OLIMPÍADAS JUDÔ, CONSIDERAÇÕES SOBRE A BELEZA

   Na atual transformação que ocorre no bairro do Itaim em SP, gigantescos prédios de vidro estão nascendo. É óbvio que ao planejá-los tudo foi pensado, menos o supérfluo conceito de beleza. Eles são grandes, intimidadores, exibicionistas, funcionais, clean, moderninhos, simples, e é engraçado, nada disso significa beleza.
   Andando pelas ruas do Morumbi vemos uma sequência de muros e grades. Por detrás desses muros, lajes onde cinco carros são guardados. Não há jardim e quando há é apenas um gramado com pedras. Segurança, praticidade, conforto e solidez, mais uma vez nada remete ao conceito do belo.
   Falar em beleza hoje é parecer idiota. Interessante o fato de que as musas são gostosas e os musos um tesão. Se voce falar que tal atriz é linda parecerá pouco, ou pior, a pessoa que escuta o conceito "linda" fica com cara de bobo e te pergunta:" Mas ela é gostosa? " O que é a gostosa? O mesmo que o edificio de vidro ou o muros da casa, intimidante, poderosa, funcional e simples. Gostosa são peitos e bunda, a beleza é muito mais complexa.
   Mas é preciso, hoje mais que tudo, salvar a beleza e não se abalar quando voce for chamado de idiota ou de ingênuo por isso. Dizer que um filme ou uma canção é bonita se torna coisa em extinção. Dizem que o filme é sensacional, perturbador ou uma obra de arte, mas será bonito? Palavras morrem e seus conceitos morrem com elas. A beleza está em perigo. Em mundo onde a pornografia do imediato, do comum e do funcional dita a lei, o complexo e abstrato da beleza se faz cada vez mais indesejado. Pois a beleza faz pensar, faz parar para usufruir, faz crescer. Tudo o que nos torna mais humanos. Homens admiram o que é belo, inutilmente belo. Por mais que eu ame os bichos, jamais eles serão pegos admirando a estética de uma flor ou o lindo olhar de um gato. A beleza é sempre uma reflexão, um trabalho que mira o segredo, o escondido. É o oposto radical da exposição pornográfica, o anti-belo por odiar o segredo, o pensamento e a imaginação.
   Tudo isso para falar do judô. E do Japão, país que tem em sua base cultural a exarcebação do culto ao belo. Mas, aprendo agora, que existe o judô japonês, tradiconal, e o judô europeu, moderno. O europeu busca o acúmulo de pontos. O judoca faz pequenos golpes para ir marcando pontos. Mas não pode ser assim no judô nipônico. Nele, o judoca passa a luta toda sem se focar na pontuação, o que ele procura é o golpe perfeito, o yppon. Não são dados pequenos golpes para acumular pontos, tudo gira em torno da preparação do movimento correto, o momento supremo, a execução do "mais apurado, simples, puro e refinado golpe".
   Nasce então a explicação de minha aversão ao MMA. Golpes que podem fazer sangue, que podem quebrar são proibidos. O que se busca no judô não é a destruição do oponente, é a execução de um golpe. Entre o MMA e o judô há o conflito entre o pornográfico e o belo. E, triste dizer, o pornográfico vence, apoiado que é na radicalização da exposição pornográfica: sangue, suor, gemidos e dor. E principalmente, nenhum segredo.
   Beleza é tudo aquilo que pode nos salvar. Uma vida que não busca o belo não vale a pena ser vivida.

ABERTURA DOS JOGOS OLÍMPICOS EM LONDRES, SORTE DO BRASIL, FOI UM LIXO.

   Em 1992 fiquei emocionado, muito emocionado com a cerimônia de abertura olímpica em Barcelona. Eles aproveitaram a chance e exibiram sua cultura. Foi uma festa que misturava deuses gregos, o Mediterrâneo, mitos e monstros. Tudo temperado com um visual digno da terra de Miró. Na Coréia em 1988 a coisa chegou a extremo refinamento com uma festa toda baseada no Ying e no Yang, na dualidade da vida.
   A China nos deixou estarrecidos com uma saga vinda desde a origem do reino dos Chin até o Confucionismo. O que quero dizer é que todas essas festas exibiram ao mundo a profunda riqueza de cada cultura. E agora Londres...e que vexame!
   Deram para Danny Boyle a direção da coisa e o que ele fez? Nada. Não tenho quase nada a dizer. Ele poderia falar de celtas, de Shakespeare, do romantismo, da marinha inglesa, de Arthur e Lancelot. Ele poderia viajar na origem dos esportes criados pelos ingleses. Poderia até usar Lewis Carroll e o nonsense inglês. Mas o que ele fez? Uma bobagem sobre a revolução industrial e uma tolíssima e longa cena em que foi exibida a "música inglesa". Well...Eu adoro rock, mas porque não um pop mais folclórico, mais inglês? Porque não a verdadeira música inglesa? Será que eles não têm música própria, só o rocknroll de Memphis, Tennessee?
   Se um marciano visse a cerimônia sem saber nada sobre a Terra pensaria que culturalmente a Inglaterra é apenas um tipo de jukebox. Um fiasco! Digno de Boyle.
   De qualquer modo foi legal lembrarem dos Kinks e do The Jam. Mas é símbolo de algo muito estranho ver a rainha diante dos Sex Pistols. O Queen foi de longe o mais aplaudido. Eu ouso dizer que é a banda mais amada na ilha.
    E passaram trechos de uns filmes ingleses. Passou Kes de Ken Loach e uma cena de um filme de Michael Powell. Bacana lembrarem desses filmes. Mas é isso a Inglaterra? Cinema e rock? Então não é mais um país, é um simples estado americano! Sem cultura própria, sem ter criado nada de original a não ser a revolução industrial....
    Fico puto porque eu admiro muito a Inglaterra. Eles nos salvaram do nazismo. Eles ousaram falar em constituição antes de todos pensarem nisso. Criaram o que entendemos por imprensa livre. Os esportes com regras e campeonatos. E literatura como nenhuma outra. Mr.Boyle tinha Robin Hood para brincar. Peter Pan. Os piratas. Churchill. Mas não, nada de nada.
    Bom pro Brasil. Daqui a 4 anos qualquer coisa será melhor que isso.

DEPARDIEU/ JAMES CAGNEY/ BATMAN/ EMMANUELLE BÉART/ RIDLEY SCOTT/ CAROL REED

   CORAÇÕES LOUCOS de Bertrand Blier com Gerard Depardieu, Patrick Dewaere, Miou-Miou e Isabelle Huppert
Um original. Dois amigos que vivem de roubos fazem tudo o que o desejo lhes manda fazer. E tudo sempre dá errado, claro. Mas eles não desistem. São burros, grossos, violentos, e pensam que toda mulher quer e deve ser usada. No inicio admiramos o filme e odiamos os personagens; depois começamos a sentir uma ternura indesejável por eles. O filme ruma ao sublime, sublime que nasce nas cenas da carona final. Eles quase se humanizam de tanto apanhar. Feito hoje seria transformado em filme solene e psiquiátrico, felizmente foi feito na hora certa ( 1974 ). Seus atores viraram estrelas, eram todos desconhecidos então. Um filme de extremos, voce vai adorar ou abominar e sua reação dirá muito sobre voce mesmo. Nota 9.
   GESTAPO de Carol Reed com Rex Harrison e Margaret Lockwood
Carol Reed é um dos grandes nomes da história do cinema inglês. Aqui, em plena segunda guerra, ele faz um filme em que um cientista tcheco é disputado por espiões ingleses e nazistas. O enredo é totalmente inverossimil, mas tem belas cenas em trem, suspense e clima. Adoro esses filmes noturnos, escuros, cheios de sombras e névoa. Mas a fraqueza do roteiro o compromete. Nota 6.
   JEAN DE FLORETTE de Claude Berri com Yves Montand, Gerard Depardieu e Daniel Auteill
Um imenso sucesso popular e de critica na França de 1987. Baseado no livro de Pagnol, passado na Provence, fala de dois viizinhos lavradores. Um, que vive na terra desde sempre, é falso, ignorante, manipulador, o outro, que acaba de chegar da cidade, tenta aplicar a ciência ao campo. É um homem alegre, honesto, otimista. Está feita a disputa, disputa pela água e pela sobrevivência na terra dura da Provence. Bem...Peter Mayle escreveu montes de livros sobre o lugar, para ele um tipo de paraíso cheio de franceses bons e engraçados. Pois este filme mostra a verdade, é um lugar dificil, áspero, de gente desconfiada e fofoqueira. Devo dizer que é um dos filmes que mais me enervou, fiquei completamente enojado com a maldade que ele exibe. Será genético, já que sei que meus antepassados viveram exatamente como eles? Poucos filmes exibem a maldade humana de modo tão cruel. Uma maldade pequena, mesquinha, burra, estúpida. O filme, que é simples até a medula, me foi insuportável. Sem Nota.
   A VINGANÇA DE MANON de Claude Berri com Daniel Auteill, Yves Montand e Emmanuelle Béart
Continuação de Jean de Florette filmada ao mesmo tempo que o filme acima. A filha de Jean cresceu, o bronco que é seu vizinho se apaixona por ela, ela se vinga. Preciso destacar a atuação de Auteill. Ele faz um tipo de homem-bicho, homem-pedra, limitado, sovina, rude e sem palavras, que cai de amores por Manon e sofre terrivelmente por isso. Uma atuação tão perfeita que chega a assombrar. Béart se fez estrela aqui e tem uma beleza natural, pura, esfuziante. Para muitos é a mais bela das atrizes atuais. E por fim, uma nota sobre o mito Montand. É um de seus últimos filmes e ele faz algo de muito raro. Pois passamos todos os dois filmes o detestando e ao final, quando ele sucumbe à dor, o perdoamos e desejamos que seu sofrimento pare. O rosto melancólico, crispado de culpa...lindo. Os dois filmes juntos são uma bela obra sobre um mundo seco e mesquinho. Longe da perfeição, mas bastante fortes.
   A CANÇÃO DA VITÓRIA de Michael Curtiz com James Cagney e Walter Huston
Bio sobre George M. Cohan, uma estrela dos palcos americanos entre 1890 e 1920. Os americanos adoram este filme, que é muito bem feito, mas fora da América ele tem dois problemas sérios. Primeiro o fato de que Cohan não é uma figura mundial, e segundo o hiper patriotismo do filme. Mesmo que voce não seja anti-americano, incomoda seu excesso de bandeiras e frase sobre a glória da América. Cagney está hiper atlético, dançando em seu modo irlandês, longe dos filmes de gangster. Nota 4.
   BATMAN O CAVALEIRO DAS TREVAS RESSURGE de Nolan com Bale e etc
Caraca! Lançado em centenas de salas, isto não é um filme, é uma operação de marketing. Nolan faz de tudo para se dar bem. Em meio a crise na cidade de Gotham ele tenta agradar a todas as tribos, e desse modo não agrada ninguém. Acena para liberais e republicanos, defende a ordem e o kaos, nada defende, então a verdade é que acena para os recordes de bilheteria. Problema nenhum se o filme fosse um tipo de Star Wars assumido. Mas, como bom Jeca, pinta tudo com um leve verniz de "arte". Pra que esse verniz só ele sabe. Arte de Jeca, que nunca é criatividade, mas sim escuridão e "dor". Jecas acham arte uma coisa tão esquisita, tão "superior", que sempre tendem a pensar que ela seja tristeza e desencanto. Esquecem que arte é vitalidade, coisa que todos os Batmans, desde Tim Burton, nunca tiveram. Se eu o analisar apenas como uma aventura pop ( o que não quer ser ), a coisa fica pior. Aventura tem de ser divertida, leve, ágil e fazer com que os minutos passem voando. Isto é pesado, solene, complicado, chato, arrastado. Saudade de meus gibis. Nota 1.
   PROMETHEUS  de Ridley Scott
Aff.... confesso que dormi. Acho que já deu pra Scott. Seus filmes, hiper empetecados, me lembram sempre o pior do cinema publicitário. O roteiro, pseudo profundo, é risivel. Alguém leva essa gororoba a sério??? Kubrick um dia fez uma obra de arte abstrata chamada 2001, e até hoje pagamos o pato. ZERO!!!

O TEMPO DANÇA E AS GERAÇÕES VIRAM PÓ

   Demorou pra acontecer, mas começo a sentir uma diferença de geração entre meu modo de existire o modo de quem tem hoje dezoito anos. Não se assuste, mas apesar de ter tido dezoito a trinta anos atrás, eu sempre me adaptei facilmente a todas a gerações que fizeram dezoito desde então. Mas a geração que agora tem dezoito é a primeira a ter nascido e vivido sempre num mundo interligado. Eles não sabem o que é não poder fazer um download ou ligar pra mãe de qualquer lugar no planeta. Pela primeira vez em minha vida compreendo o que seja o tal abismo de gerações. Não os entendo. Consigo conversar com eles, consigo ser amigo até, mas no fundo fico sempre esperando que eles afinal me mostrem seus sonhos, seus planos para a vida, que me exibam seu entusiasmo. Não encontro. Acho que é só isso mesmo. Trabalhar e ficar firme na segurança individual. Não planejar nada a longo prazo. E acreditar em não acreditar: o mundo é isso mesmo e daí pra pior. É a mais niilista das gerações. A miserável geração dos anos 80 também era individualista e fechada, mas acreditavam numa coisa com toda a firmeza: no dinheiro e no progresso. Agora não se tem fé no dinheiro e muito menos no progresso, mas ao mesmo tempo não se acredita em nenhuma alternativa.
   Ter 18 anos e não ter planos, mesmo que sejam de destruição. Nada mais triste.
    Penso então em meu pai e naquilo que ele devia pensar de mim.
   Meu pai foi pai tarde, quando nasci ele tinha 36 anos. A geração dele foi a da guerra, da de Hitler. Era a última geração a tentar crer em familia, honra e coragem. O mundo de meu pai era baseado em regras e a liberdade não era um valor para ele. Liberdade era uma característica, não um objetivo. A razão da vida era cumprir uma meta, e essa meta nunca era individual. Meu pai acreditava em trabalhar para o bem da familia, e só isso já seria uma razão para viver. Ter filhos e os educar. Era tudo.
   Se a dele foi a última geração familiar, a minha foi a primeira, no Brasil, a crescer completamente hipnotizada pela TV. Na Tv, desde cedo, a gente recebia estimulos. Éramos muito mais nervosos, dispersos e ansiosos que meu pai. Não sabíamos o que desejar, o que fazer, o que ser. Queríamos que a vida fosse como a TV, editada. A liberdade era o maior valor. Fui adolescente entre 75 e 83, e nessa época era o "ser voce mesmo" o maior valor da Terra. Tudo girava em ser o que se é. Lembro que a propaganda batia nessa tecla: Seja voce mesmo. Para a geração de meu pai, isso era de uma futilidade absoluta. Vinha daí a barreira entre nós.
   Arrogantes, vaidosos, privilegiados, era assim que a geração dele nos via. Eles sentiam que haviam lutado para dar ao mundo uma geração flácida, medrosa e pouco viril. Pois é.... O que eles não podiam ver é que nossa familia eram os amigos, a honra se tornara liberdade e coragem podia ser auto-análise. Foi a minha uma geração que ainda se unia em grupos naturalmente. Até os 22, 23 anos, eu não sabia o que era ver TV sózinho ( tinha uma no quarto, mas só a assistia com meu irmão ), e ouvir música a sós... pra que? O legal era escutar e poder delirar em grupo!
   Agora há essa geração que sempre escutou música com fones, sempre conversou pela internet e que sempre manteve uma distãncia segura do silêncio e do ócio. Correm e fazem coisas todo o tempo, nunca param. E sempre estão separados. E os rostos, é o que mais sinto, sem muitas expressões, meio sonados, ausentes, frios, pouco empolgados.
   Não sei porque me deu vontade de postar esse video que adoro, logo aí abaixo.
   Na India, um bando de ciganos canta e dança. Olho e vejo saúde ali. Toda a saúde de corpos que falam e celebram. Quanto mais longe estivermos disso, pior estaremos.
   Richard Rorty disse que ao ter câncer foi a poesia, e não a religião ou a ciência, que o fez ter coragem. Quando meu pai morreu eu vi esse video.
  

POR QUEM OS SINOS DOBRAM- ERNEST HEMINGUAY ( ELES DOBRAM POR TI )

   Primeiro esqueça a Espanha. Muita gente falava que este livro tinha "sabor espanhol". Não tem. O que tem é um enjoativo sabor de mel. Sim, já fui um fã de Heminguay. Posso até dizer que ele foi o primeiro escritor a que chamei de ídolo. Mas isso foi muito tempo atrás. O que restou é meu amor a um único livro seu, O SOL TAMBÉM SE LEVANTA, de longe o melhor, e a decepção com este, que é seu mais famoso livro e que acabo de reler. Se em 1992 eu havia me decepcionado com ele, agora, vinte anos mais tarde, a decepção foi idêntica. O amor entre o casal vivendo a revolução na Espanha dos anos 30 é piegas.
   O tempo foi cruel com Heminguay. Nos anos 50, ainda vivo, ele já era infinitamente menos considerado que Faulkner ou Fitzgerald. Quando ganhou o Nobel já parecia velho. E pensar que nos anos 20/30 ele era o exemplo para todo novo escritor. Porque?
   Heminguay parecia viver. Ele não era um arrastador de canetas. Ele namorava, bebia, viajava, lutava boxe, ia às guerras, desafiava a vida. E escrevia de um modo moderno, ou seja, simples, sem julgar seus personagens, sem adjetivos, direto. E que belos personagens pulavam de seus primeiros contos e de O SOL TAMBÉM SE LEVANTA! Eram reais, bem delineados, e falavam coisas aparentemente irrelevantes, mas cheias de sentidos ocultos. Ele era bom. Muito bom. E escrevia diálogos como ninguém. Mas então ele inflou. Começou a crescer demais e se apaixonou pelo Heminguay folclórico. Deixou de ser um escritor e virou um persoangem. Um tipo de dono do terreiro, de galo de briga, de papa das letras. Difamava colegas ( só tinha respeito por Tolstoi e Faulkner ), chamava-os de maricas, de enganadores, de invejosos. Juro que não é um mero chavão, mas a fama matou o escritor. E entre 1929/1960, nenhum autor era mais famoso que ele, mais famoso que Sartre, Camus e Bernard Shaw, mais do que Paulo Coelho ou Garcia Marquez são hoje. Então, súbito, os novos escritores dos anos 60 acabaram com ele. Heminguay deixou de ser modelo e virou espantalho. Seu machismo, sua arrogãncia, sua paixão pela caça e pelas touradas viraram defeitos. Ele se foi.
   Hoje, com distanciamento, dá para pensar em Heminguay como ele é, nem modelo e nem espantalho. Muito melhor ( em seus bons momentos ) que Steinbeck ou John dos Passos, léguas atrás de Fitzgerald e Faulkner. Provávelmente irei reler um dia a O SOL...., mas este POR QUEM OS SINOS DOBRAM deve ser evitado.

RICHARD AVEDON VEIO ANTES MA CHER....

   Leia antes o texto abaixo postado sobre David Bailey e só então leia este.
   Já leu?
   Richard Avedon veio quinze anos antes. Ele nada tem a ver com o estilo swinging London-work class de Bailey. Aqui tudo é aristocrático. E se voce ama Annie Leibowitz, Avedon é seu mestre.
   Nada mais falarei. As fotos de Richard falam por si.
   Se Bailey teve sua homenagem em Blow Up ( que ele diz com divino humor ser "aquele filme sobre tênis" ), Richard Avedon foi feito por Fred Astaire em FUNNY FACE- Cinderela em Paris. Desafio alguém mais a ter tido a honra de ter sido interpretado por Astaire...Um rei fazendo um principe.

Richard Avedon: Darkness and Light (1/9)



leia e escreva já!

David Bailey - Clip 3-4



leia e escreva já!

DAVID BAILEY, O CRIADOR DO NOVO GLAMOUR

    Quando falamos em Inglaterra temos de ter sempre em vista seu sistema de classes. Mesmo que hoje isso seja muito mais disfarçado, continua havendo no país a consciência de que voce é o local onde nasceu e os amigos que frequentou. Thatcher pode ser de origem simples, mas sua imagem sempre foi a de uma sólida e educada vitoriana. Obama está longe de ter seu equivalente inglês. Um primeiro ministro indiano ou jamaicano...nem pensar. Falo tudo isso para que voces tenham uma ideia aproximada do que foi David Bailey. Um rapaz nascido no bairro mais pobre de Londres, cercado de amigos simplórios, tornou-se em poucos meses o ditador do novo glamour mundial, o rei da fotografia de moda. Se até hoje as bandinhas inglesas copiam aquele espirito boêmio da swinging London, saibam que seu rei não foi Jagger ou Terence Stamp. Foi David, com suas fotos desglamourizadas e seu estilo de vida surrealista.
   Ele queria ser Picasso, descobriu Bresson e em 63, após apenas 7 meses no mundo fashion, foi contratado pela Vogue e lançou o tipo de style que seria copiado de NY a SP. Que estilo? O estilo animal. Bailey era fanático por aves e são elas que inspiram suas fotos. As modelos deixam de ter poses classudas e artificiais e passam a posar como animais, longas, esticadas, decaídas, e muito sexys. São colocadas na rua, no metrô, em ação "não posada". Com sua origem trabalhadora, Bailey uniu o mundo da alta informação ( Picasso, Bresson, Dali ) com as ruas e os climas reais da vida urbana.
   Ver suas fotos é ver ícones dos últimos 50 anos em suas melhores poses. Andy Warhol, Cassius Clay, Lennon e Paul, Polanski e Sharon Tate, Fellini, Visconti, BB, Godard e uma imensa profusão de fotos dos Stones, que eram seus modelos favoritos. Todas as melhores fotos desses nomes citados têm em David seu melhor autor.
   Tornou-se famoso o modo como Bailey fotografava. Ele seduzia a modelo enquanto clicava. Era uma profusão de "Linda! Fantástica! Gorgeous! Behave! ", tudo temperado pelo seu famoso "Yeah Baby! Yeah!" Se voce pensou nos filmes de Austin Powers acertou, Mike Myers usou Bailey como um de seus modelos ( o outro foi o jovem Michael Caine ).
   David tornou-se um superstar. Antonioni o usou como molde para o personagem fotógrafo de seu Blow Up ( O diretor chegou a convidar Bailey para fazer o papel, David não aceitou por pura preguiça. ) A Londres arrogante e hiper-ativa de 1966 tem dois reis: David Bailey e Mick Jagger. Que aliás andam juntos, Bailey é na época o best friend de Mick. David se casa com a belíssima Catherine Deneuve e Mick, lógico, é o padrinho. São maravilhosas as fotos do casamento. Um casal muito jovem, muito belo e de uma desglamurização absoluta. Mas atente, chic em último grau. Impressiona como o cabelo e as roupas de Bailey são up até hoje. Well... O casamento não durou, Catherine gostava mesmo era de Mastroianni e Bailey da super-model Jean Shrimpton.  Ele começou a ficar de saco cheio do mundinho e passou a dirigir filmes, documentários experimentais. Há um com Andy Warhol que é fantástico. Aliás David sempre foi cinemaníaco, John Ford é seu ídolo.
   Falei do sistema de classes inglês. Observe que a banda mais pop da época eram os Beatles, mas eles tinham uma dificuldade imensa de penetrar no mundo da alta moda e do chic, mundo que era dominado pelos Stones. Não vamos esquecer: John e Paul eram suburbanos de Liverpool, caipiras. Mick era da classe média de Londres, formado e cheio de informação sobre moda e exposições de arte. Esse povo fashion adorava seu ar de desafio, andrógino, meio sujo, sexy. Estilo que tinha muito de David Bailey.
   Hoje Bailey é um senhor irriquieto. Acha Kate Moss a única modelo do mundo com estilo, a única que poderia sobreviver nos swinging sixties. Continua paquerador, e trocou sua fascinação por pa´ssaros, por uma nova mania por caveiras, ossos, flores mortas e cemitérios. Ele sabe que sua morte se aproxima e se prepara pra ela.
   Uma imensa quantidade de caras que fotografam foram e são inspirados por esse irriquieto senhor londrino. Um brinde a David Bailey!

O MUNDO PERDIDO- ARTHUR CONAN DOYLE

   1912, ano de lançamento deste livro. Tempo em que ainda se podia acreditar em "lugares da Terra onde o mistério impera". Os Pólos, a Mongólia, ilhas do sul, interior da Austrália, Terra do Fogo, quase toda a África, todas essas eram terras mal conhecidas, pontos em branco nos mapas, mistérios, lugares de gente corajosa. E o Brasil, claro. Esta aventura se passa na Amazônia, e como diz seu narrador, Amazonas e Mato Grosso, duas imensas regiões que ainda não foram mapeadas.
   Então é para lá que vão nossos aventureiros, atrás de pistas de um local onde ainda vivem dinossauros. Não só dinos, como homens-macaco, os primeiros mamíferos e peixes excêntricos. Lá eles verão a repetição do momento decisivo da evolução humana, o momento em que o homem inteligente aniquila o homem besta.
   Conan Doyle tinha um grande ressentimento de Sherlock Holmes. Passou a vida tentando se livrar do estigma desse personagem. Aqui ele lança um de seus livros "não Holmes". Uma aventura corrida, direta, e porque não, imaginativa. É uma das fontes do cinema fantástico.
   PS: Quando eu era criança,e juro que não faz tanto tempo, ainda era um mistério ir lá pros lados de Mato Grosso. Uma viagem sob risco de vida. Não por causa de bandidos, mas por causa de doenças, indios e cobras. Um vasto mundo sem estradas e sem mapas. E lembro que o litoral sul de São Paulo era um imenso deserto, pontilhado por vastas áreas sem estradas e cheias de aldeias de indios. Ir para Cananéia era voltar a 1500.
   Sinto falta de saber que lugares assim ainda existem.
  

INOCÊNCIA E CULPA. CORAÇÕES LOUCOS, FILME CORAGEM DE BERTRAND BLIER

   Aviso que muitas pessoas irão abominar este filme. Por estarmos em 2012, muitos estarão desacostumados a ver um filme que é absolutamente anti-politicamente correto. Vê-lo é como ler Pondé. Na verdade bem melhor que lê-lo. Feito em 1974, esta obra, amada por Pauline Kael, é uma comédia. Mas uma comédia como não existe mais. Uma comédia ofensiva. Principalmente às mulheres. Vamos ao roteiro.
  São dois amigos. Pobres, sujos e obcecados por sexo. Estamos com eles no mundo da liberdade pura, e por serem assim, mesmo que voce goste do filme, não gostará deles. Pessoas mais "sensíveis" os acharão bobos. Pior, maus. Durante uma hora eu adorei o filme e os detestei. Mas Blier consegue algo mágico: súbito passamos a compreendê-los e a os aceitar. Então o filme revela sua grandeza, é uma obra-prima.
  Os dois vivem soltos e portanto se viram. Roubam, aplicam golpes e tentam transar com toda mulher que encontram. O estupro é sempre uma possibilidade. Mas o filme nunca é violento, ele é mais que isso, é revolucionário. E nunca politico. Eles são malandros mas não são simpáticos. Nada possuem de "charmoso", são toscos, reais, exagerados, burros e bastante egoístas.
  Filho de meu tempo ( 2012 ), passei o filme tentado a colocar neles um rótulo. Psicopatas? Se fosse feito agora, eles seriam um caso psiquiátrico, e com esse diagnóstico tudo estaria explicado e domesticado. Mas não aqui. Eles não são doentes. Volto a dizer, são livres, e pensam que ser livre é ser um tipo de troglodita. Assumem isso. E existem nesse estado de anarquia. Se querem um carro, o pegam; se desejam sexo, seguem uma mulher até pegá-la.
  Bertrand Blier é um dos mais interessantes diretores franceses. Seus filmes são sempre provocativos. Aqui temos quatro atores, na época desconhecidos, e que se tornaram símbolos sexuais em 1974. Gerard Depardieu, magro e bonito, é o mais forte dos dois amigos. Chega a sodomizar o companheiro e se suaviza ao se apaixonar por mulher mais velha. Uma atuação histórica. Suas cenas de sexo nos fazem rir, riso com raiva pois sabemos que o que ele faz é nojento. Seu amigo é feito por Patrick Dewaere e vale aqui uma apresentação. Com este filme Patrick virou mania na França. Fenômeno era seu rótulo. Mas logo se viciou em heroína e morreu muito jovem. Ele faz o amigo mais azarado, ainda mais burro que Depardieu. É apaixonante. E asqueroso!
   Há uma mocinha que não consegue gozar, então ela transa com qualquer um. Papel feito por Miou-Miou, uma atriz que se fez estrela também aqui. Se voce só conhece cenas de sexo feitas no cinema atual, repare nestas. Nada há de falso aqui. Nenhuma luz especial, nada de música sexy ou clima de neurose. É simples ato animal, despudorado, natural, tolo, desglamurizado, banal. As cenas de sexo são todas deliciosas, engraçadas e violentas, infantis.
   Após vê-los praticar vários crimes, fiquei com medo que viesse o castigo, ou pior, uma explicação racional de seus atos. Mas não. O filme não tem o menor traço de moralismo. Eles não são punidos, não são heróis e não vêem a luz. Apenas se viram na estrada. A fala final de Depardieu é perfeita. Dewaere pergunta: Então ficaremos assim pra sempre? De lá pra cá, sem parar? E Depardieu responde simplesmente: -PORQUE NÃO?
   Não se fazem mais filmes assim. Blier fala da liberdade e filma livremente. E leva seus atores com ele.
   Repito: é uma obra-prima e é um dos mais saudáveis filmes já feitos.
   PS: Há uma adolescente que perde a virgindade com eles depois de ajudá-los a roubar o próprio pai. É Isabelle Huppert. Maravilhosamente desafiante. Sua carreira também começava aqui.

MARIGOLD/ KLINE/ ERROL FLYNN/ WYLER/ JOE CARNAHAM/ MAGGIE SMITH/ CURTIZ

   O EXÓTICO HOTEL MARIGOLD de John Madden com Judi Dench, Bill Nighy, Maggie Smith e Tom Wilkinson
Fez algum sucesso no começo deste ano este filme que traz uma seleção de veteranos atores da Inglaterra. Todos são excelentes, mas o filme é um tédio! Madden se inscreve na lista dos piores diretores a um dia terem ganho o Oscar. Lembro de Delbert Mann, John G. Alvidsen, Anthony Minghela, Danny Boyle e provávelmente Bigelow entrará nessa lista. Um grupo de aposentados vai à India na esperança de se hospedar em belo hotel. O hotel é um lixo, eles se envolvem com a vida caótica do lugar e etc etc etc. Maggie Smith é eterna. Quando comecei a me interessar seriamente por cinema, lá por 1978, ela já era uma anciã!!!! Foi revelação no grupo de Olivier, em 1962.... Que ela ainda viva muito!!!! Nota 1.
   OS ACOMPANHANTES de Shari Springer Berman e Robert Pulcini com Kevin Kline, Paul Dano, Katie Holmes e John C. Reilly
Um jovem que é fascinado por Fitzgerald e os anos 20. Ele se hospeda com um excêntrico autor de teatro que trabalha como acompanhante de velhas ricas. O jovem não sabe se é gay ou hetero. Se veste de mulher. Well....é o mundo dos filmes alternativos made in Hollywood. Mas este até funciona. Não sei se ainda está em cartaz em SP, se estiver vale ver. Principalmente por Kevin Kline. Ele compõe um dos mais deliciosos personagens de sua rica e longa galeria. Kline não é muito do hype. Nunca foi doidão e sempre preferiu o teatro. Mas é o maior de sua geração ( aquela de Malkovich, William Hurt, Ed Harris, Dennis Quaid e Kevin Costner ). O modo como ele fala, se move e cria tiques e toques, e sempre mantendo o modo realista do personagem, nunca fazendo dele um cartoon, é fantástico. Veja e se divirta. Nota 6.
   FAUSTO de Alexander Sokurov
Eu jamais verei este filme de novo. Passada uma semana, do que me lembro? Nuvens, brumas, frases confusas, sujeira. Sokurov fez sua opção e a levou até o fim. Errou. Nota 2.
   CARAVANA DE OURO de Michael Curtiz com Erroll Flynn, Miriam Hopkins, Randolph Scott e Humphrey Bogart
Para curar a mente das bobeiras do "cinema de arte", nada como o cinema dos anos 30. O que define esse tipo de filme é sua falta de afetação. Observe este western. Um milhão de coisas acontecem em hora e meia. Lembro de aos 30 minutos pensar: "Caramba! Quanta coisa já aconteceu!" É um cinema de roteiro, de narrativa. Aqui estamos na guerra de secessão. Agentes do sul planejam levar ouro de estado do norte. Flynn é o nortista espião. Leva o filme com sua característica leveza. Ele é o paradigma daquilo que conhecemos como herói-bem humorado. Bogart faz um bandido de bigodinho. O filme foi feito antes de Casablanca e a Warner ainda não sabia do ator-ouro que tinha nas mãos. Há uma cena em carruagem onde Bogey assalta Flynn, Scott e Miriam. Eu juro que dá pra sentir o carisma de Bogey faiscar. Ele rouba a cena de Flynn, o que é muito dificil. O filme é uma delicia. Nota 8.
   A PERSEGUIÇÃO de Joe Carnaham com Liam Neeson
Tinha esperanças. Alguns criticos botaram nas nuvens esta pretensa aventura. Neeson e outros estão perdidos no Alasca após a queda de seu avião. Lobos os perseguem. Carnaham tem vergonha de fazer um filme de "mera aventura". Entope as cenas de "invenção". Um pé no saco! Nota ZERO
   INFÂMIA  de William Wyler com Merle Oberon, Miriam Hopkins e Joel McCrea
É um dos filmes que melhor exibe a maldade da infância. Duas amigas fundam uma escola feminina no campo. Uma das alunas inventa uma calunia sobre elas e as duas perdem tudo. O filme dá raiva. Odiamos a menina e seu sadismo. Wyler, tenho de dizer de novo?, é considerado o mais inteligente dos diretores da América. Ganhou 3 Oscars na carreira e é o recordista de indicações. Um mestre. Este filme é baseado em peça de Lillian Hellman. No palco a acusação era de lesbianismo, neste filme de 1936, se amenizou tudo e a acusação é de "triângulo amoroso". Nos anos 60 Wyler refez o filme, com menos censura, e o resultado foi ainda melhor. Mas mesmo assim este é um drama que consegue ainda despertar raiva, muita raiva. Nota 7.

Visão de Aniversário com Fernanda Young ....SARTRE, SIMONE, SAINT EXUPERY E UMA BOINA



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AQUILO QUE ME MANTÉM DE PÉ. AQUILO QUE CREIO. REI ARTUR E SEUS CAVALEIROS- TOMAS MALORY, O NASCIMENTO DO HERÓI QUE CONHECEMOS

   Após mergulhar nessas teorias e crenças, mundo do diabo, mundo de anjos maus, homens-canibais, humanismo reduzido a pura questão celular, repenso e reavalio aquilo que creio e percebo em meio a tudo isso o que fica, firme, para mim.
   Se a matéria é feita por Mefisto, nossa alma não é. E sei que todo o mal nasce sempre quando as aparências tomam posse das certezas. Tudo o que nasce nas profundezas da alma é verdade. Tudo. Todo o resto é material perecível, mutável e sem valor.
   Se os homens são canibais e apenas a religião consegue reprimir esse impulso em nós, bem, que essa repressão se torne cada vez mais forte e que se transforme em magnífico delirio. Chamarei esse delirio de canção. Faz muito tempo que sei que a repressão às vezes é necessária. Mais que isso, nos define.
   Se todo humanismo irá um dia ser esquecido, e tudo irá se reduzir a um conjunto de células ( há uma lógica nisso pois a história é redução. De filhos de deuses nos tornamos filhos da evolução, de centro da criação somos hoje dejetos e acidente ), se o homem do futuro é simples ser-vivo em funcionamento, cabe a nosso tempo dar vida potente ao que resta do humanismo. Reafirmar os valores do homem. Homem fora da natureza e da biologia. Homem que cria e é cultura.
   Relendo Artur.
   A estupenda revolução que ocorreu nos séculos IX e X. O nascimento do homem como herói. Mas não mais o herói grego. Odisseu era vitima dos deuses. O novo herói é dono de seu caminho. Ele vai atrás das aventuras, elas não são ciladas. Seu objetivo não é o dinheiro, não é a posse de uma dama, não é o troféu. Seu objetivo é ser o mais perfeito cavaleiro. E o que é essa perfeição?
   Perfeição que dominará nossos sonhos por mil anos e que entrará em declinio só agora. Perfeição que vem do valor de nascença. O homem é o lugar onde ele nasce. Defenderá seu nome. Elegerá uma dama e fará dela a rainha de suas ações. Atenção: não existe o fim em casamento. Esse amor, que será cantado e chorado é puro ideal. O cavaleiro sabe que ele não deverá jamais se realizar. E nisso eles foram bem mais sábios que nós. Sabiam que sua realização, sua queda ao mundo real, seria seu fim. O amor é ideal.
   Um cavaleiro deveria ser sempre sincero e só combater quem fosse de sua altura. Defender os fracos e todas as mulheres, ser poeta e músico, saber caçar e viver sempre em movimento. Embrenhar-se em florestas, procurar oponentes, lutar. Manter a palavra, ser fiel, nunca se render.
   Desse modelo vieram todos os nossos heróis. Dos cowboys aos detetives, dos Batmans e Wolverines aos heróis do espaço e poetas estradeiros. Todos os nossos modelos, modelos que começam a morrer mais ou menos de 1970 pra cá, foram criados e nascidos nesse ciclo Bretão, mitos da Bretanha francesa.
   Lógico que poucos foram heróis na vida real. Não é esse seu valor. O que importa é a força que criou esse mito. Um mito heróico que é em tudo opósto ao nosso mito de hoje, que talvez seja o "homem bem sucedido". Poucos são bem sucedidos, mas é esse o modelo que ficará de nosso tempo. Os povos do futuro nos verão idealmente como "homem bem sucedido".
   Essas imagens, Lancelot apaixonado pela esposa do Rei e sofrendo calado; Tristão vivendo isolado e anônimo, enlouquecendo de amor e perdendo a memória; Merlin e sua magia, enterrado vivo numa rocha; Percival e sua inocência, puro de coração e de corpo, errando pelo mundo atrás do Santo Graal, são todas imagens que segundo Jung habitam o inconsciente ocidental, nos dão criação, medos, desejos, doenças e motivação de viver. Todos eles renascem em nossos sonhos, nos filmes que vemos, nas músicas que cantamos, nos livros que lemos. Morgana e seu ódio invejoso, Isolda e seu amor que foge, A Dama do Lago protegendo e inspirando Artur, Guinevere e o triângulo amoroso com Artur e Lancelot. Os gigantes, os combates, os torneios. O confronto dos campeões, as mortes honradas, o perdão.
   O melhor de nosso mundo está todo lá. Tudo o que vale a pena nasce nesse momento. E é nisso que acredito, é isso que me dá toda a força e a minha vida é reafirmação daquele mundo.
   Todo o resto não me interessa.

RORTY E A DEFESA DA FICÇÃO

   Richard Rorty, filósofo morto em 2007, foi dos últimos a ter um pensamento corajoso. Pois em sua filosofia se encontra um dos mais intragáveis tabús para todo filósofo dito sério. Rorty defende o saber poético. Para ele, o mundo deveria ser regido pela imaginação e nunca pela razão. Ele explica.
   Toda a filosofia ocidental é filha de Platão. Na verdade, como se diz muito no atual século, toda a filosofia ocidental é apenas comentário de Platão. Ora, Platão tentou e não conseguiu ser um poeta. Viu todas as suas tentativas darem em nada e talvez venha daí a condenação total que ele faz a prática poética. ( Atenção, Rorty nunca foi poeta ). Rorty desconfia dessa opção filosófica. A razão jamais leva em conta tudo aquilo que possa ser subjetivo. Pior, todo filósofo tem apenas um objetivo, ser o dono da verdade, o homem que não pode ser contradito. Nada pode ser mais anti-democrático que um filósofo. A república de Platão é uma tirania onde apenas um pensamento pode existir, o platônico.
   O mundo do romancista é muito mais aberto. Ao escrever um texto ficcional, o autor se obriga a tomar contato com vários pontos de vista, várias vozes e várias situações. O verdadeiro ficcionista é quase proibido de ser um tirano. Traz dentro de si uma multidão de pensamentos que se contradizem.
   Isso passa para o leitor. O leitor de ficção será normalmente mais aberto e mais receptivo a novidades. Ele toma contato com pessoas e coisas que não são as suas. Ele se deixa ser habitado por personagens amáveis ou odiáveis. Deixa de ser si-mesmo e não se torna partidário do autor ( no máximo será seu amigo ou seu fã ).
   Já a filosofia exige atenção e submissão. Voce é enredado no pensamento do autor. Ouve sómente a ele, toma contato com uma única voz, uma única visão. Nada há de livre aqui, Voce o aceita ou o repele, não há meio termo.
   Torna-se fácil perceber então o aberto leitor de ficção e o fechado leitor de teses e de afirmações. Um escuta e dá voz, o outro afirma e julga.
   Richard Rorty foi diagnosticado com um câncer fatal. Disse ele, pouco antes de morrer, ter encontrado alivio ao desespero apenas na poesia. Religião ou filosofia de nada lhe valeram. Mas a poesia lhe deu um sentido para a morte. E era isso que ele sempre intuira:
   Se a filosofia cria homens cheios de si, e se a ficção do romance cria homens curiosos, a poesia cria a compreensão. Nesse terceiro estágio o homem passa a entrar em comunhão com as coisas, não em sentido religioso comunitário, mas em sentido pessoal e solitário. A poesia dá ao homem um entendimento do que seja a vida e a morte intuitivamente, algo que é completamente incompreensível pela via da razão filosófica. O poeta vai além do saber das coisas, ele passa a entender as coisas e a vivê-las plenamente.
   A filosofia será sempre parcial e excludente. A poesia é por natureza abrangente. Essa é a sua vantagem. Ela pode unir opostos e apostar em conflitos. Para a filosofia, presa em dogmas da razão, a abrangência é impossível.
   Richard Rorty por fim, dizia seguir o pensamento de Milan Kundera. Kundera dizia preferir pensar que o nascedouro dos tempos modernos se deu em Cervantes e não em Descartes.  O que explica o mundo são narrativas e nunca as teorias. Narrativas formam nossa auto-afirmação como seres privados e abertos. Teorias nos subjugam. O sonho de Rorty era uma sociedade regida por Walt Whitman ou por Homero e nunca por Kant e Platão.

OS CANIBAIS SÃO O FUTURO

   Rodrigo Petronio é professor de filosofia e poeta. Na revista Filosofia Ciência e Vida, ele escreve texto hiper-pessimista sobre aquele que deverá ser o futuro do homem. Não darei minha opinião. Apenas cito-o. Vamos a ele:
   Como disse Villém Flusser, genial filósofo da linguagem e da tecnologia, o sentimento religioso em nosso tempo finalmente se tornou geral. Todos partilham a mesma fé, a absoluta crença no vazio. O nada se torna o valor dominante e geral. Religiosamente, cultivamos essa absoluta falta de sentido, de finalidade e de fundo. Tudo pode ser tentado, pois tudo é sem qualquer sentido.
   Estamos no porvir da era do pós-humano. Assim como aconteceu a transição do macaco ao humano, teremos a transição do humano ao pós-humano. Se um dia um macaco se olhou na água e criou uma consciência, o homem olhará a sequencia biológica e se tornará pós-humano. A nova espécie será aquela dos homens feitos biologicamente. Nosso modo de nascer, fecundação ao acaso, em que sorte e deuses dão seu veredito, será considerada arcaica, simiesca. O pós-humano nasce em laboratório, sem acasos, sem falhas, perfeito, sem fados e deuses. Após o mundo teológico, em que espirito e arte mandavam, e o mundo antropológico, do engenho e da cidade, teremos o mundo biológico, onde tudo será visto não na perspectiva de Deus ou do homem, mas na visão de células e proteínas.
   Nesse mundo pós-humano, o primeiro a ser sacrificado será o cristianismo. E logo a seguir a filosofia e a arte. Ora, é exatamente o cristianismo que operou a amputação de um dos mais fortes apetites humanos: o canibalismo. Se homens podem comer seus primos macacos, pós-humanos comerão homens. Eis nosso destino. Tudo o que for "humano" será risível, tolo, infantil. O pós-humano se verá como o cume da evolução: a ameba, o ser que não mais tem vontades, não mais tem dor e velhice, que se alimenta e se reproduz sem traumas. Ele romperá a história que nos liga a Homero e Platão. Será indiferente, passivo, produtivo e bonito. E muito envergonhado de seu passado humano.
  No mundo do século XX a morte foi a plena realização da inteligência. A guerra e o campo de extermínio foram o apogeu da razão e da eficiência. No mundo do século XXI a técnica e o progresso produzem a neurose de massa. A tecnologia de guerra já se fez obsoleta, ela hoje só traz prejuízos, mas a doença mental não, ela é necessária para mover o trabalho, o consumo, a produção. Escravos da neurose, como já fomos da guerra, obedecemos a sociedade na esperança de nos livrarmos do medo, da solidão e da dor. Não percebemos que ela é que nos dá essa doença. Se faz o círculo.
  No mundo pós-humano não haverá mais a produção de neurose. O que manterá a sociedade em movimento será o canibalismo. Amebas se alimentarão de homens. Único modo de salvar a vida na Terra. Os humanistas poderão se queixar...que humanistas? Na visão de um cientista a vida humana tem valor idêntico a qualquer outra vida.´Somos todos filhos do acaso evolutivo. Que mal pode haver no canibalismo?
   Tudo no mundo moderno nos prepara para esse futuro canibal. A partir do momento em que vemos o homem como mera máquina biológica, em que tiramos dele tudo o que possa existir de único, de transcendente e de "humano", abrimos as portas para um futuro em que o homem passa a ser menos que pós-humano, alimento, como são os macacos, os coelhos ou os bois.
   Afinal, o pensamento "religioso" atual nos diz que somos uma poeira na poeira da poeira....que mal pode haver em comer poeira?

RONNIE VON, FERNANDA YOUNG, TELEVISÃO, BICHOS E ESTRELOS

   Ás vezes em meio a enorme quantidade de lixo-execrável a gente encontra alguma surpresa deliciosa na Tv. Fico zanzando por mais de 80 canais e percebo certas coisas. Em programas sobre bichos hoje a atração é o estrelo que apresenta a coisa e não o animal. E tome close da cara do bacana. Houve um tempo em que filmes apelativos e programas de Tv muito pop usavam melô pra pegar audiência. Era um tal de cenas bonitinhas e coisinhas gracinhas bem cor de rosa. Agora o que agrada é a violência. Todo filme tem de ter sangue e socos e tiros e explosões. Ou mesmo que nada disso apareça vai ter suicidio, gritos, doença terminal ou tapas na cara. Isso se reflete na Tv. Bichos comendo bichos. Todo o tempo. Nada mais de filhotes brincando ou belas cenas em paz. Como acontece até em programas de humor e novelas, violência vende. Então voce tem de ver o chato-estrelo se arriscando entre cobras e lobos...um saco.
   Outra coisa esquisita é a quantidade de programas que mostra gente trabalhando. Emocionantes cenas de corretores tentando vender casas, de machos arrumando encanamentos, policiais prendendo, mecânicos em ação e veterinários operando. Me parece que as pessoas estão num estado tão adiantado de domesticação para o trabalho, que agora até o lazer se faz em ver gente trabalhando. É como se fora do work nada mais importasse. Tem programas de culinária onde o cara tem de fazer 800 refeições em seis horas e um outro onde uma equipe tem de vencer outra equipe. O simples prazer de se ver um chef preparar um caprichoso prato já era. Culinária com competição, stress, pressa, sem frescura. Sem arte. O mundo está se tornando uma praça de alimentação.
   E passando en passant, vejo aquele monte de séries com imagens escuras bem pastel, falas ditas bem baixinho e closes em rostos sempre bonitinhos ( mas não muito ) vivendo seus draminhas tão chatinhos... E tome Ratinho gritando, e tome um traveco sendo analisado na La Gimenez. E o CQC posando de "inteligentes" mas sendo tão apelativos quanto tudo e tão frenéticos como um video clip onde a cantorinha vende seu corpo e nunca sua voz. O pior é esse futebol brasileiro, onde toda jogada acaba em cruzamento torto e tentativa de enganar o juiz.
   Mas em meio a toda essa coisa tem o programa do tio Ronnie. E Fernanda Young foi ontem o homenagear. Titio fazia anos. E digo pra voces que foi dos vinte minutos mais deliciosos em dias. Fernanda, que estava linda, tomou posse do programa e comandou a atração. Tentou ser fina como Ronnie e se perdeu, errou, atrapalhou-se, riu.  Fez-se o humor carinhoso, suave, sem querer. E ela, sempre esperta, deu o tom. Disse que o programa de Ronnie é anacrônico. Deliciosamente anacrônico. Todos sabemos Fernandinha. Tempo de lentidão onde não existe violência ou mundo cão ( que nunca é real na verdade ). Ronnie até lembrou de sua juventude em Niterói, quando posava de beatnik, cavanhaque e boina, apaixonado por Sartre e Simone. E é engraçado perceber que Fernanda é também sempre desse tempo chic e anárquico. Porque imediatamente antes do anglicismo de Beatles e Stones e do americanismo de Elvis e Dylan, houve o galicismo de Trenet, Gainsbourg e Vian. Tio Ronnie era um beatlemaníaco que ainda mantinha os acentos sofisticados da Rive Gauche.
   Depois na Tv Cultura passou um doc sobre Lacan. Mas quando começaram a tratar Lacan como um tipo de João Batista do deusinho Freud....Bien, eis o pior lado da França....O deslumbre com o dogma ( desde que pareça bem descartiano, n'est pas? ).
   Desliguei e fui pra cama. Titio Ronnie e a fada aflita Fernanda nos vingaram.
   Bons sonhos.

O PRÍNCIPE DAS TREVAS OU MONSIEUR- LAWRENCE DURRELL

   Durrell foi um daqueles ingleses que odiavam a Inglaterra. E fugiam do país em busca de se encontrar. No caso dele, seus lugares eram Egito, Provence, India e Veneza. Amigo de Henry Miller, ele vai mais longe que Miller em seu texto cheio de palavras bem urdidas e gostos amargos. O que Durrell realmente pensava é dificil saber. O que podemos é imaginar o que ele não foi. Conformista.
   Este livro teria problemas se escrito hoje. Voce logo saberá porque.
   Um homem viaja num trem rumo à Avignon. Lá, ele tentará saber do porque do suicidio de seu amante, Piers. Piers tem uma irmã, Silvie, que está num hospício. Ela também é amante do narrador. Um triângulo feliz, apesar dos pesares. Então vamos na memória do narrador. Ele recorda uma viagem ao Egito. No deserto eles conhecem Akkad, mestre em gnosticismo. Navegam pelo Nilo. O livro dá um salto a Veneza e lá ficamos sabendo que agora quem narra é o verdadeiro autor, um muito solitário veterano cuja esposa o abandonou por uma mulher. Em mais um salto, vamos brevemente a Viena e depois de volta a Provence, onde quem narra é um autor de best-sellers. Bem...acredite-me, Durrell consegue orquestar todos esses pontos de vista sem nunca parecer confuso. Porque ele faz isso? Mero capricho? Não, a mudança de narrador, de estilo, de ponto de vista é o próprio livro, já que seu tema é a ilusão, o real e o irreal, o que somos e o que não somos.
   Aprendi em linguistica que na verdade todos os livros ( e filmes ) têm sempre o mesmo tema: vida e morte. Durrell tenta ter uma unidade, ele fala da morte e não da vida. O livro pode ser entendido como a tentativa de se entender o que seja morrer. Não há uma resposta. Ainda bem...mas várias tentativas se fazem, e todas são terríveis. ( Um adendo: eu juro que o livro é alegre ).
   Durrell teria problemas hoje por se arriscar a ser chamado de anti-semita. Akkad, o gnóstico, diz que Deus foi destronado e o mundo que conhecemos tem apenas um criador e mestre, o Diabo. Toda a realidade é obra dele e isso é fácil de perceber, pois a vida nada mais é que guerra, fome, dor e morte. E uma grande ilusão, as religiões. E a mais ilusória seria o judaísmo e tudo o que ela trouxe: catolicismo, protestantismo, islamismo, e até mesmo Marx e Freud que nada mais são que filhos da velha Biblia hebraica. Tudo isso sendo um mundo de materialismo, usura, ouro, falo, sede, repressão e dogmas.
   Confesso ser dificil ler essa parte. Principalmente quando Akkad diz que ir contra essa obra do mal é não obedecer a vida. Não ter filhos, não lutar por nada, e morrer com alegria e de forma consciente. Perceber a ilusão que há nessa vida criada pelo mal e só pelo mal. Weeelllll..... Depois o livro dá seu golpe de classe. Ele próprio vai contra tudo o que falou. O novo narrador não pode crer nessa, segundo ele, "besteirada", ( mas deixa uma dúvida no ar ) e foge dessas questões. O que ele expõe é o massacre ocorrido no dia 13 de novembro de 1345, em que 5000 gnósticos da Europa foram presos, julgados e queimados, por ordem de Filipe, o Belo. Porque?
   Apesar de tema tão dificil ( todas as cerimônias são cheias de drogas alucinógenas ), o livro é solar. Durrell descreve o mundo, nosso, condenado a destruição e dominado pelo mal absoluto, e ao mesmo tempo dá descrições soberbas da Lua, do Sol, dos animais e das estradas. O texto é belo, vitalista, há prazer em ler. Esse seu grande mérito, ele fala de coisas terríveis, mas jamais se faz um peso.
  Após a leitura ficamos confusos. Qual a verdade? Quem nos controla?  Deus, Jesus, os Santos...ilusões do mal? Ou Jesus seria alguém que tentou lutar contra as trevas ( sabendo serem elas invencíveis, e portanto sendo um gnóstico ao escolher sua morte ). Não há solução e nunca haverá. O que fica é a sensação do ridiculo da presunção científica ( respondem sem responder nada ) e um gosto de Matrix na boca, azedo.

The Stolen Child - W.B. Yeats



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FAUSTO SOKUROV, O CINEMA DE ARTE É NOSSA SINA

   Toda forma de arte ao nascer e em toda sua fase mais pura não possui a divisão entre popular e artístico. Shakespeare era assistido por açougueiros e mestres de filosofia, e Haydn compunha para reis e ciganos. A divisão na literatura se dá por todo o século XIX e na música nos fins desse mesmo século. Mas isso aconteceu também com a pintura a dança e até com a culinária. No cinema, como com o jazz e o rock, isso aconteceu em poucos anos. O jazz dos anos 30 era uma coisa só. Duke Ellington ou Count Basie faziam arte ( em alto nível ) mas eram ao mesmo tempo populares. O be- bop faz a ruptura. No rock, Beatles ou Dylan foram simples e soberbos até 1967, e então se fizeram complicados e às vezes fascinantes. Com o cinema a coisa é bastante triste.
  Quando Fritz Lang ou Murnau faziam seus filmes eles não faziam filmes de arte. Eles faziam cinema. Renoir e Clair, Chaplin e Keaton, Dreyer e Ford não viviam em guetos separados com rótulos fixos. Eles navegavam entre o popular e o erudito. Agradavam, às vezes, o operário e o filósofo. Isso se manteve até os anos 60.
  Billy Wilder e Hitchcock jamais pensaram em fazer arte. Eles faziam filmes, aqueles que queriam fazer, e eram filmes "fáceis de ver" e ao mesmo tempo, cheios de sentidos, de pistas, de arte enfim. Mas esses dois campos foram se afastando por toda a década de 50. Essa culpa, se é que é uma culpa, pode ser creditada a Bergman. Mas também a Kurosawa e Buñuel. A crítica e os festivais começaram a tratar esses cineastas como a "realeza" do cinema. Os comparavam a Tolstoi e Proust e de repente, ser simplesmente um "cineasta" passou a parecer pouca coisa. Era preciso ser Bergman, um artista. E infelizmente, muitos diretores geniais como Hitchcock e Huston passaram a tentar ser "artistas". E se deram mal. Eles eram cineastas.
  Esses dois mundos se separaram cada vez mais, mas uma corda fina se esticou entre eles. Os artistas foram se tornando cada vez mais pedantes, os cineastas, cada vez mais cínicos. E alguns, os melhores, tentavam corajosamente, se equilibrar sobre essa corda que une os dois mundos. Fellini fazia isso, como fazia Truffaut, Coppolla e Malle. O que os artistas não percebiam é que Bergman sempre fez isso. E Kurosawa também. Por esse motivo eles são cineastas antes de serem artistas.
  Hoje a corda se transformou numa navalha. Cineastas artistas fazem filmes que não são mais cinema. São instalações, teses sociológicas, exibicionismos, experiências com imagens. E cineastas fazem filmes que procuram ser o mais cinemáticos possível, ou seja, ação e som que são apenas ação e som. O popular se faz hiper-popular, o artístico se faz como "filme de festival". Não se misturam. Claro, alguns poucos abnegados, que são inspirados pelo passado do cinema, tentam reatar os dois mundos. Tarantino, Soderbergh, Joel Coen, PT Anderson, Almodovar... procuram unir o popular e a arte. `As vezes acertam.
  Adoro A ARCA RUSSA de Sokurov. Fausto é um dos filmes mais chatos desta década de filmes chatos. Nem Von Trier consegue ser tão bocejante. O filme de Sokurov exala em cada fotograma uma afirmação: -Isto é ARTE. Se eu fosse Paulo Francis eu diria, "O mundo Jeca que nos deu Bjork e José Saramago chega à Russia".
  Tem até que ideias boas o tal filme. E não pense que o mundo do filme é o mundo de Goethe. É nosso mundo. Fausto em Goethe deseja o saber. Ele quer conhecer o segredo de tudo. Quer ser Deus. O Fausto de Sokurov, de 2012, quer ser feliz. Ele quer dormir, comer e amar. E ter dinheiro, poder. É um Fausto muito menos fascinante, sem coragem. O Fausto de Goethe foi o modelo para o homem moderno, um Titã à procura do saber. O Fausto 2012 é um deputado de Brasilia.
   O filme, como em Goethe, tem uma visão gnóstica do mundo. Deus existe e criou a vida, mas todo este universo é obra de Mefistófeles, o anjo negro. Se Sokurov não fosse tão artista, ele faria Mefisto como um sedutor. Mas ele pensou que isso seria pop, e fez dele um monstrengo fedido. Porque? A beleza é muito diabólica. Welllllll.....
   Há uma cena de beleza transcendente no filme ( que me levou às lágrimas ), é um longo close silencioso de Margarida. A luz a invade e ela se torna um anjo. Se Fausto pudesse ser salvo ele teria sua beatificação naquele momento, mas ele faz o contrário, estupra Margarida e faz dela uma puta. Em Goethe isso simboliza a destruição do bem pelo conhecimento, mas também pode ser a destruição da natureza pelo homem. Margarida é natural, Fausto é inatural.
  Mas de que adianta o filme ter um momento de tanta beleza se temos de caminhar horas de tédio até alcançar esse cume? Em A Arca Russa temos duas horas de incessante prazer, e o filme tem tanta profundidade quanto Fausto. Ou mais.
   Bem, de qualquer modo este filme tem uma bela função. Serve para que aqueles caras que odeiam e desprezam bons filmes pop ( westerns, comédias, romances ) sejam obrigados a passar por seu grande obstáculo: Hey, voce que se acha um intelectual só por ter adorado Clube da Luta ou Peixe Grande, saiba que aquilo é cinemão, popular como Homens de Preto ou Avatar. Isto é que é a tal arte para poucos. E então? Gostou? 
  Quanto mais entendo de cinema mais tenho a certeza de que nada foi melhor que o cinema dos anos 30.

bob dylan subterranean homesick blues. A ALMA BEAT- BEATITUDE



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BEATS E BEATITUDES

Segundo Roberto Muggiati, Beat surgiu em "I Am Beat", Tou Ferrado. Mas a verdade é que o lance veio de BEATITUDE. O que eles queriam era alcançar um estado de beatitude via droga, sexo e jazz. Beat é também a batida do be bop de Charlie Parker, Bud Powell e Dizzy. Escrever palavras na velocidade supersônica do sax de Bird e do piano de Bud. Improvisar como um cara do jazz. Mas, surprise!, o autor favorito de Kerouac era Marcel Proust. E Proust nada improvisava. Mas ele era o mais Beatitude dos escribas.
Ler ON THE ROAD aos 17 anos. Quem não leu nessa idade não viveu. Eu andava na Paulista, fim de tarde de maio, com o livro na mão. A angústia do livro passava pra mim. Ele me fazia mal. Mas depois desse mal vinha a epifania-beatitude. Com o coração apertado eu via a luz na janela da mansão ( que foi derrubada a muito ) e sentia um anjo tocar minha boca. Nas escadas do Objetivo faziam ponto centenas de anjos.
Jack Kerouac ficou famoso entre os hippies dez anos depois de publicar seu livro. Mas ele não gostava de hippies. Então era amado por gente que ele desprezava. Jack era conservador. Morava com a mãe. E se mandava de casa por seis meses, pé na estrada, excessos e epifanias, e depois voltava pro sofá da mãe. Ele era como um cachorro no cio.
Eles eram apaixonados por Neal. Todos eles. O filme deve ter errado. Porque mulher em On The Road é nota de rodapé. Mas o velho produtor deve ter exigido: Bota a Kristen aí. Botou. O livro é fortemente gay. Sujo e fedido. Tosco e mal escrito. Se o filme for bem feito e clean...errou.
Na verdade o grande filme beat já foi feito. Foi NÃO ESTOU LÁ, a obra-prima sobre Bod Dylan. Roberto diz, e todo mundo sabe, que o herdeiro dos beats é Dylan. E Patti Smith, Lou Reed, Leonard Cohen. O Velvet Underground é uma banda beat.
Allen Ginsberg era o melhor deles, UIVO é bom. Ginsberg amava Dylan. Ele aparece ao fundo, de cajado e barba, no clip que postei. Será que Dylan dormiu com Allen? Bob é melhor que todos eles juntos. Lou também. Deviam dar o Nobel pra Dylan. Já foi cogitado. Faltou coragem. O poeta de uma era. Esta.
Walt Whitman foi o primeiro beat. E depois veio Rimbaud. CANTO A MIM MESMO....epifania. Eu devo ser um beat e não sei. Porque? porque escrevo tudo automaticamente, nunca releio, não faço um plano, improviso. E minha vida tem um único sentido, a busca incessante de momentos de beatitude. Seja em filmes, sons, memórias, livros, sonhos, caminhadas, contatos, o que busco e o que justifica minha vida é isso, epifanias.
Nada mais fora de moda. Não pode haver beatitude em frente a um PC. Ou não?
Eu pulava a janela de meu amigo Fernando e lá a gente desenhava e escrevia poesia. Depois ia pegar carona pra ir pra longe. E virava garrafas de vinho barato. Não havia um só plano de futuro. Não tínhamos um tostão. E nunca sabíamos ser felizes. A felicidade não era uma meta, era a liberdade.
Quem disse que ser feliz é o máximo da vida? O máximo é ser livre baby. E ser livre NÂO é uma felicidade. É uma beatitude.
Falei.

PAULO FRANCIS

   A esposa de Paulo Francis lê uma carta. Essa carta foi escrita por Paulo a um amigo quando soube que sua gata, Alzira, estava morrendo. Francis não foi uma criança com bichos. Ele aprendeu a amar os animais com a idade. O documentário mostra então várias fotos de Paulo com Alzira. A esposa chora enquanto lê.
   O filme é assim. Não foge da emoção, mas também não foge da polêmica. Ele foi sempre desse jeito. Chamava os nordestinos de preguiçosos e ao mesmo tempo sabia de cabeça dezenas de canções de Caymmi. Odiava Lula e também os milicos da revolução. Penso que ele era inteiro, conseguia ser si-mesmo na midia, o que hoje é impossível.
   Paulo Francis começou a ser perseguido pela Folha quando a Folha se acovardou. Ansiosa para ser a número um, ela não podia aceitar alguém que batia tanto em tanta gente. Francis espirrou de lá. E a Folha virou esse balcão de RP que é hoje.
   Então Paulo foi fazer o melhor programa de humor da história do Brasil, Manhattan Connection. Ele era Groucho Marx, os outros quatro eram Zeppo Marx. Ele cantava ópera, avacalhava todos os filmes ( "Não vi, não vou ver, e detesto"), citava filmes antigos, dava ataques azedos ao Brasil, indicava restaurantes em New York, se exibia. Caio era chamado de idiota, Nelsinho de menino ingênuo e o mediador de irrelevante. Quando Francis se foi o programa perdeu a alma e o porque.
   Foi num desses domingos que Francis se "matou". Disse que os diretores da Petrobrás eram ladrões e tinham milhôes na Suiça. A empresa o processou. Com nosso dinheiro Francis foi processado em New York. Ele ficou apavorado e morreu do coração. Essa história simboliza a mudança do Brasil. O politicamente correto e o rabo preso.
   Seria impossível ele ser publicado hoje. Se voce acha Mainardi ou Pondé incorretos, Francis foi bem mais. Ele falava em alto e bom som, sem nada de filosófico ou atenuante: a democracia é a ditadura dos medíocres, o nordeste mata o Brasil, Lula é uma besta, as universidades acabaram quando as mulheres puderam estudar, o rock é música feita por caipiras iletrados para jecas incivilizados, jazz só é suportável e faz sentido com whisky, vicio em drogas não existe, é mito, todo drogado quer se matar e passa a vida tentando.
   A história mais engraçada é aquela do LSD. Paulo provou todas as drogas ( inclusive heroína ) e queria provar o ácido. Mas tinha medo de pirar e fazer merda. Então foi a seu médico, fechou a porta, deitou na maca e engoliu um ácido. Então falou ao médico: "-Agora tome conta de mim".
   Francis odiava os democratas americanos, Tinha saudades dos velhos republicanos, povo que fez a fortuna da América. Mas odiava Bush. Para ele o governo ideal seria um tipo de monarquia meritória. Os melhores governando. Ele dizia que a democracia era a ditadura da ralé. Os melhores tendo de puxar o saco dos pulhas bons de voto. Votar era como escolher quem merecia ser seu feitor. O dono da fazenda jamais mudava.
   Devorei Paulo Francis em todos os meus anos formativos. Me deu tanto que às vezes penso ser um mero continuador, mais pobre e muito menos corajoso, dele. 
    Adoraria vê-lo escrever hoje. Sobre Bin Laden, Obama, Lady Gaga e o mensalão. Chavez e Kirchner, Big Brother e Irã.... quer saber? Se Paulo se sentia um zumbi, num mundo sem classe e conforto, em 1995, acho que foi bem melhor pra ele ter partido antes do imbecilizante século XXI.
   Procurem e assistam.
  

CONVITE PARA JANTAR. ADIVINHE QUEM VEM...

   Paulo Francis era fã de Bergman. Ele dizia que o sueco era o único que às vezes conseguia atingir a altura da literatura. Mas ele amava também o cinema mais popular. Se divertia imensamente com ....E O VENTO LEVOU e as doces bobagens de Doris Day. Falava que Hollywood sabia fazer lixo que não ofendia a inteligência. Amava Peter Sellers e o inspetor Clouseau.
   Mas o que desejo aqui destacar é a resposta que ele deu a Nelson Motta sobre PULP FICTION. Paulo até gostou de Pulp, mas fez uma pergunta muito esperta a Nelsinho. "-Você convidaria algum daqueles personagens para jantar?"
   O sentido da pergunta não é moralista. Nem mesmo uma coisa do tipo: eles seriam divertidos? A questão é a seguinte: Seria interessante jantar com eles? Eles teriam algo a dizer?
   Francis era assim. Perguntava aquilo que parecia simples, mas que ia ao fundo da coisa. Porque agora eu penso....
   Não seria fantástico jantar, calmamente, com o aristocrata empobrecido de A SALA DE MÚSICA de Satyajit Ray? E os personagens de AMARCORD? Jantar com eles poderia mudar sua vida!
   Penso no prazer de um faisão e conhaque com charutos ao lado do Henry Higgins de MY FAIR LADY. Nos dias que eu teria de conversa com o diretor em crise de OITO E MEIO. O Gregory Peck de TO KILL A MOCKINGBIRD, o Paul Newman de GOLPE DE MESTRE.
   Eu não sei se são esses personagens fascinantes que definem um grande filme, mas eu adoraria jantar com o Michael Douglas de GAROTOS INCRÍVEIS ou o Clint Eastwood de CORAÇÃO DE CAÇADOR. E detestaria estar numa mesa com o cara de GRAN TORINO ou aquele de DIRTY HARRY.
   Alguns atores têm uma quantidade imensa de personagens "convidáveis". Cary Grant deve ter mais de 30. Mas pensando bem, dá pra unir as duas paixões de Francis numa coisa só.
   Não há nenhum filme que tenha uma maior quantidade de personagens "convidáveis" que FANNY E ALEXANDER, de Bergman. Seria uma dádiva dos céus jantar longamente ( Natal? ), com aquela familia inteira. Melhor ainda, passar longas férias com eles. ( E por falar em férias, imagine passar um verão com todos os personagens de Monsieur Hulot...um paraíso!).
   Mas devo dizer que eu, acima de tudo, iria adorar poder receber para jantar, em mesa cheia de doces e vinho do Porto, o professor feito por Victor Sjostrom em MORANGOS SILVESTRES. Teríamos uma conversa sobre a memória, o tempo e o sentido de recordar. Falaríamos então sobre nossos pais, as mulheres e a estrada. Esse seria meu primeiro convidado. E de certo modo tenho o recebido desde quando o conheci.
   Paulo Francis matou a charada.

Peter O'Toole on TFI Friday O PRIMEIRO!



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PETER O'TOOLE, O PRIMEIRO

   Peter O'Toole anunciou hoje sua aposentadoria. Não mais o cinema, não mais o teatro.
   Até descobrir O'Toole, o que me impressionava num ator era aquele estilo febril de Jack Nicholson e Dustin Hoffman. Um estilo realista, das ruas, estilo que teve em John Garfield e Monty Clift seus primeiros exemplos e em Brando seu grande gênio. Mas ao entender Peter O'Toole e seu estilo "inglês", um novo mundo se abriu para mim. Não era mais o exagero, a febre ou o realismo; era um modo delicado de atuar, leve, criativo, sutil e "romântico". Na época eu ainda não conhecia Olivier e Redgrave. Peter foi o primeiro.
   O filme era A CLASSE GOVERNANTE, e logo depois assisti LEÃO NO INVERNO e muitos outros. Durante dez anos foi então meu ator favorito. Eu, ainda adolescente, o usava como guia, como mestre de estilo e de elegância. ( Ninguém mais diferente de meu modo de ser que O'Toole.... ).
   Depois veio COMO ROUBAR UM MILHÃO DE DÓLARES e compreendi seu lado star, mais dandy, pop. Se voce quiser conhecê-lo indico O LEÃO NO INVERNO. Voz como trovão, olhar de gelo, expressão de rei decaído. BECKET é tão bom quanto. Pensando bem, talvez seja melhor ainda. LAWRENCE não é seu grande desempenho, o filme é do diretor David Lean.
   Após Peter vieram Alan Bates, Terence Stamp, e só depois tomei contato com Olivier, Gielgud, Richardson e Michael Redgrave. São atores que criam interpretações, não imitam gente real, criam personalidades. São atores criadores, jamais imitadores.
   Há tempos que O'Toole trabalhava pouco.
   O cinema encolhe dia a dia.

DANNY TREJO/ LECH MAJEWSKI/ SODERBERGH/ CANET/ CLARK GABLE

   O FUNDO DO MAR de Peter Yates com Robert Shaw, Jacqueline Bisset, Nick Nolte, Louis Gosset e Eli Wallach
Vi no cinema quando moleque. Tou ficando velho...este filme é antigo até em dvd. E é muito chato! Fala de tesouro no fundo do mar. Shaw era um ator inglês interessante, Bisset era bonita e fria e Nolte, ainda bonitão, era considerado na época o pior ator do mundo. Yates foi um diretor promissor. Fez o fantástico Bullit com Steve McQueen, mas aqui tudo dá errado. Nota 2.
   13 HOMENS E UM NOVO SEGREDO de Steven Soderbergh com Al Pacino e Ellen Barkin
Após o ótimo primeiro filme e o chatíssimo número dois, este terceiro é bom de se ver. Estranhamente Clooney aparece menos, Matt Damon tem boas cenas e Elliot Gould é o centro da trama. Soderbergh sabe criar o clima. O filme não faz feio em comparação com as boas aventuras sofisticadas que foram moda em Hollywood por volta de 1960/67. O elenco tem classe, as falas ok e Pacino faz um tipo muito divertido. Um prazer de primeira. Nota 7.
   CHAMADO SELVAGEM de William Wellman com Clark Gable e Loretta Young
Baseado no ótimo livro de Jack London, dele ficou só o nome do cão, Buck. A ênfase aqui vai toda para um romance entre o aventureiro e uma viúva perdida no Alasca. Tempo em que o cinema não humanizava a um cão. Buck é um cachorro com jeito de cachorro. Gable está a vontade, faz o macho de bom coração e muito safo. Wellman foi um dos grandes do cinema clássico. Nota 6.
   BAD ASS de Craig Moss com Danny Trejo
E não é que Trejo sabe interpretar? Aqui ele é um ex-combatente do Vietnâ que se torna estrela do youtube ao salvar velho de bandidos. Em registro que mistura Gran Torino com Charles Bronson, o filme é triste, meio chato, bobo até. Mas Trejo é uma figuraça!  Não se compara ao maravilhoso Machette, esse sim, excelente homenagem a Danny Trejo. Nota 5.
   O MOINHO E A CRUZ de Lech Majewski com Rutger Hauer, Michael York e Charlotte Rampling
O que vemos é um quadro. De visual riquíssimo. Acompanhamos então a vida dos personagens do quadro. E vemos Pieter Brueghel pintando-o. E o que há nesse quadro? Um moinho que pode ser Deus e pode ser o tempo. Os espanhóis que humilham e torturam os belgas. Cristo sendo crucificado, que pode ser todo e cada um daqueles que foram contra a tirania. Tudo isso de modo lento, silencioso. Lembra Sokurov, Dreyer e até Tarkovski, é lógico que não atinge a estatura de nenhum deles. Mas acontece uma coisa perturbadora com quem o assiste: voce se sente hipnotizado "depois" que ele termina. Só sentirá seu efeito após a sessão, se tiver paciência e prestar atenção. É um filme invulgar. Quase uma viagem ao passado. Sem nota.
   ATÉ A ETERNIDADE de Guillaume Canet com Jean Dujardim, François Cluzet e Marion Cotillard
Canet presta homenagem ao filme de Kasdan, O Reencontro. O que vemos é um grupo de amigos que se reúne. Faz tempo que não se vêem. O que sentirão? Que dores e alegrias irão ser acordadas? O filme fala sobre amizade. E sabe falar. O cinema americano perdeu o dom de falar sobre pessoas. Fala apenas sobre o excepcional. Sejam loucos, drogados ou heróis, o cinema made in usa só conta histórias fora do comum. Os franceses, como os italianos e outros, ainda consegue falar de gente comum. É uma delicia ver isso. Quem verá este filme??? Jean Dujardim, após O Artista, se mostra um ator adorável. Nota 7.
   EM NOME DO REI de Uwe Boll com Jason Statham, Ray Liotta e Claire Forlani
Lixo. Gosto muito dos filmes de Statham. Acho ele um simpático ator para ação. Mas aqui o que temos? Uma idade-média que se parece com backstage de um show do Metallica. Cavaleiros medievais negros, mocinhas com cara de Kate Perry, ação pouco criativa, roteiro medíocre. Se no filme de Lech Majewski nos sentimos completamente em 1640, aqui nos vemos num passado com cara de video-clip. ZERO!!!!

Anna Karina & Serge Gainsbourg-Anna



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Ma ligne de chance ANNA KARINA......



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ANNA KARINA, GUILLAUME CANET, BATMAN E CINEMA FRANCÊS

   Brasilia se torna uma cidade quase bonita amanhã. A mais que perfeita ANNA KARINA virá abrir o festival de cinema da cidade. Anna Karina é a mais fascinante atriz da história do cinema. Godard foi gênio enquanto teve essa musa dinamarquesa a seu lado. Depois que se separaram Jean Luc se tornou um chato. Anna era timida, sexy, esperta, enigmática e pensativa. Os olhos mais lindos do mundo com a boca mais perfeita da história.
   O Estadão diz que ela virá cantar. A voz é aquela que toda cantora "tristinha" de 2012 queria ter. Só que Anna nunca foi tristinha. Na vida real ela era cheia de ideias, de ideais e de atitudes. Fugiu de casa aos 16 e foi pra Paris. Logo era modelo da Chanel e daí para o cinema de Godard.
   Ela conta que o problema do cinema de hoje é simples: todos querem ser ricos e famosos. Eles se contentavam em ter um carro velho e um canto pra morar. Mas Anna mostra sua inteligência ao dizer que "Godard, de forma alegre e descompromissada, fazia filmes muito sérios; hoje, gente muito séria e metida faz filmes bobos e sem porque".
   Anna Karina se diz feliz por ainda ser lembrada e por morar no Quartier Latin. Fico feliz por saber que ela é feliz. Na verdade ela é mais que lembrada, é referência para elegantes e estilosos de todas as idades.
   Falando em Anna, falo em Guillaume Canet. ATÉ A ETERNIDADE é o melhor filme em cartaz. Mas, é lógico, por ser francês não terá público. Não deixa de ser cômico o fato de que meus colegas "rebeldes" da USP terem um forte preconceito contra filmes franceses. Eles se dizem contra o consumo e a moda, mas acham Tim Burton, Chris Nolan e Wes Anderson "gênios". Só assistem filmes made in usa. Como diria Francis, weeeeeelllll.....
   Esse povo teen acredita quando o sr. Nolan posa de "cineasta com ideias", esquecendo que Batman é uma franquia de uma mega produtora. Nada há de risco em Batman. Todo Batman deu lucro. Não foram ver o magnífico CONVERSAS COM MARGUERITTE, e perderam a chance de ver O ARTISTA.
   Pela enésima vez me explico: Adoro cinema pop-bobo. Mas só quando esse cinema pop se assume como tal. Tipo Tarantino ou Soderbergh. Quando o cara vem tentar me enganar salto fora. Não me venha com papo cabeça em filme pop. Não venha posar de artista sem ter coragem ou ideias para ser. Não me venha pegar um título popular e de apelo teen, e envergonhado, tentar me convencer de que aquilo é mais do que de fato é. Isso se chama "coisa de jeca". Só americano inseguro é assim. Vergonha de ser pop.
   Respeito muito mais Levinson com seu HOMENS DE PRETO assumidamente bobo, que um jeca tentando me fazer crer que Batman é mais do que é.  Meus colegas teen entram nessa como ovelhas inteligentes. Eu vou atrás de Guillaume Canet.
   Em sua entrevista Canet tece loas à O REENCONTRO de Lawrence Kasdan. Tenho amigos que não conheciam esse filme e foram apresentados a ele por mim. Adoraram. Como Canet adorou. Viva o DVD.

O MOINHO E A CRUZ, FILME DE LECH MAJEWSKI

   Aviso que não é um filme fácil. Sokurov faz escola e se trata de um filme lento, quase estático. Ao mesmo tempo tem uma fotografia que beira o fantástico. Ao término do filme voce se encontra em um tipo de estado alterado. Por mais chato que ele seja ( ele é ), ele te deixa hipnotizado. Cria um mundo e subverte o tempo. Seu poder se dá em seu final. Só quando ele termina notamos que durante hora e meia vivemos em outra dimensão. Dentro do universo contido em um quadro. Uma das obras-primas de Brueghel.
   Brueghel é feito por Rutger Hauer, e ele está compondo seu quadro. O que o filme mostra são os personagens da pintura em seu cotidiano e se dirigindo ao cenário que é a pintura. Parece complicado? Não é. Nos primeiros minutos voce ficará meio tonto, mas depois tudo vai se clarificando.
   Brueghel foi pintor mestre da escola nórdica. Enquanto os pintores católicos pintavam imponentes retratos de reis, cenas bíblicas e históricas; os nórdicos inseriam a vida do povo em suas pinturas. Camponeses e soldados rasos. Na época do quadro a Espanha dominava vastos reinos nórdicos e perseguia cruelmente os hereges ( protestantes ) desses países. A pintura de Brueghel coloca os espanhóis como "novos romanos" e os belgas/holandeses/alemães como os seguidores de Cristo. O diretor, Lech Majewski, não facilita, ele exibe dor, crueldade, chagas.
   Interessante observar roupas, casas, modos da época ( cerca de 1630 ). São humanos que hoje parecem alienígenas para nós, corretos homens de 2012. Esquecemos que aquela era uma Europa cheia de animais e de crianças. Muitas crianças.
   Há uma frase no filme ( é um filme quase mudo ) muito importante: a de que as coisas mais fortes, os fatos que podem mudar o mundo, passam despercebidos por todos. Essa é uma mensagem direta para nossa época. Cristo morre sem que o mundo saiba. No ano 33 DC. o que o mundo olhava era Roma, os reis romanos e suas guerras. Ninguém se importou com um pobre profeta judeu. A mesma coisa com vários homens e acontecimentos em toda nossa história. E a mesma coisa pode estar ocorrendo agora.
   O simbolismo do filme é explicado pelo personagem Brueghel. O moinho é o Tempo, tempo que mata e alimenta.
   Comento aqui um desses momentos chave que o filme não fala ou toca, mas que me fez pensar: a Espanha destruiu o catolicismo. Seu fanatismo, aquele de Isabel e Fernando, deu ao catolicismo seu caráter cruel. Penso que se a armada espanhola houvesse vencido a Inglaterra, se a tempestade não houvesse afundado a marinha gigantesca da Espanha, o que seria do mundo hoje? Teríamos a vitória do modelo espanhol. Monarquia sem constituição, fanatismo inquisitorial, fidalguia sem trabalho. Os reis católicos ingleses voltariam ao poder, todos os protestantes seriam perseguidos, o caos nas ilhas. A Escócia mandaria na Grã-Bretanha. Este filme não mostra nada disso, mas exibe o que foi a Espanha nos países baixos.
   Claro que pode, e deve, ser feito um paralelo com a URSS sobre a Polônia. O povo polonês massacrado e executado. Mas qualquer outra tirania tem lugar aqui. Cristos foram executados por falarem aquilo que precisava ser dito.
   É um bonito filme. É cheio de ideias e toca fundo quando termina. Mas não é um grande filme. E nisso que falo não há nada de contraditório. Pois ele é mais uma tese, uma obra audio-visual, uma experiência com imagem. Mas não é aquilo que entendo por "grande cinema".
   Espero em breve poder explicar o que seja "grande cinema".
   Em cartaz agora em SP, merece ser visto.
  

REENCONTRO ( RENARD, VELHA RAPOSA )

   Eu ficava olhando aquela capa de papelão grosso. Admirava o azul celeste que emoldurava o desenho. Um leão, pássaros, um galo, carneiro, esquilo e um urso com uma lança à mão. E a raposa que se apresentava nessa cena diante do rei, o Leão. Eu não sabia ler, e então deveria ter menos de seis anos. Minha barriga sobre o tapete, frio, ficava vendo os desenhos nas páginas. Uma casa medieval em meio a neve e a Lua. Um cachorro vestido de camponês. E a raposa, sempre presente, dando golpes, fugindo com seu roubo.
   Depois esse livro desapareceu de casa. Foi um presente de minha madrinha, que se chamava Lourdes. Uma amada madrinha que me mimava com doces e brinquedos. Mas que um dia me dera esse que foi meu primeiro livro.
   Os anos passaram e acabei por descobrir que aquele livro desaparecido deveria ser o famoso "Renard, velha raposa", um livro francês medieval, de autor ignorado e que é considerado um dos textos fundadores da literatura do país. Nunca mais o vi. E, frequentando sebos desde 1992, sempre ia à sessão de livros raros para ver se o reencontrava. Quando arriscava perguntar, a resposta era sempre a mesma: "Jamais o vi". Será que eu sonhara com aquele livro?
   Fosse eu um milionário seria esse o livro que eu iria à caça. Nada de gravuras de Rembrandt ou textos sacros medievais. Seria o meu Renard.
   Minha madrinha morreu velhinha, eu entrei na maturidade e nunca esqueci desse livro número um.
   Um dia...
   Numa manhã chata e sem nada pra fazer, comecei a andar pela Paulista. Desci a Augusta e pensei em ir a uma feira. Mas em vez disso entrei em ruas que não costumo andar. Comprei então um porta-retratos e um livro de poesias de Keats. Já tarde, resolvi, cansado, voltar pra casa. Parei para amarrar o tênis e então olhei uma vitrine. Livros bobos e banais. Me voltei para partir mas meus olhos ainda tiveram tempo de ver uma capa azul... RENARD...era ele! Deus, era ele!!!! O mais procurado dos livros, o primeiro de todos, o impossível, o milagre....RENARD!!!!!
   Entrei na loja, o coração aos pulos. Pedi o livro e disse, "Vou levar!!!" Que importa o preço? Ele vale tudo o que tenho em minhas estantes. Mas estou ansioso. Antes da moça o colocar numa sacola eu o pego nas mãos. Olho, quarenta anos depois, sua capa, a raposa e o leão. Entrego o livro para a moça e finjo olhar outros livros. Escondo meus olhos, com lágrimas.
   Editora Vecchi, Rio, Capital, MCMXLVII....1947....quando o ganhei ele já era antigo....1947, por isso era impossível de o achar, 1947.....
   Volto pra casa e olho cada página. Estranho, lembro de tudo, de cada desenho, de cada forma.
   Obrigado pelo presente outra vez, minha madrinha....

WOODY ALLEN, FLA X FLU E BENJAMIN

    A criatividade cala-se. Converso com um amigo, ontem. Este momento é um daqueles em que a criatividade está relegada a posição secundária. O que importa é o "mundo real", que na verdade ninguém sabe o que é. Um livro só será respeitado se falar da "triste condição humana" e quanto mais cinza melhor. O romantismo/simbolismo em baixa. O realismo/naturalismo em alta. Flaubert acima de Balzac.
   Engraçado o cinema. Aceitamos o "realismo" de Batman ou de Von Trier. Onde esse realismo? Na verdade nossa época é tão deprimida que todo filme down é aceito como real. Mesmo que tenha um tonto fantasiado de morcego ou viagens mentais de um umbigo narcisista. Toda obra cheia da alegre vitalidade da criatividade absoluta será vista com reservas.
   O fato é que as pessoas não estão ocupadas em nascer. Elas se ocupam em não morrer. Isso resume todo o mundo de agora.
   Leio um muito belo texto de João Pereira Coutinho sobre Woody Allen. Ele fala que as pessoas não levam Woody muito a sério porque ele não fez sua grande obra-prima. Ele não tem o filme perfeito. E isso é confirmado pelo próprio Woody Allen, que em entrevista recente, falou que nenhum de seus filmes podem ser comparados aos filmes de seu ídolo, Ingmar Bergman.
   Pois Coutinho diz que não é assim. Woody tem três filmes que podem ser comparados aos melhores Bergmans ( Crimes e Pecados, Manhattan e Hannah ), o problema é que Allen não teve, nunca, uma grande fase. Bergman lançou uma obra-prima atrás da outra durante 14 anos. Foram 17 filmes de alto nível e que mudaram o cinema. Woody, além de nada ter feito que mudasse o cinema, nunca conseguiu fazer mais de dois grandes filmes a cada seis ou sete anos. Mas Coutinho mata a charada ao dizer que na verdade Woody Allen, como um Proust do cinema, fez apenas um único filme, que deve ser dividido em capítulos. Cada filme é um volume de um grande filme, o filme-obra de Woody Allen, um filme único de um artista que começa como humorista satírico, se torna porta voz da inteligência de New York tipica dos anos 70 e depois envereda por traumas Bergmanianos e ironias literárias. Por fim, descobre tardiamente Fellini, e neste milênio faz sua "coda", um colorido panorama do mundo e das figuras mundanas Fellinianas. Uma carreira longa e talvez a mais interessante em seu todo, neste cinema sem direção de hoje.
   Leio também um texto de Jabor que chora o cinema sem alma.
   Ele deve ter lido Benjamin. Troque alma por aura e lá está a teoria de Benjamin. Assim como cinco Fla-Flu por ano destrói qualquer espirito Fla-Flu, filmes feitos para cinema, DVD, internet, PC, TV, acabam com toda chance de culto, de alma, de paixão secreta.
   O nome é Tame Impala. Boa banda de covers.

GLORIOSOS DIAS

   Gloriosos dias!
   O que falo não é nunca por ter lido ou pelo dogma de um mestre ( apesar de ler muito e saber que ler é tomar conhecimento de um ato potencial ). É por sentir na carne que escrevo. Sabendo que jamais conseguirei dizer exatamente o que sinto.
   Glorificados dias! Minha fé diz que é preciso morrer e renascer em vida para poder morrer a morte em paz. Minha mente vê que a vida é toda feita de pequenas mortes e buracos sombrios e que sabedoria é renascer após essa mortezinha. A vida só vale a pena desse modo. A saga particular da morte e vida, vida e morte latente na existência de cada um.
   De Avignon tudo o que vi foram árvores pequenas retorcidas e ruas sujas. E o vento Mistral, que deixa todo mundo acabrunhado e querendo sumir. Lembro do céu azul demais e do cheiro de aniz que impregnava a casa. E das montanhas de sinais de cristianismo muito suspeito. Os anti-papas viveram em Avignon. As seitas gnósticas fizeram de lá seu lar.
   Quando lá estive eu não sabia de nada disso. Senti frio e uma melancolia que me fazia odiar o tempo. Calçadas de pedra eram só calçadas velhas. Eu não sabia as ler.
   Antes eu tivera uma experiência de cigano. Ratos do tamanho de coelhos que ficavam olhando pra mim e mexiam suas patinhas nervosas. Ratos têm cheiro e eles exalavam esse cheiro ao sol do meio-dia. Bosta seca também fedia. Bosta de gente, desidratada ao sol. Aquele lugar tinha apenas isso, ratos, bosta, capim e córregos sujos. E eu, torrando ao sol até esquecer onde eu estava ou o que eu era. O sol me fazia suar e tudo o que eu sabia era do calor que subia e do suor que descia. Cheiros e o leve movimento do capim na brisa que mal existia. Aquelas tardes são renascimentos. Duram para sempre. Minha eternidade habita aquele lugar.
   Gloriosos dias! Enamorado da vida. Solto em mim-mesmo e solto de mim-mesmo. A vida foi criada pela matéria inerte ou a vida criou a matéria inerte? É mais fácil da vida nascer a matéria ou da matéria nascer a vida ? Para haver morte é preciso a vida.
   Então encontro perdido entre meus livros o primeiro volume do Quinteto de Avignon de Durrell. E tudo nele faz sentido. Um escritor daqueles que fazem parte dos buscadores. Dos inquietos. Os indagadores. Os autores que se exilaram ao redor do Mediterrâneo, sentindo lá a origem e fim. Adentro essas páginas e sou preso da febre de ler tudo. Febre ou sonho?
   O nosso erro, radicalmente tolo, é pensar ser a matéria superior a vida.

voce CONHEce GONg ? QUANDO DAEVID ALLEN

daevid allen nasceu na Austrália. E desde sempre foi um beatnik. O que ele Queria/quer/pra sempre é transcender. A CONCIÊNCIA BEAT SABE: O ÚNICO OBJETIVO DA VIDA É TRANSCENDER A REALIDADE E VER-ENTENDER-SABER-SENTIR. Mas o mundo luta contra: daí a arTe.
quando daevid allen saiu da austrália e foi pra inglaterra em 1959 ele sabia que CANTERBURY era o lugar. ( Porque cada nação tem sua alma e a alma da Inglaterra é Canterbury como a da Espanha é Toledo e da França é Avignon.      EM CANTERBURY ele encontrou..........:
Robert Wyatt, que após estudar música fora para a Espanha. Seu objetivo era o de DESCOBRIR A VIDA. Quando Daevid estava em Canterbury eis que Robert Wyatt volta da Espanha e os dois se encontram. Fazem um som: Daevid usa ruídos pré-gravados e Robert declama poemas beat. Outros caras se misturam ao duo. Fazem um tipo de jazz elétrico, um mix de Monk com Ornette Coleman.
vão para LondreS e lá tocam num club de porão. WILLIAM BURROUGHS vai lá uma noite e eles começam a usar uma tal de LSD.
..........................................................PARIS.....................................................................................
eles acham a InglateRRa conservadora. Moram um tempo em IbiZA e lá fazem happenings nas areias com amplo consumo de coisinhas estranhas. depois Vão á Paris e lá fazem experiências com fitas pré-gravadas, ruídos eletrônicos, percussão tribal e poesia surrealista. Um grupo de anarquistas começa a gravitar ao redor do grupo. A proposta: fazer o que vier á cabeça. Tudo será um grande improviso: tanto a vida como o som.
era então 1962.......os beatles ainda estavam em LOVE ME DO. Daevid já planejava o FLYING TEAPOT.
O Gong existe até hoje. E Daevid Allen ainda está em estado de transcendência.
Quando voce vê esse cara em 1973 pirar, aquilo é real. Ele não está "viajando" por influência de um antigo freak cool, ele é esse velho freak cool.
A VIDA COMO ATO DE CRIAÇÃO.
Não é pequeno esse legado desse australiano doido.

GONG "Master Builder" MANCHESTER uk 2010 ( QUANDO DAEVID ALLEN.....)



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Gong - I Never Glid Before - Live 1973 ( QUANDO DAEVID ALLEN.... )



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O FALECIDO MATTIA PASCAL- LUIGI PIRANDELLO, A LIBERDADE EXISTE?

   Mattia Pascal, morador de uma pequena cidade italiana, é dado como morto. Aproveitando-se dessa nova vida, cria uma identidade e viaja pela Europa com dinheiro ganho em jogo. Parando em Roma, acaba por se envolver em estranhas aventuras, que vão de espiritismo à romance, um duelo à um quase suicídio.
   Esse seria o enredo, bastanto reduzido, de Mattia Pascal. Uma comédia, muito engraçada, bastante absurda, que levei anos para resolver ler. Pena ter demorado tanto, que bom tê-lo lido afinal. Pirandello, ganhador do Nobel de 1934, é autor central do século. O absurdo que ele exibia antecipa o absurdo em que vivemos agora.
   O livro pode ser chamado de existencialista. Mattia procura e pensa todo o tempo na liberdade. E descobre que nada pode ser pior. O homem completamente livre se vê totalmente só. Livre das obrigações e das amarras afetivas, livre de rotinas e trabalho, livre de seu nome e de sua história, Mattia tem o que de seu? Quando está livre ele se sente o último dos homens, e quando percebe que sempre será si-mesmo e que portanto a liberdade é uma ilusão, ele se vê como é: um covarde.
   Mattia Pascal foge de tudo. Desde a infãncia, rico e protegio, passando pelo casamento, pobre e infeliz, tudo nele é irresponsabilidade. A única atitude que ele toma é a de fugir. Ele foge de sua vida, foge de um duelo, foge do amor e ganha dinheiro por acaso, em jogo na cidade de Monte Carlo.
   É um livro atual? Muito. Mattia Pascal é um tipico homem moderno, preso e ao mesmo tempo solto, sem compromissos e sem porque. O absurdo da história se perdeu, após décadas de cinema-fantasia, ela irá parecer bastante plausível. Talvez hoje sejamos todos absurdos.
   Pirandello se fez mais famoso no teatro. Suas peças alacançaram imenso sucesso e fizeram escãndalo. Numa estréia ele quase foi surrado pela audiência. Mas este seu romance consegue uma coisa rara. Ser muito sério, muito profundo e ao mesmo tempo ser divertido, cômico, elétrico.
   E o melhor, tem um gostoso sabor italiano, às vezes me lembrou alguma coisa de Monicelli, de Germi e de Totó até. Leia.