga sensacional, a droga do prazer, a droga que nada narra. O puro estar bem aqui e agora.
    Minha espécie precisa contar histórias. Sem as sagas e as narrativas, sem contarmos nossa história para nós mesmos, inexiste vida. A vida para nós é o ato de contar a vida.
    A nova espécie sente. Viver é sentir a vida. Momento por momento, um de cada vez e todos ao mesmo tempo. O antes morreu, o depois nunca nasce. Já.
    Espero pela minha paulada.

MONKEY

   Mas será que nada toca neste século que me impressione?
   Com certeza eu não perco tempo ouvindo pseudo-novidades. Veja esse programa do Jools Holland. Sobre Al Green escrevi abaixo. Os aplausos e pulos de Damon Albarn são como os meus. E que mais?
   Teve Pendulum, que me impressionou por dois segundos. Depois percebi o gosto mofado de rock progressivo com toques de hard rock. Fleet Foxes faz música broxa. Os Beach Boys encontram o America. São tão fofos que flutuam. Tomara que se desvaneçam.
   Killers é bom. Pra quem tem 11 anos. Ou para trintões que nunca ouviram nada gravado entre 74/ 83. Ou quem escutou tudo isso e continua querendo ouvir aquilo que lembra, muito, o brit-pop oitentista.
   Mas então tem Damon e os Monkey, e isso é muito bom. Mais que isso, se hoje, em 2013, eu tivesse uma banda seria exatamente como essa. Damon não tem a voz de Bowie e nem sua genialidade. Mas como David, ele possui uma maravilhosa inquietação. Experimenta. É informado. Poderia passar a vida refazendo riffs tipo Kinks-T.Rex-Blur. Mas não. Ele mistura.
   E essa mistura é o que vale em nosso tempo.
   Sim, pois eu amo The Band ou Paul MacCartney, mas sei que não faz sentido nenhum fazer música como eles faziam. Porque o tempo é outro, o feeling é outro e sobretudo, eles já a fizeram. Ouço-os como poesia. Diálogo entre almas atemporais. Mas refazer The Big Pink? Pra que?
   O Roxy já propunha essa mistura. Como Kevin Ayers e como Eno.
   Damon sabe de tudo isso.
   Os Monkey são ótimos!

Monkey - Journey To The West - Live Jools Holland



leia e escreva já!

Al Green - Let's stay together (live at jools holland - 8-11-2008)



leia e escreva já!

O TAL DO POP PERFEITO. BEACH BOYS, 10 CC, ALGREEN E THE KILLERS

    O segredo se chama textura. A textura da voz e dos instrumentos, a riqueza do som. Um dos melhores discos que descobri este ano ( THE BELLE ALBUM, AL GREEN ) usa apenas baixo e bateria para conseguir uma complexidade sonora inebriante. Um contra-baixo que soa e pulsa com surpresa e charme baby. Isso é tudo.
    SMILE dos BEACH BOYS abusa de ser rico em textura. O disco talvez seja melhor que PET SOUNDS. Apesar de detestar a assexualidade de Brian Wilson, seus arranjos são tão criativos, têm tanta informação que só uma besta poderia dizer que aquilo não é genial. Instrumentos sobre instrumentos, efeitos sobre efeitos criando um mundo que é música pura.
    Postei I'M NOT IN LOVE a irônica canção do 10 CC que foi um hiper hit pop em 1976 e nunca mais foi esquecida. Em 76 eu detestava, desde 86 eu a adoro. Eis a textura do pop perfeito. A banda era uma reunião de compositores e produtores dos anos 60. Gente como Graham Guldman que havia composto e produzido por exemplo os Easybeats. Os ingleses adoravam o 10 CC desde 1973, os USA só a partir de I'M NOT IN LOVE. A banda acabou a seguir e os caras viraram produtores de clips. Pois bem, essa canção tem arranjos que conduzem a sonho. A progressão dos teclados sobem ao reino onírico e os vocais, hiper-sintetizados, são construídos em camadas sobre camadas. O arranjo vê a canção como uma tela impressionista, fria, e todos os sons se fazem pinceladas. O final é um arranjo onde todas as texturas se encontram. Harmônico.
   Para finalizar, assisti o JOOLS HOLLAND e nele tive a honra de ver AL GREEN. A voz não é mais a mesma. Ele engordou. Mas é um gênio. Lindo ver o público entrar em êxtase. Foram dos maiores aplausos que presenciei no programa de Jools. Porque? Porque é o pop perfeito. Tem voz, tem arranjos e é rico. Em seguida vieram The Killers e o choque é educativo. Simples balanço quadrado em 2/4 com os uh uh uh de sempre. Pobre pobre pobre. Parecia que eu já escutara aquilo mais de 3000 vezes. A primeira lá por 1980.