seneca, o único filósofo que realmente importa

Na filosofia ( como em qualquer arte ) o que importa está em seu inicio. O que vem depois é diluição. Assim, os pré-socráticos levantaram as únicas questões que importam ( o que sou, do que a vida é feita, o que é a realidade ) e Seneca traz tudo o que interessa em termos de sabedoria e ética. Ler seus escritos é poder jogar toneladas de filósofos no lixo ( incluindo Freud e Nietzsche ) e entender de onde vem muito das religiões práticas dos últimos séculos.
Seneca é básico, qualquer um que se considerar minimamente instruído precisa e deve ler seus escritos.
É isso.

paul newman era um grande cara!

Só hoje escrevo algo sobre Paul.
Para quem o viu em GOLPE DE MESTRE, não preciso dizer que ele era um mestre em interpretar o gaiato, o malandro, o cara esperto.
Para os que adoraram seus vários filmes sérios ( hombre, gata em teto de zinco quente, hud, a cor do dinheiro e ...) sabem que era um ator acima da média.
Mas é na vida pessoal que ele se destaca. Um ator sem escândalos, estável, consciente politicamente, e que ainda era piloto de corridas!
Para quem começou hoje a se ligar em cinema, eu posso dizer que ele tinha a aparência de Brad Pitt com o talento de Tom Hanks e o charme de George Clooney. E um senso de humor que nehum deles tem.
Em 1980, quando o seu maior rival nas telas e nas pistas, Steve McQueen, estava morrendo de cancer, solitário num quarto de hospital ( Steve se queimara com os chefões dos estúdios e tivera a carreira destruída ), bem, sem qualquer propaganda, discreto como sempre, foi Paul Newman quem o visitou. O único do meio a fazer isso.
Um grande cara.

depois da vida, la jetèe, pic nic...

DEPOIS DA VIDA de hirokazu kore-eda
lutei bravamente com este chatíssimo filme japonês. Algo sobre lembranças e vida após a morte. Longos planos que jamais terminam, câmera tremida ou não. Confesso que não entendo se é para ser levado a sério, se é uma homenagem ao cinema, não entendí nada ! Levei 3 dias para o assistir inteiro e não valeu a pena. 2.
OS DUELISTAS de ridley scott. com harvey keitel e keith carradine.
em termos de fotografia, raros filmes são mais bonitos. é a estréia de scott como diretor e talvez seja seu filme mais simples. trata da obsessão de um soldado em limpar sua honra. tudo filmado ao estilo "inglês" de longas tomadas de neblinas, chuvas, campos verdes e amanhecer radioso. 7.
UM ESPÍRITO BAIXOU EM MIM de carl reiner com steve martin e lily tomlin.
se a comédia não fosse o gênero de cinema ( e de teatro também ) mais subestimado, o maravilhoso steve martin teria já seus dois oscars e lily os teria ganhado também ( assim como william powell, cary grant, rosalind russel, jim carrey, gene wilder, carole lombard e tantos outros ). neste delicioso filme, steve abriga a alma de lily. passa não só a abrigar duas almas rivais, como se apaixona por seu lado mulher. façamos justiça a esse ator: quanto prazer ele nos deu! nota 7.
ASAS de william wellman com gary cooper e clara bow.
eis aqui o primeiro ganhador do oscar de melhor filme! as cenas aéreas são muito bonitas. 6.
ANNA CHRISTIE de rouben mamoulian com greta garbo
peça de eugene o'neil. e parece teatro. arrastado, chato, inconvincente. 3.
BLOOM de sean walsh com stephen rea.
creia, este filme é a adaptação para cinema de ulysses de james joyce!!!!! e erra em tudo. ulysses transforma nossa vida banal em epopéia. descreve a vida medíocre de um comum irlandês num mito universal. mostra o eterno no cotidiano, o mágico no real. o filme faz o inverso: mostra o casal do filme como pequenos seres, homenzinhos com seus probleminhas pequeninos. mesmo assim seus monólogos são tão fortes, seus atores tão competentes e tudo é levado com tanta paixão que o filme nos pega. nada a ver com joyce, mas funciona. nota 7.
DAQUI A CEM ANOS de william cameron menzies
este filme criou blade runner. todo filme que mostra o futuro como um lugar de destruição e sujeira, bebeu nesta fonte. é um dos mais desagradáveis filmes que assisti. 6.
FÉ DEMAIS NÃO CHEIRA BEM de richard pearce com steve martin, debra winger, liam neeson e philip seymour hoffman.
chaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaatoooooooooooooooooooooooooooooooooo!!!!!!!!!!!!!!! zero!
GET CARTER de mike hodges com michael caine.
se voce quer saber onde nasceu o filme inglês de sub-mundo, tipo "dois canos" ou "snatch", nasceu aqui, com carter. stallone o refilmou e quebrou a cara. este filme é sórdido!!!!! duro, cruel, espertíssimo e tem uma trilha sonora idêntica a dos filmes do soderbergh. e michael...sublime! foi o cara que mostrou ao mundo que nem todo britânico parecia saído de uma peça de noel coward. assiste correndo. 8.
O CÉU MANDOU ALGUÉM de john ford com john wayne.
desertos, cavalos, o sol se pondo...eis meu paraíso. quando wayne entra em cena eu penso : viva! um ford médio, tranquilo, calmo. dá pena quando termina... nota 8.
MR.SKEFFINGTON de vincent sherman com bette davis e claude rain.
novelona braba. o tipo de filme feito pra mulher dos anos 40 e que é molde para qualquer best-seller banal de hoje. bette está fantástica, mas quando ela não esteve? 4.
DAVID COPPERFIELD de george cukor com wc.fields e um enorme etc incluindo a lindíssima maureen o'sullivan.
transpor o clássico de dickens não é fácil. o livro tem milhares de personagens e centenas de fatos acontecendo todo o tempo. porém... surpresa...o filme se sai maravilhosamente bem! uma delícia de diversão boba, cheia de ação, romance, bons diálogos, atores carismáticos, bela fotografia e um cenário sublime. 8.
PIC NIC de joshua logan com william holden, kim novak, rosalind russell, arthur o'connel e susan strasberg.
um caroneiro-vagabundo chega a pequena cidade e com sua virilidade exuberante desestabiliza todas as relações estabelecidas. peça de imenso sucesso de william inge nesta linda versão ( fotografia do genial james wong-howe ) o elenco dá um show ( menos holden que é muito velho para o papel ). belo filme que tem em ruy castro um fã radical. 7.
O DIABO VESTE PRADA de david frankel com meryl streep e anne hathaway.
como anne é uma atriz muito querida pelos críticos americanos, resolvi finalmente ver este filme. bem...não se trata exatamente de cinema, é um video-clip. a música está sempre em mais evidência que os diálogos, a câmera não pára de girar e correr, os atores não têm nenhum tempo de desenvolver qualquer profundidade em suas atuações e toda cena é feita para agradar e parecer fofinha. quando ela abre mão de miranda pelo namorado insosso- só podemos pensar: vai plantar batatas!- o filme é tolo. nota 3. ( frankel dirigiu agora Marley e eu- dá pra adivinhar os executivo-aqueles caras que são contadores, jamais produtores- pensando: hey! este cara dirigiu um best seller! vamos chamar ele! )
KUNG FU PANDA
que belos cenários! e que saco de desenho irritante! o que faz de uma animação algo memorável é a simpatia de seu personagem central. esse panda é um gordinho-mala! 1.
O DELATOR de john ford com victor mclaglen
este foi o filme que deu o primeiro dos 4 oscars que ford tem. ( record que pensaram que spielberg iria quebrar ). um filme cruel sobre a revolução irlandesa. um show de mclaglen que levou o oscar de ator. escuro, dark até, bastante poético e forte. 7.
INDISCRETA de stanley donen com ingrid bergman e cary grant
olhar para cary e ingrid é sempre um prazer. mas o filme é só isso. os dois namorando numa londres mágica e em apartamentos belíssimos. 4.

ícone

O que faz de um ator um ícone é sua estranheza, não sua excelência.
Qual o maior ícone do cinema? Bogart. Olhe para ele. Feio. Baixo. Careca. Voz de Patolino. Mas... Ele caminhava de um modo que só ele caminhava ( inclinado para frente ), acendia o cigarro e tragava de forma única, tinha o lábio superior paralisado, enfiava as mãos no bolso...
Eram gestos únicos. Podem ser copiados. E quando alguém copia, sabemos: eis Bogey!!!!
Em seu tempo, Henry Fonda, James Stewart, Spencer Tracy eram melhores atores, mas não são mitos, são estrelas; não são esquisitos.
Katharine Hepburn com seu corpo esquálido, seu queixo de pedra, e sua voz que é como cristal desafinado. Tudo nela é freak, desagradável, diferente; e tudo nela é adorável.
Bette Davis com seus olhos enormes, o corpo pequeno e marrento, a voz redonda e muito clara, o andar orgulhoso.
E Marlon? Tudo nele é errado! A voz de pato ( pior que a de Bogey ), ele sussurra, jamais fala; o corpo troncudo-de estivador, a cabeça muito grande, o ar de bissexualismo flagrante. Voce não encontra alguém assim na rua!!!!
Mas voce encontra Jack Lemmon na rua. Gregory Peck ou Kirk Douglas.
John Wayne andava de um modo estranhíssimo! Cambaleando, quase caindo. A voz era sempre autoritária e os olhos quase fechados. Um mito.
Hoje, entre os atores em atividade, potencial para mito há em Johnny Depp, que apesar de imitar Brando, tem certa originalidade e esquisitice só dele.
Jack Nicholson é outro. Ele é todo diferente. Um olhar demoníaco, andar de bêbado, voz fácilmente reconhecível.
O mito se torna mito pelo fato de ser fácilmente reconhecível. Então ele começa a ser imitado por humoristas. Depois nas escolas por jovens atores. E surgem os discípulos. E eis o mito.
De Niro e Pacino não são mitos por serem da escola Brando. Clint não o é por ser da corrente Gary Cooper. Penn e Cage são da linha Pacino ( ou seja, terceira mão ) e por aí vai.
A maioria dos mitos é do cinema antigo pelo fato óbvio de que num meio em que tudo ainda estava por fazer, ser o primeiro a tentar e obter era muito mais natural.
Como acontece hoje na música, ser original após tanta produção se torna muito difícil.
A SOLUÇÃO SERIA DEIXAR O PÚBLICO BEM IGNORANTE! SE VOCE DESCONHECER O PASSADO, TUDO LHE PARECERÁ ORIGINAL!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

o lugar do pai

Não é fácil.
Recordo um poema de Seamus Heaney. Ele diz que o pai se foi, e o bastão agora é dele.
É exatamente essa a sensação. O bastão pesa. Dá poder. E dor. Agora eu defendo a família. Agora posso ser como ele. Me pego com seus trejeitos, suas piadas. As repito. Me observo orgulhoso de minha origem. Meu sangue, meu sotaque.
Mas não é simples.
Um iluminado como Ozu passou trinta filmes descrevendo esses laços, essas transições, esses dramas discretos.
Nada é mais importante.

paul auster e 4 filmes

Em seu novo livro ( Paul Auster é um autor que eu simpatizo, quero gostar mas não consigo. Eu o acho brigado com a vida, pouco criativo, quase enfadonho ); mas como eu ia dizendo, no seu livro ele tem uma bela sacada: Grandes filmes dão vida a objetos. E para provar isso ele cita 4 filmes ( que são seus favoritos e dos quais um está entre meus favoritos ).
Ladrões de Bicicleta, A Regra do Jogo, Apu e Contos de Tokyo.
No filme de De Sica, ele descreve magnificamente o início da fita. A esposa carregando dois estafantes baldes de água. O marido pega apenas um. Depois a esposa leva os lençóis da família para o prego. A câmera se afasta e vemos centenas de lençóis no prego. A relação do casal e a situação de Roma no pós-guerra mostradas por objetos mudos.
Na obra de Renoir, os pratos sujos abandonados sobre a mesa, evocando a solidão da amante abandonada.
Em Satijad Ray, a troca de cortinas no quarto do casal e o grampo de cabelo acariciado pelo noivo, como provas de um casal que se ama.
E no poema fílmico de Ozu, todo o filme é uma ode aos objetos, ao silêncio e ao fato de que numa família não existem culpados, sómente vítimas.
Quatro grandes filmes, que como Auster diz, aproximam o cinema da literatura, dos contos de Tolstoi ou da grandeza de Stendhal.

revolucionários de verdade

Em 1981, diz o líder do Run-DMC, ele e seus amigos foram em NY assistir um show do Kraftwerk. O que viram naquela noite mudou sua vida para sempre.
Saíram daquele clube com um novo conceito de som e de show. Não era mais necessário ter uma banda, não era necessário fazer um show com instrumentistas. Tudo era possível e nada era obrigatório.
O século xxi nasceu em Dusseldorf com o Kraftwerk. No show de 81, os 4 integrantes, de pé com sua maquinária, apertavam botões em lugar de tocar instrumentos. Um telão ao fundo mostrava imagens aleatórias e o palco era ocupado por máquinas. Nada de suor, gritos ou reis da guitarra.
Na história do pop pós Elvis, só existiram duas bandas profundamente inovadoras : O Velvet Underground e o Kraftwerk.
O Velvet mostrou que para fazer um som de alto valor não é preciso tocar bem. Trouxe o ruído, o inesperado, o desagradável e o doentio para o pop. E os alemães mostraram que guitarras e percussão eram desnecessárias.
Ambos foram heróicos. Do Velvet veio desde Stooges até White Stripes. Do Kraftwerk veio do Grandmaster Flash até os vários estilos eletrônicos de hoje.
Procure o tal show no Tube : Kraftwerk- pocket calculator; e depois veja o nascimento do mundo atual em 1980, com Grandmaster Flash e os Furious Five com planet rock. Delire!

O tempo e o viver hoje

Quando os primeiros trens rodaram pelos campos ingleses, as pessoas enlouqueciam com seus 20 quilômetros horários. Sentiam que sua percepção de espaço e de tempo se modificava. A vida não poderia ser a mesma de antes, mas seus sentidos eram os de sempre.
Veio o cinema, onde tudo acontece depressa e mesmo o tédio é editado para se parecer com um tipo de " tédio com interesse ". Surgiu a tv e então tínhamos dentro da sala e do quarto a noção do tempo fragmentado, sem silêncio nenhum, sem reflexão ou morosidade. E a possibilidade de fugir de tudo que significasse perigo, estranhamento, chatice.
Mas nossa alma e nosso cérebro não acompanharam essa velocidade. A Terra continua nos dando 24 horas para dormir e viver, continuamos a envelhecer e morrer e a gravidez dura 9 meses. Porém estamos eletrizados numa adrenalina visual, num hipnotismo anti-relaxante, numa euforia deprimida e deprimente. O ritmo da vida ( estações, marés, ventos, crescimento das plantas, cios dos animais ) se divorciou do ritmo que nós pensamos ou procuramos ter. É como se fôssemos cavalos que pensam ser Ferraris e vivem obrigados a ser nem o animal e nunca a máquina.
É impossível imaginar que cem anos atrás era possível conhecer apenas a velocidade de locomoção de um animal. Que uma pessoa pudesse jamais ter visto qualquer imagem do espaço, de um massacre ou de vísceras expostas. Hoje podemos assistir tudo, mas fixamos e vivenciamos quase nada.
A descoberta do sexo era um terrível mistério, hoje ele é banalizado em horas e horas de vídeos pornôs que transformam o ato sexual em ginástica exibicionista e levemente tediosa.
E o tempo, o mais natural fator de existência, passa a ser um inimigo, que não pode ser editado, retardado, deletado, preenchido, como ele é no cinema ou na tv. Perdemos o dom da paciência, não dançamos conforme as estações e tememos sua passagem. Minha rua não existe mais, minha escola foi demolida, meus amigos moram em Paris e minha ex mudou seu rosto com vinte cirurgias e se tornou uma boneca que não me comove mais.
Onde eu fico ? O que recorda e afirma o que sou ? Meus rastros foram todos varridos. Editados. Mudaram de canal e estou fora do ar. É esta a vida possível : a absoluta perplexidade, a total descartabilidade.

séries de tv

Começo contando que Seinfeld foi eleita mais uma vez a melhor série da história. O que penso disso? Vamos ao que acho.
Toda arte melhora com o tempo. O David de Michelangelo parece melhor a cada século, as cantatas de Bach têm mais magnitude hoje do que em seu momento e Shakespeare é mais analisado a cada década.
Tv é produto e produto tem data de validade. Consumir antes que seu tempo se vá.
Recordo das várias decepções que experimentei ao rever séries que eu tanto amei. Coisas como Ultraman, que hoje parece tão entediante; Monkees que não são engraçados ( mas as músicas são para sempre ) ou Jeannie é um gênio, Kung Fu, As Panteras; todos insuportáveis.
Mas ao rever A Feiticeira encontro um encanto que na época em que a assistia ( ainda criança ), jamais percebí. Descubro o talento superlativo de Peter Falk fazendo Columbo e de Telly Savalas como Kojak. Essa permanencia de algumas poucas séries faz delas algo quase mágico, raro, muito especial.
Considero Seinfeld o mais criativo texto de toda história da tv. Tudo nele parece inesperado, os enredos sempre se dirigem ao desastre total e seus personagens são absolutamente cativantes; mesmo sendo feios, neuróticos e egoístas. Mas não sei se é a melhor série.
Um Amor de Família era mais engraçada, anárquica, cínica. Alguns momentos eram realmente ousados, cruéis, arriscados. Frasier era agradabilissima, bateu recordes de prêmios e possui o melhor último episódio da história da tv. Mary Tyler Moore não envelheceu nada. Seus personagens são apaixonantes e a abertura é linda. Os dois primeiros anos de Will and Grace são hilários, assim como o primeiro ano de That's 70's Show.
Monk é uma boa série, House tem um bom ator e My Name is Earl é muito bom. John Doe merecia ter durado e Carnivale era bacaninha. Mas duvido que 24 horas ou Lost sejam assistidas em 2020.
Alguém aguenta rever Barrados no Baile ou Dinastia ? Mas Waltons é uma delícia e Agente 86 ainda é passável. Perdidos no Espaço faz dormir, mas Starsky e Hutch são ótimos.
Como saber então o que sobreviverá ? Qual a série que não nos deixará com vergonha de ter gostado tanto e jogado noites no lixo diante da tv ? Ninguém pode saber.
Anos Incríveis...eis uma série com algo de mágico...

MAMMA MIA!/MYRNA LOY/POWELL/PETER WEIR

Freeway de mathew bright
o que leva alguém a fazer tamanho lixo? feito por imbecis e recomendado a retardados.
Pic nic na montanha encantada de peter weir
primeiro filme da digna carreira de weir. e que filme! é de longe seu melhor trabalho e o assistí por recomendação do grande crítico roger ebbert. muita sensualidade ( sem nenhuma nudez ), na história de uma excursão escolar onde 3 alunas desaparecem. a austrália nunca foi filmada de modo mais bonito e mais assustador. o filme tem algo de muito oriental, muito ancestral, muito profundo mas é de uma simplicidade chocante. nota 8.
Ensaio sobre a cegueira de meirelles.
fui raptado e levado ao cinema para assistir esta coisa enfadonha. excelente sonífero de um diretor que se revela um grande chato. cidade de deus foi um acidente ( talvez seus méritos fossem unicamente a fotografia e a edição ). nota zero.
Linha de passe de walter salles.
o cinema de salles é extremamente conservador. ele faz filmes que remetem a de sica e o bunuel do méxico. em seu cinema nada surpreende, todos são bacanas e de coração puro ( mesmo os maus têm pureza ). ele é um disney dos estudantes de sociologia. nota 3.
Longe dela de sarah polley com julie christie.
maravilhoso. polley dirige com maestria este filme de tema tão duro e tratado de maneira sóbria e adulta. podem escrever : assim como previ que keira knightley era a nova meryl streep ( oscars certos no futuro próximo ) e que joe wright é um diretor que construirá uma grande obra; prevejo um futuro brilhante para esta ótima diretora. julie dá show, mas isto é o esperado. nota 7.
Mamma mia!!!! philida lloyd com meryl streep
que delícia! existir um filme como este é um atestado de que as pessoas ainda sabem sorrir. que prazer ver meryl atuar! como ela é maravilhosa, uma atriz que nos deu tanto!!! que bela banda pop o abba foi e que maravilhosa ironia eles serem tão cult enquanto rush, genesis e yes estão totalmente esquecidos. o filme é chacrinha em seus melhores dias. nota 7.
O centro do mundo de wayne wang
gosto muito dos filmes de wang. mas este... insuportávelmente maneiroso. nota 1.
Desejo voce de michael winterbotton com rachel weisz
este diretor tem algum talento, mas para seu mal ele carrega os piores vícios de sua ( minha ) geração: preguiça, pretensão, muita tv e pouco livro. este filme tem os primeiros 30 minutos muito bons, mas ele é tomado pela falta de convicção e naufraga em tédio mortal. nota 4.
Uma leitora particular de michel deville com miou-miou
afetadíssima fita de arte sobre o prazer erótico que há na leitura. nota 2.
Casado com minha noiva de jack conway com jean harlow, spencer tracy, clarck gable e myrna loy.
um jornalista inventa uma história falsa sobre herdeira. temendo o processo, ele faz com que essa falsa notícia se torne verdade. para isso contrata um malandro que deverá seduzir a herdeira. era este tipo de bobagem que roteiristas geniais transformavam em deliciosas comédias nos anos 30. tudo acontece em ritmo de correria, as falas são vomitadas como metralhadoras e os atores fazem aquilo que seus fâs esperam: harlow é bonita e burrinha, spencer é agressivo e frio, powell é fino e levemente alcoolizado e loy é linda e esperta. diversão garantida para quem procura escapismo inteligente. nota 8.
Contos de hoffmann de michael powell.
powell é o diretor que martin scorsese mais admira. e é, ao mesmo tempo, o menos parecido com martin. durante os anos 40/50, powell fez uma série de maravilhosos filmes fantasiosos na inglaterra. filmes caros, luxuosos, metidos a grande arte e que nos anos 60/70 se tornaram símbolo de tudo aquilo que o cinema não deveria ser: gigantesco. Na década de 80, scorsese promoveu uma mostra no moma de seus filmes e nasceu aí a recuperação do nome de michael powell. hoje ele é considerado um dos grandes e o melhor cineasta que a inglaterra já possuiu ( visto que hitchcock é apátrida ). este filme é a transposicção de uma estupenda ópera para a tela. sim! uma ópera. filmado em forma de sonho, com a fotografia maravilhosa que powell sempre apresenta, o filme é um longo poema sobre a dor de amar. nos dá um imenso prazer, uma euforia visual e a sensação de atemporalidade absoluta. lindo, antiquado, datado e arrogantemente metido. soberbo. nota dez.

cary grant, george clooney e clarck gable

Quem já assistiu algum filme de Cary Grant sabe do que falo. Ele parecia ter nascido dentro de um terno feito sob medida. Tudo nele era pura elegancia. Nunca afetado, sempre simples.
As mulheres o adoravam porque ele parecia ser protetor, adulto, confiável. Era bonitão, mas não tinha traços femininos. Jamais corria atrás das mulheres, parecia não precisar delas, parecia poder viver bem e ser feliz sem ninguém. Passava a imagem de alguém que sabe viver, sabe ter prazer, mas sempre com discrição, suavidade, tato.
Muita gente diz que George Clooney é a reedição de Grant.
Realmente ele tem o mesmo queixo, usa bem ternos sob medida, não ostenta sua natural elegancia e envelhece sem drama algum. Mas ele tem uma certa infantilidade que Cary jamais exibiu. Clooney é muito mais um Clarck Gable, mais macho que Grant, menos suave e um pouco desleixado.
De qualquer modo, George Clooney é o único ator com menos de 50 anos que une elegancia a virilidade, boas atuações com charme inteligente, um certo " não estou nem aí " que nele parece autentico.
Os outros atores de sua geração parecem muito pouco viris se comparados a ele ( Depp, Keanu, Pitt ) ou destituídos de qualquer sombra de atração ( Hanks, Carrey, Spader ).
Ele é uma anomalia neste tempo em que todo ator fala grunhindo, se veste como um pedreiro e se comporta como um presidiário.

quando voce cresce

Quando voce cresce as mulheres não te assustam mais. Aquela raiva impotente que voce sentia sempre, e exibia em forma de petulância inutil desaparecem. Voce não grita como gritava e passa a procurar a qualidade e não a quantidade.
Novidades só irão lhe seduzir se forem absolutamente originais e não a repetição do velho travestido em maneirismos cheios de botox. Voce quer o que vale a pena, o que é bonito, bom, durável.
Quando voce cresce aprende a escutar e a olhar. O brilho fácil perde seu encanto e o ruído se mostra aquilo que sempre foi: nada.
Nessa hora o rock se torna outra coisa. Deixa de ser uma ansiedade surda e se torna um prazer sensorial. Voce descobre o que realmente importa.
Se voce conseguir largar parte da adolescencia, é nessa hora que voce percebe que a música é muito mais que o pop dos moderninhos ou a saudade do punk dos 70.
A música é um universo e o rock/soul/eletro, o pop enfim, é apenas um planeta desse universo. Um maravilhoso planetinha, feito de ruído, ritmo e nervosismo, mas apenas um ponto em meio ao infinito.
Voce descobre a canção. A canção americana criada no começo do século vinte. A música que é simplesmente música. Que é bonita, bem feita, adulta. Que seduz, jamais estupra; que chama e nunca berra; que pensa mas não se exibe.
Se apaixonará pela extrema elegancia de Cole Porter com suas rimas inesperadas, seus paraísos de navios, champagnes, caviar e praias vazias. Um mundo se tuxedos, sedas, ressacas e amores perdidos. E voce sentirá prazer por envelhecer, gosto por saber viver e admiração pela inteligencia com brilho, com finesse, pelo chic.
Descobrirá que Gershwin era um gênio da melodia, que quando ele canta o amor voce ama aquilo que ele canta. Vai perceber que a música não foi criada para gritar ou pular. Música é acasalamento-sedução.
Voce vai se apaixonar pela voz de Fred Astaire, com seu fraseado perfeito, uma voz que faz de qualquer cantor um plebeu. Uma voz que te leva para o mundo da pura fantasia.Vai vibrar com as vozes de Nat King Cole, Joe Willians, Mel Tormé, Bing, Dean, Ella, Billie, Sarah, Johnny...
E então, e só então, voce terá o privilégio de compreender aquilo que Frank diz, aquilo que Frank viveu, aquilo que O HOMEM sentiu. E vai notar que todos ( Elvis, Paul, Dylan, Lou, Bowie ) eram meninos e que Frank é UM HOMEM.
Bem vindo.

anos 30

Conversando com minha amiga Marília ( grande fã do cinema dos anos 70 ), tomo consciencia do prazer imenso que devo ao cinema dos anos 30. Sim, dos 30! Pois assim como o melhor teatro foi escrito entre os séculos xvi e xvii e a melhor filosofia pelos gregos de séculos antes de Cristo; o cinema mais prazeroso foi feito em sua tenra juventude.
Bastaria dizer que foi nos 30 que se filmou o que vale a pena dos irmãos Marx ( e quem não idolatra Groucho, Chico e Harpo é um cretino ao cubo ). Mas os 30 ainda têm W C Fields, Mae West, Lauel e Hardy e os filmes de horror da Universal.
É a década de Fred Astaire e de Busby Berkeley; das screwball comedies de Hawks, MacCarey e Stevens; da elegância de Cary Grant e Gary Cooper; das loucuras kitsch de Von Sternberg; dos filmes de gangster da Warner com Cagney, Robinson e Raft; do melhor Tarzan; dos mais fortes Lang; dos sofisticados Lubistsch e Mamoulian; do começo sério de John Ford e do Hitchcock inglês; Chaplin faz seus melhores filmes e temos Capra e Clair.
É aqui que a série do Pernalonga nasce e Betty Boop, Disney e Popeye. Um cinema adulto, alegre, vivo, muito inteligente, ágil, inspirador. Tempo de Gable, Harlow, Garbo, James Stewart e Henry Fonda, Bette Davis e Kate, Spencer Tracy, Errol Flynn criando os filmes de piratas, Marlene, William Powell e Barrymore, Myrna Loy, Bogart e tanta gente mais... ou melhor, tantos mitos...pois são os 30 o Olimpo do cinema, o mundo dos ícones, dos modelos eternos, do Forever and Ever...

a primeira noite de tranquilidade

Ele é um novo professor. Começa a dar aulas numa nova escola. Ele é niilista. Em sua primeira aula diz que os comunistas são insuportáveis e os fascistas idiotas ( isso em um tempo 72, em que todo italiano do bem era obrigado a ser comuna ). Nessa escola ele se apaixona e tem caso com aluna. Ela é uma prostituta de luxo. Suicida. Bela como o impossível.
Ele é Alain Delon. Seu professor é feito com um olhar de Stendhal e uma voz com ecos de Proust. Caminha para o absoluto desastre, e não se importa com isso. Tudo em sua impressionante atuação diz : a vida nada vale... E tudo em sua atuação nos seduz.
Valerio Zurlini, o poeta da desesperança, dirigiu este poema em forma de cinema. Lindo, triste, doído. Sonia Petrova faz a aluna. Uma jovem que consegue ser mais triste que o professor. Mas não pense que o filme é deprimente ou choroso. Nenhuma lágrima. nenhuma reclamação, nenhum gesto de desespero. Melancolia confortável.
Um filme para se guardar no peito e se rever por toda a vida e com um final perfeito.

RENOIR/LOLITA/TRUFFAUT/KIRK DOUGLAS/LUMET

MULHER COBRA de robert siodmak
um clássico kitsch, referencia para Almodovar e filmes como Hairspray. os atores são hilários de tão ruins, os cenários são dignos da Imperatriz Leopoldinense e a história fala sobre maldições, erotismo e mitos. nota 1.
POSSUÍDOS de william friedkin
ashley judd no quase pior filme de todos os tempos. um filme que ofende qualquer inteligência mediana, com seu mix de modernices vazias, sustos previsíveis e diálogos de retardados. ZERO.
A CARRUAGEM DE OURO de jean renoir com anna magnani.
de todos os grandes é renoir o mais hiper-valorizado. seus filmes são bons, a regra do jogo é excelente, mas jean jamais é um gênio como muitos dizem. este é um filme de bela fotografia, humor leve e festeiro e com bonita mensagem pró-liberdade. mas não é genial ou especial. 6.
LOLITA de stanley kubrick com james mason, peter sellers, shelley winters e sue lyon.
todo aspecto político do delicioso livro de nabokov inexiste neste freudiano filme de kubrick. inexiste o humor que faz do livro uma obra genial e divertida, inexiste o barroquismo da linguagem do dandy nabokov, o que resta? uma lolita velha demais ( no livro ela tem 12 aparentando 11, aqui parece ter 17 ), um james mason sublime ( ele carrega o difícil personagem com leveza e humor- deve ter lido e entendido o livro ), um sellers asqueroso ( ter perdido o oscar é um vexame do prêmio ) e um clima geral de pesadelo e paranóia que o romance não tem.
mesmo com esses senões, é um filme adulto, bonito e que hipnotiza ( te conduz a algum lugar). 7.
O GAROTO SELVAGEM de truffaut.
seco e simples, truffaut dá a sensação de ter feito algo como um documentário de uma época em que não existia o cinema. nestor almendros dá um show de fotografia. 4.
DUELO AO SOL de king vidor com jennifer jones e gregory peck.
é western portanto é bom. uma ópera a cavalo, um história que beira o ridículo em seu exagero de taras e emoção. jennifer jones chegava a ser um crime de tão bonita e peck está ruim como sempre. mas se vê com prazer... nota 5.
ELEIÇÃO de alexander payne.
payne, coen, burton, hanson, wenders, clint, ridley, scorsese, wall e, o cinema de hoje tem alguns nomes interessantes, seu maior problema são atores ( muitos poucos tem algum carisma, o que abre campo para absolutas nulidades ) e o público atual, que não tem nenhuma sofisticação cinematográfica. este filme, com a maravilhosa reese witherspoon ( tenho um caso de paixão com ela- a melhor comediante de sua geração ) é uma diversão para adolescentes que- milagre- não fede a burrice e histeria. seu único defeito é que sua vilã ( reese ) que deveria ser irritante se torna adorável. nota 6.
MARCHA DE HERÓIS de john ford com john wayne e william holden.
o homero do cinema em filme menor. mas um filme menor de ford é um filme gigantesco para qualquer outro diretor. aqui ele trabalha com sua mitologia de heroísmo, liberdade e solidão. wayne está especialmente bem. filme para quem sabe o que significa uma palavra como virilidade. 7.
MACBETH de orson welles
talvez esta seja a melhor adaptação de shakespeare para a tela. um filme muito barato, um cenário apenas, poucos atores. sombras e escuridão, movimentos exatos de camera, falas claras e bem ditas, clima e emoção. uma aula de requinte, de cuidado, de perfeição. jeanette nolan como lady macbeth chega a arrepiar. 8.
ROMANCE E CIGARROS de john turturro com james gandolfini, kate winslet, susan sarandon. alguém precisa avisar kate que seu tipinho sujo já deu. ela faz sempre o mesmo personagem ( a gorducha gostosa ). este é um musical chato, vazio, pesadão, insuportável. ZERO.
EQUUS de sidney lumet com richard burton e peter firth.
lumet sabia filmar neuroses. este texto de shaffer foi imenso sucesso teatral em todo o mundo ( aqui feito por paulo autran e ewerton de castro ). burton está meio sonolento, mas sua voz era tão poderosa que ele leva o duro personagem do analista cansado com facilidade. um filme obrigatório para psicólogos, filósofos ou cinemamaníacos. um filme do tempo em que havia público sério para filmes simples, sem enfeites desnecessários. uma delícia intelectual. 7.
A SEREIA DO MISSISSIPI de truffaut com jean paul belmondo e catherine deneuve.
françois truffaut era fanático por hitchcock e aqui tenta fazer um filme de hitch. tenta criar um clima de vertigo. erra feio e dá vexame. o filme ´e aquilo que o mestre alfred nunca foi- chato. 1.
CAR WASH de michael schultz.
filme barato de latinos e negros dos loucos anos 70. a trilha sonora tem um arraso de ritmo e tudo aquilo que os filmes de tarantino e soderberg têm: funky. 3.
FUGA ALUCINADA de john hough com peter fonda.
um sub- vanishing point. 3.

carta de uma desconhecida-max ophuls

A câmera voa, roda, baila e flerta com os atores.
O filme, feito por Ophuls ( voce conhece esse austríaco? o mais romantico dos diretores? o mais sofisticado, elegante, nobre, que é capaz de fazer Visconti parecer vulgar? ), bem, voltando, o filme feito por Max Ophuls baseado em conto de Stefan Szweig, fala de um amor irrealisado e se passa na Viena de 1903.
Assistimos a bengalas com castão de prata, carruagens que correm pela chuva sobre calçadas de granito, chás entre espelhos de cristal e veludos da Bélgica, cartas em bicos de pena à luz de gás, vestidos de seda e cartolas negras, luvas retiradas e cigarros acesos...e pensamos que ainda hoje todo o nosso imaginário do amor-sublime está intimamente ligado à essas noites escuras, às sombras de velas, escadarias secretas e peles pálidas entrvistas em decotes discretos.
O filme é uma delícia para os românticos, para os sonhadores, para os literatos, para os fora de moda e fora de esquadro ( Ophuls foi um diretor cheio de lutas, incompreensão e dor, seus filmes em seu tempo eram considerados pesados e exagerados- hoje ele é considerado um mestre- leve, fluido e romantico ).
Fácil de assistir, ele deixa uma vontade de ver de novo e viver mais um pouquinho naquele universo de frases bonitas, ruas bonitas, chuvas bonitas e luzes tão tristes...

A MULHER DE AREIA DE TESHIGAHARA

Feito em 1965, A MULHER DE AREIA de Hiroshi Teshigahara, venceu a palma de ouro daquele ano e concorreu a dois Oscars. Vamos ao filme.
Um homem anda pela areia. Ele coleta insetos para sua coleção. Se hospeda numa casa que fica num buraco, entre as dunas. Lá vive uma viúva, só. Ele se torna um prisioneiro.
O filme é longo, imperfeito, difícil e cheio de grandes e muito fortes cenas.
Primeiro sua fotografia. Areia, cabelos e peles filmadas em detalhes gigantescos dando ao filme um erotismo absurdo. Nós quase sentimos o cheiro dos corpos, quase tocamos o suor que escorre, parece possível tocar as peles que são lavadas, arranhadas e mordidas por todo o filme.
Os atores, Eiji Okada e Kyoko Kishida dão um show de raiva e de sexualidade pura. Raras vezes assisti filme mais erótico.
A música vanguardista de Toru Takemitsu é de uma inesgotável complexidade, preenchendo a fita de climas e momentos impressionantes.
É um filme que excita para em seguida assustar. E é uma alegoria perfeita sobre o sentido do trabalho e da função do homem na Terra.
Único.

A PAIXÃO DE JOANA D'ARC-O QUE É ISTO?

Foi Jean Cocteau quem disse que A PAIXÃO DE JOANA DARC de Dreyer é um filme que parece ter sido feito no tempo em que o cinema não existia. Pois eu digo que Dreyer não faz cinema. Ele faz um outro tipo de arte, uma arte tão original, tão moderna, tão radical que ainda não foi nomeada.
Durante 3/4 do filme o que vemos são paredes brancas e rostos em super-close. Joana, muito jovem, muito crente, muito indefesa, é cruelmente massacrada por inquisidores balofos e machistas. Dreyer usa como roteiro os autos do processo real e isso dá ao filme algo de documentário e de perversamente doido.
A fotografia, de Rudolph Maté, é de um glorioso branco e no final, a cena da fogueira tem o mais belo fogo que já ví.
Falconetti tem aqui aquela que é considerada a mais fantástica atuação feminina da história e o que posso dizer é que chorei ao vê-la perceber, com um olhar apenas, seu final inevitável. Joana sente medo, e nós sentimos com ela.
Carl Dreyer se interessou por apenas um assunto: Deus. Todos os seus filmes falam disso: Deus, o mal, a fé, a dor. Ele foi um bruxo, um louco, um poeta, um Homem. Joana é um soco na boca, um filme poderoso, duro, cruel e absolutamente incomparável em sua originalidade rica e bela. Sua montagem, em que os cortes são velozes, a câmera sempre se movendo em horizontal, os atores berrando e rindo, Joana suplicando e chorando, as portas parecendo fugir e diminuir... é fascinante.
No mais assisti finalmente este mítico filme numa cópia sem trilha sonora e com cartelas em francês. Mesmo assim seus 80 minutos pareceram 20 e me sentí completamente arrasado por sua força. OBRIGATÓRIO para quem se importa com os mistérios da vida e a dor de ser.

O MAIS PERFEITO DOS FILMES-REAR WINDOW

Raras vezes assistimos a algum filme perfeito. Ocasionalmente o filme pode ser genial, sublime, divertido, mas ele sempre apresenta falhas. Momentos de tédio, tomadas inúteis, frases dispensáveis.
JANELA INDISCRETA não tem um só momento fraco. Desde sua abertura, até seu final perfeito, tudo é feito com precisão, com sabedoria, com maestria.
O som, sem trilha sonora-mas com ruídos e trechos de melodias-que lembra Tati, é perfeito. O cenário, um apartamento e o prédio em frente- é fascinante. As histórias vistas nas janelas e jardins- são tão cativantes que dariam vários outros filmes. Mas este, este filme é absolutamente prazeroso. Torcemos para que não termine.
James Stewart é um fotógrafo solteiro que convalesce com a perna quebrada. Ele é obviamente impotente. Grace Kelly ( sua entrada em cena é A MAIS LINDA IMAGEM FEMININA DO CINEMA ) flerta com ele, o seduz, o conquista. As cenas entre os dois são leves, sofisticadas, cheias de humor e com subtramas de raiva e dor. ( O filme é alegre, mas tem algo de neurótico por trás ). Stewart se agarra em sua solteirice e se envolve com as janelas ( cinemas ? ).
O final, irônico, é de uma riqueza perfeita, e todo o filme prescinde de falas, poderia ser um filme mudo. Stewart agora tem duas pernas engessadas e Grace, linda como o impossível, comanda o apartamento.
Quem mais poderia fazer um filme pop onde as mulheres são víboras, os homens são impotentes e seu único cenário é flagrantemente falso ?
Hitchcock é cinema e o amor à Hitch é a prova final de todo/qualquer cinéfilo.

O AMOR É SEMPRE MENTIROSO-VERTIGO

O melhor dos diretores ( aquele que fazia grande arte e comércio pop ao mesmo tempo ), dá em VERTIGO o mais devastador retrato sobre a ilusão do amor.
Não contarei sua história para não adiantar sua magia. Direi no entanto, que jamais uma cidade foi mais bonita que a SanFran do filme, com seus azuis e amarelos da primeira parte "sonhadora" e seus neuróticos verdes e cinzas da segunda parte. O filme, quase sem diálogos, é como um sonho-alucinógeno, e nos faz realmente sentir o que seu protagonista sente.
Pierre Boulez disse que a trilha sonora deste filme ( bernard herrman ) é a mais perfeita da história cinematográfica. Não sei se ela é, mas direi que ela é hipnótica, wagneriana, obsessiva, inesquecível.
James Stewart tem aqui aquela que é possivelmente a melhor atuação já vista. Ele passa, na hesitação de sua voz, no olhar ansioso, toda a carência, todo o amor do personagem. Sua sina, seu futuro vazio, o seu medo.
Como todo filme de Hitch, o crime é mero pretexto para sua profunda análise da doença humana, das taras e psicoses, das dores e mentiras do mundo. E tudo isso, que em outras mãos se transformaria em arte hermética e obscura, com Hitch se torna diversão simples, direta, nítida e nada pedante, porém, profunda.
Suas cenas recordam muito TAXI DRIVER, a personagem feminina mostra um desamparo tocante e é este o filme que deixa mais clara a afinidade que Bunuel sentia por Hitchcock.
Seu final, trágico-imperfeito-abrupto-louco e vazio, é dos mais cruéis já filmados e ficamos sentindo a mesma dor absurda de Stewart.
Inesquecível, ele nos faz pensar muito. Nas mentiras do amor, na ilusão que criamos para nós mesmos, na busca inutil pela perfeição, e na música irresistível dessa ilusão.
Um dos maiores filmes já feitos e sem dúvida é este o mais moderno e influente dos filmes.
Hitchcock é o cara.

o filme mais sinfônico-FANNY E ALEXANDER

Bergman realizou FANNY em 1983. É seu testamento, seu último filme para cinema, seu legado ( como bom pessimista, ele imaginou estar perto do fim. Ainda viveu 24 anos...).
O filme é uma perfeita sinfonia e se a grande arte sempre aspira a ser música, Fanny é arte perfeita.
Ele começa em acordes leves e vagos, cresce em festa de sons harmônicos e coloridos, irrompe fortíssimo em graves dissonancias lúgubres e se encerra numa coda cheia de fúria, magia e mistério.
Mas do que fala o gênio, o mestre, o mais inteligente dos cineastas ?
Da luta entre alegria e dor, da disputa entre liberdade e repressão, saúde e neurose, arte e religião, fantasia e tédio, Deus e o homem. É um compêndio de todos seus filmes anteriores, de todas as suas dores e alegrias e recorda muito Shakespeare- A Tempestade ( um mago recontando sua obra e sua magia ).
Raras vezes um filme mostrou cenários tão ricos em beleza e complexidade, raras vezes tantos atores foram melhor dirigidos ( o final, quando se fala da gratidão aos atores é de se aplaudir de joelhos ), raras vezes um filme foi melhor.
Bergman captura nosso cérebro e o leva para uma viagem. Através do olhar de um menino ( Alexander ) assistimos seu crescimento, suas dores, sua revolta e seu maravilhoso humor ( o filme tem duas das falas mais hilárias já vistas ). Nos apaixonamos por sua família, odiamos certos agregados e tememos seu destino. Tudo em ritmo perfeito, uma variação entre cenas longas e curtas, movimentos elaborados de câmera ou fixidez formal, solos ( monólogos ) ou grupos de até vinte atores atuando em grupo ( coisa que hoje ninguém mais tenta ).
Tudo está neste filme. Comédia amarga e drama insuportável. Citações de PERSONA, GRITOS E SUSSURROS, MONIKA, MORANGOS SILVESTRES, O ROSTO... estão presentes os atores que aprendemos a amar, a fotografia do mestre Sven Nykvyst, a música de Schumann e Britten, as preocupações do cineasta que melhor representou a dor do mundo moderno.
É estranho o fato de que meus cineastas favoritos sejam Kurosawa, Hitchcock, Hawks, Ford, Murnau, Lang... mas é Bergman que fala, pensa e mostra aquilo que vivo, penso e gostaria de expressar. Não sei se ele foi o melhor dos diretores, não sei se ele sobreviverá neste mundo cada vez mais acéfalo; mas ele conseguiu fazer do cinema UMA ARTE NOBRE, nobre como Shakespeare, Mozart, Shelley e Rembrandt.
FANNY E ALEXANDER é obrigatório para qualquer amante da vida, do cinema, da cor. Ele é estranhamente feliz, alegre, vivo e subitamente trágico. Nietszche.
Um filme que é uma vida, um espírito livre, eterno como um homem, belo como um segundo, feito com profundo amor pela arte, imensa criatividade e potencia criativa sem igual.
Mágico, único; INCOMPARÁVEL.

LOACH/ROCKY/LORD JIM/SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS

VENTO E LIBERDADE de ken loach.
ingleses massacram irlandeses. todos sabem do meu sangue cem por cento católico-celta-irlandes...mas não gostei do filme. na verdade o achei maniqueista, falso, tolo, vazio. será que todo ingles era tão nazista?
MONPTI de helmut kautner, com romy schneider e horst bucholz
romy aos 18 era adorável mas o filme é velho e mofado. 1.
ABISMO DE UM SONHO de fellini com alberto sordi, leopoldo trieste.
sonolento.2.
A JANELA SECRETA de david koepp com johnny depp, john turturro.
suspense sem emoção. mistério sem tensão. uma chatice ridícula. 1.
CRIMES DE UM DETETIVE de keith gordon com robert downey, carla gugino, robin wright penn. uma das mais grotescas tolices já feitas. um pseudo musical engraçadinho, um pseudo noir sem drama, um completo equívoco. ZERO.
O LOBO ATRÁS DA PORTA de henning carlsen com donald sutherland e max von sydow. são cinco anos na vida de paul gauguin ( meu ídolo maior ). o filme é escuro, denso e prende a atenção graças a força de sutherland e ao belo strindberg de von sydow ( foi sydow o maior ator do cinema ? ). 6.
SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS de peter weir com robin willians. um filme sobre poesia e liberdade filmado sem poesia e sem imaginação. torcemos para que willians fique mais tempo em cena, pois ele é a liberdade e a poesia do filme. os meninos são aqueles meninos de dramas da Metro dos anos 40/50, ou seja, velhos meninos...6.
LORD JIM de richard brooks com peter o'toole, james mason, eli wallach. baseado em conrad, o filme é uma cara aventura arrastada e banal. a falha central é peter que faz jim como um fraco que quase acerta, quando quem leu o livro sabe que jim é um forte que erra sempre.
ROCKY de john g. alvidsen com stallone. sly imita de niro e john imita lumet. 4.

amigos, escutem!

Um amigo me acusa de ser de direita. E um outro diz que sou socialista demais. Weeeelll....
Eu sou ferozmente contra quem manda alguém calar a boca. Sou a favor de regimes que não se importam com o que é publicado, exibido ou veiculado.
Adoro quem garante a liberdade de ir e vir, de criticar e louvar, e de possuir-sim. Pois o homem, desde a pré-história, quer ter mais que o vizinho. Seja dinheiro, cultura, mulheres, neuroses ou armas. E quero que todos tenham o direito de LUTAR PARA SER DIFERENTE.
Deu pra entender?
Outro amigo diz que não sou MODERNO.
Se ser moderno é consumir séries de tv e bandas inglesas-cover, não sou.
Mas o QUE É SER MODERNO?
O espírito moderno se define em:
Ser infiel. Não se prender a nada. Nem crença, nem gostos, nem desejos.
Ser inconstante. Jamais levar nada até os finalmentes. Ter projetos sempre pelo meio.
Não se comprometer. Se abster de vínculos, de compromissos, de promessas.
Ignorar distancia e tempo. Nações perdem o sentido, pois meus amigos vivem na europa, meu amor foi para a Austrália, falo todo o dia com franceses e fui criado em ambiente americano. Estou em todo o mundo agora. TEMPO. O passado está ao meu alcance, o futuro também. Um quarteto de cordas de Haydn acabou de ser relançado. Ele está ao alcance de todos, influindo na vida de todos-agora- e sendo redescoberto-agora. Portanto, esse quarteto de 1802 é de agora. ( assim como Murnau/ Cocteau/ou Tati- influindo em jovens mentes-hoje! ).
Ter Pressa. Existe tanto a ver e fazer que a pressa é eterna. O moderno tem pressa de ter, ver e saber; e uma preguiça imensa de viver.
Sentir tédio. O moderno está sempre entediado, pois para ele tudo é fácil demais, reprisado demais, comum demais, óbvio demais.
Ser Oscar Wilde ( mesmo sendo hetero e não sabendo quem ele foi/é ).
Ter muito, muito medo. Pois tudo o que é moderno encobre o medo de depender, pertencer, passar, envelhecer e morrer.
Serei então moderno?

DE OLHOS BEM FECHADOS-VOCE VIU?

Um anjo cai do céu e perde suas asas. Condenado, ele vagueia pelas ruas sem conseguir se conectar à ninguém. O filme é isso. Mas...
Um ingênuo marido descobre que mulheres têm desejo. Ou...
Numa festa, marido é cortejado por duas modelos. Elas querem lhe conduzir ao final do arco-iris. Ele não vai, pois a morte intervém. Depois ele irá à esse rainbow, e descobrirá que ao final, rainbow é uma loja de fantasias. Porém...
Ele descobre que tudo é fake. Falso. Aparência. Sua esposa, seu amigo, a cidade...nada é o que parecia ser. Ele tenta se conectar com alguma verdade: é abordado por uma prostituta. Mas não transa com ela. Lhe dá dinheiro ( observe que todas as conexões dele envolvem dinheiro ). Vai à uma orgia. E não toca ninguém. Pensa ter descoberto um crime. Mas ele pode não ter ocorrido. Volta para casa e encontra a esposa dormindo ao lado da máscara.......
Observe que a esposa não o traiu na verdade. Apenas pensou e sonhou. Observe que nada acontece de verdade- tudo é quase/ talvez/ quem sabe...
Recorde a orgia. Críticos mal informados reclamaram dela ser pouco erótica. Bingo! Esse é o objetivo: corpos nús sem qualquer erotismo/ beijos mascarados que não se tocam/ intenções infantis onde tudo é fingimento.
Tom Cruise ( justiça feita: ele está ótimo ) é um crente. Acreditava no amor, no compromisso, na amizade, na verdade. Ao ver a máscara ao lado de sua esposa ( cena muito bela e emocionante) ele chora, reconhecendo que a vida é fake. Nossa vida.
O filme é sim um digno testamento de um gênio, uma mente superior que se ocupou de uma arte inferior ( como Welles, Bergman e Kurosawa ).
Ao final, Nicole diz que precisamos foder. E penso: não é isso que fazemos todo o tempo? No que mais, nós, classe média pensamos? Com quem foder, com quem amar, com quem casar...e de novo, e de novo, e de novo...é tudo o que restou, o único consolo, a última fé.
Mas não existe erotismo nesse mundo. Pois não há tabú a ser rompido, virgindade a ser cobiçada, e nem sequer toque real ( máscaras ).
Uma obra-prima que melhora muito na segunda visão e aumenta na terceira ( como todos os filmes de Kubrick- todos decepcionam na primeira olhada e fascinam na segunda- todos).
Nota dez.

LISSU/MICHAEL CAINE/TRAINSPOTTING/KEIRA/REESE

COMO POSSUIR LISSU de ronald neame, com michael caine e shirley maclaine. filme de assalto extremamente engenhoso, surpreendente, original, safado. impossível contar a história sem estragar seu prazer. caine está soberbo!........8.
UM GOLPE A ITALIANA de peter collinson com michael caine, noel coward. outro filme de assalto. mal refilmado em 2002 ( com walhbergh no papel de caine-argh! ).....7
SUNSHINE de isztvan szabó, com ralph fiennes, rachel weisz, deborah kara unger. bela novelinha. mostra como os húngaros foram humilhados por todo o século. a nobreza fraca e alienada, o fascismo cruel e o comunismo enlouquecedor. fiennes nasceu para papéis como este: um chorão impotente......6
NORMAL LIFE de john mcnaughton com ashley judd. judd está tão bonita que chega a doer. ela é uma psicótica-junkie que destrói sua vida e a de seu marido policial. muito melhor do que aparenta, é um filme pobre, crú e estradeiro......7
GHOST WORLD de terry zwickoff com thora birch e scarlett johanson. que belo filminho fofo. thora está adorável como uma adolescente que odeia tudo ( os amigos, música, dias de sol...). ela é aquele tipo de menina de óculos, minissaia, botas e cara de tédio. um colecionador de vinil ( steve buscemi ) lhe introduz o blues urbano ( aquele que usa orquestra, anos 30 ) e a garota se apaixona por blues e pelo colecionador. o final é bem amargo. lento, tristinho, moderninho, e muito simpático......8
TRAINSPOTTING de danny boyle. não o assistia desde 1998. os primeiros dez minutos, ao som de iggy pop, são absolutamente geniais. mas ele vai caindo, perdendo a leveza e caindo na pura chatice. envelheceu cedo este filme......7
DE VOLTA AO VALE DAS BONECAS de russ meyer. há quem ame meyer, o homem que criou o cinema quase-pornô americano. este é seu único filme mainstrean. uma salada de lesbianismo, sadismo, rock'n'roll, horror. os atores são inacreditávelmente ruins, o roteiro beira o grotesco, as falas são tolices imensas. cortes abundam ( todo diretor inseguro abusa dos cortes ), e ele fascina e irrita muito.....ZERO.
LOST HIGHWAY de david lynch. Lynch é aquele tipo de diretor que nada tem a dizer. ele não tem histórias para contar e não consegue criar personagens. mas...o cara sabe filmar. cria climas em cima de climas. sabe iluminar, cortar, usar o som, sugerir. eu prefiro o filme com a naomi watts, mas este tem bill pullman muito bem e uma patrcia arquette bem fatal.....7
DESEJO E REPARAÇÃO de joe wright com keira knightley. ouçam e anotem: wright é o melhor diretor de sua geração. a cena da praia ( sem cortes, uma só tomada ) é coisa de mestre. keira já é a atriz de sua época. o filme é perfeito ( e ainda tem vanessa dando show ).....DEZ.
DR. JIVAGO de david lean e todo mundo conhece o elenco. jivago se ergue da cama. lara dorme a seu lado. ele vai à mesa e escreve poemas para ela. lara se ergue e os lê. bem... eu passei anos tentando viver isso!.....9
ARMADILHAS DO CORAÇÃO de oliver parker com reese witherspoon, colin firth, rupert everett, judi dench. baseado em oscar wilde. diálogos brilhantes ( claro ). mas falta alguma coisa...é um excesso de casas bonitas, roupas vistosas, chás das cinco...Wilde se perde...firth está passando a vida fazendo sempre o mesmo papel : ingles triste e tonto. rupertt imita cary grant. ele não sabe que cary é inimitável. e reese... bem, sou apaixonado por ela! devo ser o único não-americano que a adora!.....6
SOCIEDADE FEROZ de griffin dunne com diane lane, donald sutherland e um vasto elenco adolescente. dunne foi ator nos 80 e hoje é diretor. -e que filme é este?- ele fala dos índios brasileiros. de amadurecer. de ritos de passagem. de sexo e de poder financeiro. é um filme cheio de erros, de idéias mal desenvolvidas- mas...é cheio de idéias!- infelizmente faltou coragem para levá-las até o fim. o filme cai num quase policial bobo. mas ele fica na memória, é original, e merece muita consideração. ( donald aparece pouco e brilha como sempre. todo o elenco é bom )........9

lolita, vladimir nabokov- o livro que voce acha que conhece

Sim. Trata-se, aparentemente da história ( bastante cômica ) de um homem de trinta e cinco que se apaixona por uma criança- ninfeta de doze. Ele, Humbert-Humbert, se casa com a mãe da ninfa; a mãe falece e ele viaja pelos EUA com Lolita.
Mas o livro não é só isso. É bem mais.
Humbert é a velha Europa. Ele só valoriza o que é antigo, culto, feito pelo homem superior. Ele é pretensamente sofisticado. Humbert despreza jazz, cinema. Odeia a imensidão americana, os vastos panoramas, as florestas desumanas, o excesso de " por-do-sol", o gigantismo. Ele olha os americanos como caipiras. Gente que só pensa em trabalhar, gente ridícula e sonhadora, gente que não sabe viver.
Veja que coisa: Humbert odeia o cinema por ser apenas ação sem pensamento. E note que por toda a história europeus só fazem cinema quando o misturam a literatura ou teatro, artes nobres e antigas ( na visão deles ). Europeus não amam o cinema -cinema, pura ação, puro movimento, pura imagem. Assim como a música não pode parecer improvisada, deve ser estudada.
Mas Humbert se apaixona por Lolita.
E Lolita é jovem, inocente e muito sensual. Ela rí de sua cultura, ela não presta a menor atenção no que ele diz ou pensa. Ela está sempre rindo, ou chorando, ou gritando. Está sempre em movimento.
Lolita ama as estradas, os motéis, hamburgers, sorvetes, cocas, balas... Para ela a história não interessa, tudo é hoje.
Lolita é infiel e Humbert, que pensava ser o sedutor- senhor, se torna o escravo- capacho.
A Europa ama a América e não cansa de olhá-la. Ela a critica, tenta catequizá-la, mas sempre a lambe, beija, namora. A América, namorada infiel, criou uma forma de governo sem nobreza, sem parlamento, sem tradição. Criou sua própria música, sua própria arte, sua religião ( várias ), seu mundo único.
Humbert se ressente disso. Mas continua a amá-la.
Lolita é tudo isso. Escrito como comédia. Num estilo rico, caleidoscópico, saboroso e muito erótico.
Humbert é ridículo. Lolita é linda. E quem pode negar?

dr jivago, aula de história

Imenso sucesso de bilheteria ( mas não de critica ), Jivago mostra para todos um tipo de cinema classudo, competente, porém, um pouco engessado.
Está lá a competencia de David Lean em montar cenas. Jamais percebemos os cortes. As tomadas se encadeiam naturalmente, todas com o tempo exata e caminhando em cadencia musical. A camera nunca chama a atenção sobre sí mesma, ela é como a caneta que escreve a página. Mas, o David Lean, jovem-ousado dos anos 40 já se fora. Ele ilustra o belo roteiro de Robert Bolt, mas não cria-acrescenta nada. ( As excessões são a belíssima cena no palácio de gelo e a genialidade pura da cena à janela- aquela em que Tom Courtney briga com Julie... puro cinema mudo ).
Lean foi inteligente em diminuir as falas de Shariff, usando seus olhos chorosos como comentário à ação. Julie Christie, musa-maior, brilha com sua imensa força interior, seus olhos de fogo gelado, sua voz metálica. Podemos ainda admirar os lords monstruosos do teatro ingles: Ralph Richardson, como o pai de Geraldine Chaplin; Alec Guiness, como o irmão de Jivago; e Courtney como o noivo. Klaus Kinski causa imensa impressão como o intelectual louco.
Quanto ao fim do filme- não há quem não se comova...
O filme criou em 1965 o padrão Oscar; que se mantém até hoje nos filmes de Spielberg, Ridley Scott, Frank Darabont, Michael Mann e um imenso etc.

UM DISCO QUE ENLOUQUECE

THEIR SATANIC MAJESTIES REQUEST
eu tinha 16 e me escondia na biblioteca do mackenzie. e tentava e conseguia ser o mais louco possível numa época em que todo mundo queria ser o mais louco possível e esse possível era bem louco. aninha me mostrava a calcinha de algodão branco mas não me deixava tocar sua pele e ela tinha espinhas na cara e sardas e era loura e quase muda e jogava bola com os meninos. ela ria. encontrei satanic numa loja da teodoro sampaio que não existe mais e na rua não existiam camelôs, existia espaço. escutei satanic numa sala gelada, pela janela o sol era frio e minha garganta doía e eu tinha febre e dor nos ossos. o cheiro era de vick-vaporub. eu fechei os olhos...................................................o mais profundo acorde de piano. vindo do mais profundo miligrama do sangue coagulado de meu ser. quando os metais ecoam eu já morri. sing this all together. faixas sobrepostas de realidades comunicantes. o martelar de ondas de mares amarelos e a perdida guitarra vagueia no vazio absoluto interestelar. percussão vagabunda sem ritmo conhecido e vocal de apartamentos cheios de hashish. o convite é feito: enlouqueça comigo. yes. citadel. faíscas lunares pipocam em meio a lsd de flashs em technicolor medieval. o riff das guitarras tem cheiro de demonios, hipnóticos tabletes de estrelas falecidas. enlouqueço e me apaixono perigosamente. o volume é máximo e a bateria faz ecos dentro da super-consciencia e festeja o meu sexo. in another land. afogado no oceano de sereias hermafroditas. passeando num bosque de desejos tortos, a voz guia um cego entre penas de pavão albino. minhas lágrimas são tolices prazerosas. arrancam meus nervos e dados ao corvo e a rosa. tudo zomba e rí. brian jones respira e eu sou ele. 2000 man correm pelas ruas da londres vazia e encontram 4000 buracos entre rochas de espuma. sing this all again. fazemos tolices copulamos e engolimos e jogamos fora e vomitamos e rimos. um ritual bobo. she's a rainbow. sublime na vulcânica lava. uma virgindade cheia de maldade. satânicos anjos. the lantern. meus eus penetram entre páginas de yeats e eliot e encontram o pecado divino e a paz. um violão keithsiano que aspira fumaça de hashishs exorbitantes e uma guitarra que urina luz azul alucinada e ácido de destino. eu já pirei e inexisto. vivo entre frases e riffs. flores mortas em luzes mortas. mick me guia entre gala´xias ilusórias. gomper. eu. pássaro.2000 light yeaes from home. entende? atingí o ponto. eu não conheço e não sou. tudo é vazio, ausencia. absoluto feliz. livre. rosotos de bilhôes de corpos. faces perdidas. não tenho idade, nem função, sou um vazio sim. on with the show. apresento a volta de tudo que foi visto. tudo que vivi e acabei de dizer É UMA GRANDE BOBAGEM. mas talvez bobagens façam a vida valer. o show recomeça como farsa. o show é no teatro e teatro é mentira. mas onde termina o palco? o show é satanico. tudo é inferno. este disco é do mal. e nestes muitos anos EU SEMPRE RETORNO QUANDO O AMOR RETORNA.

MENSAGEIRO DO DIABO/EMBRIAGUEZ DO SUCESSO/PARTNER/PERFORMANCE

AS BRUXAS DE SALEM de nicholas hytner
se mantém a força do texto alegórico de arthur miller. daniel day lewis e paul scofield seguram o filme. 5.
POR AMOR OU POR DINHEIRO de bertrand blier
blier sempre faz filmes que procuram fugir do padrão. não se tratam de comédias, nem dramas, sequer aventuras ou alegorias. este é uma quase comédia. sem graça. 1.
O MENSAGEIRO DO DIABO de charles laughton
para quem não sabe, laughton foi um dos maiores e mais conhecidos atores ingleses de cinema. gordo, com cara de sapo, gay assumido, brilhou como rembrandt, como henrique viii e em filmes de hitchcock e wilder. este filme, de 1955, foi o único dirigido por ele. é considerado uma obra-prima e foi fracasso de crítica e público na época. fácil entender o porque : trata-se de uma comédia gótica afiadíssima! um filme que tim burton ou david lynch adorariam ter feito. a história trata de um pastor que se casa com viúva. comete o assassinato para ficar com o dinheiro. os dois filhos da viúva conseguem fugir e ele os persegue. isso tudo contado em clima de sonho/pesadelo, sombras expressionistas, cortes precisos e um robert mitchum perto do milagroso ( seu papel se tornou referencia ). na parte final, quando as crianças encontram a velhinha boazinha ( lilian gish ), voce quase tem um orgasmo de tanto prazer em estar vendo tal obra-prima. DEZ!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
A EMBRIAGUEZ DO SUCESSO de alexander mackendridk
filme de 1958, dirigido por um grande diretor ingles de comédias e que dirige aqui, nos eua, seu único drama. fracasso na época ( de público ), traz burt lancaster em mais um grande desempenho, com seu rosto de pedra pleno de autoridade e força viril. mas é tony curtis, o subestimado curtis quem rouba o filme, fazendo um vilão patético e mesquinho. o filme ( cheio de jazz e clima cool ) trata de um jornalista que domina carreiras com suas fofocas. curtis é o auxiliar puxa-saco desse poderoso homem de midia. o filme, cheio de fel e com falas exuberantes, mostra a derrocada dessa carreira e a inexorabilidade de seus destinos. cínico, amargo, brilhante! 9.
RICARDO III, UM ENSAIO
única doreção de al pacino. obrigatório para quem trabalha com teatro ou ama a cultura. 7.
O DESTINO BATE A SUA PORTA de bob rafelson
rafelson, diretor de head e cada um vive como quer, dirigiu este new-noir em 1982, usando jack nicholson e uma jessica lange cheia de sexualidade vulgar. se trata de um bonito filme que não tem aquilo que os noir clássicos tinham de melhor- nervos! mesmo assim é fácil de assistir, lange está maravilhosa e o choro final de jack é coisa que justifica uma carreira inteira. 6.
BEIJOS E TIROS de shane black
primeira direção do roteirista dos filmes lethal weapon. robert downey é um ladrãozinho de quinta que vira ator em ´hollywood ( é uma comédia ). val kilmer ( bem ) é um detetive gay e a lindíssoma michelle monaghan está no elenco. o filme é ágil, alegre, os capítulos têm nomes de títulos dos livros de chandler..mas falta loucura. os coen fariam dele uma festa! como está, é apenas um divertido produto meio termo. 6.
RESGATE ABAIXO DE ZERO de frank marshall
marshall, roteirista e produtor de vários filmes de spielberg, nos apresenta uma aventura antártica. para quem gosta de cães ( eu os idolatro ), é obrigatório. como cinema, é sessão da tarde das boas. 7.
FILMES PSICODÉLICOS FEITOS EM PLENA VIAGEM PSICO

PARTNER de bernardo bertolucci.
em 1968 bertolucci resolveu filmar partner, baseado numa novela de dostoievski. mas, em meio as filmagens explodiu o maio/68 e bernardo jogou o roteiro fora e passou a improvisar. o filme, fascinante, mistura lacan com nietzsche e tem uma trilha sonora de ennio morricone que é absolutamente genial e radical. pierre clementi, ator francês que era viciado em heroína, tem uma das atuações mais maníacas, inesquecíveis, originais, revolucionárias que já ví. ele apresenta completo domínio do corpo, total entrega e uma quase loucura digna de klaus kinski, bruno s ou falconetti. o filme fala de máscaras, de duplos, do quanto nós todos somos fingidos e de alienação. uma quase obra-prima e o mais difícl filme de um cineasta que jamais se acomodou. 8.
PERFORMANCE de donald cammel.
filme maldito feito em 1970. cammel, que se suicidaria em 78, filma em londres, a história de um gangster ( james fox ) que se esconde na casa de um astro do rock ( mick jagger ). nessa casa, o gangster prova sexo, drogas e muito rock e se torna um jagger também ( ou não ? ). o filme, que ainda tem anita pallemberg ( ex- brian, na época esposa de keith ) num papel de junk-bissexual, é absolutamente fascinante e muito inspirador. aqui é criado o conceito de glam-rock e se voce quer saber o que velvet goldmine tentou mostrar veja este filme radical. mick era incrivelmente magro, efeminado, drogado e o filme é hipnótico, macio, colorido e nem um pouco paz e amor. único, ele é aquilo que bergman faria se fosse mais jovem e ingles. 9.
PSYCH OUT de richard rush
jack nicholson tem muita história pra contar. ele está neste filme de 68, feito em san francisco, no auge do movimento hippie. uma moça foge de casa e vai parar em sanfran. conhece os hippies e passa a viver com eles. o filme é fraco, amador, constrangedor, e jack usa um péssimo cabelo. mas tem um clip fantástico dos inacreditáveis the seeds e mostra o que eram os tais hippies. o que eles eram ? drogados classe-média deslumbrados com sexo. comparando este filme com performance vemos que londres nos 60 era mais lsd, mais reichiana, mais individualista, mais psicótica. sua trilha era pink floyd, soft machine e gong. sanfran é mais alegre, comunitária, machista, mais anfetaminas e marijuana, mais byrds, grateful dead e love. hippies americanos se interessavam em sexo, festas e protestos de rua. hippies ingleses queriam saber até onde se cérebro conseguiria enlouquecer. o filme vale como puro fun. 5.
BARBARELLA de roger vadim
e vadim, inventor de brigitte bardot, tenta lançar jane fonda como nova bb. jane está absolutamente linda e anita pallemberg é a vi´lã. psicodelismo para os não psicodélicos, o filme mostra que em dois anos o movimento já se tornara um produto bonitinho e anódino. 4.

pra que serve will shakespeare

Assistindo o filme de Pacino sobre Shakespeare ( Ricardo iii, um ensaio ), noto que entre belos depoimentos de gente como Vanessa Redgrave, John Gielgud, Kenneth Branagh; ou entre os desempenhos de Pacino, Kevin Spacey, Winona Ryder, Alec Baldwin; nada é mais claro ou brilhante que o depoimento de um negro do Harlem. Ele diz que Shakespeare nos ensina a sentir. Que se sentimos a morte de um camarada, o remorso de uma má ação, deixamos de fazer uma má ação. Shakespeare então nos mostra o quanto o Homem pode ser grande. Pode ser nobre, vil, apaixonado e apaixonante. A tragédia de nossa época é o fato de que por falarmos uma pobre linguagem, vivemos uma pobre existência.
Dizemos que a vida é vazia e não que " ela é um sonho sonhado por um louco ", ficamos com alguém, não " amamos como as estrelas amam o sol que as apaga "...
Shakespeare é a maior jóia do tardio renascimento, filho da filosofia de Sêneca, criador do Humano tal como o conhecemos, um gigante entre gigantes e o maior sábio a ter pisado um dia este planeta.
Ele justifica, sózinho, a existência da língua inglêsa, a sobrevivência do teatro e toda ação do homem sobre a Terra. Foi a culminância de uma inteligência brotada em Roma, fertilizada em Paris e Oxford e colhida sob o reinado de Elizabeth.
Viverá enquanto algo parecido com civilização viver.

para um amigo

Nem tudo se resume ao pib.
Portugal é um país feito de Paratis, Ouros-Pretos e Búzios.
Habitado por Saramagos, Pessoas e Eças.
Pacato. Confiável. Eterno.
Fácil de negociar, pois é previsível. Preso aos primos da Comunidade. Cheio de aposentados alemães, suecos e ingleses.
Não há nada grande como SP. Tudo lá é pequeno, discreto, reservado, e muito orgulhoso. Sem grandes riquesas, sem grandes misérias, sem grandes problemas, sem qualquer medo. Parati, não é ?
Consomem muito livro, muito museu, muito teatro.
Ainda lembram de Bertolucci e de Cocteau. Não apreciam a América e se envergonham do Brasil. ( Só se fala do Brasil quando um filho mata o pai, dos travestís e das drogas no morro ).
Não importa o pib. Só importa para candidato a eleição, para economista banal e para capitalista deslumbrado.
Importa olhar e ver, escutar e ouvir, comer e saborear.
E em Portugal, o resto é sempre mar...
PS. Detesto o Lobão
Mas ele disse uma coisa na MTV bem certa :
Eu sou brasileiro? Onde? Crescí pensando em inglês, desejando em francês, sonhando em Technicolor e escutando jazz e rock'n'roll. Não jogo capoeira, não gosto de pagode, odeio feijoado e acho cachaça intragável. Umbanda não quero, samba é sempre a mesma nota e bossa-nova, tô fora. Leio Tolstoi, Heminguay, Borges, Flaubert. Onde o Brasil ? Nem futebol me interessa!
É isso aí.

para uma amiga

Todo final de tarde eu olhava aquela janela.
Luz amarelada e um calmo contraste com o barulho da Paulista.
-Quem viveria lá? Aquela casa me dava medo, mas o medo sempre me seduziu e eu ficava parado, frio e noite e solidão, olhando a luz amarela. Eu abraçava meus livros e seguia. Mas a casa me acompanhava e eu a levava para meu quarto onde ela dormia comigo.
Uma manhã eu esperava dentro do carro do meu pai. Meu velho tentava se comunicar comigo mas eu não queria comunicação. Não naquela hora. Escondido detrás daquela janela embaçada, eu esperava que Jeanne saísse da escola. E ela saía sempre a mesma. Empurrando quem estivesse em sua frente, mastigando um eterno chiclete, gritando ordens às amigas, chutando a bunda de alguém. Eu sorria e justificava minha vida absurda. Jeanne fingia não me ver, passava indiferente, voltava e batia no vidro. Ela sorria.
Amei essa cavalinha em cada mulher que encontrei. Percorri toda avenida atrás dela e sei que ela vive atrás de cada janela amarela que me encontra na rua.
Hoje ela não deve mais ser a cavalinha arisca e irrefreada. Mas toda menina que chutou bundas e socou ombros desprevinidos traz sempre em sí o sorriso da rua ensolarada e o segredo da chuva.
A avenida está lá. Jeanne está aqui e eu não esquecí.

grandes discos pouco ouvidos

Começo aqui a falar de grandes discos ( grandes por serem maravilhosos ) e pouco ouvidos ( venderam pouco e são dificeis de achar ).
O primeiro é SHOOTING AT THE MOON de Kevin Ayers.
Lançado em 1971. Kevin é o Oscar Wilde do pop ( porém hétero ), o Noel Coward drunk.
O disco abre com MAY I. Sons de carro. Baixo dominante e sinuoso, percussão discreta, violão. A música é puro prazer, suave, quente, cálida, cheia de vida e de vinho. Feliz. Kevin não tem uma só canção triste, e esta é das mais felizes.
" eu fui flanar pelas ruas/ procurando onde comer/ achei um pequeno café/ vejo uma garota e falo :/ posso sentar com voce/ um pouco ? / gostaria da companhia de seu sorriso e de seu sol ."
Para contar isso, ele usa flauta, e violões suaves.
Puro sol, puro romance, puro flerte. Kevin é do tempo em que se flertava.
RHEINHARDT AND GERALDINE.
Ataque forte de bateria, baixo e sax. Bateria e oboé. Vocal apocalíptico. A música fala de desejo. Então vem uma colagem de sons, de ruídos. Confusão e quase caos.
COLORES PARA DOLORES.
Agora tudo é puro Stooges. Rock ao estilo Velvet Underground. Cavalgada de heróis de garagem. Teclado simples e incisivo. Deliciosa.
LUNATICS LAMENT.
Uma ostra conversa com uma onda. Cinco minutos desse irritante diálogo.
THE OYSTER AND THE FLYING FISH.
Uma canção tão deliciosa, tão savoir faire como comer ostras à beira-mar. Violões felizes e um refrão que diz: " Uh lá lá! "
UNDERWATER
São ruídos de baixo e synth.
CLARENCE IN WONDERLAND
Quse reggae. De bêbado. Fala de Clarence sentado na areia em Wonderland. Backing vocals de polvos, lulas e mariscos. Oboé. " Vamos ao nosso small chateau/ beber com miss juliet e o luar de junho ". Sons de gaivotas. Se o mundo fosse um lugar feliz, esta música seria um hit. Nunca foi.
RED GREEN AND YOU BLUE
Ressaca. Kevin se declara a garota so blue. " Voce está sentada sobre meus sonhos ". Enorme contra-baixo, violões, clarinete e a alegria de gravatas soltas e sapatos levados nas mãos.
SHOOTING AT THE MOON
Apocalipse.Guitarra galopante, tudo corre e roda e se confunde e emite cor. E se repete, repete, repete, repete...
MAY
Em francês. Melhor que a primeira versão. Serge encontra Kevin.
GEMINI CHILD
O romantismo supremo. Forte, feliz, nebuloso, confiante e muito dissonante.
" Fiz gente chorar, me perdí, procurei/ tudo o que todos fazem/ gemini child, voce sabe que eu te amo ? / voce faz de cada dia um Camelot/ vou dividir tudo que faço com voce/ gemini child, voce sabe que te amo? / apesar de nunca ter dito, tudo foi para voce e voce esteve no que fiz."
Se Wilde fizesse pop music seria exatamente isto. Aqui Kevin atinge o Camelot das emoções, o êxtase da eternidade, o simbolismo yeatsiano, o perfeito ideal. Usando instrumentação rock- galopante e acelerada- e com absoluta ausencia de drama ou pretensão.
Um gênio feliz.

HUSTON/ALTMAN/DIRTY HARRY/CLAUDE MILLER

a dama das camélias.
filme de Bolognini com a jovem Huppert. pesado, pretensioso, modorrento. Zero.
the thing.
ficção científica de howard hawks. envelheceu muito. 3.
roy bean, o homem da lei.
western de huston com um paul newman fantástico ( existe paul newman não fantástico ? ). mas o filme, que começa muito hilário e anárquico, se perde e cai ladeira abaixo. 6.
os amantes de maria.
filme de konchalovski com nastassja kinski lindissima! fala de impotencia, crueldade, guerra. bela foto, ótimo robert mitchum, péssimo john savage. 3.
entre o céu e o inferno.
filme sobre o blues e o desejo. tem samuel l. jackson e uma deliciosa christina ricci. mas o filme é de uma tolice atroz. e muito conservador! 2.
o homem que não vendeu sua alma.
vencedor de vários oscars em 1966, tem fred zinemann ( o mesmo diretor de shane, de a um passo da eternidade e de julia ), tem robert shaw, orson welles, susannah york, wendy hiller, vanessa redgrave, john hurt e no papel de thomas more, o grande paul scofield. as primeiras cenas no lago são belíssimas e a música de georges delerue sublime. filme clássico para quem quer saber o que significa competencia e cultura. 8.
cerimônia de casamento.
altman dirige mia farrow, geraldine chaplin, vittorio gassman num filme hipnótico, muito alegre e sem nenhuma pretensão. lilian gish, aos 80 anos, domina o filme. 7.
vampiros de alma.
ficção científica de 1956 que ainda envolve, impressiona e até assusta. don siegel, o inventor do dirty harry, dirigiu. 7.
paris, te amo.
a mais fascinante das cidades recebe uma homenagem de wes craven, gus van sant, walter salles, coen, e um vasto etc. o melhor é o último episódio, de alexander payne, que chega a emocionar e muito. o pior é o de walter salles, óbvio e vazio. 6.
a pequena lili.
filme de 2003 dirigido por claude miller ( produtor dos filmes de truffaut e diretor de classe aa na frança ) e com nicole garcia e bernard giraud. revelou ludivine sagnier, grande estrela na europa, mas que aqui pouca gente conhece. o filme lhe é generoso, lhe dando um papel de ninfeta fatal. bonito e bem conduzido. 7.

kenneth tynan sabe tudo sobre teatro

Separo aqui alguns lances do livro do Tynan ( o melhor e mais famoso crítico britânico ), livro que relí semana passada:
SOBRE ATORES INGLESES
seu abc é feito de Shakespeare e Ibsen, portanto, eles adquirem todo controle de voz, de presença cênica que um ator pode querer ter.
nessa tradição existem os grandes, aqueles que nasceram para fazer personagens maiores que a vida, os grandes símbolos de toda a humanidade: Olivier, John Gielgud, Ralph Richardson e Michael Redgrave.
existem os peso-leve. poderiam ter sido gigantes, mas se especializaram em textos mais leves e no cinema: Alec Guiness, Rex Harrison, Peter Sellers, Michael Caine, Sean Connery, James Mason.
os que abortaram. por motivos vários ( bebida, droga, dinheiro em excesso, preguiça ), estes atores poderiam ter sido grandes como os 4 monstros, mas não vingaram ( apesar de terem deixado momentos de absoluta genialidade ).
detalhe: eles sempre vêm aos pares. um grande ator sempre precisa de um rival/modelo, para manter sua gana e sua ambição.
são eles:
paul scofield- richard burton
peter finch- trevor howard
peter o'toole- albert finney
terence stamp- ian mckellen
anthony hopkins- john hurt
daniel day lewis- jeremy irons

INVULNERABILIDADE
porque kate hepburn, james cagney, bogart, spencer tracy e bette davis são indestrutíveis? porque sobrevivem a modas e se mantêm como ícones?
existe algo de invulnerável neles. voce olha, observa, disseca, penetra, e não acha falhas, não encontra o ponto vulnerável. eles são sobre-humanos. estão no olimpo do arquétipo planetário.

1946-THE BEST
Laurence Olivier em cena fazendo EDIPO REI. Fura os olhos e dá um grito que cinquenta anos mais tarde quem lá esteve ainda sente seu horror. ( Paulo Francis e Antonio Callado sempre citavam esse espetáculo ). Èdipo terminado, o público tomado pelo medo e pelo trágico. Cinco minutos depois, Olivier entrava em cena voando, suspenso por cordas. Usando peruca e pó de arroz, apresentava THE CRITIC de Sheridan, e fazia a audiência gargalhar por hora e meia.
Gênio. Quem viu diz que nada se compara. Nem Brando em Tennessee Willians, nem Gielgud fazendo Hamlet, Richard Burton em Look Back in Anger ou Jason Robards fazendo O'Neill.

MILES DAVIS E O DUENDE
Os espanhóis chamam de duende o ato de exibir o máximo de emoção com o mínimo de ação ou espalhafato. Miles comovia com duas notas e jamais mostrava qualquer emoção, seja dor ou raiva, no palco. Quem sentia dor, raiva, amor e desejo era o público.
Passar muito com pouco. Dizer tudo, falando quase nada.

O QUE É ESTILO
O brilho do estilo está em se simplificar aquilo que é complexo.
O idiota complica o simples ( e engana ingênuos ).
Me parece que o cinema ruim faz muito isso : voce pega uma idéia simplória e a complica. Coloca citações, inverte a cronologia da história, faz malabarismos com efeitos.
O estilo verdadeiro faz o oposto. Conta o mistério do desejo na simples história de um cara olhando os vizinhos com um binóculo.
E em matéria de estilo, de contar muito mostrando pouco, HITCHCOCK foi imbatível.

HUMPHREY BOGART
Bogey foi antes de tudo um grande ator. Foi o primeiro e o melhor dos estóicos: tudo nele nos diz que não iremos morrer, mas que estamos morrendo...

LOUISE BROOKS
Ela criou a imagem da inocencia perversa. Do animal sexual.
Suas herdeiras seriam Dietrich nos filmes de Sternberg; Bacall nos filmes de Hawks; Anna Karina em Pierrot e Harriet Anderson em Monika.

avenida paulista

Debaixo do sol, minha careca ardendo, eu e Turco andando pela Paulista.
Adoro aquela avenida, como eu adoro tudo aquilo que é sujo, caótico e surpreendente.
Turco usa uma boina vinho e fala de mulheres. Por não entender nada de mulheres é que adoramos tanto essas coisas estranhas, perfumadas, encantadoras, sinuosas, obtusas, espertíssimas, matreiras, macias, líderes, escravas, borboletosas, choramingonas, dominantes, enraivecentes e solares.
Nada mudou. Um homem sincero sabe que sempre vai pensar sobre as tais mulheres como pensava aos 15 anos. Burramente. Então eu falo do que acho que sei: cinema-música-livros. Mas eu não sei se sei. ( Quem pensar que escrevo isto movido a gim, errou ).
Em frente ao ponto de bus do Objetivo vejo uma menina de camiseta preta onde se lê : Áries! Me apaixono por ela. Ela empurra os amigos, chuta a mochila de um deles, bagunça o próprio cabelo e tem cara de ser ruim e rebelde e desbocada e com joelhos esfolados. Os garotos que a acompanham : um tem um skate, óculos espelhados e camiseta listrada. Cabelo longo, despenteado. O outro usa bermuda de jeans e blusa preta com o Iron Maiden. Os 3 riem, pulam, celebram a saúde de ser jovem, solto, egoísta.
Eu fui a festa na Paulista. Eu era um menino e o Corinthians havia saído da fila. Eu era o garoto de blusa listrada e cabelo longo e jeans rasgado e jeito de " qualé ". Eu me entupia de Led Zeppelin e revistas em quadrinhos. Eu andava de bike e tinha Claudinha, uma menina de cabelo vermelho, jeito de cachorro da rua e cara de " fuck you ".
Turco comentou o péssimo gosto que existe em se gostar do Iron.
Mas isso não importa. O que me pega é saber que EU continuo por lá, na figura daquele trio, na cara da ariana-irascível-inatingível e nos garotos rindo e pulando como potros.
Subo no bus me sentindo oitenta quilos mais leve e trinta anos mais novo. A Paulista é um lixo. Mas é nela que eu sempre vivo.

fim de olimpíadas-page!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

JIMI PAGE tocou na festa de encerramento das olimpíadas!!!!!
Londres escolheu Jimi para representar a cidade, na festa de 2012 !
Page tocou Whole Lotta Love ! Ele merece!!!! Londres merece ! Eu mereço !
Finalmente o mundo está pronto para aceitar o fato de que :
Hendrix não foi o guitarrista mais importante da história. Foi Jimi Page.
Os Beatles não foram a melhor banda ( são a mais conhecida ). Foi o Led.
Os Stones não foram a mais rock'n'roll - foi o Zepp.
O melhor show não era o The Who, era Led Zeppelin.
Na lista dos meus 10 discos favoritos, sempre há lugar para 3 Zeppelins : o segundo, Houses of the Holy e Physical Graffitti.
O Led foi grande, vasto, exuberante, macho, corajoso e tinha o dom de irritar os pacatos fuinhas do bom-gosto.
Eu sou eles.

POP MUSIC

3 minutos de pura perfeição.
Como é dificil !!!!!
Já tive banda, sei como é relativamente fácil ( e prazeroso ) fazer barulho. Ou se perder em solos sempre iguais. Mas conseguir compor um refrão que gruda, um riff que emociona, uma canção redonda e bem feita... que dureza !
Portanto eu mando vivas para Phil Spector, que criou o pop de dois minutos wagnerianos-simples; para a Motown, que fabricava tesouros às dúzias; para Paul, que era o beatle artesão ( os outros eram pretensão- ringo não conta ); Monkees, que delícia de canções; Elton John, sim! a tia elton, que entre 71-76 foi um gênio pop, unindo beatles-motown-monkees-beach boys em um cara só ( e vendia como Madonna ); Abba, que fez SOS e Waterloo, dois pops que definem o pop; a fase pop de Bowie; T REX, com seu boogie; Blondie-Police-Jam-B52's, que fizeram singles simplérrimos, inesquecíveis e tão dificeis de serem repetidos; Prince, o Elton-Marvin-Sly-Barry White dos 80's; e por falar nisso: viva para Barry White, Harold Melvin, Rick James, Tavares...isso é puro prazer!!!!!!!
Rush, Radiohead, Pink Floyd, Bjork...pode ficar com tudo isso.

filmes que andei vendo e revendo

ASCENSOR PARA O CADAFALSO...louis malle em sua estréia nos dá um policial trágico, surpreendente e perfeito.....................................9
A VIÚVA ALEGRE...escapismo. sonho. risos. fantasia. classe...................9
O HOMEM COM O BRAÇO DE OURO...sinatra foi um ótimo ator. aqui ele é um junkie-baterista. o filme é duro, cruel e muito jazz. ( bernstein, shorty rogers e shell na trilha )....8
O OURO DE NÁPOLES...um de sica menor........6
COMBOIO...sam peckimpah, em sua fase final drunk. filme setentista on the road. é um tipo de filme de burt reynolds sem humor.....5
GRANDES ESPERANÇAS...eu sabia que ethan e gwyneth são ruins. mas aqui eles se superam. chega a dar pena de ethan . ...1
A CASA DOS ESPÍRITOS...um super elenco num super lixo. melaço burro, chato...zero!
THE COOLER...muito bom. 7
BONNES FEMMES...um filme de chabrol de 1959. perdido em firulas modernetes....3
MURDER BY DEATH...peter falk, david niven, peter sellers, maggie smith, truman capote; podia ter sido melhor. falk imitando bogart é inesquecível.....6
WHATS NEW PUSSYCAT...peter o'toole, peter sellers e woody allen ( estreando no cinema ). e ainda a adorável romy schneider. se voce quiser saber porque os sixties foram tão alegres....4
UMA ESPÉCIE EM EXTINÇÃO...bill murray interpretando hunter thompson.....8
GUERREIRO BÚFALO...filme ruim, burro, de más intenções, picareta. um anti-mash.....ZERO.

OLIMPIADAS

Posso dizer que a China fez tudo bonitinho e bem feito. Leio e fico sabendo que o povo chinês tem um terrível complexo de inferioridade ( consequencia do fato de jamais terem ganho uma guerra e nunca terem conhecido algo diferente da servidão ). A olímpiada mostrou isso : um enorme desejo de agradar.
Mas não deixa de ser triste um povo ter como grandes contribuições ao mundo, a pólvora, a prensa e o confucionismo. De 1.400 pra cá, um absoluto vazio...
DESTAQUES:
-os computadores da imprensa, que não conseguiam acessar sites censurados pelos donos do país ( anistia internacional era um deles ). nenhum povo merece isso, mas os chineses dizem que reclamar não é seu hábito... China, o paraíso dos néscios!
-o dono do Irã proibiu que seu nadador dividisse uma piscina com um nadador de Israel ! E existem imbecis tupis que acham o Irã um barato...o nadador abandonou a prova e perdeu por wo.
- tem coisa pior que futebol feminino? os gols saem sempre de falhas das zagas ( com não mais que dez por cento de excessões ), toda bola sai pela lateral, passes errados incontáveis... Brasil versus EUA, uma chatice!!!! nosso time, sem tática, sem plano de vitória; mandava bicos pra frente, enquanto as americanas, com um plano claro de jogo, assistiam nosso destempero. Pregadas aos 35 do segundo tempo, assistimos a vitória americana, que poderia ter sido de goleada. Quem achar o resultado injusto, peço que reveja o tape. Brasil, duas chances reais de gol; EUA, quatro gols feitos.
- os peões da fazenda caribenha de charutos estão enlouquecendo. sentem desamparo com a morte do grã-senhor, do bwana, do feitor-mor. No boxe, um lutador ao perder deu uma cabeçada na cara do oponente; em outra luta, o cubanito desferiu 5 socos no vencedor com o assalto encerrado, e no tae-kwon-do, o perdedor bateu no juiz!!!!! sem as chibatadas do sinhô, Cuba se torna um antro de piratas e gatunos de quinta categoria.
- um chinês se perde na pista do estádio. não sabe onde levar o carrinho de mão. confuso, estaciona onde estava, esperando que seu superior diga o que fazer : este é o retrato de um país de abelhas, de formigas. A Europa ensinou ao mundo o que é ser uma cigarra.

kevin ayers

Estou realmente convencido que se trata de um bruxo.
Agora que ouvi tudo que ele fez ( 15 cds ), posso dizer: foi Ferry com mais virilidade, Bolan com mais criatividade, Bowie com menos pretensão e Syd Barret de muito bom humor. Um Oscar Wilde do POP, um Noel Coward hippie, um Bernard Shaw chapado.

BOB CLAMPETT - PARA TUCORI E PAGOTTO

Em 1935, apotou na Warners um gênio de 17 anos. Robert Clampett.
Quem?
Clampett, que eu também mal conhecia, mas que descubro ser o cara que ensinou Tex Avery a enlouquecer e Chuck Jones a sorrir.
Seus cartoons, feitos na Warner entre 35/48, são tudo aquilo que vemos hoje na tv e pensamos ser originais. São um tipo de "A vaca e o frango" com mais riqueza na animação e mais detalhes de lay-out. Um tipo de "Beavis e Butthead" do jazz ( e bota jazz nisso ! ), uma espécie de " Eu sou o máximo" menos repetitivo.
Patolino era seu cartoon favorito, e com Bob Patolino dava as cartas. Ele criou o Duck louco, gritando, pulando, e sempre vencendo ( é triste ver que com Chuck, Patolino se tornou alvo de Hortelino e de Bugs ).
Gráficamente, os desenhos remetem à Dali e Magritte, as expressões faciais são hiper-exageradas, e o resultado geral é LSD antes de sua invenção!
Um gênio que se demitiu da Warner e migrou para a TV, onde ficou rico em comerciais. Uma pena...
Procurem conhecer. E observem como cada diretor da casa tinha estilo próprio:
Frank Tashlin ( que depois foi para o cinema - com atores- onde criou Jerry Lewis ) fazia humor puramente visual; Tex Avery criava muita ação e rapidez nos diálogos; Chuck Jones era o mais musical, o mais elegante e muito filosófico; Friz Freleng contava histórias, seguia o roteiro e jamais errava; MacKimson desenhava de forma cubista, era o moderninho, o colorista...e Clampett, o mais louco, que fazia o que queria, improvisava sempre, sendo o Charlie Parker da turma ( Tash era Ellington, Tex era Monk, Chuck era Beethoven, Friz Brahms e Mac era Sonny ).
É de Clampett a mais genial das cenas : Bugs e um condor caindo de um abismo. Eles berram...e berram...e berram...e é só...berram...puro Miles Davis, o quase nada que é tudo. Gênio...

KEY LARGO ( PARA TUCORI )

Key Largo, de Huston. O cinema viril de Huston. A história vem direta, sem frescuras. Ele liga a câmera e conta o que se tem para ser dito.
Key Largo, roteiro de Maxwell Anderson. Autor sério, liberal, que fez música com Kurt Weill ( a melhor canção da história- September Song-é da dupla ). Neste roteiro, Anderrson cria uma mini-américa. Num hotel, cercado de vazio. O gangster ( que representa aquilo que a nação se tornou ), um velho aleijado ( o bom cidadão, impotente ), e o existencialista ( Bogart ). E um bando de índios, perdidos e sem lugar, levando a culpa de tudo e jogados ao vento.
Key Largo, com Edward G. Robinson, ator perseguido por ser judeu, perseguido por ser de esquerda, mas que sempre recebeu apoio de Huston, Bogey, Mankiewicz. Aqui ele domina o filme. Rouba as cenas de Bogey. Brilha em sua maldade perversa.
E Humphrey, fazendo aquilo que tanto encantou os franceses ( Sartre, Goddard, Truffaut, Genet ), um homem sem endereço, sem família, sem ilusões, sem futuro. Bogart nos exibindo o homem de hoje e de amanhã, livre- perdido- sem se comprometer, mas obrigado a agir.
Key Largo, com fotografia do genial Karl Freund ( de Lang, de Murnau, e a América sempre foi esperta em acolher os " sem endereço " úteis ).
Um filme direto, simples, de texto, de testosterona-adulta, de furacão ( e exemplar na cena em que Robinson teme a chuva " pois não póde a dominar"- sina de todo super-homem ).
Único ponto fraco: a trilha sonora de Max Steiner, que quase põe tudo abaixo com sua melosidade fútil.

NA COMPANHIA DOS LOBOS

Houve uma bela geração britânica surgida nos 70/80: Ridley Scott, Alan Parker, Ken Loach, Jim Sheridan, Mike Leigh, e o melhor deles, Stephen Frears.
Neil Jordan dirigiu este filme em 1984, e raramente um filme foi mais sensual. ( sem mostrar nada de sexo ou nudez ).
Estamos, no filme, dentro da mente de uma menina. É o momento em que seus impulsos sexuais es´tão palpitando, é o final da infancia. Ela, corajosamente, enfrenta a floresta, toma contato com o lobo e abandona seus brinquedos.
Tudo isso contado com um maravilhoso clima onírico, sinuoso, rodeante. Lembra um Tim Burton mais adulto, mais sensual. Um delicioso filme que não assusta, seduz.
Quando criança eu acreditava nesse mundo. Minha mãe me falava dos lobos que seu pai enfrentara nas montanhas de Espanha/Portugal, nos invernos em que ele conduzia as ovelhas sózinho. Ela me falava das bruxas que ele espionava na mata, bruxas dançando nuas em clareiras de inverno. Minha mãe contava de corujas-humanizadas e olhares fulminantes de gatos do demo.
Eu acreditava em tudo. E as fábulas que ela me contava ( sempre em manhãs de chuva, antes da escola ) eram as histórias de Cinderela, Branca de Neve, Chapéuzinho Vermelho, mas em suas versões pré- Disney, ou seja, tenebrosas, sujas, assustadoras.
Creio que tudo que amo nasceu desse clima. Creio que minha Ireland nasceu aí.
Este filme mostra um pouco disso.

notas sobre filmes que andei vendo ( ou trevendo )

PS I LOVE YOU......Hillary não é fofinha, não funciona neste muito chato e muito vazio filmezinho para moçoilas. Vale pela Irlanda.....1
PLAINS, TRAINS..( ANTES SÓ QUE MAL ACOMPANHADO )...Steve Martin e John Candy. Adoro os dois! Uma comédia um pouco triste. Acho que todo mundo já assistiu....7
A VIDA DOS OUTROS...filme alemão sobre a deduragem e paranóia que rolavam na Alemanha Oriental. O incrível é que tudo que a direita dizia sobre o comunismo era verdade!!!....5
ZODÍACO.......Fincher engana só os meninos......1
A VÊNUS LOIRA....o cinema de Von Stenberg é inacreditável. Barroco. Cheio de firulas, detalhes, exageros, sem medo de errar. É um carnaval de alemão/americano.........8
VIVE-SE UMA SÓ VEZ....Fonda sai da prisão e não consegue emprego. Volta ao crime. Filme sem lição de moral, sem apelação ao melô, simples e com dois atores incomparáveis ( Henry Fonda e Silvya Sidney ). Fritz Lang se supera!.........................................9
EVERYONE SAYS I LOVE YOU...é o musical do Woody Allen. Assistí cinco vezes ( uma por ano ) e sempre adoro! Lindo!..........................................................................................8
O OLHO DO DIABO....é um Bergman muito fraco. .....................3
3 AMIGOS!.......Steve Martin, Chevy Chase e Martin Short. John Landis na direção. È ok, mas falta maldade. Comédia com bons sentimentos não funciona ( só se voce for Buster Keaton )....5
A CAIXA DE PANDORA.....Louise Brooks salva o nada bom filme pesado de Pabst. Ela é moderna, leve, fascinante, e totalmente sem moral. Seu rosto e seu tipo são referencias ainda hoje. O filme é grosso, duro, pouco criativo...........................2, para Brooks...MIL.